quarta-feira, 30 de março de 2022

Para fazer a guerra cultural contra a barbárie, Lolapalooza, Virada Cultural, Festivais de Cinema , Forrocaju e etc.., não são suficientes.

 

A jornalista Cynara Menezes fez um comentário elogioso a José Serra, que foi prefeito de SP em um curto periodo (2005/2006) , em razão de ter dado inicio a Virada Cultural em seu governo. Isso ,  na base do " pra não dizer que não falei das flores".

No chat da live em que ela participava no dia  29/03/2022, no  Canal Revista Fórum (1)  ,  respondi que a Virada Cultural é legal, mas não é o tipo de politica cultural que precisamos para combater o neofascismo e o neoliberalismo.

Penso ser necessário aprofundar o debate acerca dessa questão.. Com que armas ou estratégias culturais precisamos contar, para enfrentar a guerra cultural da extrema direita e da direita "limpa e cheirosa"  que continuará com tudo, pra cima da esquerda? Ou seja neofascismo e neoliberalismo junto e misturado. 

Penso ser  importante, porque nestas eleições de 2022, há uma tendência de vitórias de partidos de esquerda e centro esquerda tanto para o governo federal, como em muitos estados, inclusive aqui em Sergipe. 

E a impressão que eu tenho é a repetição em muitos estados de um mesmo "filme" que já vimos em outros governos de esquerda e centro esquerda, como os vários que tivemos e ainda temos aqui em Aracaju, incluindo o tempo em que  Marcelo Deda (PT) esteve a frente, tanto na prefeitura de Aracaju, como no governo do estado de Sergipe. 

Com a mistura de conservadorismo e progressismo que caracteriza as nossas elites  politicas e culturais sergipanas, com mais tendência ao primeiro, não vejo o futuro com um desenho muito diferente da  politica cultural como a que foi realizada  nos governos Deda/Edvaldo/Jackson Barreto, caracterizada pela realização de grandes eventos, como Forrocaju, Festival de Verão e  construção de complexos culturais, como os museus da Gente Sergipana e Palácio Museu Olimpio Campos e a exposição de esculturas com icones da cultura popular sergipana.

Nos governos dos três, incluindo o ainda atual prefeito de Aracaju, primeiro PC do B, agora PDT, o campo da ação cultural nas comunidades e nas escolas, ficou relegado  a um plano bastante secundário e marginal.

E com isso,  temos o atual "estado da arte"  nas comunidades, dominadas pela industria cultural de um lado, e do outro lado pelo pensamento e ações dos religiosos  fundamentalistas e conservadores, estes também ancorados em uma industria cultural de caracteristicas próprias.

Sem esquecermos o poder econômico e cultural do tráfico de drogas, em alguns caso também se fazendo presente nas câmaras municipais, com possibilidades de avanço nas assembléias estaduais e congresso.

O livro AMABA: O esquecido círculo de cultura da Aracaju dos anos de 1980,  tem alguns capitulos dedicados a ação cultural de base comunitária e um desses capitulos trata de aspecto teórico conceituais.

Neste capitulo, temos o resumo de um livro da autoria de um dos mais importantes pensadores das politicas culturais em nosso país, o Professor Teixeira Coelho  (USP). O livro Usos da Cultura foi lançado no ano de 1986, fez bastante sucesso e ainda permanece atual.

Esse texto ajuda a explicar porque um expressivo contingente de artistas e amantes das artes se bastam ou ficam contentem com uma politica cultural mais restrita a grandes shows, espetáculos, exposições, festivais de música e de cinema, e etc... 

O que é muito legal, necessário,  mas que não dá conta das necessidades destes tempos que rugem...

"Política de Cultura Federal – Nas palavras de Teixeira Coelho, “o que o estado tem feito este tempo todo não é muito difícil de resumir”. De um lado preservar o que existe, e especialmente, o que existiu, papel do IPHAN. A Fundação Pró- Memória tombando alguns casarões e restaurando outros. De outro, algum apoio ao produtor cultural, numa atitude que tem revelado duas tendências que não se excluem.

1. Adotar uma visão mercadológica da cultura, apoia-se o produtor cultural que tem mercado - Como no caso do cinema, através da Embrafilme – ou que não tem mercado, como faz a Funarte através do Instituto Nacional de Música, do Instituto de Artes Cênicas ou de Artes Plásticas, seja como for, trata-se de um apoio a cultura que está no mercado.

2. Tratar de conseguir o apoio ou, pelo menos, o silêncio dos produtores culturais que são, se não a consciência, pelo menos a voz crítica da nação: foi o que aconteceu, por exemplo, durante o governo Geisel, através de alguma abertura econômica e administrativa (permissão para a escolha de dirigentes de órgãos estatais financiadoras da produção cultural), em particular para o cinema e o teatro.

O que tem feito esta política cultural é promover uma cultura estática, uma cultura fixa, inerte que não sai do lugar, não chega ao público, não faz o público se mexer até ela ou na direção seja do que for.

Uma política cultural como essa nada mais faz do que perpetuar uma visão elitista da cultura, segundo a qual uns poucos (os produtores culturais, os artistas) produzem para que a  maioria consuma. 

E mais aceitável que a cultura do país fique nas mãos de uns poucos produtores (ainda que de esquerda, como é a realidade brasileira, apesar dos anos de repressão), do que vê-la disseminada pela grande maioria, embora sob uma forma indecisa, imprecisa e inconsistente politicamente. 

Nada se compara ao medo que sentem as elites diante da possibilidade de que o povo possa pensar e agir por si só. E, no caso, tanto fez que essas elites sejam de direita ou de esquerda."

Pag. 88 e 89 do livro AMABA: O esquecido círculo de cultura da Aracaju dos anos de 1980.

COELHO, Teixeira. Usos da cultura: políticas de ação cultural. [S.l: s.n.], 1986.

(1) https://www.youtube.com/watch?v=WVBShldYjzg


terça-feira, 29 de março de 2022

Nao basta ser pai, é preciso participar. Nao basta indignar-se, é preciso anunciar, comprometer-se, re-existir.


E para isso é importante a boa comunicação...

Além de buscar espalhar a boa informação geral , precisamos mergulhar em nossa realidade local, buscando ver/ouvir/sentir o que tem sido feito de bom e buscar participar e/ou promover a divulgação acerca disso também. Sem deixar de continuar compartilhando noticias gerais boas e necessárias para sairmos desse atoleiro civilizacional em que estamos metidos.. 

Uma pena que isso nem sempre é compreendido e realizado por muitos companheiros e companheiras que atuam no campo da comunicação .. A exceção são alguns que estão mais atentos,  mais em sintonia com o bom, com o justo e com o belo...

Estes companheiros da comunicação que esperamos,  amplie o número, estão presentes em muitos veículos comerciais de comunicação e/ou públicos, assim como àqueles ligados a sindicatos, a ongs, movimentos sociais, produtoras independentes , rádios comunitárias, mandatos populares e etc... 

Há que perceberem a  importância de trabalhos como este do Conversão sobre a Campanha da Fraternidade, espaço formativo de prevenção e combate as fakenews, a desinformação, a alienação, ao fundamentalismo, ao negacionismo cientifico e etc.. Portanto, espaço de formação educativa e cultural na perspectiva da afirmação da  civilização contra a barbárie.

Agradecemos aos jornalistas e produtores culturais da produtora Audiolibre, Marco Vieira e Thiago Paulino, assim como a Otacilio Cerqueira do programa na Fé e na Verdade da Rádio Cultura, retransmitido em duas outras emissoras ligadas ao campo da comunicação alternativa.

https://www.youtube.com/watch?v=7QOeqtueAa8


TIRA DÚVIDAS sobre a Grande Roda de Conversa sobre Fraternidade e Educação. Um conversão em 01,02 e 03 de abril


https://www.youtube.com/watch?v=zY6WuFosFH4


A outros que estão colaborando os nossos agradecimentos também, mesmo que seja apenas com o compartilhamento das postagens e conteúdos que estão sendo produzidos, o que é possível ser feito por quem tem liberdade de opinião, mas que não detém o controle de algum meio de produção comunicacional.

Acessem  sigam o blog da Ação Cultural, assim como paginas e grupo no facebook, twitter e instagram, para receber as atualizações e novidades, acerca do Conversão sobre a Campanha da Fraternidade e outras iniciativas semelhantes..



A primeira parte do titulo dessa postagem, é inspirado em um dos grandes comerciais realizados no Brasil. Um exemplo de propaganda ética e de interesse público, mesmo   comercial. Uma peça importante para a escolha da paternidade responsável por parte de muitas crianças, adolescentes e jovens que assistiram no tempo em que foi ao ar (1984).

segunda-feira, 28 de março de 2022

Ataques impiedosos ao Papa Francisco,”um justo entre as nações”

24/03/2022 LEONARDO BOFF  



Desde o início de se pontificado há nove anos,o Papa Francisco está sob furiosos ataques de cristãos tradicionalistas e supremacistas brancos quase todos do Norte do mundo, dos Estados Unidos e da Europa.Fizeram até um complô, envolvendo milhões de dólares, para depô-lo como se a Igreja fosse uma empresa e o Papa  seu CEO.Tudo em vão. Ele segue seu caminho no espírito das bem-aventuranças evangélicas dos perseguidos.

Várias são as razões desta perseguição:razões geopolíticas,disputa de poder,outra visão de Igreja e o cuidado da Casa Comum.

Ergo minha voz em defesa do Papa Francisco a partir da periferia do mundo, do Grande Sul. Comparemos os números: na Europa vivem apenas 21,5% dos católicos, 82% vivem fora dela, sendo que 48% na América. Somos,portanto, vasta maioria. Até meados do  século passado a Igreja Católica era do primeiro mundo. Agora é uma Igreja do terceiro e quarto mundo, que, um dia, teve origem no primeiro mundo. Aqui surge uma questão geopolítica. Os conservadores europeus,com exceção de notáveis organizações católicas de cooperação solidária,nutrem um soberano desdém pelo Sul,notadamente pela América Latina.

 A Igreja-grande-instituição foi aliada da colonização, cúmplice do genocídio indígena e participante do escravagismo. Aqui foi implantada uma Igreja colonial,espelho da Igreja europeia.Ocorre que ao longo de mais de 500 anos, não obstante a persistência da Igreja espelho, ocorreu uma eclesiogênese,a gênese de um outro modo de ser igreja,uma igreja, não mais espelho mas fonte:incarnou-se na cultura local indígena-negra-mestiça e de imigrantes de povos vindos de 60 países diferentes. Desta amálgama,gestou seu estilo de adorar a Deus e de celebrar, de organizar sua pastoral social do lado dos oprimidos que lutam por sua libertação. Projetou sua teologia adequada à sua prática libertadora e popular. Tem seus profetas, confessores, teólogos e teólogas, santos e santas e muitos mártires,entre os quais o arcebispo de San Salvador Arnulfo Oscar Romero. Esse tipo de Igreja é fundamentalmente,composta por  comunidades eclesiais de base,onde se vive a dimensão de comunhão de iguais, todos irmãos e irmãs, com seus coordenadores leigos, homens e mulheres, com sacerdotes inseridos no meio do povo e bispos,nunca de costas para o povo como autoridades eclesiásticas, mas como pastores junto deles, com “cheiro de ovelhas  com a missão de serem os “deffensores et advovati pauperum”como se dizia na Igreja dos primórdios. Papas e autoridades doutrinárias do Vaticano tentaram cercear e até condenar tal modo de ser-Igreja, não raro, com o argumento de que não são Igreja pelo fato de não se ver nelas o caráter hierárquico e o estilo romano.Essa ameaça perdurou por muitos anos até que, em fim, irrompeu a figura do Papa Francisco. Ele veio do caldo desta nova cultura eclesial bem expressa pela opção preferencial,não excludente, pelos pobres e pelas várias vertentes da teologia da libertação que a acompanha. Ele conferiu legitimidade a este modo de viver a fé cristã,especialmente em situações de grande opressão. 

https://www.youtube.com/watch?v=v_bIXh8UlBY



Mas o que mais está escandalizando cristãos tradicionalistas foi seu estilo de exercer o ministério de unidade da Igreja. Não comparecia  mais como  o pontífice clássico, vestido com os símbolos pagãos, assumidos dos imperadores romanos,especialmente a famosa “mozzeta”aquela capazinha branca cheia de símbolos do poder absoluto do imperador e do papa. Francisco logo se livrou dela e vestiu uma “mozzeta” branca, despojada,como aquela do grande profeta do Brasil, dom Helder Câmara e com sua cruz de ferro sem qualquer joia.Negou-se a morar num palácio pontifício, o que faria São Francisco sair do túmulo e conduzi-lo para onde ele escolheu viver: numa simples casa de hóspedes, Santa Marta. Aí entra na fila para servir-se e come junto com todos. Com humor podemos dizer: assim é mais difícil de envenená-lo. Não calça Prada mas seus velhos e gastos sapatões. No anuário pontifício no qual se usa uma página inteira com os títulos honoríficos dos Papa, ele simplesmente renunciou a todos e apenas escreveu Franciscus,pontifex. Disse claramente num de seus primeiros pronunciamentos que não vai presidir a Igreja com o direito canônico  mas com o amor e a ternura. Um sem número de vezes repetiu que queria uma Igreja pobre e de pobres.

Todo o grande problema da Igreja-grande-instituição reside, desde dos imperadores Constantino e Teodósio, na assunção do poder político,   transformado no poder sagrado (sacra potestas).Esse processo chegou à sua culminância com o Papa Gregório VII (1075) com  sua bula Dictatus Papae que bem traduzida é a “Ditadura do Papa”. Como diz o grande eclesiólogo Jean-Yves Congar, com este Papa se consoIidou a mais decisiva virada da Igreja que tantos problemas criou e da qual nunca mais se libertou: o exercício centralizado, autoritário e até despótico do poder. Nas 27 proposições da bula, o Papa é considerado o senhor absoluto da Igreja, o senhor único e supremo do mundo, tornando-se a autoridade suprema na campo espiritual e temporal. Isso nunca foi desdito.

Basta ler o Canon 331 no qual se diz que “o Pastor da Igreja universal tem o poder ordinário, supremo, pleno,imediato e universal”.Coisa inaudita: se riscarmos o termo Pastor da Igreja universal e colocarmos Deus funciona perfeitamente. Quem dos humanos, senão Deus, pode atribuir-se tal concentração de poder? Não é sem significado que na história dos Papas houve um cresccendo no faraoismo do poder: de sucessor de Pedro,os Papas se entenderam representantes de Cristo.E com se não bastasse, representantes de Deus e até sendo chamados de deus minor in terra. Aqui se realiza a hybris grega e aquilo que Thomas Hobbes constata em seu Leviatã: “Assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder. A razão disso reside no fato de que não se pode garantir o poder senão buscando ainda mais poder”. Pois esta foi a trágica trajetória da Igreja Católica às voltas com o poder que persiste até os dias de hoje, fonte de polêmicas com as demais Igrejas cristãs e de extrema dificuldade de assumir os valores humanísticos da modernidade.Ela dista anos luz da visão de Jesus que queria um poder-serviço (hierodulia) e não um poder-hierárquico (hierarquia).

Disso tudo se afasta o Papa Francisco, o que causa indignação aos conservadores e até reacionários bem expresso no livro de  45 autores de outubro de 2021:”Da paz de Bento à guerra de Francisco”(From Benedict’s Peace to Francis’s War) organizado por Peter A. Kwasniesvski. Nós faríamoss a retórquio assim: “Da paz dos pedófilos de Bento (encobertos por ele) à guerra aos pedófilos de Francisco (condenados por ele).É sabido que o Papa retirado Bento XVI foi indiciado culposamente por um tribunal de Munique devido à sua leniência com padres pedófilos.

Há um problema de geopolítica eclesiástica:os tradicionalistas rejeitam um Papa que vem “do fim do mundo” que traz para o centro do poder do Vaticano um outro estilo mais próximo à gruta de Belém do que dos palácios dos imperadores. Se Jesus aparecesse ao Papa em  seu passeio pelos jardins do Vaticano,seguramente, diria: “Pedro, sobre estas pedras palacianas jamais construiria a minha Igreja”. Essa contradição é vivida pelo Papa Francisco pois renunciou ao estilo palaciano e imperial.

Trava-se,com efeito, um embate de geopolítica religiosa, entre o Centro que perdeu a hegemonia em número e em irradiação mas que conserva  os hábitos de exercício autoritário do poder e a Periferia, numericamente majoritária de católicos, com igrejas novas, com novos estilos de vivência da fé e em permanente diálogo com o mundo especialmente com os condenados da Terra, tendo sempre uma palavra a dizer sobre as chagas que sangram no corpo do Crucificado,presente nos empobrecidos e oprimidos.

Talvez o que mais incomoda os cristãos engessados no passado é a visão de Igreja vivida pelo Papa. Não uma Igreja-castelo,fechada em si mesma, em seus valores e doutrinas, mas uma Igreja “hospital de campanha” sempre “em saída rumo às periferias existenciais”.Ela acolhe a todos sem perguntar por seu credo ou sua situação moral. Basta que sejam seres humanos em busca de sentido de vida e sofredores pelas adversidades deste mundo globalizado, injusto, cruel e sem piedade. Condena de forma direta o sistema que dá centralidade ao dinheiro à custa de vidas humanas e da natureza. Realizou vários encontros mundiais com movimentos populares. No último, o quarto, disse explicitamente:”Este sistema (capitalista),com sua lógica implacável, escapa ao domínio humano; é preciso trabalhar por mais justiça e cancelar este sistema de morte”. Na Fratelli tutti o condena de forma contundente.

Orienta-se por aquilo que é um das grandes contribuições da teologia latino-americana: a centralidade do Jesus histórico, pobre, cheio de ternura para com os sofredores, sempre do lados dos pobres e marginalizados. O Papa respeita os dogmas e as doutrinas, mas não é por elas que chega ao coração das pessoas.Para ele, Jesus veio  nos ensinar a viver: a confiança total ao Deus-Abbá, viver o amor incondicional, a solidariedade, a compaixão para com os caídos nas estradas, o cuidado para com o Criado,bens que constituem o conteúdo da mensagem central de Jesus: o Reino de Deus. Prega incansavelmente a misericórdia ilimitada pela qual Deus salva seus filhos e filhas, pois Ele não pode perder nenhum deles,frutos de seu  amor, “pois é o apaixonado amante da vida”(Sab 11,24). Por isso afirma que “por mais que alguém esteja ferido pelo mal, jamais está condenado sobre esta terra a ficar para sempre separado de Deus”. Em outras palavras: a condenação é só para esse tempo.

Convoca os pastores todos a exercerem a pastoral da ternura e do amor incondicional, resumidamente formulada por um líder popular de uma comunidade de base:”a alma não tem fronteira, nenhuma vida é estrangeira”. Como poucos no mundo, se empenhou pelos imigrantes vindos de África e do Oriente Médio e agora da Ucrânia. Lamenta o fato de os modernos terem perdido a capacidade de chorar, de sentir a dor do outro e, como bom samaritano,socorrê-lo em seu abandono.

Sua mais importante obra foi a preocupação pelo futuro da vida da Mãe Terra. A Laudato Sì expressa seu verdadeiro sentido no sub-título: “sobre o cuidado da Casa Comum”.Elabora não uma ecologia verde, mas uma ecologia integral que abarca o ambiente, a sociedade, a política, a cultura, o cotidiano e o mundo do espírito. Assume as contribuições mais seguras das ciências da Terra e da vida,especialmente, da física quântica e da nova cosmologia o fato de que “tudo está relacionado com tudo e que nos une com afeição ao irmão Sol, à irmã Lua, ao irmão rio e à Mãe Terra”como diz poeticamente na Laudato Sì. A categoria cuidado e corresponsabilidade coletiva ganham tanta centralidade a ponto de na Fratelli tutti dizer que “estamos no mesmo barco: ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”.

Nós latino-americanos somos-lhe profundamente gratos por haver convocado um Sínodo Querida Amazônia, para defender esse imenso bioma de interesse para toda a Terra e como a Igreja se incarna naquela vasta região que cobre nove países.

Grandes nomes da ecologia mundial testemunharam: com esta sua contribuição, o Papa Francisco se coloca na ponta da discussão ecológica contemporânea.

Quase desesperado mas mesmo assim cheio de esperança, propõe um caminho de salvação: uma fraternidade universal e um amor social como os eixos estruturadores de uma biosociedade em função da qual estão a política, a economia e todos os esforços humanos. Não temos muito tempo nem sabedoria suficientemente  acumulada, mas este é o sonho, e a alternativa real para evitar um caminho sem retorno.

O Papa caminhando sozinho na praça de São Pedro sob um chuva fina,em tempos da pandemia, ficará como uma imagem imorredoura e um símbolo de sua missão de Pastor que se preocupa e reza pelo destino da humanidade.

Talvez uma das frases finais da Laudato Sì revela todo seu otimismo e a esperança contra toda esperança:”Caminhemos cantando que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança”.

Precisam ser inimigos de sua própria humanidade, aqueles que condenam impiedosamente as atitudes tão humanitárias do Papa Francisco,em nome de um cristianismo estéril, feito um fóssil do passado e um recipiente de águas mortas. Os ataques ferozes que fazem a ele, podem ser tudo, menos cristãos e evangélicos. Os cardeais, bispos e outros que escreveram o citado livro são cismáticos e segundo o sentido antigo do termo, são hereges, porque dilaceram a unidade corpo eclesial.

O Papa Francisco a tudo suporta imbuído da humildade de São Francisco de Assis e dos valores do Jesus histórico. Por isso ele bem merece o título de “um justo entre as nações”.

Leonardo Boff é um teólogo brasileiro e escreveu Francisco de Assis e Francisco de Roma, Rio de Janeiro 2015.




domingo, 27 de março de 2022

O impacto do pensamento neoliberal no chão da escola

 https://www.youtube.com/watch?v=zY6WuFosFH4

O impacto do pensamento neoliberal no chão da escola - Parte 1 - #67



E o nosso novo episódio já está disponível! O tema desta semana é "O impacto do pensamento neoliberal no chão da escola". O entrevistado desta primeira parte  da nossa série é o educador cultural, Zezito de Oliveira. Um papo massa sobre como esse pensamento influencia a educação brasileira. Para ouvir a série completa é só acessar as principais plataformas de áudio! #serie #educacao #jornalismo #podcast #podcastportrasdamidia #neoliberalismo #cidadania #parte1

O impacto do pensamento neoliberal no chão da escola - Parte 1 - #67 no Spotfy

 


https://www.youtube.com/watch?v=7QOeqtueAa8

Conversão sobre a Campanha da Fraternidade


Participe:

TIRA DÚVIDAS sobre a Grande Roda de Conversa sobre Fraternidade e Educação. Um conversão em 01,02 e 03 de abril

Faça a inscrição. AQUI 


Teologia da Corrupção

 https://www.youtube.com/watch?v=Y03Y0FlT3Ts

Pastor fala sobre os colegas evangélicos que pedem ouro no MEC


https://www.youtube.com/watch?v=S45r4MmUMew

Boletim do Fim do Mundo - A Teologia da Corrupção


SOBRE MEC, PROPRINA e RELIGIOSOS... E UM CUIDADO!

Romero Venâncio

Como toda lata de verme, este governo bolsonaro só explode por dentro. Já começou... O áudio que rola nas redes sociais do ministro da educação falando em propinas e outras coisas mais relativa à sua pasta, é triste demais e um sinal de que estamos no pior momento republicano deste apequenado país. O conjunto da obra bolsonarista é a prova disto. 

Espalha-se pelos jornais depoimentos de prefeitos que eram assediados por “pastores evangélicos” para que as verbas do MEC que vinham para a já pobre educação nos municípios, fossem desviadas em forma de ofertas para as igrejas. Corrupção é, não há dúvida. Mas é pior: um crime contra a desenvolvimento deste pobre país (para a maioria!). 

Desviar recursos da educação é menos crianças nas escolas, é menos apoio as escolas, é menos apoio didático-pedagógico e é menos escolas... É destruir o futuro do país. É menos esperança. Não há nada mais diabólico do que uma liderança religiosa que bloqueia o futuro, que nega a esperança. Nada mais anti-evangélico do que isto. 

Tudo isto precisa ser denunciado e rigorosamente apurado para que pessoas cristãs sérias não sejam colocadas ao lado desses “evangélicos” corruptos e desgraçados.

UM CUIDADO

Diante da escalada anti-religiosa nas redes e contra os evangélicos indistintamente, chamo a atenção para uma coisa fundamental: a sociologia da religião praticada no Brasil atual e que tem base histórica, não abona tal posição. 

Cometem um erro de consequências políticas graves os que condenam ao modelo das redes sociais qualquer evangélico/protestante brasileiro como se fossem corruptos e ávidos por dinheiro. 

A maioria dos protestantes brasileiros são pobres. São honestos. Têm os “pecados” que todos temos. Não estão enfiados em governos de extrema direita (mesmo que tenham votado em Bolsonaro em 2018). São trabalhadores ou pessoas que estão no sub-emprego. Aqueles e aquelas que estão empenhados na campanha de Lula não podem cair na fácil armadilha de acusar os protestantes como corruptos diante do apelo das redes sociais e seus memes. 

Se fizerem isto, levaram água ao moinho da campanha do bolsonaro e seus aliados. Pastores/Pastoras corruptos tem aos montes nesse Brasil. Corruptores não só em termos de dinheiro, mas em termos de fé. Vigarista da fé. As mesmas redes sociais são pródigas nessas figuras. Vivem pedindo dinheiro, ostentando vida de celebridade, bem vestidos e vulgarizando o evangelho diariamente e usando palavras bíblicas para enganar a fé alheia. Vejo aos montes... 

Mas, cuidado: não tomemos essas figuras de redes sociais como se fossem os representantes de todos os protestantes brasileiros. Seria um erro fatal de um ponto de vista político e desonesto em termos do que sabemos em sociologia da religião brasileira. Por exemplo, os estudos sobre o pentecostalismo brasileiro avançaram muito e já temos bons livros frutos de pesquisas sérias nessa área.

Uma coisa é certa: esse desqualificado ministro da educação (o que nunca conseguiu ser) não tem a menos condição de continuar no cargo. Isto que venha algo melhor para o cargo. O MEC nesse (des)governo é uma pasta paradigmática: o que já é péssimo sempre vai piorar com o que vem depois. Sem esperança alguma diante do histórico.

Acrescentado em 30/03/2022

https://www.youtube.com/watch?v=043yWBUv0CM






sábado, 26 de março de 2022

TIRA DÚVIDAS sobre a Grande Roda de Conversa sobre Fraternidade e Educação. Um conversão em 01,02 e 03 de abril


 Este grande momento  está chegando e nenhuma dúvida pode restar em quem deseja participar. O blog da Ação Cultural ajuda a esclarecer.

Na próxima sexta-feira (01), em Aracaju (SE), começa um grande momento de mergulho na  Campanha da Fraternidade de 2022 que este ano traz como tema Fraternidade e Educação, uma sequência de quatro rodas de conversa, com inicio na sexta-feira a noite . A organização do evento deseja ampliar a participação, porque a abordagem do tema será feita de forma integral e por isso estamos com esse tira dúvidas, com as principais questões e respostas. Confira todos os detalhes, convide seus amigos interessados e/ou que trabalham com a temática em diversos ambientes e  participe.
Onde fica e como chegar 

A Comunidade Bom Pastor  abrigará os três dias de programação. Esta comunidade ocupa uma chácara localizada dentro de Aracaju. O endereço é Rua Efren Fernandes Fontes,  65, no bairro Santos Dumont e tem como pontos de referência o terminal rodoviário Maracaju e a Igreja Adventista localizada na avenida que passa em frente ao terminal.

  Ônibus - Se vier do lado do Centro de Aracaju, tem:

002 - Fernando Collor

9003 - João Alves

Eles irão passar pelo Terminal Maracaju, não desce. Após sair do Terminal dá sinal de descida. Quando chegar na parada de ônibus caminha retornando, como se voltasse para o Terminal, e pega a primeira rua a esquerda, a rua de uma Igreja evangélica que fica na esquina da rua que tem que entrar. Segue direto e um pouco mais a frente, do lado esquerdo fica a Comunidade Bom Pastor

Ônibus - Vindo do Terminal da Rodoviária Nova

Tem somente

040 - Marcos Freire II. O ponto fica no mesmo lado do banheiro, em frente ao banheiro. 

Ele irá passar pelo Terminal Maracaju, não desce. Após sair do Terminal dá sinal de descida. Quando chegar na parada de ônibus caminha retornando, como se voltasse para o Terminal, e pega a primeira rua a esquerda, a rua de uma Igreja evangélica que fica na esquina da rua. Segue a rua direto e um pouco mais a frente, do lado esquerdo, fica a Comunidade Bom Pastor.

Quem organiza ?

A organização está a cargo de uma unidade local que reúne o Centro Ecumênico  de Estudos Biblicos (CEBI),o qual é o responsável pelo repasse do investimento financeiro necessário, articuladores em Sergipe das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)   e a Pastoral da Juventude (PJ).  Este conversão acolhe  todas as pessoas que defendem uma educação de qualidade, democrática e que inclua os mais pobres como sujeitos e protagonistas de um projeto de transformação para o Brasil. Assim não fazemos distinção de religião ou de outro  tipo.

Programação

Sexta - 01 de abril

18:30 - Jantar

19:30 - Oração (Pastoral da Juventude)

19:45- Análise de Conjuntura  da Educação em Sergipe. (Hildebrando Maia)

20:30 - Questionamentos e debates

21:00 - Encerramento

Sábado - o2 de abril

7:00 - Café da manhã

7:45 - Oração (Edna)

8:00 - Análise das Campanhas de 1982 e 1998 (Zezito de Oliveira)

Roteiro da apresentação

1-     Apresentação da proposta e roteiro

1.1    - Trabalho em grupo...

1.1.1        - Pergunta surpresa

1.1.2        Lembranças das Campanhas da Fraternidade (CF). Qual (is)  a (s)  campanha (s) que mais lhe marcou (aram) e por qual (is ) razão (ões). Escrever antes do encontro e levar. Se o texto for grande, fazer um resumo para apresentar no sub-grupo...  Os textos poderão ser publicados no blog da Ação Cultural em data posterior ao encontro, a depender da liberação dos autores  dos mesmos.

1.2     – A proposta a ser apresentada por meio de slides, é buscar nos textos das  CF de 1982 e 1998  referenciais para fortalecer nos dias de hoje o trabalho com educação popular e participação cidadã em especial por meio de conselhos escolares, grêmios, grupos/coletivos culturais e etc... A apresentação será feita por meio de slides.

1.3     Apresentar o conceito de educação popular e participação cidadã.

1.4     Apresentação de slides sobre o histórico das CFs retomando a memória do que foi realizado no encontro anterior.

1.5     Apresentação dos slides sobre a CF 1982 e CF 1998

1.6     Comentários finais da plenária..

2          –  Gesto concreto - Atividade para a hora da tarde. No final da apresentação de Caducha.. Caso não seja possivel pode ser marcado encontro virtual para tratar desta parte.

Leitura do diagnóstico local e participativo, modificações e  indicação de uma ou duas comunidades para que o mesmo seja aplicado.

3          No decorrer do mês agendamento de reunião com uma ou duas comunidades sugeridas, formação da(s) equipe (s), criação de grupo no whatzapp.

4          Aplicação do questionário

5          Elaboração de projeto para ser encaminhado ao fundo de solidariedade afim de captar recursos para uma atividade final escolhida pós aplicação e apresentação do questionário. 

10:15 - Lanche

10:30 - Retorno

12:00 - Almoço

14:00 - Retorno e animação

14:15 - Análise do texto da Campanha da Fraternidade (Cláudio Caducha)

15:15 - Lanche

17:00 - Finalização

19:00 - Janta

Domingo - 03 de abril 

7:00 - Café da Manhã

7:45 - Oração (Edjane e Davison)

8:00 - Fechamento (início dos debates em ponto) e exposição dos temas.

9h - Projeção do Filme: Padre Josimo.

10:00 - Debate e avaliação geral do encontro (p. Soares).

12:00 - Almoço

Faça a inscrição. AQUI 

Quando acontece o Conversão sobre a Campanha da Fraternidade?

O encontro começa na sexta-feira, às 19 horas, prossegue no sábado, das 8 às 12h e das 14h às 18h e encerra no domingo às 12h  - Não é obrigatório participar de todos os momentos, 

Como será o acesso ?

Para participar é necessário inscrever-se  até o dia 28/03. Assim como realizar o pagamento de R$20.00 correspondente a taxa de inscrição, o que é feito ao chegar no local.

A entrada é liberada para todos os públicos?  

A partir de adolescentes e jovens protagonistas de coletivos e organizações juvenis até pessoas da terceira idade. Mesmo sendo um local aberto e semiaberto, não se esqueça de trazer suas mascaras.

O local conta com estacionamento?

Sim e de forma gratuita.

Sou de fora da cidade, tem alojamento pra mim?

Sim, será disponibilizado alojamento. Por isso a necessidade da inscrição antecipada para saber quem tem essa necessidade, além da organização da alimentação. Neste caso será necessário trazer roupa de cama, de banho e material de higiene pessoal. 

Quero fazer parte da cobertura colaborativa, como faço?

Você produz conteúdo em foto, vídeo, texto ou faz parte de alguma mídia independente e ficou interessado em colar no Conversão da Campanha da Fraternidade. Então para participar da cobertura colaborativa é só entrar em contato com Zezito de Oliveira 9 8802-0711.

Tarefa importante para fazer até o dia 01  de abril, embora pode ser produzida no inicio da roda de conversa do sábado pela manhã.

Para quem puder fazer, há uma tarefa a ser levada por escrito e que será socializada nos subgrupos antes da minha intervenção... Quem não puder levar, será convidado a fazer no inicio da atividade educativa no dia 2 de abril (sábado).  (Zezito de Oliveira)

Lembranças das Campanhas da Fraternidade (CF). Qual (is)  a (s)  campanha (s) que mais lhe marcou (aram) e por qual (is ) razão (ões). Escrever antes do encontro e levar. Se o texto for grande, fazer um resumo para apresentar no sub-grupo...  Os textos poderão ser publicados no blog da Ação Cultural em data posterior ao encontro, a depender da liberação dos autores  dos mesmos.

Continuidade do conversão.

Para quem mora fora do estado ou para quem quiser rever,  pretendo realizar uma sequência de  duas lives onde apresentarei o mesmo conteúdo da roda de conversa sobre a primeira Campanha da Fraternidade de 1982 sobre educação, e a segunda,  a de 1998. Isso até o final do primeiro semestre... (Zezito de Oliveira) 

Proposta de continuidade na pegada do Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco e realizado como ação local.

Roteiro de diagnóstico rápido, local e participativo para a Campanha da Fraternidade de 2022







Pastores trambiqueiros. Como a música brasileiros viu isso lá atrás.....

 https://www.youtube.com/watch?v=zkp2gSevDlg


https://www.youtube.com/watch?v=Y17ptmebzxo


https://www.youtube.com/watch?v=Enut6yUZrW0


Quem lembrar de outras canções pode enviar pelos comentários...


quinta-feira, 24 de março de 2022

ALEGRIA! ALEGRIA! Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc foram aprovadas no Congresso... E agora? (1ª parte)

Celio Turino

Aprovada a Lei Aldir Blanc 2 no Senado!

(74 votos favoráveis e apenas uma abstenção)

A maior conquista em políticas culturais da história do país. Serão R$ 3 bilhões ao ano para fomento direto na cultura, em aplicação descentralizada e democrática, dando forma ao Sistema Nacional de Cultura, via Estados, Distrito Federal e Municípios. Essa história ainda merece ser contada desde quanto tudo começou, logo no início da Pandemia. Agora é comemorar e dar parabéns à tod@s envolvid@s, em particular à Jandira Feghali, autora da lei, junto com outros deputad@s, pela escuta, capacidade de articulação, dedicação. 

Viva a Cultura Viva do povo brasileiro!



 ------------------------------------------------------------------------

Zezito de Oliveira 

As duas são leis de fomento a criação artística e a produção cultural. O que significa, elas estimulam o desenvolvimento da cultura por meio da destinação de recursos públicos,  cuja maior parte não são devolvidos ao poder público de forma reembolsável, o que quer dizer, em dinheiro, mas sim em serviços e produtos culturais , a preços reduzidos ou de forma gratuita para os contribuintes em geral.

O principal instrumento de fomento cultural mais conhecido que temos é a Lei Roaunet, também muito criticado a torto e a direita...Ou extrema direita, porque a Lei Rouanet foi criada em governos de direita ou centro direita, como gostam de ser chamados. Foi aprovado no governo Collor (inicio da década de 1990)  e conseguiu atravessar todos os anos da era Lula e Dilma, na primeira fase desta era,  o que esperamos retorne e não seja  novamente abortada.

A lei Rouanet é uma lei  federal que possibilita uma forma de investimento privado, às expensas, ou melhor, às custas do estado. Assim,  o empresário que deseja investir em cultura, escolhe um projeto capaz de fortalecer a marca ou a imagem de sua empresa e destina uma parte do imposto que iria pagar a receita federal. Lembrando um ditado antigo, “papagaio come milho e periquito leva a fama.”

A consequência disso é a maioria dos projetos patrocinados pela Lei Rouanet ficarem concentrados no eixo Rio e São Paulo, locais sede das maiores empresas nacionais ou com sede no Brasil, mesmo assim em atividades direcionadas para o publico da zona sul, no caso do Rio de Janeiro e Av. Paulista no caso de São Paulo ou que beneficiam pessoas que moram ou trabalham nestes territórios. Embora alguns desses projetos atingem as pessoas que moram mais distantes destes locais, porém em número reduzido, mais reduzido ainda se pensarmos nas periferias e nos grotôes deste imenso país.

O governo que começou em 2018 teve como uma das bandeiras acabar com Lei Roaunet, o que conseguiu em parte, não de forma oficial,  mas por causa de uma  série de ações no campo da administração pública e principalmente  por causa da falta de ações.

Alguns anos antes da campanha eleitoral de 2018, os apoiadores  do atual  governo já tinham começado  uma pesada produção  e distribuição de fakenews  contra a Lei Rouanet, utilizando como desculpa principal e esfarrapada por sinal,  o discurso do combate a corrupção,  e  uma CPI para encontrar provas e indícios foi realizada, mas pouco se encontrou e possivelmente alguns tribunajs devem estar cheios de ações contra as falsas acusações que visavam atingir principalmente,  os artistas com pensamento e conduta de ação mais alinhada ou afinada com o campo progressista, aqui incluindo os mais, ou menos,  a esquerda. Sendo que a maioria dos "acusados" nem utilizaram ou pouco utilizaram a  citada lei..


 Sobre direita e esquerda, vamos a definição de um grande intelectual italiano que leio , até menos do que gostaria.

Segundo o pensador italiano Norberto Bobbio a esquerda orienta-se por um sentimento igualitário e a direita aceita a desigualdade como natural. Embora no Brasil isso só ficou mais claro nesta era Bolsonaro, um governo que leva o pensamento e a conduta da direita ao extremo.

Conclusão desta primeira parte, apesar de ser um lei que favorece empresários e alguns segmentos artisticos e produtores culturais a lei Rouanet criada no governo Collor conseguiu chegar até os dias atuais, porque  está integrada dentro do sistema neoliberal de produção e consumo...

E ja que falamos em neoliberalismo, a Lei Rouanet é uma lei que nasceu em um momento de inicio de implantação da politica neoliberal no Brasil (final de 1980 em diante e com um certo recuo nos governos Lula e Dilma),  mas se contradiz com a própria definição que é realizada aqui. "Os teóricos neoliberais defendem a mínima cobrança de impostos e a privatização dos serviços públicos. A doutrina neoliberal prega a menor participação possível do Estado na economia, dando preferência aos setores privados."

Observe, "a menor participação do estado na economia", porém os recursos que financiam a lei Rouanet são recursos públicos estatais...

Outra contradição desse tipo acontece com o Sistema S, em que pese o grande serviço que o SESC presta a cultura paulista e brasileira, assim como os demais SESCs estaduais, uns mais,  outro menos.


Continua......

No próximo capitulo desta série,  explicaremos como um instrumento presente na lei Roaunet, o Fundo Nacional de Cultura, mas com pouco recursos destinados e não muito conhecido, começou a ser viabilizado de forma potente pela Lei Aldir Blanc 1.

Este texto/abordagem também serve de roteiro para uma série no podcast PENEIRANDO, tratará de politicas/gestão/produção/ação cultural..


quarta-feira, 23 de março de 2022

No aniversário de Aracaju a história da cidade escrita pelo lado de cá.

 


Se gostas de um bom reggae, pode ler o texto abaixo ouvindo como pano de fundo, Chimarruts - Do Lado de Cá.
 
Choveu  sobre Aracaju no dia do aniversário da cidade em 17 de março de 2022. Dois dias antes (15/03),  uma liderança local do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foi assassinada publicamente pela policia militar...

 A cidade sempre disputada, na maioria das vezes de forma resignada pelos trabalhadores que compraram terrenos nos arrabaldes, nas zonas mais afastadas do chamado "quadrado de pirro" (1), agora "explode" nestes tempos de exarcebação da luta pelo direito à cidade... 

A historiografia também entra nesta "dança", que me desculpem os marxistas mais ortodoxos, quando traz a lume as diversas formas de  lutas e de resistência  dessa gente que não tem "bons modos", "boa aparência" e que não é de "boa família".

E para quem  não esquece de boas canções, dentro desse contexto de cidades partidas...

Eu Não Sou da Sua Rua - Marisa Monte

Mas não apenas a luta de classes, como também afirma Ferreira Gullar uma “história humana que não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz.”

Acerca de personagens desclassificados ou que formaram e ainda formam a ralé desta cidade, foi escrito uma obra prima do cancioneiro sergipano.

"Mercado Thales Ferraz" de Alcides Melo.  LP I Festival Sergipano de Música Popular Brasileira 81 - TV Sergipe - A primeira canção é "Mercado Thales Ferraz"
 
E é isso que poderá ser encontrado em dois livros escritos por dois historiadores nativos de dois bairros da antiga periferia de Aracaju, antes distantes do centro da cidade, onde fica o já citado “quadrado de pirro”. 

O primeiro deles escrito pela professora doutora Maria Tereza Cristina Cerqueira da Graça e o segundo escrito pelo professor especialista que escreve estas nem tão mal traçadas linhas, José de Oliveira Santos, popularmente conhecido como Zezito de Oliveira.



Acerca dos dois livros, a professora doutora Terezinha Oliva escreve o seguinte: 

"De uma sentada, li o livro “AMABA: o esquecido círculo de cultura de Aracaju”. Foi minha companhia durante um domingo, por coincidência, como fiquei sabendo, o dia do aniversário do Frei Florêncio Pecorari.
Ele, missionário capuchinho ligado à campanha pela retirada da Fábrica de Cimento do perímetro urbano, foi meu professor, na antiga Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe e depois, meu colega no Departamento de Filosofia e História da UFS. Ver resgatada a presença dele e dos frades capuchinhos nas lutas que marcaram a história do Bairro América, me encheu de emoção.
Mas o livro vai além, ao tratar da história do Bairro América, seu surgimento em torno da Penitenciária de Aracaju e seu desenvolvimento, através das lutas dos seus moradores e pelo movimento cultural que aconteceu nos anos oitenta, sempre atuando em torno das histórias de vida dos moradores.

Há pouco eu havia concluído a leitura do livro de Tereza Cristina C.Graça sobre o Bairro Siqueira Campos ( Malinos, zuadentos, andejos e sibites: o Aribé nos anos 70 e 80). São visões e objetivos diferentes, mas ambos ressaltam uma vida cultural dinâmica, pouco divulgada ou “esquecida”. Componho agora, também com a leitura do “AMABA…”, a percepção sobre uma parte da cidade de Aracaju onde eu pouco circulei e por isso, recomponho a minha própria visão da cidade.

Como são bem-vindos estes estudos que desvendam com outros olhares a vida da capital, pela organização espontânea dos seus moradores, pela relação com os poderes públicos, pela bela e rica atuação cultural!
Aliás, embora eu tenha me casado na Igreja São Judas Tadeu, só fiz no Bairro América o caminho que leva até a Igreja, mas há cerca de três anos, aceitei o convite da minha filha, que é atriz, para assistir, numa noite, à peça sobre Billie Holiday, num pequeno teatro, no Bairro América. Que aventura, embrenhar-me por ruas desconhecidas e ser brindada por uma bela interpretação e pela visita à exposição do acervo do grupo de teatro ali naquele pequeno espaço! Fiquei muito agradecida à minha filha pelo convite e pela oportunidade.

O livro de Zezito Oliveira, militante com uma história marcante que eu, com prazer, registro entre os meus alunos do Curso de História da UFS, é uma daquelas contribuições que enriquecem a história de Aracaju e constitui um bom convite à leitura!"

(1) SOBRE O QUADRADO DE PIRRO

Esse novo centro urbano planejado teve o engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro como projetista. Ele se encontrava aqui desde 1848, quando Inácio Barbosa, imbuído do espírito mais progressista e moderno da época, contratou Pirro para desenhar Aracaju sobre essa planície litorânea. O projeto seria de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no século XIX, a exemplo da grande reforma de Paris.

O TABULEIRO DE XADREZ

O Plano de Pirro se baseava no tabuleiro de xadrez, seu desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros. Tudo a partir de um ponto central, a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso). Mas o plano se desenvolveu a partir da Alfândega (atual Centro Cultural de Aracaju) sentido sul, em direção da Avenida Barão de Maruim, margeando o rio, respeitando a simplicidade geográfica do relevo e rigor geométrico dos cálculos. As primeiras residências de alvenaria foram dos líderes da Região da Cotinguiba e de quem tinha apoiado a transferência da capital. As demais eram de palha e pau a pique, onde moravam os trabalhadores da nova capital.

        Para saber mais:   Especial Expressão Sergipana | Quadrado de Pirro: Nosso eterno centro (parte 1)


Sobre o livro:  Malinos, Zuadentos, Andejos e Sibites: o Aribé nos anos 70 e 80,



Leia também: