terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

É possível um carnaval como o que era realizado no tempos de Dom Hélder?



“Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Estive recordando sambas e frevos, do disco do Baile da Saudade: ô jardineira por que estas tão triste? Mas o que foi que aconteceu… Tu és muito mais bonita que a camélia que morreu. Brinque, meu povo povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que quarta-feira a luta recomeça. Mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”
Dom Hélder Câmara

Mariana Rios se impressiona com consumo excessivo de álcool no carnaval

Foto - Reprodução-Instagram 
A atriz Mariana Rios ficou impressionada com o que viu em um bloquinho de rua no último fim de semana. As cenas resultantes do consumo excessivo de bebidas alcoólicas por quem estava curtindo o carnaval a deixaram “em choque”, segundo relatou nos stories do Instagram nesta segunda-feira, 25.
“Mesmo hoje com internet, com tanta informação, com tudo ao nosso alcance, ver pessoas caídas no meio da rua, na calçada, quatro horas da tarde, completamente bêbadas, perdidas, com grupo de amigos em volta filmando, uns rindo, outros tentando chamar ambulância (…) Foi feio, foi horrível ver a situação delas”, disse a atriz.
Mariana quis passar um alerta para seus seguidores. “A gente precisa muito colocar a mão na consciência, ainda mais nessa época de carnaval, (porque) as pessoas se jogam mesmo, parece que não tem amanhã e essa coisa de bebida – ‘ah, não uso drogas, só bebo’ – é muito sério, muito grave”, comentou.
A respeito das pessoas que bebem e dizem que têm controle total sobre a situação, a atriz disse que “as coisas não são assim”. “Todo mundo tem problemas, às vezes a gente está em um momento mais vulnerável, se sente mais fraco e recorre a esse tipo de coisa”, afirmou Mariana.
Citando as consequências do consumo excessivo de álcool, ela fez um questionamento: “Para que começar com uma coisa assim, para experimentar, para fazer amizade para depois isso te trazer tanta coisa ruim e virar uma doença? Uma doença que merece respeito, por isso fico chateada, por isso o post do Fabio Assunção”, comentou.
Mariana Rios foi uma das artistas que saíram em defesa do ator por conta de diversas piadas e brincadeiras que têm sido feitas envolvendo a dependência química dele.
Uma mensagem divulgada nas redes sociais com uma foto de Assunção traz o seguinte texto: “Além da figura pública, apresento a vocês um ser humano portador de uma doença chamada dependência química. Alguém faz piada com atores que têm câncer?”
Mariana terminou sua declaração com mais uma recomendação para as pessoas: “Fiquem perto dos seus amigos que estão entrando nessa e cuide de você. Não precisa disso para ser feliz, de bebida, de droga. Só precisa da gente, de olhar com carinho pra gente”, disse.

É possível sim! 

"Quando Dom Hélder escreveu o  texto acima,  a realidade do carnaval era bastante diferente daquilo que em regra temos hoje. Nestes idos de 1975,  o mercado  não tinha se apropriado das festas e dos corpos na proporção como acontece nos dias atuais.

Quando digo em "regra", quero acreditar  que ainda existam espaços ou ambientes em que o carnaval seja comemorado de forma aproximada ao  exemplo citado por  Dom Hélder."(Zezito de Oliveira-2013)
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 'CÉU NA TERRA': o baile público, pré-carnavalesco, no Largo das Neves foi bem isso. Músicas lindas (sopro divino), belamente executadas, para uma multidão dançando, no chão da praça. Ao fundo, a torre da igrejinha e a límpida noite carioca que chegava.
São momentos assim que tornam a vida mais amena, valendo a pena. (
Chico Alencar em 2014)
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 A possibilidade de fazer um carnaval essencial nos dias de hoje.

Conversando nessa último final de semana, em uma viagem de carro ao interior da Bahia. Estávamos  eu, Zezito de Oliveira, educador e produtor cultural, uma realizadora de audiovisual e produtora cultural, um padre/educador e uma pedagoga/educadora.

A sugestão, com investimento em recursos humanos, materiais e financeiros. 

1 - Organizar uma sequência de rodas de conversa sobre História (as)  do (s)  Carnaval (ais).
2 - Organização de oficinas para a confecção de instrumentos, roupas, adereços e objetos de decoração.
3 - Realização de mostra temática Cinema e Carnaval.
4 - Realização de festa de carnaval em locais fechados e/ou aberto como culminância do processo iniciado


Reconhecendo que o carnaval comercial não deixará de acontecer por causa disso e nem temos essa presunção.

Quem quiser pode usar a sugestão acima, é creative commons. Mas mandem noticias.
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Carnaval, desengano: quando os sonhos tomam a cidade    

Em dez anos, Belo Horizonte tornou-se uma das referências das novas festas de rua no Brasil. Aqui se narra como começou esta virada – esta pequena revolução tão necessária para nosso futuro.

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O que diz Leonardo Boff...

Carnaval: celebrar a alegria de viver,apesar dos pesares   28/02/2019

Carnaval: “adeus, carne”, uma metáfora do reino da liberdade

Fonte: Site de Leonardo Boff
10/02/2013
Dei uma entrevista à jornalista da Globo, Patrícia Kalil para [http://redeglobo.globo.com/globocidadania]. Ela  consultou outros especialistas sobre o tema, especialmente Roberto da Matta. Aproveitou algo do minha contribuição. Fez um bela e extensa matéria  da qual eu mesmo  aprendi muito. Leiam-na que vale a pena.
Como é carnaval, tomo a liberdade de publicar a minha parte, esperando não magoar a entrevistadora. Uso as perguntas dela.
lboff
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1. Li referências do tempo em que o carnaval nasce primeiro como manifestação popular na antiguidade para agradecer a chegada da primavera (ou da vida no hemisfério norte). Depois, durante o período medieval, a festa é assumida pela Igreja, algo que pelo que pesquisei só permanece até o final da idade média. Por que o carnaval deixa de ser da igreja? Em algum lugar ele ainda é vinculado à Igreja?
  
R/ O berço do carnaval ocidental se encontra na Igreja, apesar dos antecedentes na cultura greco-latina. O próprio nome carnaval lembra esse fato. A palavra “Carnaval”  é a combinação de duas palavras latinas: “carnis” que é carne e “vale” que é uma saudação, geralmente no final das cartas ou no final de uma conversa. Significa “adeus”. Então antes de começar o tempo da quaresma na quaarta-feira de cinzsas, que é tempo de jejuns e penitências, se reservaram  uns dias anteriores para dizer “adeus” à “carne”. Pois durante todo o tempo da quaresma não se podia comer carne, como ainda hoje em algumas regiões na Baviera alemã. De festa de  cunho religioso passou a ser uma festa meramente profana, na qual tudo podia ocorrer como bebedeiras e até prostituição aberta. Ai a Igreja se afastou mas nunca totalmente. Em muitos lugares, como no convento  franciscano em que vivi em Munique, nos meus tempos de estudo universitário, os frades no carnaval dançavam no convento e chamavam freiras dos conventos vizinhos para dançar com eles. E depois se revezavam: os frades iam dançar no convento das freiras. E se bebia vinho e cerveja e muitas salsichas com mostarda. Mas tudo na maior decência. Não deixava de ser engraçado de ver aqueles hábitos de frades e de freiras esvoaçando em círculos. Eu como brasileiro no início ficava escandalizado, pois no Brasil não havia isso. Mas acabei entendendo o sentido de liberdade antes de começar o tempo do rigor e das penitências que eram sentidas à mesa, mais sóbria e na falta de cerveja e vinho.
2. Encontrei referência que citam a origem do nome como carnis levare (de retirar a carne) e como carnis valles (retirar o prazer). Qual das duas deram origem ao nome carnaval?
R/ Ficou respondida anteriormente
3. Calha que essa festa popular pagã usa o calendário cristão para se posicionar. E o carnaval, ao longo do último século, sofreu transformações importantes dentro do seu papel em comunidades e valorização do ritmo negro para hoje ser algo mais ligado ao showbusiness e não necessariamente social. Como o senhor vê o papel do carnaval no Brasil, historicamente, e a relação entre Igreja e essa festa popular
R/ O carnaval possuía no passado e posssui ainda hoje grande significado sociológico e antropológico. Há a intuição no povo e uma certeza entre os estudiosos de que a sociedade com suas hierarquias e papéis definidos é uma construção humana. Ela é fruto da vontade, geralmente, dos poderosos que estabelecem as leis e as ordens que os beneficiam. É o mundo da ordem estabelecida. A sociedade é assim uma construção que tem algo de arbitrárip.O carnaval é a inversão desta ordem. É conduzir a todos ao estado original onde não havia hierarquias e papéis, ordem no qual todos eram iguais. No carnaval cria-se um caos criador. Invertem-se os papéis. O rei deixa de ser rei e cria-se o rei Momo; o rico se veste de pobre; o pobre se veste de rico; a empregada  anônima vira a princesa da ilha encantada; o vendedor de rua se transmuta em príncipe e o príncipe num escravo. Até no carnaval romano os escravos, durante aqueles dias, ficavam libertos. A sociedade precisa tirar as máscaras e voltar ao seu estado “natural”. O carnaval possui uma função socialmente terapêutica: pela inversão dos papéis todos podem se recriar, dar vazão ao que no fundo gostariam de ser. Essa reviravolta, para acontecer, deve vir acompanhada de uma mudança de consciência; dai a importância da bebida e da comida que produz esta alteração:  alteram-se as relações entre todos. Agora não funciona o tempo do trabalho com leis, normas, prescrições e comandos. Funciona o tempo livre, liberto das injunções,o ansiado reino  da liberdade de cada um ser, pelo menos por um momento, aquilo que lhe passar pela cabeça. Pelo fato de no tempo  medieval tudo era regido pela religião e pela Igreja, os carnavais se realizavam dentro do espírito de alegria e de liberdade permitidas por estas instâncias. Era a famosa festa dos foliões. Leigos podiam se vestir de bispos e até de papas. As máscaras eram para esconder as identidades e no fundo para dizer que tudo na sociedade e tambem na Igreja são máscaras. Bobos somos todos que as tomamos a sério e cremos nelas. São os papéis sociais. Mas chega um momento que nos damos conta de que as máscaras são apenas máscaras e que os  papéis sociais são criados e distribuidos conforme a vontade dos que detém o poder. E que no fundo somos todos humanos que tem as mesms necessidades básicas que são intransferíveis. O presidente da república não pode dizer ao secretário: vá fazer pipi para mim. Ele mesmo tem que ir. Na medida em que a sociedade foi separando o sagrado do profano, o carnaval escapou do controle da Igreja. Ganhou sua identidade própria. Mas o seu significado básico continua o mesmo. O importante é que seja feito pelos populares, por aqueles que socialmente nada contam. No carnaval eles contam. São aplaudidos quando normalmente são eles que devem aplaudir. Especialmente importante é o carnaval para os afro-descendentes: sempre estiveram por baixo, eram os invisíveis. Agora se tornam visíveis, mostram a sua rica humanidade que lhes tinha sido roubada e continua ainda a ser roubada. Dai que no carnaval mostram todo o seu potencial criador. Bem dizia o Betinho: o carnaval carioca é a nossa Mitsubishi.Quer dizer: tudo funciona maravilhosamente como funciona  a fábrica de automóveis japonesa.
4. Para finalizar e porque o carnaval é uma festa altamente ligada ao prazer e a liberdade, direitos cada vez mais exigidos, por que a condenação do prazer é algo tão marcante na vida religiosa? O vilão é mesmo o prazer ou é o egoísmo, a falta de humanidade, de compaixão, de respeito pelo próximo e pela vida? Por que tanta culpa pelo prazer? Por que, afinal, o homem sente prazer.
R/ A essência do carnaval é tirar os super-egos castradores e ordenadores da vida social. Eles são responsáveis pela ordem. A ordem sempre impõe limites, cerceia o campo da liberdade, quando esta quer não ter cerca nenhuma para se expressar. Quer espontaneidade e supõe criatividade. É nesse âmbito que o ser humano se sente feliz. Porque há um momento em que os controles caem e os homens da ordem não tem mais poder para impor a ordem. Eles mesmos aproveitam a liberdade e tiram a máscara. Viram gente, gente livre, que brinca, come e bebe sem se impor ordem. O prazer é essencial na vida, também para as religiões, embora tenham sublimado o prazer projetando-o no céu. Mas não existe céu sem terra. O prazer começa no tempo  e culmina na eternidade. Prazer é irradiação da vida, a sensação de estar sem amarras e viver segundo seu ritmo interior. A busca da droga se deve a isso: ela produz prazer. Somente que este prazer é destrutivo. Para curar alguém da droga precisa-se inventar outras fontes de prazer que não sejam destrutivas. Qualquer outro método é condenado à ineficácia. O carnaval resgata os direitos do prazer, do corpo embelezado, ou libertado de adereços e roupas. O carnaval, de forma secular, nos lembra que o céu não é outra coisa que um eterno e infinito carnaval de Deus e com Deus, onde o ser humano pode ser radicalmente humano, por isso totalmente livre, livre para plasmar a sua vida, construir a sua figura e viver de festa em festa. A Igreja antiga, especialmente a oriental, a ortodoxa, elaborou toda uma reflexão do céu como uma dança celeste e Deus como o Grande Dançarino. Criou o universo num momento auge de sua dança: jogou para um lado as galáxias, para outro as estrelas, depois inventou a fauna e a flora e num passe mágico de dança, o ser humano. Tudo é fruto do Deus dançarino. Não há festa sem bebida e sem comida. Elas expressam a vida. Não bebemos nem comemos para matar a fome. Isso é outro momento. Bebemos e comemos para celebrar. E toda festa tem que ter abundância de comida e bebida, senão não é festa. Mesmo nas comunidades em que trabalhei, muito pobres, as festas eram feitas com abundante pipoca e coca-cola, a ponto de sobrar. Tem que sobrar senão a festa não é boa. O carnaval tem sempre excessos. Mas eles não devem ser entendidos moralisticamente. Eles tem uma função humana: violar a ordem, afastar os limites, exorcizar os controles, pois tudo isso foi inventado pelos seres humanos, especialmente, pelos que tem poder de se impor aos outros. No carnaval se volta ao caos originário. Ele nunca é caótico, mas criativo. No carnaval todos tem a sensação: finalmente estamos livres, podemos viver como  gostaríamos, podemos inverter os papéis porque eles não passam de papéis. O carnaval é uma metáfora do que pode ser a  humanidade um dia reconciliada e feliz.
Mas como tudo o que é sadio pode ficar doente, assim no carnaval há doenças no sentido de alguns extrojetarem seu exibicionismo, se embebedarem em demasia e aproveitarem a liberdade reconquistada  para se vingar dos desafetos. Mas essa é uma patologia, uma doença. E toda doença  remete à saúde. Quer dizer, o carnaval é algo saudável especialmente em sociedades de grande desigualdade. No carnaval as desigualdades caem. Todos estamos juntos para festejar, comer e beber numa ilimitada fraternidade.
Eu não posso me imaginar o céu senão como um eterno carnaval ou então uma luminosa virada de ano na praia de Copacabana, na qual todos se confraternizam, conhecidos e desconhecidos, chorando de alegria pela beleza dos fogos. Quando alguém chega ao céu, imagino eu, Deus lhe prepara como recepção um carnaval ou uma festa de virada de ano com fogos e luzes sem fim. E a alegria começará e o bom é que será então eterna. Bom carnaval para quem gosta.


A opinião do monge Marcelo Barros...

Quando o carnaval chegar - Marcelo Barros

Quinta-feira, 3 de março de 2011- Fonte -site do CEBI

Em várias regiões do Brasil, a expectativa do Carnaval é a de uma festa de liberdade e confraternização, mesmo se, cada vez mais, a sociedade do consumo é dominada pelo comércio de drogas, bebidas e exploração humana. Tradicionalmente, comunidades religiosas criam alternativas espiritualistas para preencher os dias de Carnaval. Ao contrário, grupos de tradição afro-descendente organizam blocos de Afoxé. Participam do Carnaval na comunhão do Espírito. Isso é importante e positivo porque a festa é uma dimensão fundamental da fé.
Quem ama louva e quem louva festeja. Uma sociedade massificante faz espetáculos. Uma comunidade faz festa. No espetáculo, espectadores pagantes apreciam um show. Mesmo se interagem, continuam sendo platéia. Na festa, ao contrário, todos são atores e protagonistas. A festa cria envolvimento afetuoso e revela que cada um depende de todos, na construção de um corpo comum. Por isso, a verdadeira festa, mesmo se não tiver nada de explicitamente religioso, é profundamente espiritual.
Alguém já comparou um desfile de escolas de samba ou de bloco de carnaval de rua com uma grande liturgia. É claro que o atual desfile carnavalesco está organizado como espetáculo. Nele, há elementos negativos como o espírito de competição, uma exploração do corpo humano como objeto de comércio, além da eventualidade de drogas, abuso de bebidas e até violência. Mas, se até em celebrações religiosas no templo, os profetas bíblicos denunciaram o risco do exibicionismo dos sacerdotes, a hipocrisia de fingir santidade e a pouca relação entre culto e justiça, não é de estranhar que em uma festa considerada mundana, tenhamos de lutar contra elementos negativos.
Em um mundo que favorece o desamor e provoca tantos casos de depressão, é urgente retomar o verdadeiro espírito da festa. Roger Schutz, fundador e prior da comunidade ecumênica de Taizé, se perguntava: "Se o espírito da festa desaparecer do mundo, como sobreviverão as comunidades?". Há quem ligue a fé e a espiritualidade com uma excessiva seriedade e ar de tristeza. No velho catolicismo ibérico, predominam imagens do Senhor Jesus, amarrado no tronco de torturas e coroado de espinhos. A figura de Maria é principalmente a de Nossa Senhora das Dores. E os santos parecem todos grandes sofredores.
Não se trata de negar que, muitas vezes, esta vida é mesmo um vale de lágrimas. Mas, temos de encontrar a forma de ser felizes. Jesus disse que veio ao mundo para que a nossa alegria seja completa (Cf. Jo 16 20 ss). Conforme o evangelho de Mateus, sua primeira palavra pública foi um convite a sermos todos felizes, bem-aventurados. Na tradição cristã, uma abadessa beneditina medieval, Santa Mectildes nomeava Jesus como seu "companheiro de brincadeiras". E até hoje, no Catolicismo popular, existem grupos de folia nos quais os foliões não são os do Carnaval de agora, mas os devotos do Divino ou dos Santos Reis.
A festa pode ter também uma dimensão profética de antecipar o dia da vitória final contra todos os elementos negativos do mundo. No começo dos anos 70, Cacá Diegues fez um filme chamado "Quando o Carnaval chegar". Os atores eram, entre outros, Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão. Em plena ditadura militar, o filme tomava o Carnaval como símbolo da festa da libertação do povo e da vitória contra a censura e as repressões. Até hoje, muita gente lembra disso ao cantar a melodia do Chico: "Quem me vê assim, parado, distante, parece que eu nem sei sambar. Tou me guardando pra quando o Carnaval chegar".
A ONU consagrou 2012 como o ano da valorização das culturas africanas e do reconhecimento da dignidade das pessoas e comunidades afro-descendentes. Neste último mês, no norte da África, povos desarmados e principalmente jovens, através da internet, conseguiram derrubar regimes ditatoriais fortemente armados e violentos. Ao menos na Líbia, a repressão foi muito violenta e muita gente está sendo morta. Mas, da parte do povo, há uma insistência nas manifestações pacíficas, mas radicais: as pessoas só voltarão para casa quando se sentirem representadas por governos democráticos e respeitadores da dignidade humana. Também no Brasil, as comunidades afro-descendentes têm se organizado e conquistado alguns direitos.
Quem sabe, neste Carnaval, possamos recuperar destas sabedorias tradicionais a forma de fazer festa como celebração da vida e acolher o outro como companheiro de caminhada para o grande Carnaval do reinado divino no mundo.
Marcelo Barros é monge beneditino e colaborador do CEBI. Entre os seus vários livros estão: A dança do novo tempo, Parábolas do projeto divino no mundo, O Espírito vem pelas águas e A vida se torna Aliança.
 Quando o carnaval chegar
[ Chico Buarque / 1972 ]
Para o filme Quando o carnaval chegar de Cacá Diegues

Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Há quanto tempo desejo seu beijo
Molhado de maracujá
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando
Que eu vou aturar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
 Assista o clip da música AQUI
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 ANTES QUE CHEGUE A QUARTA-FEIRA
Pastor Mozart Noronha
07 de Fevereiro de 2016

Fomos, o Pastor Jose Kowalska Prelicz, Leonir Knaul Kowalska, Ana Sophia Knaul Kowalska, a Diácona Vilma Petsch e eu, um Pastor Emérito, todos pertencentes, com certo orgulho, à Santa, Católica e Apostólica Igreja Evangélica de Confissão Luterana.

Todos nós tínhamos estado no culto matutino e participado da Santa Comunhão, antecipada da Confissão Comunitária, através da qual fomos absolvidos dos nossos pecados que na verdade nem eram tantos.Eu,por exemplo,tinha passado a noite dormindo e entendo que enquanto dormimos não cometemos pecados pois "...aos seu amados o Senhor dá enquanto dormem".(Sl.127,2)

Convictos do perdão antecipado fomos ver um pouco do famoso carnaval de rua em Ipanema. Vimos gente de todas as cores, de todos os sexos com uma incrível variedade de fantasias. Alguns jóvens me abordaram admirados e procuravam tocar nas minhas barbas pensando que eu estava fantasiado de Papai Noel. Logo descobrimos que a multidão não nos permitia caminhar pelas ruas e resolvemos voltar para casa de Deus onde Ele permite que moremos. Entretanto estávamos todos fascinados com as pessoas que passavam pela Rua Barão da Torre, número noventa e oito, onde está encravada a Paróquia Bom Samaritano.

Fizemos uma rápida assembléia e tomamos, por unanimidade, a decisão de colocarmos cadeiras na porta do templo que fica protegido por um grande portão. A ideia que partiu do Pastor José Kowalska e da Diácona Vilma foi de transformarmos a tarde de hoje em uma oportunidade para evangelização dos carnavalescos.

O pastor abriu a porta principal de igreja. Leonir, fiel à tradição sulista, trouxe chimarrão e têrêrê(não sei como se escreve), Vilma contribuiu com várias cervejas,Ana Sophia sentada emsua cadeira de praia distribuindo simpatia. Tudo estava preparado.Agora deveríamos esperar os evangelisáveis. Foi um sucesso! Logo um rapaz parou em frente do templo e leu a inscrição: Paróquia Bom Samaritano (IECLB). Do lado de fora sorriu e disse:

 Sou um padre da Igreja Católica na Paraiba. Abri o portão e ele entrou. Logo lhe foi oferecida a cuia de chimarrão. Ele tomou um gole e não gostou. Eu como um pernambucano agauchado disse-lhe que ele tinha que beber até o fim. Ele fez a gentileza e bebeu tudo. Só que jurou por todos os santos jamais passar perto de um ritual chimarrônico. Chegou a vezde se agir de forma diaconal. Três ou quatro mocinhas pararam em frente do portão principal, uma olhou para nós com cara de desespero e pediu para entrar e fazer xixi. Eu abri o portão e lhe disse: Menina, "aqui você tem lugar", inclusive para fazer xixi!

Ana Sophia a conduziu ao toalete. Ela agradeceu o nosso gesto de termos aplicado a pastoral do apóstolo Tiago de que a fé sem obras é morta e ganhou folhetos evangelísticos da Comunhão  Martim Lutero. Uma moça que já tinha bebido umas dez cervejas não teve tempo de pedir para ir ao banheiro, fez xixi na frente do portão. Os dois pastores fecharam os olhos. Não recorreram à conhecida "lei do xixi". Aproveitamos aqueles momentos para resolver todos os problemas da nossa querida e amada Igreja Luterana(IECLB). 
Amanhã estaremos no mesmo lugar e no mesmo horário. Fiquei pensando se no próximo ano não seria interessante que a paróquia organizasse um Bloco de Carnaval com o lema Salvos Por Graça e Fé. A Diácona Vilma seria a Porta Bandeira e o Pastor José o Mestre Sala.
 Opinião da página "Ocupa a Rede Globo"  
Há quem diga que o carnaval brasileiro é sinônimo de alienação, que é errado gostar de carnaval, que é um sintoma de nossa passividade e falta de consciência política. Na verdade, o carnaval em si não tem culpa de nada.
Ao contrário, é uma das (poucas) coisas que realmente nós, brasileiros, sabemos fazer bem feito. O carnaval brasileiro é um patrimônio nacional! Uma festa impregnada de solidariedade e humanidade, um dos raros momentos em que nos despimos da rigidez diária e nos permitimos juntos a celebrar a vida, misturando classes e culturas. Portanto, não se deixe influenciar pelos que querem culpar o carnaval pelo que ele não tem culpa. Se você é consciente, politizado, se se importa com este país, com nossa Pátria, então, mais do que ninguém VOCÊ tem o direito de ser feliz.
 Desejamos a todos um excelente carnaval, repleto de felicidade, humanidade, respeito à diversidade. Aproveite a vida, esteja junto de quem você ama e, se possível, vista sua fantasia, pois nesses dias, é o que nos resta, e estar vivo... não tem preço! 
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# 07 de fevereiro | Bloco EPC em Folia - Ano X#

Circo e Carnaval tem tudo a ver. São parceiros, brincantes e foliões em sua essência, e é com o espírito carnavalesco a mil que brindamos o Carnaval que se aproxima.
Com tanta folia acumulada o ano inteiro por que esperar até o sábado de Zé Pereira? Como todo bom folião o carnaval da EPC já começa na quinta-feira, 07 de fevereiro, com muita animação do nosso bloco EPC em Folia - ano X".
A nossa história com o carnaval é de longa data e por isso que há dez anos a Escola Pernambucana de Circo bota seu bloco na rua levando muito frevo e alegria para seus amigos, educadores, parceiros, alunos, moradores da comunidade da macaxeira e para quem quiser vir brincar conosco.
Este ano a programação está bem recheada. A concentração começa às 14h com apresentações circenses, desfile do maracatu nação Esperança e concurso infanto-juvenil de fantasias e máscaras artística.
O bloco arrasta os foliões pelas ruas da comunidades às 16h prometendo não deixar ninguém parado. 
Este ano teremos a parceria da Escola Municipal Cecília Meirelles que celebrará junto conosco a chegada do carnaval.
Bote sua fantasia, traga sua alegria e vem brincar com a gente!!!

SERVIÇO:
Bloco EPC em Folia - ano X
07 de fevereiro de 2013
A partir das 14h
Saída às 16h pelas ruas da comunidade da macaxeira
Sede da Escola Pernambucana de Circo



No carnaval o que vale



FELICIDADE

Vinicius de Moraes / Antônio Carlos Jobim



A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
E tudo se acabar na quarta feira



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Memória para uso diário. Mais histórias do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte, com previsão de lançamento para o final de 2019.(6)


"A memória é o combustível das nossas vidas. É por meio dela que nos entendemos pertencentes a algo maior que nós mesmos, que construímos os laços que nos sustentam. A memória é individual e coletiva e pode ser partilhada entre familiares, entre um grupo de amigos, entre pessoas de um bairro, entre os que vivem em um país e de muitas outras maneiras. Lembrar ou esquecer diz muito sobre quem somos ou queremos ser. Nossa forma de resistência, portanto, não deve desconsiderar a luta simbólica, no interior da cultura. Lembrar, mais uma vez, é resistir."
Jornalista Rodrigo Savazoni

Leia também:

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019


Amostra grátis do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte (1). A ser lançado em 2019.

 sábado, 19 de janeiro de 2019


Uma prévia do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte a ser lançado em 2019.

  sexta-feira, 25 de janeiro de 2019


O Reculturarte vai à Bahia. Um recorte do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte a ser lançado em 2019.(3)

sábado, 2 de fevereiro de 2019


Um aperitivo do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte que está em fase de produção para ser lançado até dezembro de 2019. (4)


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019


Um pedaço de memória: AMABA/Projeto Reculturarte. O livro completo está em fase de pesquisa para ser lançado este ano. (5) 




 Mais informações sobre a AMABA/Projeto Reculturarte AQUI

  Importante repassar estes "pedaços" ou "recortes"  do livro. Contamos com vocês, leitores do blog, pois pretendemos buscar apoio de pessoas amigas e/ou interessadas e comprometidas com o fortalecimento das iniciativas culturais de base comunitária, por meio do financiamento colaborativo ou crowdfunding. Daí,  fazemos juntos uma espécie de pré campanha. Mesmo que busquemos  o apoio de patrocínio na prefeitura e no estado, não podemos ficar dependente dessa segunda opção. Estaremos publicando mais dois  recortes do livro, quinzenalmente, e depois mensalmente.