sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Educação e campanha politica com Harry Potter.

Educação popular e cidadã, além de campanhas políticas que considerem a dimensão educativa, não podem deixar de levar em conta os símbolos arquétipos primitivos que povoam  nosso  imaginário.

Bom para isso, quando consideramos que não temos apenas um universo, mas multiverso. Multiverso de histórias, tradições , cores, sons, imagens, movimentos  e crenças, muitas das quais apontam para multiverso que nos situam além do corpo  físico e do tempo histórico. E aqui  já é outra história, é questão de fé, embora a ciência deverá encurtar essa distância nos próximos anos.  Mas mesmo quem não acredita para além do que pode ver,  pode levar em conta os nossos “amigos ou inimigos invisíveis”, pois mesmo se nunca tiverem existido, podem mesmo assim, nos ensinar, nos acolher, nos animar ou o contrário.

Lula  lida com isso de forma muito tranquila e intuitiva. O fato de ter uma inteligência acima da média e não ter frequentado uma universidade eurocêntrica e extremamente racional e mecânica, também ajudou. Em que pese,  os esforços que muitos professores e estudantes da academia estejam fazendo para  superar isso, assim também como muitos que estão fora da mesma, e que buscam utilizar referenciais de outros  campos do conhecimento, mesmo não precisando negar as bases do  chamado conhecimento científico.

A indústria cultural também faz isso muito bem. Como é o caso dos  autores de Harry Potter , Guerra nas Estrelas, os personagens dos grupos Marvel e Disney e tantos outros. Utilizando e ressignificando com maestria símbolos arquétipos ancestrais.

O vereador  da direita paulista  Fernando Holliday na sua campanha, usou e abusou de símbolos de anime japoneses e americanos

A direita mais rasteira, em especial a religiosa,  também revolve os entulhos de alguns símbolos arquétipos  ligados ao patriarcado, a misoginia, ao poder do macho belicoso e etc.,  para fazer frente ao avanço das forças progressistas que buscam construir relações de poder mais livres, igualitárias, plural, tolerantes e etc..
O sensacional meme  abaixo me motivou a escrever o texto acima.  

Zezito de Oliveira 

E para quem não leu Harry Potter como é o meu caso.

"As horcruxes eram objetos ou seres onde Voldemort colocou partes da alma dele, assim mesmo que uma parte fosse destruida, ainda haveria as outras, tornando ele imortal. A metáfora é boa em relação à perpetuação da direita."
Arcquites

A propósito de um exercicio recente baseado no que escrevi acima, elaborei um pequeno texto sobre como vejo a candidatura de Ângela Melo, sob essa ótica "diferenciada", a qual é  colega professora e candidata a deputada federal  nestas eleições.

 "Reza a lenda que existiu uma tribo de mulheres guerreiras, nas terras das florestas que hoje chamamos de Amazônia. Essas mulheres eram conhecidas como Amazonas, daí o nome dessa querida região.
E neste momento e nos próximos anos, precisaremos muito invocar a força e a magia de nossos mitos ancestrais, tanto das mulheres como dos homens guerreiros. Tanto os que moram nas matas, como os que moram nas águas, tanto os que vivem na amazônia, como os que moram nas caatingas, pantanal, cerrado, mata atlântica e gerais.
A colega professora Ângela Melo é uma das que vem marcada com este sinal de conexão com essas mulheres e simbolos ancestrais de luta, combatividade, alegria e esperança."

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Para enfrentar o crescimento do fascismo, com tudo de ruim que isso representa.



 
O que uma esquerda que quer se reinventar já começou  a fazer , considerando que as eleições passarão e a propagação  de ideias antidemocráticas, excludentes, falso moralistas e  odientas tendem a aumentar.

Não considerar as eleições como um fim em si mesmo, mas como um espaço privilegiado para discutir e apresentar saídas  ou alternativas contrárias a barbárie. 

Realizar um processo coletivo pedagógico  de discussão das idéias contrárias a barbárie,  durante a  construção dos programas e  plataformas , antes, durante e após o periodo  da campanha eleitoral.

Buscar conhecer  os diferentes modelos ou formatos de mandatos coletivos, no sentido de fortalecer esse tipo de proposta, a qual  leva em consideração  o anseio de milhares de pessoas, em especial  boa parte dos milhões de jovens que foram as ruas em 2013, os que cansaram do velho modo de  escolher candidatos para cargos eletivos, fazer campanhas eleitorais e exercer  mandatos.

Considerar a necessidade de apoiar as iniciativas culturais da juventude, em especial dos jovens da periferia, iniciativas como grupos culturais, oficinas artísticas, saraus, slams, cineclubes, ocupações culturais de espaços públicos como praças , atividades culturais nas escolas no contra turno e finais de semana, iniciativas de comunicação alternativa no território e na internet. Um papel para indivíduos, mas também para organizações e instituições como sindicatos, religiosos progressistas, mandatos parlamentares progressistas, secretarias da cultura, da educação, da assistência social, saúde, segurança pública e etc., nestes casos, sempre que possível, de forma integrada ou conjunta.

Nos casos de organizações e instituições acima, sempre que  possível,  financiar atividades por meio da criação de um fundo de apoio, mediante a criação de editais democráticos e transparentes. Inclusive sindicatos e mandatos parlamentares, podem  se valer desse instrumento, mesmo que seja para disponibilizar recursos para baixíssimo orçamento, o que podemos definir como  valores situados entre R$1.000 e R$5.000. No caso dos mandatos parlamentares,também é importante escolher assessores que possam contribuir com o apoio técnico e politico,  na discussão e implementação de estratégias visando a sustentabilidade dos empreendimentos culturais e/ou comunitários, em especial os que trabalham com o conceito de economia solidária. Essa sugestão se aplica também a outros espaços, organizações e instituições que disponham de estrutura para fazer isso. 

Da parte das organizações ou instituições citadas acima, também se faz necessário buscar um diálogo com os agentes sociais e culturais que atuam em favor de uma sociedade mais justa e democrática, buscando conhecer suas histórias e demandas, sempre que for proposto  programa, projeto ou ações que envolvam estes agentes e os públicos como os quais eles atuam. Fundamental para isso, começar com um  diagnóstico participativo, pensado  e realizado com estes atores e sujeitos históricos. 

No campo da comunicação, é urgente e necessário se conhecer os diferentes modos de criar e distribuir conteúdos com  baixo custo, assim como buscar fortalecer os espaços para a troca de experiências e desenvolvimento de trabalhos coletivos e destinar recursos financeiros, no caso de organizações e instituições e participar das campanhas de financiamento colaborativo , no caso de pessoa física.

Incentivar a realização de pesquisas, rodas de conversa, seminários, oficinas,  publicações  e etc., com  agentes sociais e culturais que atuam nos territórios,  formadores de opinião e lideres que atuam nos poderes públicos, iniciativa privada e sociedade civil.  Junto e misturado e junto e separado. As universidades tem um papel crucial nisso.

Buscar retomar os estudos de pensadores ou intelectuais que ficaram “fora de moda”, mas que refletiram e buscaram agir em tempos semelhantes ao que estamos vivendo.  Como é o caso do italiano Antônio Gramsci e dos brasileiros  Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Manoel Bomfim e Abdias do Nascimento, entre outros.

 Para saber mais....

Educação Popular 

Frei Betto FSM Salvador 2018 "Educação popular e a restituição de poder ao povo"

Sobre Mandatos Coletivos

terça-feira, 3 de julho de 2018


Mandatos compartilhados, papel e limites 

Sobre iniciativas culturais da juventude. 

quarta-feira, 18 de julho de 2018


Por onde andam os Pontos de Cultura?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017


VAI - O empurrão que a produção cultural na periferia de Aracaju e na região metropolitana precisa.

terça-feira, 8 de maio de 2018


Videos e outros subsidios para a discussão e implementação de uma produtora cultural colaborativa

 

 Reexistir: apontamentos da articulação entre cultura e política de periferias

 

O vídeo começa por volta dos 34 minutos.

 


terça-feira, 28 de agosto de 2018

Grande expectativa para o Seminário sobre os 50 anos de Medellín,

 
As atenções da Arquidiocese de Aracaju e das dioceses de Estância e Propriá estarão concentradas, esta semana, na realização de um grande seminário sobre os 50 anos da Conferência de Medellín, nos dias 31 de agosto e 1 de setembro (sexta e sábado), no antigo Seminário Menor (Bairro Industrial). Organizado pela Cáritas de Sergipe, esse evento tem o objetivo de "fazer memória agradecida, reconstruindo historicamente e celebrando comunitariamente, a importância da Conferência de Medellín – sua preparação, seu desenrolar e suas consequências – para a caminhada do Povo de Deus na América Latina e seu futuro".

O seminário é destinado a lideranças pastorais, padres, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, animadores de comunidade e ao público em geral.

Foram convidados, como palestrantes, dois professores com profundo conhecimento sobre Medellín: Ney de Souza, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), e  Luiz Carlos Luz Marques, da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Doutor em Histórias das Religiões e presidente da Comissão Histórica para a causa arquidiocesana da beatificação e canonização de Dom Helder Câmara.

A inscrição tem o valor de 30 reais, incluindo alimentação e hospedagem (para quem precisar), e pode ser feita clicando aqui







"Três foram os grandes temas de Medellín: Promoção humana; Evangelização e crescimento na fé; Igreja visível e suas estruturas. Foram produzidos 16 documentos, no horizonte dos três grandes temas citados: I) Justiça, Paz, Família, Demografia, Educação, Juventude. II) Pastoral popular, Pastoral de elites, Catequese, Liturgia. III) Movimentos de Leigos, Sacerdotes, Religiosos, Formação do Clero, Pobreza da Igreja, Pastoral de Conjunto, Meios de Comunicação. 

Ganharam grande repercussão os documentos sobre a Justiça, a Paz e a Pobreza da Igreja. Diante da relevância e impacto desses documentos, elementos característicos de Medellín foram as reflexões sobre pobreza e libertação. 

“O Episcopado Latino-Americano não pode ficar indiferente ante as tremendas injustiças sociais existentes na América Latina, que mantêm a maioria de nossos povos numa dolorosa pobreza, que em muitos casos chega a ser miséria humana(…) para nossa verdadeira libertação, todos os homens necessitam de profunda conversão para que chegue a nós o “Reino de justiça, de amor e de paz”. A origem de todo desprezo ao homem, de toda injustiça, deve ser procurada no desequilíbrio interior da liberdade humana, que necessita sempre, na história, de um permanente esforço de retificação. A originalidade da mensagem cristã não consiste tanto na afirmação da necessidade de uma mudança de estruturas, quanto na insistência que devemos pôr na conversão do homem. Não teremos um continente novo sem novas e renovadas estruturas, mas sobretudo não haverá continente novo sem homens novos, que à luz do Evangelho saibam ser verdadeiramente livres e responsáveis.” 

Sobre a concepção cristã da paz, os bispos apontam três características: a paz, primeiramente, é obra da justiça, pois “supõe e exige a instauração de uma ordem justa na qual todos os homens possam realizar-se como homens, onde sua dignidade seja respeitada, suas legítimas aspirações satisfeitas, seu acesso à verdade reconhecido e sua liberdade pessoal garantida”. 

Em segundo lugar, a paz é uma tarefa permanente, pois “a paz não se acha, há que construí-la”, e o “cristão é um artesão da paz”. Em terceiro lugar, a paz é fruto do amor, ou seja, “expressão de uma real fraternidade entre os homens”, fraternidade essa “trazida por Cristo, príncipe da paz, ao reconciliar todos os homens com o Pai”. 

Diante do quadro de injustiça e pobreza, os bispos afirmam que a missão pastoral da Igreja “é essencialmente serviço de inspiração e de educação das consciências dos fiéis, para ajudá-los a perceberem as exigências e responsabilidades de sua fé, em sua vida pessoal e social”. 

Já na Introdução das Conclusões de Medellín os bispos afirmam que “a Igreja latino-americana, reunida na II Conferência Geral de seu Episcopado, situou no centro de sua atenção o homem desde continente, que vive em um momento decisivo de seu processo histórico”. 

“Nessa transformação, por trás da qual se anuncia o desejo de passar do conjunto de condições menos humanas para a totalidade de condições plenamente humanas e de integrar toda a escala de valores temporais na visão global da fé cristã, tomamos consciência da vocação original” da América Latina: “a vocação de unir em uma síntese nova e genial o antigo e o moderno, o espiritual e o temporal, o que outros nos legaram e nossa própria originalidade.”

Leia mais:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Confer%C3%AAncia_Geral_do_Episcopado_Latino-Americano

 Como as danças de roda sagradas

  Início Congresso "Medellín 50 anos: profecia, comunhão, participação"


Dom Tobón: “Renovar o compromisso de trabalhar pela promoção da pessoa humana e dos povos, promovendo os valores da verdade, justiça e paz e da solidariedade. Tudo dentro da opção preferencial pelos pobres e necessitados”.

Cidade do Vaticano

Teve início esta quinta-feira (23/08), no Seminário menor de Medellín, o Congresso eclesial organizado para celebrar o 50º aniversário da segunda assembleia geral dos bispos da América Latina, inaugurada pelo Papa Paulo VI em 24 de agosto de 1968, realizado nesta cidade colombiana.

Danças Circulares, Cultura de Paz e Diversidades Culturais: Perspectivas e Práticas Transdisciplinares [1]

Andrea Paula dos Santos Oliveira Kamensky [2]
 



Uma proposta de construção de uma cultura de paz preconiza a não violência e a construção de ambientes livres de opressão e dominação. Mas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, fortaleceu-se a noção de que o caminho para o estabelecimento de uma cultura de paz não será construído a partir do chavão: “vamos colocar as diferenças de lado” e exercer a “tolerância”. Pelo contrário, uma Cultura de Paz precisa colocar em pauta todas as nossas subjetividades e diferenças, buscando equidade na conquista de direitos humanos, realizando o exercício permanente do aprender a ser diferente, com­preender o outro, por meio de criação e reinvenção de novas práticas culturais e sociais democráticas e plurais.
As Danças Circulares são um importante movimento artístico e cultural na atualida­de que vem desenvolvendo, em diversas regiões do mundo e sob diferentes óticas e pers­pectivas, novas significações, apropriações e interpretações de seu legado histórico e de suas práticas tradicionais e contemporâneas. Seja a partir de vivências e perspectivas artís­ticas, culturais, terapêuticas, científicas, de saúde preventiva ou pedagógicas, as Danças Circulares constituem-se também como objetos de estudos e assumem centralidade em processos de ensino e aprendizagem para públicos variados.
Nesse sentido, as Danças Circulares, tal como são praticadas por milhares de pessoas e grupos neste início do século XXI, abarcam uma multiplicidade de reflexões e práticas, abrangendo aspectos diversificados da vida comunitária e de proposições quanto ao cui­dado de si e do outro. Num mapeamento de atividades e publicações nos últimos anos, observamos que as Danças Circulares se popularizaram e, no contexto atual, perpassam inúmeros espaços institucionais e independentes, mobilizando a atuação de pessoas for­madas em distintas áreas profissionais, desencadeando estudos a partir de perspectivas teóricas e metodológicas inter e transdisciplinares de vastos campos de conhecimentos.
Como exemplo, temos estudos e/ou práticas que partem de sujeitos ligados às áreas de Psicologia, Saúde Pública, Assistência Social, Neurociência, Gerontologia, Medicina, História, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Educação Física, Pedagogia, Arte, entre outras. Isso significa que, por mais que o movimento das Danças Circulares tenha uma história inicial, com protagonistas que as conceberam com objetivos ligados à sua vida em comunidade e ao seu contexto histórico no final do século passado, hoje, a sua expansão e seus desenvolvimentos por pessoas e grupos muito diferentes em múltiplas localidades envol­vem dimensões amplas de diversidades culturais que proliferam e se renovam constantemente.
As histórias e experiências de sujeitos e coleti­vidades em rodas de Danças Circulares não com­portam mais visões únicas e homogeneizadoras, nem enquadramentos fechados e dogmáticos, muito menos tentativas de controle e de explica­ções consideradas melhores ou mais verdadeiras sobre o que essas práticas representam para tantos indivíduos e agrupamentos que cresceram e se es­palharam mundo afora. A tônica das Danças Cir­culares é, no início do século XXI, a da diversida­de cultural.
Assim, as rodas de Danças Circulares são lide­radas por focalizadores/as com formação livre, au­todidata ou em educação formal, que imprimem em seus grupos características de sua própria traje­tória de vida e de seu repertório cultural e social. Há rodas lideradas por pedagogas/os, educadores/ as populares, educadores/as físicos, arte-educado­res/as, psicólogas/as, médicos/as, enfermeiros/as, assistentes sociais, gestores/as e administradores/ as, artistas populares, artistas plásticos/visuais, bai­larinos, atrizes/atores, professores/as de História, Geografia, Filosofia, Arte, Sociologia, Ciências, Línguas e Literatura, que se unem eventualmente em projetos e práticas interdisciplinares em espa­ços públicos e privados de caráter educativo, de saúde, de assistência social, de cultura, de lazer e de esporte, entre outros.
As rodas de Danças Circulares são focalizadas e frequentadas por indivíduos que buscam tanto um horizonte de aprendizados culturais e educacionais quanto um contexto de promoção do esporte, do lazer, do bem-estar, da saúde, da qualidade de vida, do convívio comunitário, do cuidado intergeracio­nal (crianças, jovens, idosos) ou de desenvolvimen­to humano e espiritual. A partir dessa realidade concreta, os itinerários e percursos desses indivíduos nos grupos são fontes de pesquisas, com estudos e trabalhos de campo, passí­veis de interpretações com aportes teóricos e metodológicos que provêm de diversas áreas do saber, não apenas científicas ou culturais, mas também espirituais, profissionais e lei­gas, que buscam compreender o fenômeno das Danças Circulares como dado complexo da vida contemporânea, mobilizador de identidades individuais e coletivas.
Entendemos que todas as contribuições para estudar e compreender o impacto das Danças Circulares em nossa sociedade são igualmente importantes e ampliam nossa per­cepção do que estas representam e significam para muita gente. Apesar de, num primeiro momento, aparentar um discurso unificado e uma construção histórica comum e compar­tilhada sobre seus propósitos e finalidades, as rodas podem ser totalmente diferentes, conforme os locais em que acontecem, as pessoas que participam, as músicas e coreogra­fias que são trabalhadas, a organização de suas práticas por profissionais de áreas discipli­nares com conhecimentos e métodos muito diferentes entre si.
Sabemos, pelos estudos e práticas vivenciados ao longo dos anos, que as pessoas tomam contato com as Danças Circulares e procuram participar de grupos de pratican­tes entre as/os quais se sintam acolhidas, valorizadas, confortáveis e felizes, desenvol­vendo suas potencialidades afetivas, de sociabilidade, corporais e de muitos aprendiza­dos em temáticas tranversalizadas. Uma roda pode ser pouco convidativa para uma determinada pessoa e, ao mesmo tempo, extremamente atraente para outra, dependen­do do equacionamento de fatores objetivos, subjetivos e imponderáveis que, por vezes, mesmo as pesquisas e os estudos, por mais dedicados que sejam, não poderão entender em sua complexidade, ainda mais se tentarem encaixar tais práticas em modelos teóri­cos que simplificam, homogeneízam e, assim, levam a tirar conclusões mais fechadas e mais fáceis de elaborar. Há rodas de Danças Circulares predominantemente com crianças, ou adolescentes, ou jovens, ou adultos ou pessoas idosas, mas também aqueles que reúnem grupos intergeracionais, em que todas essas pessoas se misturam. Há rodas com públicos mistos ou frequentadas apenas por mulheres; por pessoas de determina­das práticas espirituais e religiosas; por pessoas com deficiências; por pessoas de deter­minadas instituições educacionais (nos mais variados níveis de ensino); culturais; de lazer e esporte; de saúde, etc.
O importante é destacar que nesse panorama plural das Danças Circulares existem possibilidades de se constituírem práticas sempre educativas, em torno da defesa e pro­moção de uma cultura de reconhecimento e valorização de diversidades culturais para a construção de relações e comunidades, que tenham como meta o convívio respeitoso e pacífico, entre seres humanos, paradoxalmente iguais enquanto espécie humana e diferen­tes como sujeitos singulares, históricos e culturais. Com suas práticas culturais e corporais coletivas, as Danças Circulares trazem à tona nossas diferenças sem intenção de transfor­má-las em desigualdades. Através da linguagem e da cultura corporal dos/as próprios participantes e de diversos povos espalhados no tempo e no espaço, surgem conhecimentos parti­lhados por focalizadores/as, mediadores/as da roda, e por pessoas dançantes de várias identidades cultu­rais, políticas, socioeconômicas, geracionais, de gê­nero, sexuais, étnico-raciais, religiosas.
O curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE), oferecido pela Universidade Federal do ABC (UFABC) em parceria com o Ministério da Educação e a Prefeitura de São Paulo, teve como um de seus principais objetivos teóricos e metodo­lógicos a proposição da compreensão e do convívio plural e democrático entre pessoas e grupos ligados às diversidades para a promoção de uma Cultura de Paz nos ambientes escolares. E, para tanto, trouxe para a prática pedagógica de formação docente as rodas de Danças Circulares, que sensibilizaram e possibilitaram vivenciar com todo o corpo a quebra de preconceitos e a compreensão efetiva e sensível, corporalizada, do que significa conviver e aprender com as diversidades culturais.
Ao longo do curso, em nossos encontros pre­senciais, dançamos músicas de diversos povos, tra­dicionais e contemporâneas, em diferentes focali­zações como performances artísticas realizadas para construir novos saberes em conjunto com os/ as participantes. As linguagens artísticas da música e da dança tornaram-se, assim, novas pontes, cami­nhos, trajetos possíveis para a mediação de confli­tos e construção cotidiana da Cultura de Paz. A Dança Circular, sempre presente, logo de cara des­constrói nossas relações com o outro, elimina dis­tanciamentos e visibiliza nossas diferenças reco­nhecidas como diversidades ao nos colocar todos juntos, de mãos dadas, olhando uns nos olhos dos outros e realizando danças coletivas de diferentes culturas ao longo do tempo.
Desta forma, as Danças Circulares mostram-se necessárias e poderosas não só no auxílio da cons­trução da Cultura de Paz, mas também nas reinvenções de nós mesmos em diálogo e afetividade com o outro, evidenciando nossos corpos e nossas diferenças que estão pre­sentes e constituem todos os seres humanos, e que por vezes estão suprimidas ou são apontadas de forma negativa. As Danças Circulares derrubam atitudes e comportamen­tos simbolicamente desrespeitosos e violentos, expressos em preconceitos velados e explí­citos em nossos cotidianos no ambiente escolar, de trabalho, familiar etc. que, infelizmen­te, perpetuam em palavras e gestos muitas discriminações contra mulheres, populações negras e indígenas, pessoas LGBT que expressam diversidades sexuais, pessoas de cultu­ras e regiões distantes, pessoas idosas, pessoas deficientes, enfim, pessoas de grupos histo­ricamente marginalizados, que compõem a beleza plural e a riqueza cultural da humani­dade. No círculo, aprendemos que somos iguais e diferentes, que precisamos conviver e aprender uns com os outros, e que esse rico e novo aprendizado pode ser prazeroso, alegre, lúdico, libertador, terapêutico e transformador.
Para desenvolvermos e refletirmos sobre estas questões e outras correlacionadas, ela­boramos um volume dedicado à sistematização e disseminação de algumas experiências com Danças Circulares e Educação e promoção da Cultura de Paz, realizadas nos últimos anos em nosso país.
( … )
Este volume foi pensado como um repertório afetivo e criativo de linguagens artísticas, sobre­tudo da dança e da música, com foco no movi­mento cultural das Danças Circulares, contendo também reflexões pedagógicas que transitam no campo das Humanidades, das Artes e da Saúde Pública. Trata-se de um produto cultural, que pretende ser um dispositivo provocador de novas ideias, práticas e caminhos para a construção de uma educação para as diversidades e para a paz. A Cultura de Paz que queremos ensina a reconhe­cer, valorizar e respeitar as riquezas culturais de todos os povos que constituem uma única huma­nidade em meio a tantas diversidades, sem trans­formá-las em desigualdades.
Esperamos que cada pessoa, educadora ou de outra formação profissional, construa novos conhe­cimentos em conjunto com autoconhecimento, que possa fortalecer, empoderar e inspirar, dando legiti­midade e criando oportunidades para a realização de novos projetos inter/transdisciplinares em que as Danças Circulares estejam presentes em seus am­bientes de trabalho e de convívio, em novas rodas de afetos, amizades, compreensões e aprendizados mútuos, com respeito e solidariedade numa Cultura de Paz. Gratidão a todos/as que estão nas rodas de Danças Circulares, es­palhadas nas escolas, parques, praças, universidades, centros de convivência, em espaços públicos e privados no Brasil e mundo afora, cultivando círculos para que mais pessoas possam aprender a dançar, corporificar, incorporar as diversidades culturais como cida­dãos e cidadãs dançantes em busca do estabelecimento da paz e do convívio saudável entre diferenças que constroem igualdade de direitos humanos com equidade e justiça como legado histórico e cultural para as futuras gerações.

Andrea Paula dos Santos Oliveira Kamensky
Professora Dra. da UFABC, Coordenadora do Projeto Gênero e Diversidade na Escola (GDE /UFABC), Professora Pesquisadora do Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência – CESIMA/PUC-SP e do Núcleo de Estudos em História Oral – NEHO/USP


[1] In: KAMENSKY, Andrea Paula et alli (orgs.) CIRCULARIDADES – Danças Circulares e Diversidades Culturais: Educação para uma Cultura de Paz. Série Direitos Humanos, Gênero e Diversidade na Escola (GED-UFABC), vol.8. Apresentação. São Paulo: Editora Pontocom, 2016, p. 14-22.
[2] Professora Dra. da UFABC (Universidade Federal do ABC, São Bernardo do Campo-São Paulo), Coordenadora do Projeto Gênero e Diversidade na Escola (GDE/UFABC), Professora Pesquisadora do Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência – CESIMA/PUC-SP e do Núcleo de Estudos em História Oral – NEHO/USP.