quarta-feira, 31 de maio de 2023

Quem tem sangue indio na veia denuncia quem tem sangue indio nas mãos. NÃO AO MARCO TEMPORAL!

 🌱 #MangueJornalismo | Seis dos oito deputados federais por Sergipe votaram contra os direitos dos povos indígenas.  São eles: delegada Katarina (PSD), Fábio Reis (PSD), Gustinho Ribeiro (Republicanos), Ícaro de Valmir (PL), Rodrigo Valadares (União), Thiago de Joaldo (PP). Apenas o deputado federal João Daniel (PT) votou em favor dos povos indígenas. A deputada Yandra Moura (União) não apareceu na sessão.

📲 Veja os seis deputados federais por Sergipe que votaram contra os indígenas. Eles ajudaram a aprovar um grave retrocesso para os povos originários  Em www.manguejornalismo.org


MARCO TEMPORAL

Como votaram os deputados sergipanos no PL 490/2007, que dificulta a demarcação de terras indígenas e ataca o direito dos povos originários:

*João Daniel (PT) - Não
* Delegada Katarina (PSD) - Sim
*Fabio Reis (PSD) - Sim
*Gustinho Ribeiro (Republicanos) -  Sim
*Icaro de Valmir (PL) - Sim
*Rodrigo Valadares (União) - Sim
*Thiago de Joaldo (PP) - Sim
*Yandra Moura (União) - ausente


IMPORTANTE: Fazer jornalismo independente é muito caro. A Mangue Jornalismo só sobrevive do apoio das nossas leitoras e leitores. Nosso pix é o e-mail manguejornalismo@gmail.com. Contribua!









PARA ENTENDER O MARCO TEMPORAL




30 maio 2023
Atualizado Há 2 horas
Sob protestos de representantes de povos indígenas no Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (30/5) um projeto de lei que estabelece o "marco temporal" — a tese de que a demarcação de terras indígenas só pode ocorrer em comunidades que já ocupavam esses locais quando a Constituição foi promulgada, em 5 de outubro de 1988.

A pauta, uma das mais disputadas nos últimos anos no que diz respeito aos indígenas no país, segue para votação no Senado.

Na Câmara, houve 283 votos favoráveis ao projeto e 155 contrários.

Por outro lado, a questão do marco temporal já estava pautada para julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) previsto para 7 de junho.
LEIA MAIS AQUI
--------------------------------------------------------------------------

RODA DE CONVERSA. PARÓQUIA SÃO PEDRO PESCADOR
DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE
O PAPA FRANCISCO, A LAUDATO SI E AS QUESTÕES AMBIENTAIS
Com Pe. Anderson Gomes, Romero Venâncio (UFS), Edjane Paixão (CEB`s) e Pe. José Soares e Professora Núbia Dias (UFS)
05 de Junho. as 19h.
na Paróquia São Pedro Pescador. Rua João Rodrigues




-------------------------------------------------------

Chico Alencar 

BrasiLL?

Não é erro de digitação: temos sido sim BrasiLL com dois 'eles', ainda confusa Nação. L de Lula, presidente da República, e L de Lira, presidente da Câmara dos Deputados, hoje bem empoderados. 

Alguns chamam isso de "presidencialismo de coalizão": para governar, é preciso ter ampla base de sustentação parlamentar. Ela só se sustenta com cargos, emendas, carinho e atenção. Gulosa, nunca se sacia, precisa sempre se alimentar. Difícil de aturar!

Zona de mistério: essa base de apoio vota contra o governo mesmo tendo ministérios. Na prática, a contradição - um presidencialismo de... colisão.

Outros falam em "parlamentarismo infeliz": a maioria conservadora e fisiológica no Congresso determina os rumos do país. Regime "pra lamentar", exótico, alienígena: quem paga é o Meio Ambiente, a Mata Atlântica, são os povos indígenas. 

Pra mais mandar, até a estrutura do novo governo querem alterar, esvaziando competências, transferindo atribuição - e dane-se a Constituição.

É o avanço do atraso, e o interesse público já tem lugar determinado: fica excluído, de lado. Marcha a ré pública.

Porém, não desanime! Ainda dá pra colocar na trilha nossa República Federativa, com sua cidadania participativa! 

"Mundo mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não uma solução", lembrou, faz tempo, Carlos Drummond (1902-1987). Mas poesia sempre ajuda a decifrar claros enigmas e situações sombrias. Arranquemos, do futuro, as alegrias!

O querido Henfil (1944-1988): criação contra a devastação



https://www.youtube.com/watch?v=HnR2EsH9dac



‼Pressione AGORA os Senadores contra o Marco Temporal! Envie um email para eles aqui: https://www.marcotemporalnao.org.br/

A palavra de ordem é: Marco Temporal Não! ✊🏽

A história dos povos indígenas não começa em 1988, como diz o Marco Temporal. Eles já estavam aqui muito antes do Brasil ser invadido e foram extremamente violentados a partir de então, sendo expulsos dos seus territórios e tendo sua cultura dizimada.

Precisamos cobrar que os senadores barrem esse retrocesso, em que os únicos interessados são os ruralistas. 

Ele coloca em risco a demarcação das terras indígenas e potencializa a crise climática. Caso o Marco Temporal seja aprovado, o futuro de todos nós estará em risco — no campo, nas florestas e nas cidades. 

⚠Pressione AGORA os senadores para barrarem o Marco Temporal: https://www.marcotemporalnao.org.br/


terça-feira, 30 de maio de 2023

Poderia a felicidade ser subversiva?

 Vista antes como conservadora e burguesa, ela pode criar sensibilidades criativas e antissitêmicas — e ser chave para o bem viver e a cooperação. Diante de um mundo gris (1), é preciso novos vínculos afetivos e eróticos; nem repressores, nem coisificante

por Amador Fernández-Savater

Publicado 26/05/2023 às 19:45 - Atualizado 26/05/2023 às 20:11

Orquestra Voadora. Imagem retirada do site “Bloco tome conta de mim”

Por Amador Fernánde-Savater, no CTXT | Tradução: Haroldo Gomes

“Povos felizes não têm história”

A felicidade tem uma fama muito ruim hoje para o pensamento crítico. É considerada uma ilusão, mais uma injunção obrigatória, um sonho trapaceiro de classe média. 

Posto no Facebook uma frase de Pasolini a favor da felicidade e logo alguém responde: “Pasolini capacitista!” A felicidade cancelada.

No entanto, a relação entre felicidade e revolução tem sido muito próxima até recentemente. Um ligava seu destino à outra, como Pasolini chegou a dizer justamente na citação respondida.

A felicidade talvez tenha sido a forma europeia e ocidental de discutir o que hoje, na América Latina mais influenciada por tradições indígenas, chama-se “o bom viver” ou “o viver saboroso” (nas belas palavras de Francia Márquez). Ou seja, discutir a própria definição de vida boa.

Os grupos subalternos tinham suas próprias imagens de felicidade, a partir das quais disputavam com a concepção hegemônica. Imagens não só do futuro, de uma felicidade possível depois ou mais tarde, mas aqui e agora, relativa à experiências vividas no presente.

Por acaso esse potencial se esgotou? Será que a ideia de felicidade é algo agora apenas a ser desmontado, denunciado e desconstruído? Não existem imagens de plenitude e alegria fora das concepções hegemônicas? As centelhas de felicidade subversiva se apagaram para sempre?

Felicidade e revolução

Encontramos o primeiro elo entre felicidade e revolução nítido nos discursos públicos – Robespierre, Saint-Just ou Babeuf – durante a Revolução Francesa. 

“O ser humano nasceu para a felicidade e para a liberdade, em toda parte ele é escravo e miserável”, afirma Robespierre. Se o ser humano é escravo e miserável, não é por nenhuma fatalidade inscrita nas marcas de nascença, mas pela “corrupção do poder”. Ao poder mesmo como corrupção.

Corrupção de quê? Do “estado de natureza” segundo o qual se deveria legislar para devolver a liberdade, a virtude e a felicidade ao povo. Contra a promessa compensatória de uma felicidade só possível no outro mundo, a revolução espalha por toda parte a ideia de uma felicidade terrena e acessível a todos.

“A felicidade é uma ideia nova na Europa”, escreve Saint-Just como toque final de um texto-decreto sobre o confisco de bens dos inimigos da revolução e a indenização dos indigentes. A felicidade é possível e sua ferramenta é a política.

“Pertence às grandes assembleias criar a felicidade comum”. Uma legislação revolucionária de acordo com o estado de natureza pode tornar efetiva esta aspiração humana, dissolvendo as desigualdades sociais e promovendo os direitos necessários à assistência, ao trabalho, à educação. É a ideia do Estado social natural.

Os jacobinos apostaram na revolução permanente “enquanto houver apenas um pobre ou miserável na terra”, mas o processo terminou no ano II com a reação do Termidor. “A revolução congelou”, observa Saint-Just antes de silenciar para sempre.

O fracasso das revoluções comunistas do século XX

Na década de 1970, o filósofo alemão Herbert Marcuse refletiu com Jürgen Habermas e outros sobre sua própria trajetória política e intelectual. Tudo começou com um fracasso, diz ele, a derrota da revolução espartaquista de 1918-1919 na Alemanha.

“Fiz parte da última concentração de massa em que Rosa Luxemburgo falou; eu estava em Berlim quando ela e Karl Liebknecht foram assassinados. O que eu queria entender era como, com a presença de massas genuinamente revolucionárias, a revolução pôde ser derrotada. Por que o potencial revolucionário daquela época, historicamente raro, não só não foi aproveitado, como foi desperdiçado por décadas? Por que foi desativado diretamente? Significativamente, comecei estudando Freud”.

A derrota de 1918-19 antecipa outro fracasso: o das vitoriosas revoluções comunistas do século XX. Também nelas o potencial revolucionário das massas é inutilizado e o sonho coletivo de liberdade e felicidade se transforma em um pesadelo de terror e escravidão. Como é possível?

O que Marcuse pensa é que as revoluções são derrotadas não apenas por forças externas, como a repressão ou a cooptação de revolucionários, mas também por dinâmicas internas e inconscientes. Ao Termidor histórico-social acrescenta-se um “Termidor psíquico” cujo mistério deve ser penetrado para compreender algo da maldição das contrarrevoluções.

As revoluções comunistas do século XX retomam sem questionar o imaginário do progresso: desdobramento das forças produtivas, domínio da natureza e da fabricação de bens de consumo. O socialismo é definido como a redistribuição igualitária do progresso industrial, que Lênin resume em sua famosa fórmula: “o comunismo são os sovietes mais a eletricidade”.

O problema, diz Marcuse, é que esse imaginário já pressupõe um tipo de corpo. Somente o corpo reprimido e insatisfeito, que aprendeu a adiar o prazer e a se sublimar em ideais futuros, é capaz de impulsionar o progresso quantitativo infinito. Só esse tipo de corpo pode experimentar a vida como um trabalho sem prazer baseado na produtividade e na promessa de um futuro.

Como se “educa” esse corpo? Claro, a partir de todos os tipos de violência externa: nós os conhecemos bem graças às obras de Marx, Foucault ou Silvia Federici. Mas não só. O que Freud permite a Marcuse é pensar a “interiorização do poder” através do próprio fato cultural. 

O acesso à cultura e à linguagem impõe a cada ser humano o sacrifício do corpo pulsional em favor do princípio da realidade. O delegado do princípio de realidade dentro de cada um de nós é chamado de superego. Este vigilante interno, que tomamos como a voz da consciência moral, trabalha para manter a ordem com as armas mais eficazes que existem: o sentimento de culpa e dívida, a angústia à menor transgressão, o desejo de punição como redenção. E nessa estrutura (ontológica) que se enraízam os diferentes poderes histórico-sociais.

No caso do princípio de realidade capitalista, o mandato transmitido pelo superego é primeiro a renúncia pulsional em favor da produtividade. A pulsão amorosa (Eros) será reduzida à sexualidade genito-reprodutiva. E a pulsão destrutiva (Thanatos) será instrumentalizada contra os “inimigos do progresso” externos e internos: as paixões inúteis, inclinações à vagabundagem e à preguiça, tudo o que resiste a sacrificar a felicidade do presente à produtividade.

Agora podemos entender melhor o fracasso das revoluções comunistas do século XX: ao copiar o imaginário burguês do progresso como ele é, querendo simplesmente colocá-lo a serviço de outras finalidades, reproduziram o mesmo “tipo humano”, o corpo da renúncia pulsional e da sublimação ao futuro, o corpo sempre insatisfeito e infeliz.

Esse corpo se materializa na subjetividade que concebe a revolução como “trabalho”, a militância como “sacrifício”, o tempo como “espera” e o comunismo como sociedade da produtividade total. A luta pelo socialismo – e logo o próprio socialismo – se objetiva e reifica. O potencial pulsional e criativo das massas fica inutilizado. A revolução é derrotada por dentro.

A libertação de Eros

Ao contrário de Robespierre, não nascemos para a liberdade e a felicidade. O acesso à cultura nos predispõe antes à alienação e à infelicidade. A revolução política não é suficiente, pensa Marcuse, é necessária uma revolução cultural. Uma mudança radical na estrutura das necessidades pulsionais, invariante e ao mesmo tempo aberta à modificação histórica.

Essa revolução cultural consiste em reativar as forças eróticas reprimidas. A libertação como felicidade. O que é Eros? O impulso de proteger, enriquecer e embelezar a vida, o instinto de cooperação, a energia capaz de compor coletivos a partir de uma solidariedade sentida (e não apenas forçada), única força capaz de deter a destruição. 

A libertação de Eros é antes de tudo um protesto: contra o mundo da produtividade autopropulsada, da agressividade permanente e da instrumentalização de tudo. Sem esse fio negativo, sem esse poder de rejeição, Eros corre o risco de ser reduzido a uma mera compensação tolerada.

E também é uma afirmação. O aparecimento de um novo tipo de ligação entre os seres, as coisas e o mundo. Um vínculo sensível e afetivo capaz de cuidar de cada ser vivo como uma potência singular, como sujeito e não como objeto. Uma nova sublimação da energia libidinal, não mais repressiva ou compensatória, mas criativa.

A força de Eros, antes antecipada e reservada ao campo da estética, deve agora impregnar a vida toda: organizar o trabalho, orientar a construção de ambientes habitáveis, determinar as relações com a natureza, encharcar os espaços educativos.

Esta libertação implica uma outra temporalidade, não mais o tempo da espera infinita, mas o dos processos que trazem em si a recompensa. O tempo de amadurecimento, crescimento e desdobramento do que já está aí, como semente e potencia. O tempo do processo e não do progresso.

Implica um outro corpo, não mais o do militante sempre insatisfeito e em guerra com o mundo, sem nada a perder a não ser suas correntes, mas um corpo que tira sua força dos mil laços amorosos que já o prendem ao mundo: as formas de vida desejáveis, os territórios que habitamos, as memórias e histórias que nos constituem.

Em suma, implica uma nova concepção da revolução, como mutação antropológica, mudança de pele e surgimento de uma nova sensibilidade. Essa nova concepção, reivindicada teoricamente por Marcuse desde a década de 1950, vai se concretizar praticamente nos movimentos da década de 1960: os estudantes pacifistas contra a Guerra do Vietnã, o feminismo e as primeiras lutas ambientalistas, anticoloniais e raciais. Os diferentes atores do que Marcuse chamou de Grande Rejeição.

O mandato de desempenho

A Grande Rejeição não consegue derrubar o capitalismo, mas força uma reorganização geral em resposta. É o que se conhece como passagem entre fordismo e pós-fordismo, ou sociedade industrial e neoliberalismo; e implica também uma mudança profunda no nível psíquico e subjetivo, que é o que nos interessa agora. 

O sujeito industrial torna-se o sujeito performático dos nossos dias. Não mais definido pela renúncia pulsional, mas pelo envolvimento total na guerra econômica: entrega, motivação, participação. Não por obediência e conformismo, mas por desenraizamento e autossuperação constante. Não por ascetismo puritano, economia ou moderação, mas por excesso: hiperatividade, hiperexpressividade, hiperestimulação. 

A acumulação como principal característica do capitalismo é internalizada, tornando-se uma modalidade subjetiva e modo de vida. Além do próprio trabalho, afetando toda a existência.

O novo mandato do superego dita: “você deve sempre tirar vantagem, tirar o máximo proveito de cada situação”. A energia amorosa de Eros é subjugada sob todas as formas de hiper-sexualização. A energia destrutiva de Thanatos é instrumentalizada para a competição geral e a guerra de todos contra todos.

E o desconforto? Como fica o sofrimento psíquico nesse tempo de desempenho obrigatório? 

É a sensação constante de que o tempo está se acelerando, de que “não consigo chegar lá” ou “não tenho vida”. A sensação de estar sempre em falta, sempre em déficit, de não ser suficiente, de não fazer o suficiente, de não ter o suficiente. A dificuldade vivida na relação com o outro, sempre rival e nunca cúmplice, um constante medir-se pela inveja e pela frustração, uma exigência sufocante.

Se Freud ofereceu a Marcuse um esquema para pensar a internalização do poder, o psicanalista Jacques Lacan acrescentou posteriormente mais um elemento, bastante perturbador: o mandato do superego se regogiza. Somos nós mesmos que aceleramos a roda do hamster, que entramos na competição com o outro, que cobramos de todos e de tudo um resultado imediato.

Há uma alegria nisso tudo, uma satisfação na insatisfação, um certo apego emocional, uma espécie de vício. O reclamante basicamente não quer mudar nada, a vítima está satisfeita com sua posição.

Sem pensar profundamente em todas essas questões, sem entrar seriamente no “ninho de víboras” da subjetividade, os apelos à transformação social permanecem mero discurso, um cadáver na boca, a preparação de um novo Termidor psíquico.

A felicidade do desertor

E então, hoje, felicidade? Não, claro, a felicidade obrigatória do mandato de desempenho (“seja feliz, aproveite!”), mas a felicidade de justamente desfazer todos os comandos, a felicidade que subverte, a felicidade de Eros. 

Vamos ensaiar um pouco, sem negar outras possíveis linhas de interpretação, nem tê-las todas conosco. Hoje há quem abandone o emprego, quem rejeite o consumo como relação privilegiada com o mundo, quem dê as costas à política e aos meios de comunicação, quem se vá, quem desapareça. Grande Resignação, declínio, êxodo das cidades, novos comunalismos, mil tentativas de desligar e desacelerar a vida, desamor libidinal.

O pano de fundo da época, pelo menos no Norte global, é esse vasto movimento de afastamento dos mecanismos de ansiedade. Às vezes sozinho e outras em grupo, às vezes trocando de lugar e às vezes sem sair do lugar, às vezes com fala e outras vezes apenas por instinto. Não se trata exatamente de lutas ou movimentos sociais, mas de uma espécie de deslocamento de placas tectônicas, em que novas lutas e movimentos podem surgir. Estou pensando, por exemplo, na atual desidentificação geral em relação ao trabalho, considerado por décadas como a principal fonte de autorrealização e felicidade. Não pode faltar ao trabalho, porque é dinheiro e renda, mas toma distância.

Franco Berardi (Bifo) propõe a imagem da deserção para pensar esse movimento de retirada. A deserção vai além do simples desligamento momentâneo: uma licença médica, uma fuga, um verão. Porque implica precisamente um gesto de renúncia: de subtração e desapego do nó que nos prendia, de elaboração da armadilha em que estamos presos, de abertura a novos ritmos e respirações. 

A deserção implica uma ruptura subjetiva. Um corte com o gozo do desempenho. Uma perda de certas certezas às quais nos apegávamos e a passagem dessa angústia.

Atrever-nos a perder. Essa é a proibição por excelência sob o imperativo de desempenho: perder tempo e não fazer render, perder prestígio na disputa por visibilidade, perder posições na guerra econômica. A famosa síndrome FOMO (fear of missing out), o medo constante de perder algo, expressa essa terrível ansiedade.

O perdedor (el loser) é a figura mais desvalorizada do neoliberalismo, o espantalho com o qual nos assustamos e normalizamos. Mas só ousando perder podemos enfraquecer esse mandato do superego que nos mortifica. Perder, como diz Jorge Alemán, sem se identificar com o que se perde, sem melancolia. 

Perde-se, também, por amor. Como aconteceu na excepcional história de “Loco” Pérez, o jogador que abriu mão de um contrato de dois milhões de euros e caiu para a Terceira Divisão por seu amor de infância a La Coruña. Perder como forma de dar e doar-se sem cálculo, na fidelidade ao que verdadeiramente sustenta a vida.

Perder, não para depois ganhar, como dizem os atletas de elite e os loucos empresários, mas para aprender a viver em uma perda, no sentido de que o desejo – ao contrário do gozo – não acumula, fica à deriva o tempo todo, tem maré alta e baixa, se dissipa, constrói labirintos sem saída. 

A felicidade do desertor passaria por esse abandono da obrigação-alegria de ceder, de acumular, de controlar. Essa deserção pode se tornar um movimento coletivo, estratégico, organizado? Um movimento de engenheiros, técnicos e pesquisadores franceses, unidos em sua rejeição a “robotizar, mecanizar, otimizar, acelerar e desumanizar o mundo”, autodenominaram-se recentemente “os desertores felizes” e convidam a uma grande renúncia construtiva, criativa, ofensiva.

Marcuse fala em algum lugar sobre “felicidade sem mérito”. Não aquela que se consegue com esforço, aquela que se adquire ou conquista, aquela que é prêmio ou decretada, mas aquela que pode irromper, sem garantias e inesperadamente, justamente se ousarmos perder.

(1) - GRIS, lançado no último dia 13 de dezembro, para Nintendo Switch e PC, é um jogo independente que fala com metáforas e profundidade em torno de sentimentos de perda, solidão, tristeza e na recuperação do seguir em frente em meio a um turbilhão de sentimentos ruins que podem assolar nossa mente em tempos difíceis.

Referencias: 

Filosofía radical: conversaciones con Herbert Marcuse, Jürgen Habermas y otros, Gedisa (2018).

“La idea del progreso a la luz del psicoanálisis”, Herbert Marcuse (1969).  

La nueva razón del mundo, Pierre Dardot y Christian Laval, Gedisa (2013).

TAGS

BEM VIVER, CAPA, EROS, FELICIDADE SUBVERSIVA, FORÇA LIBIDINAL, FRANCO BIFO BERARDI, HERBERT MARCUSE, NOVAS SENSIBILIDADES, REVOLUÇÃO CULTURAL

https://www.youtube.com/watch?v=qDkI7irMO9s


Por que Coreia do Sul paga jovens reclusos para saírem de casa

Um número crescente de jovens sul-coreanos está optando por se isolar, retirando-se totalmente de uma sociedade que castiga aqueles que não correspondem às expectativas

domingo, 28 de maio de 2023

Carta de Pepe Mujica a Lula sobre a reunião de 30 de maio.

Querido companheiro presidente Lula,

Quero desejar-lhe sucesso em sua iniciativa com os Presidentes de nossa região. Acho da maior relevância a criação de um espaço de encontro, de conhecimento mútuo, de diálogo e reflexão, que você acertadamente chamou de "retiro". As reuniões presidenciais em espanhol são geralmente chamadas de "cumbre" que significa o cume da montanha, mas não existem cumes sem montanhas para se apoiarem, essas montanhas são nossos povos. 

O “retiro” cria uma oportunidade histórica em que a grandeza da participação dos envolvidos será o que determinará a sua altura. A partir daí, moveremos montanhas e uma cordilheira dos povos crescerá, tão alta quanto os Andes, símbolo da unidade que buscamos. As grandes decisões que movem o mundo são tomadas em outros lugares, longe de nossa mesa. É necessário construir proximidade em nossa região para sermos ouvidos internacionalmente. Os desafios que enfrentamos como humanidade exigem, mais do que nunca, esforços coletivos e propostas inovadoras. 

Como você sabe, tivemos algumas reuniões com representantes indicados de presidentes sul-americanos. Eu olhava para aquele punhado de lutadores sociais e políticos. Carregávamos ali mais de um século de prisão e exilio, décadas de experiência em governos nacionais e em organizações sociais, vidas inteiras dedicadas a melhorar as condições de vida de nossos povos. 

Mas passamos dois séculos fracassando na tentativa de alcançar uma integração regional, desde aquele sonho bolivariano de um conjunto de repúblicas confederadas, que ficou esquecido no tempo. Temos experiência suficiente para não repetir os mesmos erros do passado. 

Não basta nos unirmos, devemos caminhar juntos, e se em algumas ocasiões isso não for possível, as portas devem estar abertas para sair e voltar quando for necessário. Devemos ser capazes de construir um consenso progressivo que não nos paralise e que permita àqueles que estão em condições avançar, e depois agregar àqueles que assim decidam. 

Não é inteligente repetir os fracassos. A inovação não vem apenas da tecnologia. Podemos inovar também em nossa forma de agir como militantes políticos e sociais, levando em consideração tudo o que não conseguimos, não quisemos ou não soubemos fazer. É preciso construir, não impor. 

Quero compartilhar brevemente algumas reflexões. Considere isso como uma modesta contribuição de um grupo de ajuda. Não temos pretensões nem expectativas, sabemos que esse é o peso e a responsabilidade daqueles que estão no governo. Trabalhamos para nos apoiar e defender. Não se trata de questões de esquerda, direita ou centro, mas sim de ser desenvolvidos ou não. 

A integração regional é uma meta. O caminho passa pela proliferação de projetos de cooperação entre dois ou mais países da região. Há um extenso e legitimo inventario de propostas apresentadas em recentes reuniões regionais. 

Acreditamos que os projetos devem, de alguma forma, potencializar a solidariedade continental e despertar o sentimento de pertencimento. Pensamos que estes projetos devem ser executados em conjunto com as pessoas. Acreditamos que é indispensável que se desenvolvam com uma visão integradora que represente as necessidades, os valores e os desejos de nossos povos. Por exemplo, uma plataforma permanente de resposta rápida regional a desastres naturais; melhorar a integração energética e das infraestruturas regionais; ter como objetivo a industrialização e a complementação produtiva como região. 

Dinamizar o comercio criando formas combinadas para as transações com nossas próprias moedas, concordar com melhores mecanismos aduaneiros, bem como a necessária harmonização sanitária e fitossanitária. 

Esses são exemplos de metas alcançáveis. Partir do possível para alcançar o desejável, promover projetos que podemos realizar. Para isso, contamos com uma ferramenta fabulosa como o CAF, um banco de desenvolvimento. 

Precisamos facilitar a circulação de cidadãos. Devem abundar as trocas estudantis e a validação de diplomas, multiplicar os espaços de encontro entre as novas gerações, cujo futuro se define agora. 

Devemos nos unir na proteção da água doce e na defesa da natureza. Nos identificamos, de todos os cantos do continente, com a vida representada pela Amazônia, com a grandeza e a dignidade evocadas pelos Andes, com a abundância e a liberdade das pradarias e com as riquezas do âmago de nossas terras. 

A integração não será apenas fruto da visão de intelectuais e políticos, mas também do sentimento e do imaginário coletivo que soubermos construir. Os intelectuais e cientistas pensam, os povos sentem, para isso, precisamos de datas, bandeira e nome, inclusive um hino. 

Sem a força do povo, continuaremos iguais. Devemos construir mística, pois essa é a luta por uma cultura diferente, algo que nunca alcançamos. Até agora, quando falamos de integração, temos sido puramente “fenícios”: quanto eu te vendo e quanto você vende para mim. Mas, os fenícios, que foram mercadores formidáveis, nunca criaram nenhuma civilização. 

Um passo no caminho rumo a` meta da integração seria ter um mesmo dia do ano em que, em toda a extensão do continente, todas as escolas possam se dedicar a esse tema. Em português, em castelhano ou em suas línguas locais. Cada um em seu lugar e

todos juntos. 

Avançar na integração significa colocar paixão, esperança e conhecimento em nosso povo. 


Dois assuntos de organização que nos parecem úteis: 

1. Acreditamos que a comunicação entre os presidentes deve ser fluida e frequente, para que falem diretamente com seus pares quando considerarem pertinente. Cada presidente ou membro de seu círculo mais próximo deve ter os meios para contatar fácil, informal e rapidamente seus pares.

2. No gabinete do presidente, ou próximo dele, deve haver uma pessoa responsável por acompanhar os projetos que envolvem dois ou mais países da região, a fim de avaliar o progresso, facilitar informações, superar obstáculos, ouvir as pessoas e estimular. Essa pessoa desempenharia a função de "secretaria de integração" e deveria trabalhar ativamente para motivar os responsáveis estaduais correspondentes. 

Nossos representantes em fóruns internacionais devem levar posições e propostas previamente acordadas para transmitir a mensagem de que somos uma região que cuida de seus interesses comuns. E´ desejável que nossos presidentes incorporem referencias a` região em cada discurso, tanto em nível nacional quanto internacional. 

Querido Lula, 

O conjunto de crises globais que estamos enfrentando pode levar ao colapso das condições essenciais para a vida no planeta. Muitos esforços serão necessários para enfrentar as mudanças climáticas, a crise do modelo econômico hegemônico, a ordem internacional obsoleta e as grandes forcas polarizantes. Unir forças e´ o mínimo que podemos fazer para não sermos vitimas passivas e nos dar uma chance de um futuro melhor. 

Conhecemos sua liderança e esforço, que vão além da região e incorporam uma mensagem de paz. 

Aos meus 88 anos, a capacidade de sonhar com uma América diferente da´ mais sentido a` vida. 

Com os melhores votos para todos os participantes do “retiro”, envio-lhe um abraço fraternal, seu amigo e companheiro, 

Pepe

Montevidéu, 24 de maio de 2023

Os editais da Lei Paulo Gustavo estão chegando, mais na frente os da Lei Aldir Blanc. Mais dicas de como compreender e participar (3)

IMPORTANTE ESTAR ATENTO AO DIAGRAMA ABAIXO. EM CASO DE NECESSIDADE BUSCAR AJUDA TERAPÊUTICA ESPECIALIZADA. COACH NÃO SERVE...


DOCUMENTOS ÚTEIS LPG

LISTA DE VALORES AOS MUNICÍPIOS ATUALIZADA:
MODELO PLANO DE AÇÃO:
PASSO A PASSO APLICAÇÃO LPG:
GUIA EM VÍDEO DE ACESSO A CADASTRO NA PLATAFORMA TRANSFEREGOV:
GUIA EM VÍDEO DE COMO INSERIR PLANO DE AÇÃO NA TRANSFEREGOV:
PORTAL SNS PAULO GUSTAVO:
TEXTO DA LEI NA INTEGRA:
REGULAMENTAÇÃO:
DECRETO FOMENTO À CULTURA:

Artistas da Barra dos Coqueiros dialogam sobre a Lei Paulo Gustavo com a participação de Zezito de Oliveira

Uma honra estar com os companheiros escritores,  artistas e amigos da arte e da cultura da Barra dos Coqueiros neste momento...Até porque, o nível dos convidados é de excelência em matéria de conhecimentos sobre políticas públicas de cultura, leis de fomento, gestão e produção cultural e etc...




A Academia Barracoqueirense de Letras e Artes, instituição da sociedade civil organizada e preocupada com o desenvolvimento cultural da nossa cidade vem convidar a toda a população para participar de uma Live que será realizada dia 01/06/23 as 19h através do Facebook. Será uma excelente oportunidade dos artistas da terra e da comunidade em geral conhecer , debater e traçar os rumos da cultura local.
Teremos como palestrantes os membros da referida Academia Roberto Fernandes e Ivo Adnil, este último também Presidente do Sindicato dos Artistas do Estado de Sergipe, do Prof. Zezito de Oliveira do Fórum de Literatura do Estado de Sergipe e como mediadora a Profa. Mestra Miraci Lemos Presidente da academia.
Segue link da academia por onde será realizada a live:
 -------------------------------------------------
Mais.......
Vai valer a pena, mesmo se fosse para participar através do chat, o que farei em outros momentos quando estiver presente temas como os que elenquei acima e convidados deste quilate. Sei de fazedores de cultura de outros municipios que estão encontrando dificuldades no diálogo com a gestão e que também estão se movendo, até porque a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc vem servir como um espécie de alavanca de Arquimedes. Como já disse em conversa com fazedores de cultura do munícipio de Socorro, toda forma de pressão vale a pena, deixando a queima de pneus em frente ao orgão gestor para o último caso (brincadeira, risos). 
Nas primeiras etapas vamos com amor, mas com firmeza, como afirma a icônica  canção Paula e Bebeto, de Milton Nascimento e Caetano Veloso...

Para saber sobre o principio da alavanca de Arquimedes.... clique AQUI