sexta-feira, 28 de junho de 2019

O ENCONTRO DA EDUCAÇÃO POPULAR COM A ECONOMIA SOLIDÁRIA.



(1) Proac
(2) Rouanet

O pensamento de Paulo Freire,  principal referência da educação popular no Brasil e no mundo, traz como fundamento principal a questão da emancipação e da autonomia.

Emancipação que busca sujeitos criadores, co-criadores e recriadores , primeiramente a si mesmo, para depois participar com outros do processo de criação e recriação do mundo. Já que Freire afirma que a educação não transforma o mundo, quem transforma o mundo são pessoas.

E para a emancipação,  é necessário um sujeito autônomo, autonomia que tem no  processo educativo e cultural o ambiente melhor para isso ser promovido.

O contrário do que faz a educação bancária. A educação bancária cria pessoas subservientes, pessoas acomodadas, pessoas ajustadas. Pessoas que não conhecem o potencial da  sua capacidade intrínseca  de criar e de se recriar. Assim também como pessoas que não reconhecem as possibilidade de fazer coletivamente a  criação e recriação do mundo, de outros mundos possíveis, ou do “inédito viável”  como afirma Paulo Freire.

Isso reflete na relação com a economia solidária. Porque a economia solidária é um processo que pressupõe a necessidade de uma mudança interior, de uma mudança de mente, uma mudança de perspectiva.

A perspectiva  de uma pessoa que acredite e aposte em outro mundo possível, com outra economia. E  quem tiver participado de um processo educativo que aponte para isso, mais terá necessidade e mais significado encontrará nos empreendimentos de economia solidária.

Nestes termos, escrevi em 2006 no portal Overmundo: “  Nesse sentido, considero duas questões primordiais. Em primeiro lugar, atenção especial para a mudança de valores e práticas de relacionamento político pautado nos antigos procedimentos da elite dominante, como o clientelismo, o paternalismo, o autoritarismo etc...

Em segundo lugar, atenção especial àquilo que aponta para a criação de sujeitos mais solidários, mais livres, mais ousados, àquilo que cria e dá sentido à realização plena das pessoas (refiro- me aqui à produção artístico/ cultural).

No primeiro caso se faz necessário (re)construir, fortalecer ou criar estruturas formais e informais de participação “real” da população nas decisões sobre os rumos do governo, como os conselhos, as conferências, as câmaras setoriais, os fóruns e as redes, além do incentivo e apoio à organização da sociedade civil através das ongs  e cooperativas. Assim, se viabilizaria um ambiente favorável à gestação de novas idéias e recursos para resolver ou atenuar velhos problemas, o que também pode garantir a criação de um antídoto para evitar o retrocesso de condução antidemocrática das decisões, a partir da eleição de partidos ligados às velhas elites dirigentes, após suceder-se um governo de esquerda.

No segundo caso, democratizar o acesso aos meios de produção artística e dos meios de produção e difusão da informação, com orçamento decente e gestores comprometidos, preparados e que saibam ouvir os interessados no assunto, o que resultará em diretrizes e ações que garantirão à maioria da população a possibilidade de se expressar de maneira que não fiquem apenas se comportando como meros consumidores de um bocado de lixo que é comercializado como produto cultural e cujos conteúdos -- carregados de intolerância (inclusive religiosa), vulgarização do sexo, preconceitos vários, individualismo exacerbado, banalização da violência, etc., -- vão na direção contrária de tudo aquilo que defendemos, formando o “caldo” da cultura que conduz ao retorno e sustentação da nova/ velha direita. “ O texto completo está aqui.

Para concluir,  duas canções que nos traz  exemplo da educação bancária e da educação libertadora.
 “Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi.”


"Você se apropriou
Da nossa identidade
Você nos expulsou
Do centro da cidade
Você não publicou
aquela entrevista
Você não revelou que sou protagonista
 Só porque você tem poder
Acha que vai nos convencer
Estamos prontos pra valer
A nossa força é o saber

Tem hip-hop na comunidade
Tem grafiteiro com dignidade
O teatro é realidade
Também tem literatura
Dançadeira a sua vaidade
Capoeira toda liberdade
A bandeira da sinceridade
Salve o ponto de cultura ."

E outra, que nos lembra o porque da necessidade de investirmos no abraço da educação popular com a  economia solidária.
 “Eu não tenho tempo de ter
O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
Eu não vejo além da fumaça
Que passa e polui o ar.”

Zezito de Oliveira - Educador e agente/produtor/assessor de iniciativas culturais de base comunitária.

Notas
1 - Programa de Ação Cultural (também conhecido como ProAc) é uma legislação de incentivo à cultura do Estado de São Paulo criada em 2006 através da Lei nº 12.268/2006. Inicialmente conhecido pela sigla PAC, no ano seguinte passou a ser denominado de ProAC para não haver confusão com o Programa de Aceleração do Crescimento. O ProAc financia atividades artísticas como tetro, dança, circo, audiovisual, quadrinhos, entre outros, oferecendo, a partir de editais anuais, valores para a viabilização financeira de projetos de diversos tamanhos e tipos apresentados por moradores do Estado.
(fonte wikipédia)
2 - A Lei Rouanet (8.313/91) institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), que tem o objetivo de apoiar e direcionar recursos para investimentos em projetos culturais. Os produtos e serviços que resultarem desse benefício serão de exibição, utilização e circulação públicas. (fonte portal EBC)                               

O texto acima foi escrito para responder a seguinte tarefa proposta no Curso EAD de Economia Solidária, promovido pela ABONG - Organização em defesa dos direitos e bens comuns.

Grave um vídeo curto, um podcast ou escolha outra forma de responder o seguinte: Na sua opinião,  quais  as  principais  diferenças  entre  educação  tradicional  e  educação  popular?
Considerando os desafios que se identificaram no Módulo 1, como a educação popular pode contribuir para superar fragilidades e fortalecer a Economia Solidária?

A cura pela arte e pela memória



Nas escolas, centros de saúde e centros sociais,  a dança, a contação de histórias, o teatro, o desenho/ pintura, o audiovisual , a literatura  e a música no centro do planejamento e das prioridades.

Para mais aprendizado e menos ignorância, mais saúde e menos remédios, mais comunidade e menos individualismo, mais consciência e menos alienação , mais movimento e menos tédio, mais sentido e menos drogas, menos  arminhas e mais coraçãozinhos.

Dos relatos que me chegam, das observações que fiz/faco, de algumas  vivências que tive e tenho. Por isso, mais formação estética, com suporte filosófico, antropológico, histórico e sociológico para os profissionais da educação, saúde e serviço social. Pela readequação dos espaços escolares,  centros de saúde e centros sociais,  para a prática de atividades artisticas e culturais.
Bom para quem é cuidado. Bom para os cuidadores.

Zezito de Oliveira - educador e agente/produtor cultural.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

A AMABA/Projeto Reculturarte como laboratório de participação e de Ação Cultural para a Liberdade. (9)



Acima,  diretoria  e conselho fiscal eleito em novembro de 1989.

A eleição de 1989 na AMABA foi a mais concorrida, a anterior em 1986 também foi bastante disputada, mas esta conseguiu superá-la. A vitória da chapa liderada por Zezito de Oliveira, secundado por Noel Marinho, foi crucial para garantir o projeto Reculturarte. Depois explicaremos as razões com mais detalhes.

O resultado da eleição de 1989, garantiu a derrota do autoritarismo naquele momento e a vitória da inovação cidadã e cultural,   por meio da democratização das estruturas de gestão, notadamente com a divisão do bairro em áreas administrativas, inicialmente para distribuição dos tickets do leite, além do investimento integrado em arte, cultura, educação e esporte, isso como nunca houve em Aracaju por parte de uma associação de moradores, nem antes e nem depois. A despeito do que realizou logo após e concomitante,  o Movimento de Defesa da Prainha e a Associação dos Moradores do Largo da Aparecida, inspirados na AMABA inclusive contando com a a colaboração dessa.

Mas a vitória contra o autoritarismo e o oportunismo é uma luta constante, sujeita a derrotas e recuos. Assim como aconteceu no Brasil recentemente contra um ideal mais democrático e mais generoso de sociedade, aconteceu no processo eleitoral que culminou com a nossa derrota nas eleições de 1996 e consequente saída. Concorreu também para a derrocada do projeto democrático na AMABA, um grande racha ocorrido em 1993, assim como pequenos, que lhe sucederam.

O desafio a vencer é tratarmos isso no livro sem ranço e sem rancor, mas sem negar os fatos. A despeito disso, muita coisa boa aconteceu e, mesmo mostrando o lado sombra, o lado negativo, o que foi bom, o lado luminoso e positivo, aparecerá com mais força e intensidade.

É verdade!! Essa reflexão me vem a lume, nesse momento tão dificil para quem quis e quer um Brasil mais justo, democrático, plural, diverso, ambientalmente sustentável, tolerante e criativo. A AMABA/Projeto Reculturarte também foi parte dessa construção, em meio às contradições e divisões que atravessam o nosso DNA cultural e ideológico, como pessoas e como nação.

Para compreendermos e tentarmos melhor superar isso, mesmo com os retrocessos, recuos e perdas. sempre é bom ler os livros que tratam disso, tanto sob a perspectiva da história geral do Brasil, como das histórias locais, como é o caso do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte.

Em termos de recomendação para o atual momento, deixamos todos os livros do sociólogo Jessé de Souza e o da historiadora Lilia Schwarcz , o qual trazemos em destaque. O livro AMABA/Projeto Reculturarte será lançado em 2020.

Será também um ano de eleições municipais , sem querer ser ou parecer presunçoso, penso que a leitura do livro fará muito bem para colaborar na elaboração de programas de disputa para as prefeituras, isso por àqueles candidatos chamados progressistas ou de esquerda. Mais especialmente no campo da participação popular,  juventude e  cultura.


Aliás, vale ressaltar que o fato da experiência da AMABA/Projeto Reculturarte poder colaborar com uma outra visão de trabalho educativo e sociocultural com crianças e jovens, com relação aos governos, nos foi lembrada por um dos entrevistados. Por sinal, nem foi um dos garotos mais criticos e politizados na época em que participou da iniciativa. E nem poderia, era um dos mais novos da turma da capoeira e do esporte nos inicios de 1990.

P.S.: E este que escreve também não teve a sua dose de autoritarismo? Claro que sim! Mas não letal, como a de outros que levaram a morte da AMABA/Projeto Reculturarte, assim como a de quem quer provocar a morte do Brasil como nação soberana e como um bom lugar para todos os seus filhos. Querendo nos fazer retroceder ao status colonial e de separação de uma minoria de privilegiados  em meio a uma massa de espoliados, inclusive  sem o usufruto do desenvolvimento gerado pela exploração das riquezas naturais e culturais de nosso território.

ZdO
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Dê uma folheada  no livro citado acima. AQUI


O titulo desse artigo pega emprestado de Paulo Freire um dos seus livros mais conhecidos. Esse "empréstimo" faz todo o sentido, porque a AMABA/Projeto Reculturarte foi um laboratório de prática das ideias de Paulo Freire. Em breve, será publicado um artigo acadêmico de nossa autoria, em um livro digital, sobre a atualidade e a necessidade da aplicação do  pensamento freiriano às nossas diversas realidades educativa e socioculturais. O que foi pouco  realizado, ao contrário das fakenews divulgadas por quem é contra o pensamento de Paulo Freire. Assim fosse a educação e o nosso país estaria melhor.  Basta ver como o pensamento e as práticas de Paulo Freire são consideradas mundo a fora. Para compreender como isso se dá, clique aqui, aqui , aqui e aqui

   Esse artigo pretende apresentar um pouco do que foi  aprendido e  do que foi  reinventado a partir de Paulo Freire na AMABA/Projeto Reculturarte. 

saiba mais sobre o livro citado de Paulo Freire, clicando no titulo abaixo.


 Abaixo,  editorial do informativo da AMABA, fazendo um balanço sintético das mudanças realizadas a partir de 1989.




sábado, 22 de junho de 2019

Sarau virtual noites de Junho, noite de São João. Edição 2019



No “Arrastado os pés” da vida...É tempo de Resistência...
Chuva, roça e vida em abundância... Salve São João menino e Xangô justiça.

Apreço Ao Meu Lugar
(Paulo Matricó - CD Claro, O Coração no Cerrado)

Eu viajei pra muito longe
Atrás de um mundo novo
E me realizar
E quanto mais distante eu fui
Mais perto me encontrei
Aqui do meu lugar

Se deita na minha lembrança
A correnteza mansa
Águas do meu riacho
Espelhos nos igarapés
Quando lavava os pés
E a sombra por debaixo

Progresso, eu sei, é necessário
Mas não há salário
Que pague o que eu tenho
Indústria que tudo refina
Mas só me fascina
O doce do engenho

Inconscientemente o povo
Corre atrás do novo
E perde o endereço
Ninguém trará de volta a feira
A roça e a cachoeira
Tudo tem seu preço
( enviado por João Simão - PE)




"Capelinha de Melão é de São João
É de Cravo é de Rosa é de Manjericão".
...
Tudo pronto para o tradicional baile temático do EBDCS que este ano terá como título: UMA NOITE JUNINA. 





Alcymar Monteiro - Concerto para Gonzaga - (completo / oficial)



acrescentado em 25/06/2021


Live "Viola de Fita" Banda Casaca de Couro




Gostou?
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domingo, 28 de junho de 2015

Para refletir:

O conceito de  São João aqui em Sergipe foi resumido a espetáculo. Já em Pernambuco e em alguns cantos desse Brasil grande e plural,  se   consegue fazer as duas coisas. O espetáculo e a brincadeira. Isso graças a potência do protagonismo dos artistas populares,agentes culturais, educadores, artistas e intelectuais comprometidos. Juntos e misturados, com e sem a participação dos poderes públicos.

Por exemplo: No Forró Caju, Arraial do Povo (agora Encontro Nordestino de Cultura) , Forró Siri e em tantos outros espaços e ambientes de iniciativa das Prefeituras e do Governo do Estado, porque  não é possível pensar em uma programação para crianças, idosos turistas, mais cedo?  Com brincadeiras infantis, contação de histórias, oficinas de quadrilha e/ou forró tradicional, esquetes ou peças teatrais com temática ligada a rica tradição cultural do ciclo  junino, assim como apresentações de dança , artes visuais, sarau de poesias e mostra de audiovisual nessa mesma linha. Além das quadrilhas e trios pé de serra. Tudo isso precedido por oficinas, palestras e mostras promovido em algumas escolas. Inclusive muitas das apresentações  e exposições podem ser frutos disso.
Ou seja, fala-se muito da necessidade de conectar mais a educação com a cultura, mas na prática pouco é realizado nesse sentido.

Adicionado em 24/06/2019. (Via Lailton Araújo)