sábado, 31 de dezembro de 2022

TODOS OS PAPAS SÃO MORTAIS. SOBRE BENTO XVI

 Por Romero Venâncio


Bento XVI saúda os fiéis no dia de sua eleição como Papa, em 19 de abril de 2005


Informo antes: tudo nesse brevíssimo texto será pessoal. “Todos os Homens são mortais” é um titulo de um livro de Simone de Beauvoir. O romance conta a história de um príncipe medieval chamado Raymond Fosca que consegue o que mais queria: “um elixir da imortalidade”. Com tal feito, resolveria todos os seus problemas. Viu tudo que aflige a condição humana passar em sua vida eterna: amor, cobiça, morte, prazer, destino, transcendência, medo, fortuna. Em sua vigem pela história, ele enfrentará um único inimigo que havia esquecido de colocar na conta do “elixir”: o tempo. Pesou sob a eterna vida do príncipe e isto não lhe dava redenção alguma. 

Viver eternamente era sofrer eternamente e sem escapatória mais. Porém, o que antes parecia um privilégio torna-se uma verdadeira maldição. O drama de Fosca se desenvolverá nesse ambiente trágico de chegar ao ponto de desejar morrer sem poder morrer. A morte se tornaria um presente. Não acusaria jamais Simone de Beauvoir de “moralismo”. O romance não tem essa finalidade. Mas tem um objetivo singular no pensamento existencial da pensadora francesa: a morte tem sua sabedoria independente de se ter ou não alguma fé religiosa. Acompanhado o percurso do personagem de Beauvoir, sentimos o peso, o alívio e a justa medida de morrer. Todo poder, toda vaidade, toda loucura, todo desejo acabam no túmulo. E isto tem sua “educação pela pedra”. Aprendemos implacavelmente diante desta realidade, pensava a escritora-filosofa. 

Pode parecer estranho começar falando de um Papa e ainda mais, o recém falecido Papa Bento XVI com uma breve reflexão a partir de Simone de Beauvoir. Não era uma escritora que preferia o distinto prelado. Sei disso por suas posições teológicas. Talvez, na sua juventude, o religioso Ratzinger possa ter lido a pensadora francesa. O já Cardeal ou Papa Bento XVI jamais teria lido. E nesse momento aqui, isto não tem importância alguma. Nem para mim, nem para o Papa morto. O que interessa é a reflexão de Beauvoir e seu impacto universal, inclusive nos “infalíveis Papas”.

Três momentos da vida do cardeal Ratzinger/Papa Bento XVI me chamam a atenção. Apenas um recorte significativo e sem grandes pretensões.

Primeiro. A participação do jovem teólogo assessor dos bispos alemães no Concílio Vaticano II (1962-1965) e sua desilusão com o que ajudou a promover. O teólogo Ratzinger foi influente num Concílio que mudou profundamente o catolicismo romano no mundo. Modernizou a Igreja e a fez tornar-se atual ao seu mundo. Isto não é pouco numa instituição milenarmente conservadora. 

Os ventos dos anos 60 entraram dentro da Igreja Católica e varreram muitas coisas e o teólogo Ratzinger sentiu na pele ao retornar para a Alemanha e viu uma juventude rebelde e uma Igreja frágil demais diante daquele terremoto eclesial. Abandonou o ensino universitário e se recolheu aos estudos de teólogo com uma força grande. Espelhou-se em três temas: Permanência, Ordem e Tradição. Com isto, morria o teólogo progressista dos anos 60 e nascia o teólogo conservador. Se tornará bispo, cardeal. Homem das entranhas do Vaticano nos anos 80. Prelado de confiança de João Paulo II e prefeito da temida “Congregação para doutrina da fé” (Leonardo Boff que o diga!!!).

Segundo. A perseguição a “Teologia da Libertação”. O Cardeal Ratzinger chegou a escrever um documento enquanto presidindo a Congregação para doutrina da fé em 1986. O famoso: “Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação”. Definiu toda a crítica a teólogos/teólogas na América Latina, em particular. Ratzinger combatia teoricamente a teologia da libertação e João Paulo II combatia na linha de frente nomeando bispos e cardeais conservadores e ainda dando corda solta a movimentos reacionários, como “Opus Dei”, por exemplo. Momento triste da Igreja. De profunda desilusão na chamada “igreja dos pobres” na América Latina. Parte do reacionarismo presente hoje no catolicismo vem destes anos 80 cruéis. Era a aliança João Paulo II, Reagan e Thatcher contra o “comunismo”. Sabemos hoje o resultado.

Terceiro. A renúncia do então papa Bento XVI. O cardeal Ratzinger se torna Papa em 2005 com a morte melancólica de João Paulo II. Uma Igreja em crise e acossada por uma série de denúncias mundiais de pedofilia e corrupção interna. Parecia uma Igreja cansada e dominada por um pensamento conservador consolidado. O Papa Bento XVI se torna Papa nestas condições e conjuntura. De intimidade violada por um secretário particular a conflito com Muçulmanos, Bento XVI foi perdendo a liderança interna e externa à Igreja. Escreveu “Encíclicas” relevantes, mas sem o impacto devido. Renunciou de maneira inédita na Igreja e se recolheu humildemente.  

O teólogo Ratzinger, um dos maiores da Igreja, sacrificou sua carreira para ser guardião da Fé. E pagou um preço por esta decisão. Siga em paz.

Morre Papa Bento XVI: relembre a trajetória do Papa Emérito. Por Padre e Historiador José Oscar Beozzo



BENTO XVI, O PAPA DA RENÚNCIA QUE MUDOU A IGREJA

*Por Jorge Alexandre Alves*

Nem mesmo no último dia do ano, 2022 poupou uma personalidade mundial. O bispo emérito de Roma, Bento XVI faleceu em avançada idade. 

Homem reconhecidamente polido e afável no trato pessoal, intelectualmente erudito e muito firme em suas posições teológicas. Joseph Ratzinger foi protagonista importante nos últimos 40 anos da história do catolicismo.

Foi perito teológico no grande evento da Igreja nos últimos 100 anos, o Concílio Vaticano II. Contudo, se afastou das intuições mais inovadoras daquele momento exuberante do catolicismo. 

Dizem que se assombrou após as manifestações dos jovens em 1968 em várias partes do mundo (França, Alemanha, Itália, México, Japão...) e com a contracultura, o movimento hippie e a geração sex, drugs and Rock'n'roll. E passou a considerar que o Vaticano II havia dado um passo gigante demais.

Como grande teólogo, juntou-se a outros de viés mais conservador e criou a revista acadêmica Communio. Era um contraponto a outra revista teológica, Concilium, formada por um outro grupo de teólogos, quase todos peritos conciliares, que defendia as reformas do Vaticano II e seu aprofundamento. 

Na Concilium estavam todos os grandes teólogos europeus daquele momento: Congar, Ranner, Metz, Schillebeeckx e Hans Kung. Este último seu colega na Universidade de Tubingen, com quem teve profundas disputas teológicas.

Naquele momento, se definiu um traço marcante da  personalidade intelectual de Ratzinger: sua grande dificuldade em dialogar com os fenômenos sociais contemporâneos. Este elemento talvez seja a chave para compreender como uma figura tão doce nas relações interpessoais tenha sido tão duro com a liberdade do pensamento teológico enquanto dirigente eclesiástico.

No plano teológico, foi o grande executor do projeto de pontificado de São João Paulo II, a "volta à Grande Disciplina", na expressão do jesuíta João Batista Libânio. Como Wojityla, teve grandes dificuldades para compreender o "zeitgeist" (espírito de uma época) da Igreja Latinoamericana. 

Por aqui, como inspiração conciliar, a questão da pobreza e da necessidade de uma profunda reforma da Igreja produziram as a comunidades eclesiais de base (CEB's) a Teologia da Libertação e a Leitura Popular da Bíblia. Infelizmente, com Ratzinger à frente do antigo Santo Ofício (Congregação para a Doutrina da Fé), teólogos foram condenados, práticas pastorais foram silenciadas e seminários forma fechados.

Como professor e teólogo, não poupou esforços em financiar a publicação da Tese de Doutorado de Leonardo Boff. Como Prefeito do ex-Santo Ofício, colocou o maior teólogo brasileiro vivo na cadeira que Galileu sentou quando processado pela Inquisição. Fantasmas da pós-modernidade com quem sempre teve dificuldades em dialogar?

Isso abriu espaço para o fundamentalismo católico e reforçou o clericalismo. No Brasil, reforçou a presença da Igreja junto a setores médios e afastou  a periferia do catolicismo, iniciando o processo de perda de capilaridade social da Igreja, mais de trinta anos atrás.

Para continuar o projeto de João Paulo II, o "Panzer  Kardinal" é eleito papa e adota o nome de Bento XVI. Na perspectiva da "hermenêutica da continuidade", entendia o Concílio muito como um seguimento dos concílio anteriores do que uma inovação em termos católicos. 

Bento resgata símbolos medievais do papado, autoriza a volta da missa em Latim. Prevalecia a ideia que retomar parâmetros dos tempos de Trento salvaguardaria a Tradição da Igreja.

Ao mesmo tempo, o catolicismo é marcado por escândalos. A chaga da pedofilia e dos abusos sexuais sangra e envergonha a Igreja. 

Ratzinger, alquebrado pelo cansaço e pela idade, viu-se sem forças para conduzir a Igreja em meio a sua mais grave crise em 200 anos. Diante de tal cenário, fez aquele que ficou marcado como o grande ato de seu pontificado. 

Bento XVI renunciou ao governo da Igreja, abrindo caminhos para a necessária renovação do papado e da urgente reforma da Igreja, conduzidas por Francisco. As mudança trazidas pelo Papa oriundo do fim do mundo não se deram sem grande resistência de parcela da Igreja.

A renúncia do Papa Ratzinger foi ao mesmo tempo, ato de grande humildade, coragem e de amor a Igreja. Mas,ao mesmo tempo, é também reconhecimento que determinado projeto de Igreja estava equivocado.

Hoje, esta figura tão importante da história contemporânea do catolicismo se foi. Podemos criticar suas opções teológico-eclesiais, mas não podemos duvidar de sua honestidade intelectual, nem, dentro de suas convicções, de seus esforços em servir a Igreja.

Muito ainda será escrito a respeito do legado de Ratzinger e de seu papel na história recente do catolicismo. Que Bento XVI descanse em paz e seja acolhido por Deus pela eternidade.

*Jorge Alexandre Alves é Sociólogo, professor e do Movimento Nacional Fé e Política.

Leia também:







Mauro Alexandre Pereira de Almeida
"Para aqueles que querem entender melhor a Igreja Católica nos tempos atuais recomendo esse ótimo filme do diretor Fernando Meirelles."


Uma boa conversa sobre o filme consta na  live abaixo. (acrescentado em 02/01/2023).





Ratzinger, o papa que entregou o 3º mundo aos neopentecostais, 
Houve tempos em que a Igreja católica tinha a bandeira da aproximação com o povo, levantada por João 23.
por Luis Nassif no "Jornal GGN"
Nos elogios ao papa Ratzinger, falecido ontem, o mais recorrente foi sua coragem de ter renunciado ao papado. É uma interpretação nova ao termo coragem. Ele renunciou devido ao fracasso da Igreja católica, iniciada por seu antecessor, João Paulo 2o. É impossível a qualquer movimento religioso prosperar sem a bandeira da esperança. Os neopentecostais têm a bandeira do conforto religioso e da teologia da prosperidade. Houve tempos em que a Igreja católica tinha a bandeira da aproximação com o povo, levantada por João 23.
Conheci de perto – e de militância – as duas igrejas, a de antes e a durante o papado de João 23. A de antes era a Igreja imperial, dos grandes jogos políticos, disputando com a maçonaria o poder federal e nas menores localidades. Os jovens eram convocados para serem Cruzados Marianos, umas concepção semi-militar. Em Poços de Caldas era representada pelo Monsenhor Trajano Barroco, que usava o instituto da excomunhão como arma política. E obrigou meu pai a sair da maçonaria para poder casar na Igreja com minha mãe.
Era a Igreja também dos Irmãos Maristas e seus colégios com internatos. Já havia pedofilia, mas o temor reverencial despertado pela Igreja blindava todos os abusos. O mais abusador saiu consagrado de Poços, inclusive com militância política em favor do PSD, e morreu consagrado no Colégio Marista de Brasília, com todos seus crimes não saindo dos limites dos cochichos entre alunos. Foi esse bolor pestilento que João 23 começou a espanar com suas encíclicas, espalhadas em Poços de Caldas pelas freirinhas maravilhosas do Colégio São Domingos.
De repente, a parte mais idealista dos jovens encontrava uma bandeira pela frente. No GGN, nosso grupo de ação católica, íamos conhecer de perto a realidade do Serrote, a favela mais pobre de Poços. Levávamos alimentos, ajudávamos nos mutirões para a construção de casas, e levávamos a mensagem de João 23 aos desassistidos. Nas missas, os rituais em latim foram substituídos pelo português. Os celebrantes deixaram de celebrar de costas para os públicos. E renovaram-se as músicas. Cantei, cantei e cantei, em missas, casamentos, em Poços, em Santos, cantigas como “Andança”, “Morrer de Amor”, “Canção do Medo”.
De repente, tudo afundou. O Relatório Rockefeller, de 1969, apontando a Teologia da Libertação como ameaça aos Estados Unidos, o pacto infame entre João Paulo 2o e o governo Reagan, tudo isso pode ser lido no “Xadrez das insurreições bolsonaristas”. A Igreja, perto do povo, acabava com o temor reverencial e inibia a atuação dos padres pedófilos e das negociatas. Aliás, quem critica o negocismo dos pastores de hoje deveria ir atrás das histórias dos padres do começo do século 20, e os abusos de poder sobre fazendeiros e sitiantes crédulos.
Ratzinger foi uma continuação de João Paulo 2o. Morre como co-autor da maior derrota da Igreja católica, em um momento em que mudanças da mídia e dos hábitos preconizavam um mundo novo.

Por Faustino Teixeira  

"As razões de minha dificuldade de celebrar a passagem de Ratzinger. (acrescido em 02/01/2023)

Vejo-me na necessidade de justificar aqui as razões de minhas críticas ao cardeal Ratzinger, que se tornou papa Bento VI, quando ainda está sendo velado. 
Não desconheço os seus méritos de teólogo, com obras importantes publicadas quando ele estava em período de docência. 
Mas como homem de autoridade, sobretudo depois de tornar-se prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a partir de janeiro de 1982, tenho muitas críticas a seu respeito.
Foi doloroso para mim ver sua visão trituradora da teologia da libertação, e em particular sua punição ao amigo teólogo Leonardo Boff, que viveu momentos de grande dor depois de ter sido silenciado e punido pela Congregação da Doutrina da Fé. 
Seguiram-se tantos outros teólogos, também punidos por Ratzinger e seus auxiliares. Mas não só teólogos, também bispos importantes como Pedro Casaldáliga.
Uma dor particularmente difícil de ser por mim enfrentada foi a que se relacionou à punição de meu supervisor de pós-doutorado, o exemplar teólogo jesuíta Jacques Dupuis, que tive o privilégio de conhecer de perto e sorver com alegria os seus ensinamentos sobre o cristianismo e o pluralismo religioso.
O caso Dupuis, como ficou conhecido, foi um dos mais dramáticos ocorridos durante a gestão de Ratzinger na CdF. 
Sua presença na Gregoriana, como professor dos mais queridos, foi sempre motivo de muita desconfiança por Ratzinger. Seu livro principal, Rumo a uma teologia cristã do pluralismo religioso, de 1977, foi motivo de uma drástica notificação da CdF sob a presidência de Ratzinger. 
Depois de um longo sofrimento e tentativas de defesa, o seu livro veio notificado pela CdF em janeiro de 2001, pouco depois da publicação da famigerada Declaração Dominus Iesus, de agosto de 2000.
O caso Dupuis vem exemplarmente documentado no precioso livro “Il mio caso non è chiuso”. Conversazioni con Jacques Dupuis, de autoria de Gerard O´Connel. Trata-se de um volumoso livro, com 439 páginas, publicado na Itália pela Editora EMI, em 2019. 
Digo a vocês que li esse livro com lágrimas nos olhos, ao acompanhar a realista narração traçada no livro.
Não sem razão, o grande teólogo dominicano, Yves Congar, em seu “Diário de um teólogo” (publicado postumante pela CERF em 2000), identificou o Santo Ofício como a “Gestapo” católica. Ele e outros importantes teólogos como Henri de Lubac, tinham sofrido antes nas mãos desta instituição sombria. 
Na época de Ratzinger, outros tantos teólogos foram violentados em sua busca de livre expressão teológica. 
O caso Dupuis pude acompanhar mais de perto, pois sua punição ocorreu no período mesmo em que eu estava em Roma sob sua supervisão no pós-doutorado. 
No mesmo dia em que saiu a primeira matéria crítica à sua obra, ele estava em minha casa, a convite de minha família. Pude observar de perto o seu sofrimento. Dizia para mim na ocasião: "Não sei ensinar o que eu não penso".
No livro de O´Connel, infelizmente não publicado em português, o relato é impressionante. Vale lembrar que entre os consultores da CdF estavam quatro professores da Gregoriana, que não tinham lá suas simpatias por Dupuis. Entre eles os teólogos Albert Vanhoye e Karl Becker. 
Eles participaram da única reunião da CdF onde se tomou a decisão de condenação do livro de Dupuis. Durante o processo de investigação de seu livro, Jacques Dupuis foi convidado a deixar o ensinamento na Gregoriana e essa decisão foi afixada no átrio da Universidade Pontifícia, disponível para o olhar apreensivo de todos os estudantes. Uma humilhação...
Dupuis reconhece no livro-entrevista de O´Connel que não houve diálogo algum com ele. Foi uma decisão arbitrária, que passou por cima de todas as tentativas de respostas às observações críticas lançadas contra o seu livro. 
O que estava em jogo era a pesada crítica da CdF contra “os graves erros contra a fé” presentes em sua obra. 
Dupuis relata que tudo isso provocou nele uma “profunda angústia” e um “sentimento de revolta”. A dor foi ainda maior, pois ele não encontrou o apoio que precisava na própria comunidade da Gregoriana, com raras exceções.
Em sua última aula ministrada na Gregoriana, em 1997, onde eu estava presente, foi longamente aplaudido pelos cerca de duzentos alunos de seu curso. 
Ele mesmo sublinha no livro: “Recordo, em particular, quando me levantei, recebi um longo e forte aplauso, na aula magna, no que acabou sendo, minha última aula na Universidade”. 
Recorda que talvez os alunos pressentiam que aquela seria a sua última aula e quiseram saudá-lo com um generoso aplauso.
Dupuis ainda tentou continua atuando depois de sua punição pela CdF, mas as resistência, também de Ratzinger, continuaram vivas, impendindo sua atuação pública. 
O novo livro escrito por ele depois da notificação, finalizado em 2004, foi impedido de ser publicado: “Pluralismo religioso e diálogo”. As razões do impedimento eram claras: por motivos doutrinas e prudenciais. 
Em carta dirigida a ele pelo vice-reitor da Gregoriana, pe. Francisco Egaña, foi advertido sobre a vigilância de seus superiores sobre ele, e que provocar a CdF com um novo livro seria um dando não só para ele, como também para a Universidade e os Jesuitas.
Em sua resposta ao vice-reitor, publicada na ocasião, Dupuis sublinhou que tinha “perdido a vontade de viver desde 02 de outubro de 1998”. 
Na sequência dos acontecimentos, as coisas foram só piorando para ele, jogado ao túmulo do esquecimento. 
Foi convidado a receber um título de doutor honoris causa na Universidade de Toronto, mas foi aconselhado a não ir, como também ocorreu com todos as outras viagens previstas.
O livro “Perché non sono eretico”,  foi publicado postumamente, em 2012, mesmo estando pronto bem antes. Nesse livro, Dupuis comentava a sua opinião sobre a declaração Dominus Iesus e também todo o processo relacionado à sua notificação. 
O livro foi editado por William Burrows, e publicado na Itália em 2012, com base na versão original inglesa. Até hoje o livro também não foi publicado em português.
Voltando ao livro de O´Connel, Dupuis relata já depois da notificação, a ação controladora de Ratzinger continuou, com a censura às suas saídas para conferências, como sempre fazia. 
Em carta de Ratzinger ao superior de Dupuis, o padre Kolvenbach, em janeiro de 2002, ficava claro que o rechaço à presença de Dupuis em duas das conferências citadas era uma iniciativa pessoal dele, do "Panzer-Kardinal"
Dupuis foi também retirado da editoria da revista Gregorianum, da qual fizera parte durante muitos anos. 
Tudo isso ocorria sob o frio e indiferente olhar do reitor da Gregoriana.Todo o processo foi vivido por Dupuis com muito sofrimento. 
Ele dizia a respeito: “Passei e suportei uma profunda ferida que jamais terá cura. Não poderei ser a mesma pessoa de antes, que se alegrava com a vida com um senso de liberdade a que todos deveriam ter direito”. 
Dupuis relata que seu ensino na Gregoriana gozava de grande sucesso, mas isso também o fragilizava, provocando igualmente muito ciúme entre outros docentes. 
Relata que alguns diziam que os ataques que sofria tinham também como alvo a teologia asiática, de que era um entusiasta.
Dupuis chega a dizer no livro de O´Connel que o cardeal Ratzinger nem chegou a examinar pessoalmente o seu caso, restringindo-se a contentar-se com a opinião de alguns consultores da CdF. 
Fala ainda da própria “ignorância” dos cardeais que compunham a CdF a respeito de informações mais precisas sobre o seu processo.
O livro feito em homenagem ao seu trabalho de teólogo, em 05 de dezembro de 2002 (seu Festschrift) não recebeu nenhuma saudação dos altos funcionário do Vaticano, nem mesmo da Gregoriana. 
Durante o lançamento do livro-homenagem, Dupuis relatou com emoção que o único verdadeiro amor de sua vida tinha sido sempre Jesus Cristo.
Desde que ocorreu a notificação de seu livro, Dupuis passou a ser “abandonado” por sua Universidade. Mesmo recebendo a aprovação de seu superior, o padre geral, para permanecer morando na Gregoriana, ele percebeu que estava ali cada vez mais deslocado, com pouquíssimos os que ainda podiam acolhê-lo com carinho. 
Suas refeições eram feitas solitariamente. Seu sentimento e vontade era de deixar logo aquele lugar. Como recurso, contava apenas com os 150 Euros mensais para suas despesas pessoais.
Suas energias vitais foram minguando cada vez mais, e sua caminhada foi perdendo a luz. 
A dor por que passou, de dimensão violenta, foi aumentando, vindo a falecer pouco depois do Natal. Foi internado depois de desfalecer no refeitório da Universidade Gregoriana, e veio a falecer em 28 de dezembro de 2004.
Por causa disto e de tantas outras coisas, fica muito difícil para mim dizer que celebro com alegria a passagem de Bento XVI. 
O que posso afirmar, como católico peculiar, é que não consegui alcançar a virtude de amar Bento XVI. 
Lembro-me que quando ele se tornou papa, num dos jornais do dia seguinte, Leonardo Boff, afirmou: “Vai ser muito difícil amar esse papa”. 
Digo a vocês hoje, também com penar, que continuei tendo essa mesma dificuldade ao longo de sua atuação como papa. Peço a Deus, que o receba com carinho, mas há névoas que precisam ser ainda trabalhadas no seu juízo final."
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Sobre o filme "Dois Papas" - acrescido a esse post em 03/01/2023
Atenção! O artigo abaixo contém spoiler. Quem preferir pode assistir o filme antes e depois vir conferir o ponto de vista do teólogo Emerson Sbardeloti 


Bento XVI – Um Papa da velha cristandade
04/01/2023 LEONARDO BOFF

Sempre que morre um Papa toda a comunidade eclesial e mundial se comove, pois vê nele o  confirmador da fé cristã e o princípio de unidade entre as várias igrejas locais. Podem-se fazer muitas interpretações da vida e dos atos de um Pontífice. Farei uma a partir do Brasil(da América Latina), seguramente parcial e incompleta.
"O teólogo Joseph Alois Ratzinger é um típico intelectual e teólogo centro-europeu, brilhante e erudito. Não é um criador, mas um exímio expositor da teologia oficial. Isso aparecia claramente nos vários diálogos públicos que fez com ateus e agnósticos", escreve em artigo Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.



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Dois Bento XVI – Um Papa da velha cristandade

04/01/2023 LEONARDO BOFFDEIXE UM COMENTÁRIO

Sempre que morre um Papa toda a comunidade eclesial e mundial se comove, pois vê nele o  confirmador da fé cristã e o princípio de 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Luiz Antônio Simas: "A ideia de identidade nacional fixa é uma ilusão".

https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2022/12/luiz-antonio-simas-a-ideia-de-identidade-nacional-fixa-e-uma-ilusao-clc7nthjw001y0181e1wdgbl6.html


Autor de diversos livros sobre cultura popular, o historiador, compositor e escritor analisa a situação atual do país sob uma perspectiva histórica

Luiz Antonio Simas, 55 anos, tem olhos na rua. O professor, escritor e compositor carioca é um entusiasta da cultura popular nas suas mais distintas manifestações: samba, Carnaval, terreiro, botequim, jogo do bicho, futebol. Assíduo no Bode Cheiroso, bar que frequenta no Rio de Janeiro, colhe elementos para sua intensa produção. É autor, entre quase três dezenas de livros, de Coisas Nossas, Maracanã — Quando a Cidade Era Terreiro e Almanaque Brasilidades — Um Inventário do Brasil Popular. Define-se como um historiador das miudezas da vida urbana cotidiana. 

Em entrevista a GZH, Simas falou de quase tudo um pouco, mas faltou tempo para tantas áreas de interesse.

— O que me interessa é entender como as culturas de rua vão construindo mecanismos de sociabilidade e sentidos coletivos de vida diante de circunstâncias muito precárias. E acho que isso está sob ameaça. Cada vez mais, a rua é encarada como um ponto de passagem, de circulação de mercadorias e de corpos adequados e apressados. A vida, cada vez mais, está sendo levada para ambientes fechados. As pessoas vivem em caixotes: o colégio é um caixote, o condomínio é um caixote, o shopping é um caixote, o carro é um caixote. A gente está encaixotado — observa.

Você se dedica a diversos temas ligado à cultura popular brasileira. Quem é o Brasil, qual a identidade do nosso país? Imagino que não seja uma resposta simples.

Essa é uma indagação que o Brasil está tentando fazer há, pelo menos, uns cem anos. Viemos de um processo colonial, de quatro séculos de escravidão, de genocídio indígena... Definir algum tipo de identidade a partir de uma história com essas particularidades é muito complicado. Só vamos conseguir pensar a identidade nacional brasileira, paradoxalmente, a partir do reconhecimento das nossas pluralidades. O Brasil é complexo demais. Se pensamos o Brasil como um projeto de Estado-nação, esse Brasil oficial, durante a maior parte do tempo, foi projetado para excluir. É um projeto de exclusão bem-sucedido porque fomos projetados dentro de uma perspectiva de exclusão mesmo: concentradora de propriedade e renda, domesticadora e aniquiladora de corpos. Ao mesmo tempo, nas frestas desse projeto de horror, você vai construindo sentidos de vida, o que chamo de brasilidades. Entendo o Brasil como projeto de Estado-nação, e as brasilidades, como criações incessantes de sentido de vida nas brechas desse muro de exclusão. O Brasil tem essas contradições latentes em sua história. Somos um país capaz de adubar a flor e afiar a faca. A madeira que bate no corpo e, ao mesmo tempo, que bate no couro do tambor para recriar a vida como samba. Temos essa complexidade toda que faz parte da nossa formação. De toda maneira, a impressão que tenho é que só vamos conseguir, rigorosamente, refletir sobre identidade nacional brasileira nos colocando em uma posição de desconforto. Somos esse processo de pluralidade, de extremíssima violência. Houve gerações de intelectuais que acreditaram que poderíamos pensar a identidade nacional a partir de um certo campo comum da cultura que redimiria a violência da nossa história, mas não. Então, primeiro é pensar que não teremos respostas definitivas. Segundo, toda ideia de identidade fixa é uma ilusão.  

Tivemos uma eleição sem precedentes, sob diversos aspectos, neste ano. Os últimos tempos foram extremamente conflituosos. Isso mudou, de alguma forma, sua percepção sobre o povo brasileiro?

Alterar, acho um pouco demais. Somos um país com uma história profundamente marcada pela violência. A ideia de que somos um projeto afável que, de repente, foi se brutalizando é, mais uma vez, buscar uma certa identidade que nos redima, e a coisa é muito mais complexa. Somos um país fundado em quatro séculos de cativeiro. O Brasil não é só de belezas, de samba, que joga bola, que canta e dança — é isso também. Mas o Brasil é dos capitães do mato, dos bandeirantes que saíam para apresar e escravizar indígenas. É um projeto de horror, forjado também na senzala, no pelourinho, no chicote. Tudo isso faz parte do nosso processo de formação. O que acontece agora é que esse pus jorrou, é uma ferida aberta. Tem uma extrema-direita que já está aí há muito tempo, um sentimento latente marcado pela violência, pela ideia de exclusão, por intolerância. Esse pus bolsonarista que jorrou, em larga medida, é resultado também de um processo de afirmação de um Brasil divergente do Brasil oficial: um Brasil da diversidade sexual, que contesta o patriarcado a partir do protagonismo das mulheres, em que indígenas e negros são agentes da sua história. Por um lado, isso é muito forte, e me parece um processo irreversível. Por outro, gera reações das mais pesadas de certos segmentos que não sabem, não querem, não toleram conviver com esse tipo de coisa. Passo longe de achar que havia um Brasil de tranquilidade, que tinha chegado a um certo consenso e parece que tudo desandou. Não. Tivemos momentos positivos, de avanço, mas, fundamentalmente, estamos enraizados em um esteio violento. E reconhecer isso não é propor um reconhecimento que imobilize, mas um reconhecimento que seja agente da luta e da mudança.

O Brasil não é só de belezas, de samba, que joga bola, canta e dança. É um projeto de horror, forjado também na senzala, no pelourinho, no chicote. Tudo isso faz parte do nosso processo de formação. O que acontece agora é que esse pus jorrou. É uma ferida aberta.

Como surgiu esse interesse pela cultura "da rua": o samba, o futebol, o jogo do bicho, o boteco?

Venho de uma família predominantemente nordestina muito ligada à cultura das ruas, que gostava muito de samba. Minha avó era mãe de santo e tinha um terreiro. A rua era considerada um lugar de construção de sociabilidade muito intenso. Como historiador e escritor, o que me instiga é tentar entender como você vai construindo sentido comunitário de vida, sociabilidade, redes de proteção social numa dimensão de vida muito precarizada. Se você para para pensar no papel do botequim, da escola de samba, da barraquinha de comida de rua, da quitanda, do pequeno comércio... Aí tem construção de sentido comunitário de vida. Gosto muito da festa de rua. Ao contrário do discurso do senso comum de que a festa é alienante, vejo-a como instância de construção do sentido coletivo diante de um mundo que nos individualiza cada vez mais. Somos escravizados pelo tempo do relógio, pela adequação dos corpos, pelo ambiente do trabalho...Pelas imagens...
Sim. Somos capturados por uma dimensão da vida que é desumanizadora. Isso me assombra muito. Cresci num ambiente em que o Carnaval era aquela festa do "não me encontre". Você se entregava às paixões da rua para sumir. Hoje a gente vive o Carnaval do "onde me encontrar": o cara diz onde está, de que maneira está fantasiado. São elementos que nos arremessam em um processo de diluição do laço comunitário. Esses laços são fragmentados, estão estilhaçados por essa dimensão da vida. E, ao mesmo tempo, a cultura de festa opera no sentido de reconstrução de um sentido de pertencimento coletivo que, no cotidiano, parece, o tempo todo, estar sendo perdido. As pessoas ficam um pouco espantadas porque não sou um boêmio, você não vai me encontrar virando noite em um botequim. Gosto de tomar minha cerveja de dia. O que me interessa é entender como as culturas de rua vão construindo mecanismos de sociabilidade e sentidos coletivos de vida diante de circunstâncias muito precárias. E acho que isso está sob ameaça. Cada vez mais, a rua é encarada como um ponto de passagem, de circulação de mercadorias e de corpos adequados e apressados. A vida, cada vez mais, está sendo levada para ambientes fechados. As pessoas vivem em caixotes: o colégio é um caixote, o condomínio é um caixote, o shopping é um caixote, o carro é um caixote. A gente está encaixotado. 

Muitas das suas histórias e inspirações saem do Bode Cheiroso, botequim que você frequenta no Maracanã, no Rio. Apresente o lugar e seus frequentadores para quem não o conhece, por favor.

Costumo dizer o seguinte: acho que, na vida, o sujeito vai acabar conhecendo profundamente um ou dois botequins. Não sou especialista, conheço dois e olhe lá. Você pode ir a 500 botequins na sua vida e não conhecer nenhum. Quando frequenta sempre ou bastante os mesmos, lança um olhar que não é um olhar só de quem está apaixonado e gosta de estar no botequim, mas é o olhar também de quem estuda. É um sujeito do meu conhecimento. Sou um estudioso da vida urbana. O botequim tem uma lógica de funcionamento cotidiana. Você vê quem entra, vai reparar que tem aquela pessoa que chega sempre na mesma hora, para uns minutos, toma uma cachaça ou uma cerveja no balcão. Uma mudança extremamente saudável hoje é, cada vez mais, a presença da mulher. O botequim foi construído como um ambiente da classe trabalhadora muito machista. Hoje não. De certa forma, o botequim é um sintoma da cidade. É um microcosmo dos problemas da cidade. O bom botequim é o que fica perto de você. Conheço todo mundo, o garçom, sei como eles servem, conheço os melhores petiscos, qual o horário interessante para uma cerveja gelada. Para conhecer um botequim, temos que ter um certo tempo da paciência. Estamos vivendo uma vida muito corrida. É um processo de amadurecimento. Você vai, começa a reparar, vai conhecendo... O Bode Cheiroso é um bar frequentado pela classe trabalhadora, sobretudo durante a semana, você consegue comer um prato feito e toma a sua bebida. Gosto dessas miudezas. Não sou um historiador do grande evento, do grande personagem, do grande espetáculo. 

Seus seguidores nas redes sociais interagem bastante. Há pouco um queria aproveitar teu "profundo" conhecimento de Brasil para que lhe passasse o contato de um agiota. Que outras interações curiosas costumam aparecer?  

Acho que a rede social pode ter uma dimensão interessante. Uso rede social para divulgar trabalho, ainda que tenha escrito no Twitter "para fins recreativos". Tenho um trabalho como compositor, sou parceiro de um montão de gente, tenho bastante música gravada, e o Instagram eu uso para divulgar esse trabalho também. Não sou um guerrilheiro virtual. Ainda que o Brasil nos tenha levado a combates duríssimos, e eu também me envolvi nesses combates, a pegada ali é outra. Então acontecem coisas inusitadas. Gente que diz que comprou livro meu, quer um autógrafo e me encontra no botequim. Já me perguntaram sobre um bom terreiro de macumba para frequentar. Digo que estudo cultura de rua, mas estou longe de ser um "botecólogo" com dicas extraordinárias (risos).  

Hoje, a grande indagação é a respeito do que pensamos para o Brasil como projeto viável de país. Isso passa pela Seleção Brasileira, por mais que as pessoas achem que não.

Depois da eliminação do Brasil na Copa, você escreve um texto questionando se "o elo que vinculou a seleção aos afetos mais profundos da alma brasileira se quebrou" e se "a camisa que representou a identidade possível (...) estaria começando a ser um símbolo de divisão". Finalizou também com perguntas: "Somos um país viável? É possível reinventar um projeto de identidade que defina o povo brasileiro como uma comunidade de afetos compartilhados? A seleção brasileira ainda faz sentido como um sintoma de nossas emoções, esperanças de vitórias, lamento de infortúnios, mazelas e belezas?". Pode falar mais sobre isso?
No processo de construção da República, proclamada muito perto da abolição da escravidão, não tem nenhum projeto consistente de inclusão social. Pelo contrário. O projeto da República é de exclusão: do exercício formal da cidadania, do mercado formal de trabalho. A monarquia exclui, ancorada na escravidão, e a república mantém o projeto de exclusão com outras dimensões. E aí os excluídos vão construindo os seus sentidos de vida às margens do poder institucional. Quando falamos da popularização do futebol, da importância da música popular brasileira, da relevância dessas culturas de rua, estamos falando da construção de sentidos. Aqueles excluídos das vias institucionais vão construindo seus modos de vida. Em um certo momento da nossa história, pareceu que a Seleção seria a encarnação de uma identidade possível, um país que, em meio a tantas diferenças, tanta violência, encontraria um signo de unidade. Quando o Brasil ganha a Copa de 1958, três jogadores têm destaque absoluto: Didi, que era negro e apelidado de Príncipe Etíope, Pelé, certamente descendente de pessoas que chegaram ao Brasil escravizadas, e Mané Garrincha, um indígena. Então, começou a ser construído um certo mito identitário em torno da Seleção, do futebol, e viabilizaria o país possível diante de um processo histórico tão violento. A amarelinha, portanto, nos colocava em uma dimensão identitária. A Seleção foi criando essa relação simbólica com o povo, que foi esmaecendo porque talvez a própria relação que temos com o Brasil vai entrando numa dinâmica de problematização intensa. Sempre tivemos uma tendência de mascarar os fundamentos de um processo muito desigual e violento. Hoje, a grande indagação é a respeito do que pensamos para o Brasil como projeto viável de país. Isso passa pela Seleção Brasileira, por mais que as pessoas achem que não. Temos a captura da camisa pela extrema-direita, mas esse processo de desapego é anterior à ascensão do bolsonarismo. Identifico desde, pelo menos, a Copa de 2006. Não temos mais jogadores que jogam prioritariamente aqui, saem muito novos, tivemos uma elitização. Há uma geração que se relaciona com o futebol inglês de uma maneira mais intensa do que com o brasileiro. Cada vez mais, vai se perdendo o espaço para brincar na rua. A relação que o brasileiro tinha com o futebol passava, prioritariamente, pelo caráter lúdico do jogo. Você jogava pelada na rua, numa praça. Hoje, para a criança jogar futebol, muito provavelmente, terá que buscar um clube ou uma escolinha.

Não será num areião no bairro.

Não. Isso vai fazendo com que a própria característica inventiva do futebol brasileiro vá se perdendo. Na escolinha, o técnico vai querer começar com os primeiros fundamentos táticos. Essa perda de afetividade está muito ligada ao fato de que estamos nos desconectando da brincadeira, da rua. E o Brasil está neste momento crucial em que precisamos fazer essa pergunta. Não é uma pergunta que a gente vá responder, mas que precisamos fazer. Não fazemos perguntas porque existem respostas. Fazemos perguntas porque são necessárias. O Brasil continua fazendo sentido? O futebol brasileiro faz sentido? A Seleção faz sentido? Se é para fazer sentido, quais são os caminhos da reconstrução? Acho que a reconstrução do país vai passar também pela reconstrução da Seleção e vice-versa. O Brasil é essa ferida exposta e a gente está tendo que lidar com ela.  

Acho importante que a gente tenha a dimensão de que cultura é uma coisa e evento é outra. A cultura está acontecendo a qualquer hora, em qualquer lugar.

A área da cultura, de modo geral, sofreu muito com a pandemia e a falta de interesse e investimento do governo que agora se despede. Como recuperar esse prejuízo? E qual a sua expectativa com o mandato de Margareth Menezes à frente do Ministério da Cultura?

Acho importante que a gente tenha a dimensão de que cultura é uma coisa e evento é outra. Propus, num texto, que façamos uma distinção entra a cultura do evento e o evento da cultura. A cultura do evento é aquela muito mobilizada pelo eventual mesmo, como fazer um show. Mas o evento da cultura é outra coisa, é orgânico. A cultura está acontecendo a qualquer hora, em qualquer lugar. Cultura é um show? É um show também, mas é a maneira como a gente come, dança, celebra o nascimento, lamenta a morte, reza, brinca, veste-se. O que o Estado tem que fazer é reconhecer a pluralidade, a dinâmica, e que a cultura está acontecendo toda hora, em todos os campos. No botequim onde o cara está tomando uma cerveja e também em um baile funk debaixo de um viaduto. O poder público precisa interagir com os agentes culturais, pessoas que são o tempo todo fomentadoras dessas culturas. Estou animado com a perspectiva da Margareth. Estamos vindo de uma gestão bem-sucedida. Por que digo isso? O projeto dessa gestão foi destruir. Temos que encarar isso de frente. "Ah, deu tudo errado!" Daria errado se eles quisessem fomentar a cultura e a coisa não saísse do papel. Temos que assumir: foi um projeto de destruição. A figura da Margareth é muito simbólica. Acho que ela virá numa perspectiva similar à do (Gilberto) Gil, de reconhecer os agentes culturais e dar condições para que possam ser protagonistas. 

Você entende muito de religiões de matriz africana. Acha possível que um dia o preconceito acabe?

Provavelmente não. É um preconceito fundamentado no racismo. Ao longo da nossa história, sempre foi muito permanente. Momentos um pouco melhores, mas, em geral, é perseguição mesmo. Acho que temos que, definitivamente, estabelecer que não se trata de intolerância. É mais profundo: é racismo religioso. O racismo não opera só numa desqualificação fenotípica, observada na impressão cor da pele. O racismo opera também na desqualificação de bens simbólicos. Quando você estabelece perseguição, demonização, ataque, desqualificação a todo o complexo de saberes brasileiros que são afro-indígenas, está operando na dimensão do racismo religioso. Os povos de terreiro têm se mobilizado, e essa mobilização é necessária como estratégia de sobrevivência mesmo. Isso é decorrente de um processo de formação histórica ancorado na dimensão do racismo. É impossível lutar contra o racismo se essa luta não incluir também a luta para que os bens simbólicos não brancos não sejam objeto de perseguição e desqualificação.


O derradeiro ato juridico que sela o destino esperado para a destinação dos recursos aprovados para a Lei Paulo Gustavo.

 Não foi fácil. Sem chance ou pouca chance de sucesso, caso não conseguissemos virar a chave, ou a direção, em termos políticos e ideológicos, embora não tenhamos conseguido virar em 180', mas sim em 90'. O que já foi e é necessário  para começar a operar as mudanças, embora ainda insuficiente. Não podemos esquecer. Façamos como os judeus e os democratas alemães que sempre fizeram memória das atrocidades do Nazismo. 

Valeuzão! Quem lutou/luta e acreditou/acredita.

Ficamos devendo  uma linha do tempo trazendo os lances da disputa com o campo bolsonarista no congresso e no executivo que retardaram e quase afundaram os propósitos da Lei Paulo Gustavo..



Cármen Lúcia ordena execução imediata da Lei Paulo Gustavo

Por Jotabê Medeiros -30 de dezembro de 2022

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta sexta-feira, 30, por meio de decisão liminar unilateral, que seja efetuado pelos órgãos federais competentes, especialmente o Ministério da Fazenda e o Ministério do Turismo, o empenho global e a emissão de nota de empenho para a a Lei Paulo Gustavo. A decisão garante o recurso da Lei Paulo Gustavo para o ano de 2023  e também prorroga formalmente o seu prazo de execução até 31 de dezembro de 2023, assegurando que a legislação, protelada por Medida Provisória de Jair Bolsonaro, seja executada imediatamente. A ministra encaminhou a decisão para o Congresso Nacional, a Presidência da República e demais órgãos responsáveis correlatos, para se fazer cumprir.

Os recursos, da ordem de R$ 3,8 bilhões, são destinados ao setor cultural e encorpam um orçamento recorde do novíssimo Ministério da Cultura, quer será reformulado a partir de janeiro. É possível que, juntando-se os orçamentos direto e indireto (leis de incentivo) do novo MinC, o valor disponível para fomento ao setor chegue a quase R$ 10 bilhões em 2023, um recorde histórico. O setor audiovisual será, de longe, o que disporá de mais recursos – com editais pré-anunciados pela Ancine, que esperou 4 anos para subitamente anunciar que possui recursos para investimento (um sintoma de “desbolsonarização” apressada da agência, segundo a imprensa), da ordem de R$ 250 milhões, o cinema precisará de muitos projetos bem formulados para conseguir executar os valores disponíveis. O outro grande desafio será o das prestações de contas, que agora têm um prazo de 5 anos para prescrição, segundo nova determinação do TCU.

https://farofafa.com.br/2022/12/30/carmen-lucia-ordena-execucao-imediata-da-lei-paulo-gustavo/

Playlist - Vendo Pelé pelas lentes da canção...

Sempre fui mais chegado as canções e a cultura de uma maneira em geral, menos ao futebol, salvo pela compreensão do futebol também como cultura, daí não poder ficar indiferente.

Quando comecei a me entender por gente, a partir de meados da década de 1970, Pelé ainda jogava futebol, porém com um carreira que se encerraria nestes mesmos anos. Seu último jogo como jogador de futebol profissional foi disputado em 1º de outubro de 1977, diante de uma multidão com ingressos esgotados no Giants Stadium e uma audiência global de televisão. 

Por outro lado, começar a me entender como gente, significou o começo da leitura de muitos jornais, o que aumentou consideravelmente  quando comecei a trabalhar em bancas de jornais, o que durou alguns anos, e pelo noticiário percebia um distanciamento de Pelé dos grandes temas da politica nacional e das grandes causas politicas e humanitárias do mundo, salvo  uma ou outra manifestação em favor das criancinhas pobres. Recentemente fiquei sabendo da manifestação de Pelé favorável as Diretas Já. 


Por outro lado, duas manifestações negativas de Pelé marcou a minha impressão sobre ele, mas isso nunca ocupou papel relevante em minhas preocupações. Somente lamentei... 

Com informações do site Uol vamos aos detalhes:

A primeira foi a afirmação em entrevista à Folha de S. Paulo, em 26/11/1977 em plena ditadura: " O povo brasileiro ainda não está em condições de votar por falta de prática, por falta de educação e ainda mais porque se vota, em geral, mais por amizade nos candidatos" . 

 Com o tempo, críticos passaram a atribuir ao Rei uma declaração ainda mais dura, de que "brasileiro não sabe votar", mas o atleta não disse isso à Folha ou em qualquer outra ocasião.

Em uma entrevista a Jô Soares em 1995, quando era ministro do Esporte de Fernando Henrique Cardoso, o Rei relembrou o episódio. Segundo Pelé explicou ao apresentador, o que ele quis dizer é que "o brasileiro, se quisesse reivindicar os seus direitos, tinha que tentar votar direito, não em cacareco". 

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/12/29/frase-pele-brasileiro-nao-sabe-votar.htm

A segunda, refere-se a filha que Pelé não reconheceu.

Pelé teve um caso polêmico na trajetória de pessoa pública. Durante anos, ele não reconheceu a filha Sandra Regina Machado, que faleceu em 2014, aos 42 anos, por falência múltipla dos órgãos.

Em 1991, Sandra entrou na Justiça para que Pelé a reconhecesse como filha. A defesa dela disse que o "Rei do Futebol" teve relações com a mãe dela, Anísia Machado, e a, então, faxineira acabou engravidando

Apenas no ano de 1996 a Justiça reconheceu Sandra Regina como filha de Pelé.

https://interior.ne10.uol.com.br/esportes/2022/12/15150606-filha-nao-reconhecida-de-pele-entenda-o-polemico-caso-de-pele-com-a-filha-sandra-regina.html

E por gostar de canções, em especial das canções de Caetano Veloso, lembro de quando ouvi pela primeira vez a canção Love, Love, Love de Caetano em homenagem a Edson  Arantes,  com base em uma frase proferida por ele.. 

E assim,  uma manifestação positiva do Pelé nos chega imortalizada em uma bela canção, embora somente agora sei do contexto em que se  deu...

Outra informação positiva, foi o fato de  Pelé ter sido o único  brasileiro mais  conhecido no mundo durante um bom tempo, o que só veio a ser igualado pelo Presidente Lula nos anos 2000.  O nome Pelé ,  a partir da década de 1960 passou  a ser conhecido por pessoas,  até nos recônditos da África e da Ásia, isso antes das grandes e potentes redes de comunicação global. 

Eu tive o privilégio que os brasileiros mais jovens não tiveram: eu vi o Pelé jogar, ao vivo, no Pacaembu e Morumbi. Jogar, não. Eu vi o Pelé dar show. Porque quando pegava na bola ele sempre fazia algo especial, que muitas vezes acabava em gol.
Confesso que tinha raiva do Pelé, porque ele sempre massacrava o meu Corinthians. Mas, antes de tudo, eu o admirava. E a raiva logo deu lugar à paixão de vê-lo jogar com a camisa 10 da Seleção Brasileira. Poucos brasileiros levaram o nome do nosso país tão longe feito ele. Por mais diferente do português que fosse o idioma, os estrangeiros dos quatros cantos do planeta logo davam um jeito de pronunciar a palavra mágica: "Pelé".
Pelé nos deixou hoje. Foi fazer tabelinha no céu com Coutinho, seu grande parceiro no Santos. Tem agora a companhia de tantos craques eternos: Didi, Garrincha, Nilton Santos, Sócrates, Maradona... Deixou uma certeza: nunca houve um camisa 10 como ele. Obrigado, Pelé.
Lula
📸@ricardostuckert

E navegando pelo site da Rádio Batuta, como faço vez em quando, me deparo com uma beleza de playlist com composições que homenagearam o Rei Pelé. Algumas mais recentes eu já conhecia, inclusive a bela Love, Love, Love.

Fica a dica e o reconhecimento do papel e da contribuição de Pelé ao futebol e ao Brasil.  Obrigado, Pelé...

Zezito de Oliveira 

Playlist  O nome do rei é Pelé

No adeus de Pelé, ele disse: LOVE LOVE LOVE, de Caetano Veloso - 1978

Logo depois do tri, no México, aos 30 anos, Pelé decidiu que não voltaria a defender a camisa amarela do Brasil. A imprensa seguiu especulando sobre uma possível volta, até a Copa de 1974, mas ele manteve-se fiel ao que tinha decidido: queria sair no auge. 1974 seria uma interrogação. Assim em 1971, em dois jogos, ele se despediu da seleção brasileira. E em 1974, se despediu do Santos.

Em 1971, vi Pelé jogar contra o Sport, na Ilha do Retiro e em 1973, o vi de novo, no Arruda, contra o Santa Cruz. Interessante, no jogo da Ilha o Sport perdeu. E no jogo do Arruda o Santa Cruz venceu por 3 X 2. Que timaço tinha o Santinha: Givanildo, Luciano, Ramon e Pedrinho no gol. E a firmeza de Levir Culpi na zaga.

Mas em 1975, aos 35 anos, Pelé aceitou convite do Cosmos e foi jogar e promover o futebol nos States. Fez bem. Na segunda temporada, foi campeão e na seguinte disse adeus definitivo ao futebol com 37 anos. Fez um discurso emocionado em defesa das crianças e no final gritou: "love, love, love". Ao seu lado, o não menos famoso Muhammad Ali, o maior do boxe de todos os tempos, falou: "o mundo todo devia te agradecer, Pelé".

"Estou muito feliz de estar aqui com vocês em um grande momento da minha vida. Agradeço a todos pelo que fazem por mim e quero aproveitar esta oportunidade em que todos no mundo olham para mim, para pedir atenção e cuidados aos jovens e às crianças ao redor do mundo. Creio e acredito que o amor é o mais importante que podemos oferecer. Tudo passa! Por isso peço que digam comigo três vezes: amor, amor e amor. Muito obrigado."

O discurso foi em inglês.

No ano seguinte, 1978, Caetano Veloso lançou o disco MUITO que trouxe a canção LOVE LOVE LOVE, uma das que mais gosto das inúmeras pérolas que produziu. Ele deu seu recado e repetiu Pelé musicalmente. Uma beleza que relembro hoje, 01/10/2021, exatamente 44 anos após a despedida do Rei Pelé. Desde então o mundo da bola ficou mais triste! (Abílio Neto)

LOVE, LOVE, LOVE – Letra e música de Caetano Veloso

Eu canto no ritmo, não tenho outro vício

Se o mundo é um lixo, eu não sou

Eu sou bonitinho, com muito carinho

É o que diz minha voz de cantor

Por Nosso Senhor!

Meu amor, te amo

Pelo mundo inteiro eu chamo

Essa chama que move

E Pelé disse love, love, love!

Absurdo!

O Brasil pode ser um absurdo

Até aí tudo bem, nada mal

Pode ser um absurdo, mas ele não é surdo

O Brasil tem ouvido musical

Que não é normal!

Meu amor, te quero

Pelo mundo inteiro espero

A visão que comove

E Pelé disse love, love, love!

Na maré da utopia

Banhar todo dia

A beleza do corpo convém

Olha o pulo da jia

Não tendo utopia

Não pia a beleza também

Digo pra ninguém!

Meu amor, desejo

Pelo mundo inteiro eu vejo

O que não tem quem prove

E Pelé disse love, love, love!

Na densa floresta feliz prolifera

A linhagem da fera feroz

Ciclones de estrelas desenham-se

Livres e fortes diante de nós

E eu com minha voz!

Meu amor, preciso

Pelo mundo inteiro aviso

Olha o noventa e nove

E Pelé disse love, love, love!

E Pelé disse love, love, love...

Edição do vídeo e texto: Abílio Neto, no YouTube.



quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

É a comunicação também, estúpidos! (4)

 

Comunicadores, sindicatos e entidades criticam entrega do Ministério das Comunicações à União Brasil ou PSD


Requião ao DCM: “Os governos do PT acharam que pagar a Globo conquistaria seu apoio”

Publicado por Pedro Zambarda de Araujo - Atualizado em 2 de setembro de 2015 às 13:29

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/requiao-ao-dcm-os-governos-do-pt-acharam-que-pagar-a-globo-conquistaria-seu-apoio/

O advogado e jornalista Roberto Requião de Mello e Silva tem 74 anos e é um dos poucos políticos que criticam abertamente os grandes grupos de mídia. Três vezes governador do Paraná, uma vez prefeito e ex-deputado estadual, Requião investiu em TV estatal e fez um acordo com Hugo Chávez para distribuir o sinal pela Telesur.

O DCM conversou com Requião sobre os 12 anos de governo petista, seus embates com a imprensa, sua amizade com o juiz Sérgio Moro e a lista de Furnas.

O senhor teria dito que o José Dirceu afirmou que a Globo era a TV do governo. Essa história é verdadeira?

A história é real. Eles achavam que não era necessário estimular as televisões públicas. No governo, estimulei a TV Educativa do Paraná e rompi com a mídia privada. Trabalhava praticamente somente com emissoras públicas. Quando disse ao Zé Dirceu sobre meu trabalho, ele me respondeu que “nós não precisamos disso, porque temos a Globo”. Isso foi um erro. Infelizmente eu não me lembro em que ano exatamente ele me disse tal coisa, mas é tudo verdade.

O que o senhor acha dos governos do PT terem gasto de R$ 6 bilhões em publicidade com a Globo?

Os governos acreditaram de verdade na história da mídia técnica, de que alguns canais mereciam maiores investimentos. Eles acharam que, se a Globo estivesse recebendo deles, estariam apoiando o governo. Eles acharam que conquistariam seu apoio. Se enganaram completamente.

Como foi sua experiência no governo do Paraná?

Eu fui pressionado pela grande mídia a soltar os cofres como o governo do PT fez e não percebeu as consequências. Disse aos grupos que não faria isso e eles responderam que “você vai ver o que acontece”. No final fui eu que mostrei o que aconteceu, porque eu removi essa verba publicitária do orçamento. Eles não tinham mais nem como me pressionar para liberar nada.

E qual foi a consequência disso?

Passei a falar mais na televisão do estado do Paraná e me elegi três vezes governador. Tenho esses grupos de mídia até hoje como meus adversários políticos.

Como o senhor avalia a cobertura da operação Lava Jato?

O trabalho do juiz Sérgio Moro ganhou peso com a atuação da imprensa. Qualquer coisa que acontece com determinadas pessoas, aparece imediatamente. É o que aconteceu com a recente denúncia do doleiro Youssef, que repetiu pela quarta vez que Furnas dava dinheiro ao [José] Janene que afirmava que isso seria ao Aécio Neves.

Este caso desaparece e só surge o que interessa à mídia, que é seletiva. A mídia não quer a limpeza da política brasileira, mas sim derrubar prováveis adversários.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Invadida e desfigurada por Temer e Bolsonaro, todo mundo quer a EBC. Além da economia, é também a comunicação estúpidos. (3)



sábado, 5 de novembro de 2022

Lula tem que desativar máquina de manipulação de Bolsonaro. Da série: É a comunicação também, estúpidos!! (2)

"Lula precisa urgentemente investir em recursos que lhe permitam mergulhar no pântano do adversário", diz Helena Chagas

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

É a comunicação também, estúpidos!! (*)


"É fundamental fazer uma política de comunicação de massas utilizando os aparelhos ideológicos", diz Alysson Mascaro


Professor alerta para as consequências de 'processo de lavagem cerebral' alimentado por engajamento em torno da desinformação e de teorias conspiratórias

⭐ AS VITÓRIAS DA CULTURA ABREM CAMINHOS PARA A COMUNICAÇÃO⭐

📱No Brasil 160 milhões de pessoas estão conectadas à internet, 94% utilizam diariamente as mídias sociais. Só que cada dia fica mais difícil alcançar este público, principalmente quando o conteúdo parte de uma iniciativa de comunicação comunitária.

🖥️Um dos principais motivos é por conta do monopólio de algumas empresas que controlam quais conteúdos vão ter mais visibilidade. As chamadas Big Techs que possuem um gigantesco domínio do mercado de comunicação.

💰E quem possui poder econômico, compra a visibilidade e distribuição de conteúdos nestas plataformas. 

📻Existem milhares de rádios e iniciativas de comunicação comunitária no Brasil que travam essa batalha diariamente para ampliar a difusão dos seus conteúdos.

🌻Em 2022, o Instituto Casa Comum e a Associação Brasileira de Rádios Comunitárias idealizaram a REDE DE PONTOS DE DIFUSÃO, reunindo dezenas de Rádios e TVs Comunitárias, Web Rádios, Pontos de Mídia Livre, Rádios Educativas e Universitárias, Educomunicação, Podcast, Produtores de Conteúdo em uma rede colaborativa de articulação, troca de conteúdos entre as iniciativas e impulsionamento de novas políticas de financiamento.

🗣️Para isso, realizamos o Webinário Financiamento e Distribuição da Comunicação Comunitária, nos dias 21 e 22 de setembro, e lançamos a primeira etapa da nossa plataforma de trocas colaborativas com conteúdos em formato MP3, com cortes para intervalos, que podem ser baixados e compartilhados gratuitamente.

🔝Nestes três meses a Rede de Pontos de Difusão se formou com mais de 100  iniciativas de 22 estados  e 4000 mil downloads do conteúdo disponibilizado na plataforma, utilizado em suas programações.

E isso é só o começo..   Pois comunicação é mensagem e mensagem é cultura.

✊🏾Este ano também vivenciamos a vitória do presidente Lula, e as conquistas extraordinárias do setor cultural junto ao Congresso Nacional, das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, que estabelecem R$19 bilhões de investimento via, estados e municípios nos próximos 5 anos. 

🫱🏾‍🫲🏾A reconstrução do Ministério da Cultura, liderado pela ministra Margareth Menezes, nos traz esperança de que uma estratégica correlação entre as políticas públicas de cultura e comunicação podem avançar e inovar - na criação de novos ecossistemas de financiamento, produção e difusão cultural, a partir da articulação em rede das milhares de iniciativas de comunicação comunitária e culturais.

➡ Assista ao vídeo abaixo e conheça mais sobre a Rede de Pontos de Difusão.


Vamos nos unir ainda mais para avançarmos  juntos nesta construção. Venha fazer parte desta ação!

🙏🏾 Agradecemos a todas e todos que fizeram este sonho começar a se tornar realidade.

Desejamos um próspero 2023!✨

Saudações,
Redes do Pontos de Difusão
Instituto Casa Comum
Associação Brasileira de Rádios Comunitárias