sexta-feira, 30 de junho de 2023

Dj Alok cairia bem em um reveillon ou festival de verão, mas não no São João do nordeste..

 https://www.youtube.com/watch?v=nlVdPirNqBE

Gosto de música eletrônica também, incluindo o trabalho do DJ Alok, até porque na adolescência propus ao meu pai que tinha conjunto de baile e um som montado , para me ceder para que eu pudesse me testar como DJ, o que ele não aceitou, e hoje, com essa discussão toda sobre a invasão cultural nas festas daqui do nordeste, como na canção do grande Paulinho da Viola, "tá legal, eu aceito o argumento (da diversidade), mas não me altere o São João tanto assim". 

Dj Alok cairia bem em um reveillon ou festival de verão...

Zezito de Oliveira

Registro da apresentação/espetáculo do DJ no "São João" de Campina Grande..


"E, o que é pior ainda, o Brasil, um país de cultura tão rica e diversa, fica condenado a ouvir e dançar a obra de Gusttavo Lima de janeiro a janeiro? Ele e seus pares irão desfilar no Sambódromo também porque é mais vendável do que o samba? Sertanejos e sofrentes vão tomar de assalto o Boi de Parintins? O Galo da Madrugada no Recife e o circuito Barra-Ondina dos trios elétricos de Salvador?

É esse o inferno que nos resta, segundo o raciocínio de Gabriela Prioli e quem mais acreditar nele? A hegemonia cultural total de ponta a ponta? Vamos, enfim, deixar de ser o Brasil diverso e múltiplo, deixar de ter a música nativista do Rio Grande, a canção caipira de Pena Branca & Xavantinho e Renato Teixeira, a pantaneira de Almir Sater, o rock paulistano dos Titãs e Rita Lee, os experimentos de Arrigo Barnabé, a maravilhosa canção mineira de Milton Nascimento e o Clube da Esquina, a Bossa Nova, nossa maior expressão cultural em todo o planeta, só porque o mercado assim o quer? Por que ele investe e precisa de retorno?"

ANNÁ - Daqui (Pesada)

Frei Betto e José Arbex apresentando saídas para um Brasil perdido, confundido, que precisa sair do transe

 

"A direita criou o fantasma Paulo Freire, ou o bicho papão da doutrinação esquerdista, porque sabe do potencial da práxis freireana, mesmo que efetivamente esta teve e têm pouca utilização em nossas escolas e universidades. Ou seja, a crítica da extrema direita a presença de uma suposta presença de Paulo Freire na educação brasileira, embora afirme como já é, é mais pelo que pode vir a ser. E o governo Lula patina com relação a esta compreensão... Zezito de Oliveira"



Assista a entrevista completa...

https://www.youtube.com/watch?v=gVAaKxM4FnQ


E mais...

https://www.youtube.com/watch?v=cLwNNSoexGM


https://www.youtube.com/watch?v=8Vm8n_g2WrE


domingo, 4 de outubro de 2020






quinta-feira, 29 de junho de 2023

São João do nordeste e "pais do forró" . E agora? Por Romero Venâncio, Antônio da Cruz e Zezito de Oliveira.

 


TEM ALGO SE PERDENDO NAS FESTAS JUNINAS DO NORDESTE

Romero Venâncio (UFS)

Vim do interior e tenho uma relação íntima com as festas juninas. Há quem perdeu esse tipo de relação, quem se urbanizou ao ponto de não mais se sentir como do interior. Ao contrário, sempre me identifico como "vim do interior". Mas não faço disto um "dogma".

Tem outro ritmo a vida no interior; tem uma lógica muito diferente da capital. A capital é urgente, hiperbólica e com clima bipolar... Cosmopolita. 

Enquanto, no interior, o contexto é muito demarcado pelo ciclo de festas - o Natal, o Carnaval e, claro, as festas juninas. Essas últimas, particularmente, são as melhores para mim. Pois bem, significa que em mim há várias expectativas quanto ao que se ouve, ao que se come, ao que se vê, ao que se investe, etc. Eu vim de onde saía de longe para uma palhoça em um sítio há quilômetros de casa. A gente viajava de kombi pra chegar lá. Não era pouco pé-de-serra. Basicamente, a festa terminava ao raiar do dia. Era na casa de farinha onde mesmo o trio fazia todos dançarem até a poeira subir. 

E as comidas de milho eram uma atração à parte. Nunca vi canjica gourmet e nem pouca comida. Tinha quentão, bolo, canjica, pamonha. Cada um poderia levar um pouco e a mesa nunca estava vazia. É um fenômeno que ocorre quando as famílias pobres se encontram: o medo de faltar comida numa festa. Desse jeito, até sobrava e se dividia ao final. 

Não precisava de muita coisa não, uma palhoça numa casa de farinha, bebida, comida e um trio eram suficientes para alegrar as almas. 

Foi aí que aprendi as músicas da terra (algumas machistas, claro), mas a maioria tinha amor, xamego  e os contextos da vida rural. 

Era uma poeira danada, pois os chinelos em contato com a terra batida faziam sumir uma camada de pó na superfície. A luz incandescente trazia aconchego à vida dançando. Essa é minha referência de alegria. Isso pra mim é genuinamente junino. 

Não poderia faltar o Gonzaga na "playlist". Ninguém estava "louco" de não tocar Gonzaga e Jackson do Pandeiro? Tudo era motivo para formar uma quadrilha. Éramos felizes e sabíamos. Mas, também sou de uma geração que viu a vida festiva do interior se tornar mais complexa com a invasão do forró estilizado, com a elitização e com a "gourmetização"  das festas juninas. 

Na medida em que as festas foram tomadas por camarotes privados, mega estruturas e por músicas que se diferenciam (e muito!) daquele trio forrozeiro, a estética das festas juninas do interior mudou e, ao mesmo tempo, se tornou um negócio muito rentável para o empresariado.  Poucas pessoas preocupam-se com isso, na verdade. Todos vão em busca de consumir o produto "festas juninas", onde aquele pé -de-serra do passado tornou-se uma caricatura, sabe? 

Então, numa esquina ou noutra, a gente pode encontrar aquele trio, mas o som se dissolve em meio ao pancadão que toca no palco principal. Muita coisa perdeu-se nas festas juninas do interior e quanto mais pornofônica for a música, mais ela ganha projeção. 

 Nós sabemos que a tendência é essa: a tomada das festas pelo capital, sua urbanização e a venda da mercadoria "festas juninas". As festas juninas são um lugar de disputa entre a mercantilização e o popular. Eu estou no lugar do último, mesmo sabendo que tem algo se perdendo no São João e para sempre.

Isto foi um depoimento pedido por um jornal do Sul. A forma deveria ser em tom pessoal

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Acendendo a fogueira da discussão

28 de Jun de 2023, 19h14

Antônio da Cruz

Afinal, o espetacular das quadrilhas virou espetaculoso? (Tela de Joel Dantas)

A cultura é viva e constantemente se bate na paradoxal situação da modernização e da manutenção das tradições, o refinamento e a deturpação grosseira.

Ninguém fica indiferente às mudanças de toda ordem nos diversos campos de atividade humana. Quando o assunto, porém, são as novidades que surgem canibalizando as tradições culturais, aí é preocupante.

Para quem viveu e vive imerso, que assimila os valores da cultura popular e tem visão analítica, assume posição crítica, pois a sensação de orfandade se inicia antes do desaparecimento por completo da manifestação engolida por tais novidades.

Em um país de tamanha pluralidade cultural como o Brasil, quando acontece tal fato é difícil passar ao largo da discussão. Assim como é difícil aceitar a ideia de que pasteurizar, uniformizar, fundir e até forçar a supressão de manifestações culturais das regiões é sinônimo de evolução cultural.

Alguém da faixa de idade dos 60 anos poderá dizer: “É, pelo jeito, nós estamos ficando velhos, companheiro. O novo sempre vem, e temos de aceitar as modificações inexoravelmente”.

As experiências apontam que aquilo que não despareceu foi porque houve quem persistisse como resistência proposital. No Nordeste temos como exemplo a literatura de cordel que, de uma situação de quase extinção, emergiu com tamanha força que hoje é impensável a sua ausência no universo cultural brasileiro.

Já o caso das mudanças nas quadrilhas juninas, que em todos os anos os concursos trazem à baila as discussões acaloradas sobre a validade das suas mudanças, é uma questão que envolve muita gente.

A quadrilha nasceu inglesa por volta do século XIII. Os franceses a adotaram e espalharam pela Europa durante o século XVIII e os portugueses as trouxeram para o Brasil.

Na nossa juventude eram marcadas em francês, mas aqui nós nordestinos, que também as adotamos, resolvemos além de aportuguesar a marcação, também emprestar o nosso sotaque e as nossas feições.

De dança airosa dos salões aristocráticos, a quadrilha veio a se converter em dança comunitária praticada em um período de festa religiosa popular, que é o São João, celebrando a fartura do milho. Esta migração e aspectos foram operadas graças ao sentimento de coletividade nas comunidades, nos bairros e cidades do interior.

Ao que tudo indica, é neste ponto em que a quadrilha junina se configura prática cultural peculiar da região, com seus elementos bem nordestinos, a exemplo da indumentária, coreografia e ritmos. Pode-se apontar como marco temporal para essa conformação a década de 1980 do século XX.

As mudanças ora vistas fazem parte do mesmo fluxo e da sua existência. Difícil é aceitar tais mudanças, porque elas são impactantes. Pode-se imaginar o que foi a aristocracia ter de aceitar que algo tão sublime para a classe de repente fosse apoderada pelo “populacho ignaro”.

Enquanto manifestação espontânea com formação das rodas para dançar com marcação improvisada nas festas juninas, isto seja no terreiro de uma casa, qualquer pátio ou arraial, a quadrilha continua mantendo suas características tipicamente nordestinas assumidas e incorporadas.

A questão se torna polêmica nos regulamentos dos concursos.  Neles se encontra a possibilidade de fazer avançar ou frear as mudanças da quadrilha. Existem critérios nos regulamentos que estimulam a inovação, a tradição e a originalidade. A depender também do júri, o que for mais inovador pode ganhar do tradicional.

Observadores imersos nesse universo, como Irineu Fontes, afirmam que, aos invés de cuidar dos ritmos e da coreografias, as quadrilhas introduziram e priorizaram a dramatização. Esta novidade se deve, em grande monta, aos concursos realizados por redes de emissoras de televisão. 

As preocupações aumentam quando a dramatização se excede e concorre em demasia com a coreografia. Quando tratando de temas sensíveis, como raciais, de gênero, algumas cenas que, por exemplo, deveriam ser de celebração, invertem seus efeitos e produzem constrangimento e repulsa que até nota de protesto tem provocado.

Para Joel Dantas, artista que tem como motivo frequente das suas telas os festejos juninos, “as quadrilhas há muito já se transformaram em escolas de samba”. Ele diz que vivemos um carnaval no São João. “Os integrantes ficam com aquele sorriso baço de um falso glamour”.

No bojo das mudanças dos festejos juninos, as músicas também têm mudado. Os ritmos tradicionais do Nordeste como xaxado, xote e baião têm resistido ao axé, ao funk e ao “sertanejo” em desigualdade, porque os artistas nordestinos não têm o dinheiro do agronegócio como têm os cantores “sertanejos”.

Por força do famigerado jabá - dinheiro pago pelos produtores para que as emissoras de rádio toquem as músicas de determinado cantor e até deixem de tocar a de muitos outros -, a população é forçada a ouvir durante todo o ano nas rádios esses estilos musicais.

O sucesso do “sertanejo” não se dá tão somente por vontade espontânea dos ouvintes, mas principalmente porque eles são induzidos a gostar, dada à massificação por força do dinheiro derramado sobre as emissoras comerciais.

Nem no São João os gestores dos municípios dão uma oportunidade para os ouvidos dos seus eleitores descansarem e contratam os nomes mais expressivos do arrocha e do “sertanejo de asfalto” por preços estratosféricos no lugar dos artistas locais.

É recorrente afirmar que fazer arte e cultura é ato de resistência. Não precisamos formar guetos para a cultura. Que todos tenham trânsito por todo o território nacional, mas é bom que, em festas e manifestações decisivas para mantermos a pluralidade cultural do país, os convidados sejam convidados, mas os donos da casa continuem sendo os donos da casa e nela mandando.

Da mesma forma, é preciso avaliar até que ponto, no afã de evolução, a novidade que incorporamos nos torna uma caricatura do que não queremos ser.


 Viva São Pedro!

Que saibamos aproveitar cada noite de forró com tranquilidade, paz e muita alegria! Que seja uma verdadeira festa da família, onde todos possam ir para se divertir de verdade, sem problemas, sem brigas, sem confusões.

A partir de amanhã começa nosso Forró Siri e eu peço que São Pedro olhe por nós e, junto a Jesus, nos conceda uma excelente festa!

São Pedro, rogai por nós!

¨Colabore com São Pedro também prefeito. Olhe o que está sendo dito a respeito da programação dos grandes "arraiais" de Sergipe e do nordeste.. As leis de fomento, Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, podem nos ajudar."
Zezito de Oliveira na página do prefeito padre Inaldo no facebook. Quem chega lá para reforçar este tok? 


O Gonzagão em noites de gala

Quadrilha Junina Asa Branca
Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
22/7/2009 
Brincantes e mestres da cultura popular tratados como super stars. Tudo conforme manda o figurino, com cobertura da televisão, inclusive com flashes ao vivo, instalação de telões, chegada antecipada do público e com presença massiva, torcidas organizadas, serviço gratuito de alimentação e assistência médica preventiva.

Se você pensou nos bois do Festival de Parintins ou nas escolas de samba do Rio de Janeiro, nos maracatus de Olinda e Recife ou nos afoxés de Salvador, errou! No texto abaixo, você ficará sabendo que isto começa a se consolidar em Sergipe.

Trata-se do IV Concurso de Quadrilhas Juninas Levanta a Poeira, realizado no Gonzagão, nas noites dos dias 29 e 30 de maio, organizado pela TV Sergipe, afiliada local da Rede Globo. A parceria foi realizada com a Federação das Quadrilhas Juninas de Sergipe e contou com o apoio do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura.

O público presente era só alegria! E da parte daqueles que freqüentam o Gonzagão regularmente, então! Situação semelhante a esta também percebida em alguns momentos, como nos festejos juninos, III Noite Cultural e 3º Mostra Arte e Cidadania, no ano de 2007, no Festival de Talentos do Programa Abrindo Espaços, e na Mostra Regional do Teatro do Oprimido, realizados no ano de 2008.

Diversas razões concorreram para o alto grau de satisfação das cerca de quatro mil pessoas (estimativa) — recorde de público na atual gestão, iniciada em maio de 2007. Dentre elas, destacamos: a colocação de telões para possibilitar aqueles que não conseguiram chegar a tempo de ocupar as arquibancadas e os degraus que circundam a área da pista de dança assistir às apresentações; a atitude de reverência ao velho Lua, por parte do cantor e compositor sergipano Rogério, na reportagem especial apresentada no telejornal local; demonstração do carinho pelo espaço que recebe o nome do mestre através das palavras de todos os repórteres e, finalmente, o destaque nas reportagens para o trabalho cotidiano das quadrilhas, cujas potencialidades em termos de ajuda ao desenvolvimento humano, social e econômico das comunidades precisa ser melhor dimensionado e incentivado.

Dentre as quadrilhas escolhidas através de sorteio para participar do concurso, encontram-se duas que representam a comunidade onde o Gonzagão está situado (conjunto Augusto Franco) cujos ensaios são realizados neste espaço cultural, a Quadrilha Junina Luiz Gonzaga e a Quadrilha Asa Branca, cujo nome também faz referência a música mais conhecida do Velho Lua.

No caso desta última, o crescimento tem se dado a olhos vistos, a partir da liderança firme e terna de Dona Genilda, que desde 2007 acolheu de braços e coração abertos a presença do coreógrafo, aderecista, músico e bailarino Rogério Valença, como também a proposta de capacitação de agentes culturais através da bandeira Consórcio Cultural.

Neste ano de 2008 a Quadrilha Asa Branca surpreendeu a todos os presentes no concurso Levanta a Poeira no Gonzagão com um tema em sintonia com a realização do ano da França no Brasil, apresentando a trajetória da quadrilha junina, desde os palácios das cortes européias até as festas no interior do Brasil, onde essa tradição, após ter sido abandonada pela nobreza, foi adotada e ressignificada, assegurando a sua permanência até os dias atuais.

O impacto que a abertura causou com um cenário de fundo composto pela fachada de um palácio real e local de onde adentrava a pista de dança, os componentes da quadrilha Asa Branca, vestidos nos moldes do estilo Luis XVI, dançando uma canção clássica, deram o tom do que viria a seguir. E o mais importante: em nenhum momento o público ficou entediado. A mudança de figurino (do padrão europeu do século XVIII ao caipira chic), os passos coreográficos, a seleção musical e a qualidade dos músicos, a narração de alguns fatos históricos relacionados a esta influência da França (que deixou as suas marcas na cultura do ciclo junino), além da salva de fogos em alguns momentos, tudo isso manteve a atenção do público em todos os momentos da apresentação.

Assistir novamente a esta apresentação, como a de outras quadrilhas juninas que participaram do Levanta Poeira (ou mesmo as que não foram selecionadas para estar presentes nos dias 29 e 30 de maio), era a expectativa aguardada pelo público que, novamente, voltou a lotar o Gonzagão no período compreendido entre os dias 19 de junho e 4 de julho.

Esta programação denominada Festejos Juninos – Gonzagão 2009, é uma realização da Secretaria de Estado da Cultura/Governo de Sergipe, e ofereceu uma opção para muitas pessoas que não puderam ou não quiseram ir para o Forrocaju, local de concentração dos principais artistas e bandas de forró, que arrastam milhares de pessoas por noite(estima-se que, em algumas noites, chegue a quase 100 mil pessoas).

Com isso, fica comprovado que os festejos juninos são a festa do sergipano por excelência, já que basta uma quadrilha junina, nem que seja improvisada, um espaço decorado com bandeirolas, palhas de coqueiro, fogueira, uma mesa farta com delícias a base do milho e um trio pé de serra ao vivo (ou por meio eletrônico) para juntar um bocado de gente para festejar, dançar, brincar... mesmo que isso aconteça simultaneamente em diversos locais.

Está aí uma idéia que circula na cabeça de muitos aracajuanos: descentralizar os festejos juninos da capital, nos moldes do que acontece com o carnaval do Recife, o qual além de instalar a mega estrutura que concentra milhares de pessoas na área central, realiza extensa programação em diferentes locais, incluindo a periferia da cidade.

P.S.: O Gonzagão sediou na noite do dia 08 de junho, uma das eliminatórias do Concurso de Quadrilhas da TV Atalaia, afiliada local da Rede Record. Em plena segunda-feira, cerca de duas mil pessoas, prestigiaram o evento, que trouxe cinco quadrilhas juninas, filiadas a Liga de Quadrilhas Juninas do Estado de Sergipe.

Além da Asa Branca, outra quadrilha que atrai uma grande quantidade de público é a quadrilha Unidos em Asa Branca, campeã do Concurso Levanta Poeira deste ano e que também trouxe para Sergipe o titulo de quadrilha campeã do concurso da Rede Globo Nordeste (edição 2009), realizado na cidade de Fortaleza (CE).

Já a quadrilha Asa Branca, estará se apresentando no encerramento do Ano da França no Brasil, a se realizar em Brasília, no mês de setembro.

A trajetória destas duas quadrilhas juninas e a da Luiz Gonzaga, será focalizada em outro texto que será postado no próximo mês, aqui no Overmundo.

Uma questão importante é o distanciamento das quadrilhas juninas dos padrões caipiras tradicionais (para insatisfação dos folcloristas) e a incorporação de inovações ao escolher temas, criar cenários, passos coreográficos mais complexos e utilizar tecidos mais sofisticados nos figurinos (para deleite do público).

Particularmente, defendo a existência de espaço para os dois modelos. O estilo tradicional poderia ser reforçado junto às quadrilhas juninas mirins e/ou através de uma (várias) quadrilha (s) junina (s) subvencionada pelo estado e/ou pelo (s) município (s) para se apresentar em momentos especiais, podendo estar vinculada a um grupo de danças populares tradicionais.

Já de outro lado, considero urgente a necessidade de enfrentamento do problema da sustentabilidade econômica. Em conversas com algumas lideranças, temos tratado desse assunto e temos recomendado o seguinte:

a) Capacitação em gestão e produção cultural para aqueles líderes que assumem papéis de coordenação administrativa e/ou de produção, assim como para aqueles que tem potencial para assumir este papel. Com isso, pretende-se diversificar as fontes de patrocínio que, na maior parte das vezes, depende da subordinação do grupo cultural às estratégias de campanha eleitoral de candidatos a cargos eletivos. Embora, em muitos casos, mesmo com esta capacitação a situação venha a ser mantida, pelo menos mostrará outras perspectivas para a captação de recursos que não a dependência a este modelo tradicional e que já começa incomodar a alguns quadrilheiros.

b) Elaboração de projetos para que o(s) tema(s) seja(m) explorado como conteúdo para realizar um trabalho educativo junto aos adolescentes e jovens que compõem as quadrilhas juninas, considerado o fato que os temas em geral tratam de aspectos históricos, culturais e sociais e podem dar um bom “caldo” pedagógico, se devidamente tratados por pessoas que saibam fazer uso de metodologias dinâmicas e interativas.

c) Elaboração de projetos para a capacitação de jovens e adultos nas áreas da música, dança, figurino e adereços, corte e costura, maquiagem etc. Com isso, será rompido o círculo de dependência com relação a alguns profissionais que, em função da relação procura/oferta, cobram caro para realizar estes serviços.

Mas tudo isso depende de uma ação articulada das Secretarias de Cultura, ou órgão similares dos estados e municípios com as instituições do sistema S, universidades, ONGs, entidades que representam as quadrilhas juninas e Ministério da Cultura.

As ações desses agentes públicos podem ser iniciadas pelo mapeamento das quadrilhas juninas existentes em todos os municípios, elaboração de um programa de capacitação de agentes culturais específicos e a organização de editais para o financiamento de projetos das quadrilhas juninas, condicionados à necessidade de investimento em atividades pedagógicas, em parceria com educadores e/ou escolas públicas e/ou de capacitação nas áreas artística e técnica.

Sobre o potencial econômico das quadrilhas juninas, afirmei em um artigo, aqui no overmundo:
"Aqui em Sergipe, um jornal local publicou em junho de 2004 alguns dados interessantes referentes à quantidade de empregos que são gerados pelos 64 grupos que integram a Liga das Quadrilhas Juninas do Estado de Sergipe. Segundo a reportagem, de março até a primeira semana de julho, são gerados quase mil empregos para músicos, cantores, costureiras, maquiadoras, estilistas e muitos outros profissionais."

Já em relação a questão Tradição X Inovação, também em outro texto, aqui no overmundo, teci as seguintes considerações:
"Aqui em Sergipe ocorre, todos os anos, uma discussão acadêmica envolvendo a mudança de perspectiva das quadrilhas juninas que aos poucos vão perdendo a simplicidade e a ludicidade dos passos tradicionais para dar lugar a outros mais complexos e que se caracterizam pela inovação e pelo hibridismo. Com isso, a maioria das quadrilhas acaba se transformando em grupos populares de dança ou em balés populares. Da nossa parte, entendo que é um movimento que não tem volta, em função daquilo que alguns intelectuais chamam de “sociedade do espetáculo”, que é uma marca da cultura atual. Entretanto, como considero que a quadrilha tradicional tem o seu lugar, a sua razão para continuar a existir, penso que é incorporando ao movimento das danças circulares sagradas que isso estará garantido.
Já experimentamos os efeitos de integração, socialização, quebra do gelo, “distensionamento”, satisfação e etc. que os movimentos coreográficos da quadrilha tradicional podem nos proporcionar. Em alguns eventos realizados recentemente no Complexo Cultural “O Gonzagão”, como na celebração de 1 ano da atual gestão, na festa junina de confraternização dos funcionários da Secretaria da Cultura e também após a apresentação espetacular de algumas quadrilhas juninas durante o forró mensal, que é realizado naquele local, os presentes foram convidados para adentrar o salão principal e através dos passos da quadrilha tradicional celebrar a alegria de estarem juntos."

VAMOS DANÇAR QUADRILHA !

Zezito de Oliveira

"Não me convidem para certas festas pobres". Essa frase, baseado no primeiro verso da música Brasil do Cazuza, foi citada por mim em um dos momentos em que estive realizando o trabalho de divulgação da oficina de quadrilha junina em uma emissora de rádio em Aracaju.

Este tipo de “pobreza” a que me referi, não diz respeito as condições econômicas, porque em alguns casos, alguma festas juninas “pobres” até dispõem de uma boa estrutura material, fartura de comes e bebes e grandes atrações artísticas.

A questão fundamental a que me refiro é que a alegria e o calor humano espontâneo, sem depender do álcool e de outras substâncias químicas, e a criatividade em especial, são fatores imprescindíveis para o enriquecimento estético, afetivo e ético de nossas existências.

Por exemplo, se fizermos um exercício de memória dificilmente nos lembraremos de uma festa junina da atualidade em que o cenário e adereços não sejam baseados no mesmo padrão de outras, como as bandeirolas de plásticos e réplicas de balões de cartolina, algumas comidas típicas misturadas com cachorro quente, churrasco e sanduíche, refrigerante e cerveja, a bebida que ocupa o lugar do velho e bom licor e do quentão e outras padronizações ou descaracterizações mais.

Por isso, a relevância da oficina de quadrilha junina realizada sob a chancela da ong Ação Cultural, no dia 17 de abril, na comunidade bom pastor, em Aracaju. Ué! Oficina de quadrilha junina foi esta a indagação de um dos radialistas, e então respondi: Com o processo de urbanização acelerada ocorrido no Brasil nos últimos anos e com a falta de percepção dos cursos de formação de professores, de psicólogos, serviço social e áreas afins, com relação ao potencial educativo, estético, lúdico e terapêutico da nossa cultura popular, faz-se necessário um trabalho como este.

E a avaliação dos participantes ao final da oficina, confirmou o que dissemos acima. A maioria dos presentes, estudantes e profissionais das áreas da educação, psicologia, terapias holisticas e comunicação revelaram ter tido contato com a quadrilha tradicional, somente em escolas, nos tempos da infância e pré-adolescência.

Também demonstraram muito contentamento em poder se reportar a este tempo, através do movimento corporal e da música, como por terem se conectado aos antepassados através dessa experiência lúdica e social muito presente nas vidas deles, por ocasião das festas de junho.

Outros três depoimentos que deixou a coordenação da oficina bastante satisfeitos, foi de uma participante que disse ter se inscrito na oficina para sentir alguns momentos de alegria, e isso ficou confirmado pelo brilho nos olhos dela ao final do dia.

Já outra participante, “quadrilheira dos nossos tempos” e integrante dos quadros da quadrilha Asa Branca, disse que há muito tempo não dançava quadrilha no estilo das antigas e se sentiu muito feliz em fazer esta viagem ao passado.

O outro depoimento refere-se a uma pessoa que tinha ficado chateado por ter um curso, cuja data marcada, foi a semana de São João, “nem precisa dizer que o local é a região sudeste, onde os festejos juninos não tem a mesma força cultural que tem aqui em nossa região” e ele, “só pra contrariar” e na base “d’eu vou mostrar pra vocês como é bom dançar quadrilha” estava programando a organização de uma quadrilha junina tradicional, só não sabia antes como fazer, pois a sua aprendizagem com dança, se deu com relação ao estilo flamenco e circulares.

Quem não pode participar confira o que dissemos acima, participando do baile de danças circulares nordestinas, no dia 28 de maio, a partir das 19h30, na comunidade bom pastor. Na ocasião será aplicado o que foi aprendido nesta oficina e em outras promovidas pela Ação Cultural desde 2005.

Por último, vale a pena replicar a idéia da oficina de danças populares em outros locais, não trata-se de formar dançarinos/bailarinos, mas trazer a dança como um componente permanente de nossas vidas, como era no principio e deva ser agora e para sempre.

Assim com nem todos que aprendem a ler e a escrever necessitam tornar-se escritores, assim também nem todos que participam dessas oficinas precisam tornar-se dançarinos.

Por isso, venham todos dançar !

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OFICINA DE QUADRILHA JUNINA DAS “ANTIGAS”

17/4 · AracajuSE

 

No tempo em que a maioria da população brasileira morava no campo, as pessoas organizavam quadrilhas juninas para fortalecer o convívio social, com a dança popular funcionando como um potente canal de inserção de um número grande de indivíduos nestes processos de socialização e coesão social.
Nos dias de hoje, um grupo de pessoas se preparam com coreografias, cada vez mais complexas e estilizadas, para se apresentarem para um grupo de espectadores, pessoas que apenas veem, mas não participam da “brincadeira”.

Mesmo assim, há um grupo grande de pessoas que desejam celebrar o São João de forma mais comunitária, com alegria e participação de mais gente na folia, como no tempo das “antigas”.

É por este motivo que a Ong Ação Cultural estará organizando a Oficina de Quadrilha Junina Tradicional em 17 de abril , tendo como objetivo preparar focalizadores de danças circulares, educadores, arte-educadores, profissionais da área social e da saúde e ativistas sociais para marcar quadrilhas “improvisadas” ou “caipiras” em seus espaços de atuação.

Esta iniciativa está inserida em torno de um movimento oriundo da Inglaterra e que chegou ao Brasil (São Paulo) no inicio da década de 80, ao nordeste (Recife) no final da década de 90 e, finalmente, em Aracaju, no inicio do ano 2000.

As suas origens se devem à iniciativa do alemão Bernhard Wosien, bailarino e pedagogo da dança, que no decorrer dos anos sessenta do século XX, iniciou o registro e a difusão de muitas danças folclóricas e étnicas da Europa Central e Oriental, incluindo depois regiões de outros continentes.

Wosien fez isso ao perceber que o acelerado processo de urbanização estava ocasionando a perda do patrimônio cultural dançante das gerações mais antigas e, como consequência, a perda das práticas comunitárias de dança popular.

Nas observações sobre os efeitos proporcionados pela prática da dança de roda em comunidades tradicionais, Wosien percebeu, de um lado, o fortalecimento dos laços identitários e sentido de pertencimento e, do outro, o estado de alegria e paz.

Com isso, ele passou a considerar as danças populares como um importante canal de re(vitalização), de interação e coesão social, bastante necessário para as populações residentes nas cidades, as quais se deparam com sérios problemas decorrentes da perda dessa tradição.

Resumo biográfico do oficineiro

Giovane Reis da Silva, 47 anos. Atua como marcador de quadrilha junina há 30 anos, tendo começado na Apaga a Fogueira, prosseguindo na Arrasta Pé, Pisa Milho, Xodó da Vila, Pula Fogueira e por último na quadrilha junina Asa Branca (Conj. A Franco), onde se encontra atualmente. Foi campeão em concursos na rua de São João, centro de criatividade, tri campeão no concurso do bairro 18 de Forte, bi campeão no bairro Agamenon Magalhães e vice campeão em concurso promovido pela Sociedade Comunitária do bairro Siqueira Campos.
No ano de 2008 marcou uma quadrilha infantil em escola particular no conjunto Augusto Franco.
Representou Sergipe em concursos de quadrilhas juninas nas cidades de Recife, Salvador e Maceió.
Participou no ano 2000, de um seminário de formação para marcadores e coreógrafos promovido pela Liga Sergipana de Quadrilhas Juninas.

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onde fica
Comunidade Bom Pastor -- Rua Efrem Fernandes Fontes, 65- Bairro Santos

Dumont (Próximo ao Terminal Rodoviário Maracaju), Aracaju-SE.

quando ir
17/4/2011, ás 08:00h
quanto custa
o valor da inscrição é de R$ 40,00 até o dia 07 de abril e R$50.00 após essa data e o depósito pode ser efetuado na conta BRADESCO - AG 3162-3 C/P 3908493-7
website
http://acaoculturalse.blogspot.com
contato
Maxivel (8815-1116), Irene (3044-8186), Zezito (9993-4483)

SÃO JOÃO NO MARANHÃO E SUA SINGULARIDADE - Chegou via whatsapp

São João no Reino do Boi do Maranhão. Coisa mais maravilíndia, gente!
Fotografia: Márcio Vasconcelos
Poema: Celso Borges
Música: "Catirina e o Mar", de César Nascimento





As maravilhosas Ritas do Guilherme Terreri e a do Chico Buarque

 

🔴 Guilherme Terreri fala sobre possível pausa de Rita von Hunty, debate gênero e conta dates.

https://www.youtube.com/watch?v=PXgPABARJuI

Guilherme Terreri esbanja conhecimento durante conversa com Tati Bernardi, no Desculpa Alguma Coisa. Terreri é professor, ator e drag queen, com a personagem de Rita von Hunty. Durante o episódio, Guilherme conta como foi a criação da Rita em detalhes, passa por discussões sobre gênero, política, o que é família, as condições do ensino no Brasil, e chega até a histórias de relacionamentos e ídolos.









https://www.youtube.com/watch?v=2sfjVcd6ZLE





quarta-feira, 28 de junho de 2023

A Lei Paulo Gustavo desvela a dor e a delícia de ser fazedor de cultura no Brasil profundo



O que é perceptível, a Lei Paulo Gustavo bate de  cara  com o Brasil profundo, se isso tem um aspecto positivo muito bem decantado em prosa e verso, também tem o aspecto do coronelismo, o que pode ter uma vertente mais malvada ou perversa na forma  autoritária ou a vertente paternalista/clientelista que traz a o modo  menos malvado ou dissimulado, posso dizer, até palatável, mas todos os dois lados extremamente pernicioso para o nosso amadurecimento democrático e superação de nossas mazelas sociais, econômicas, politicas e culturais ... 

Não tenho receita, mas sei que é preciso uma boa dose de paciência e articulação além fronteiras.. Até o presidente Lula está buscando ir além de nossas fronteiras para poder obter condições de governar em melhores condições, sem descuidar evidentemente da administração dos perrengues e barreiras internas. Se ele tem uma grande equipe qualificada para poder fazer isso, no nosso caso tenho dito que será preciso mais conversa e articulação entre o que podemos chamar da vanguarda do movimento social das culturas , afim de  dar conta do enorme desafio que temos pela frente, até porque temos um longo passado para superar... 

A questão neste caso exige além de paciência, mais maturidade dos vanguardistas. Uso este termo,embora não goste muito, mais para poder me expressar melhor.. E pasmem!  A dificuldade para reunir e avançar com os nossos pares não é fácil, nem mesmo em Aracaju... Daí,  reitero o que já disse em outras oportunidades, não deveremos ter gestões melhores do que nós, caso não consigamos avançar cá embaixo... Sigamos...

 Além fronteiras,  é fora do território, mas sem perder a ligação, a conexão com este. É saber operar com a tensão entre raízes e asas.. O que de certa maneira é uma das grandes contribuições da LPG e da LAB2. Obviamente que parafraseando o ditado popular, "água mole em pedra dura",  alguns territórios ou regiões precisarão de mais água e tempo para erodir o terreno pedregoso do coronelismo, o qual está inscrito em nosso dna de povo, de nação...

 E antes fosse somente no seio das classes dominantes, afinal,  quantos coronéis de calças  ou de saias, principalmente no primeiro caso,  encontramos junto aos nossos pares? E estes, combinado direta ou indiretamente com os coronéis do andar de cima, põe muita coisa a perder, inclusive pessoas...Sigamos, apesar disso...

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Vereadora Ângela Melo e o arraial do povo em Sergipe- "sergipana freireana, mulher forte, sim senhor!"

 









Festa de São João e o vale tudo do neoliberalismo. Treta Prioli X Astrid e mais além......

 

publicado na página face do jornal do commércio (PE)

https://www.youtube.com/watch?v=LLILvhFnVc8

A apresentadora Gabriela Prioli se envolveu em mais uma polêmica nas redes sociais. Tudo começou com uma reclamação da também apresentadora Astrid Fontenelle sobre axé nas festas de São João e acabou em tal de “marco temporal da festa junina”.




Viva Astrid, Viva São João e a Cultura Brasileira! Gabriela Prioli e o mercado que se danem
A discussão entre as duas sobre o São João aculturado resgatou uma necessidade tão urgente quanto ignorada: a preservação de nossas tradições

Festa de São João.
Créditos: Pixabay/eduardops93
Por Julinho Bittencourt
Escrito en OPINIÃO el 26/6/2023 · 13:19 hs
Uma discussão da advogada Gabriela Prioli com a apresentadora Astrid Fontenelle na semana passada foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter. Entre mortos e feridos, a conversa sobre as festas juninas no Brasil terminou com a internet curiosamente desabando em críticas sobre Prioli, por sua defesa do mercado e da “modernização” dos eventos, provocando a sua aculturação.

A advogada foi pra cima da apresentadora, que se dizia indignada e frustrada com as festas modernas, onde não se ouve mais forró nem se come amendoim cozido. Prioli retrucou com uma justificativa lapidar do pensamento neoliberal: “tanto a iniciativa privada quanto a iniciativa pública, quando vão fazer um investimento em uma festa, estão pensando em retorno”.

A frase traz de saída dois problemas sérios. O maior deles é que a iniciativa pública, lê-se o Estado, não pensa ou não deveria pensar, em retorno, ao menos financeiro. O papel do poder público é justamente o contrário, ou seja, o de fomentar a cultura, a identidade de seu povo, tentar manter financeiramente manifestações que a inciativa privada, por uma série de distorções, abandonou.

E o outro problema da frase de Prioli é justamente este. Não é de hoje que empresas modernas começam a rever conceitos devastadores de que o dinheiro pode tudo, sobretudo dilacerar e adulterar a produção cultural do país em que estão instaladas, normalmente de passagem.

O apelo de Astrid é tão simples quanto óbvio. O que restará das nossas festas populares após a invasão da cultura de massa? Um artista como Gusttavo Lima, sem entrar em nenhum juízo de valor, domina o mercado de shows durante o ano todo. Vários outros, mais ligados à tradição, cantores de forró, baião e outros gêneros que sempre compuseram a festa, estão praticamente relegados a ela e devem sucumbir porque o mercado assim o quer?

E, o que é pior ainda, o Brasil, um país de cultura tão rica e diversa, fica condenado a ouvir e dançar a obra de Gusttavo Lima de janeiro a janeiro? Ele e seus pares irão desfilar no Sambódromo também porque é mais vendável do que o samba? Sertanejos e sofrentes vão tomar de assalto o Boi de Parintins? O Galo da Madrugada no Recife e o circuito Barra-Ondina dos trios elétricos de Salvador?

É esse o inferno que nos resta, segundo o raciocínio de Gabriela Prioli e quem mais acreditar nele? A hegemonia cultural total de ponta a ponta? Vamos, enfim, deixar de ser o Brasil diverso e múltiplo, deixar de ter a música nativista do Rio Grande, a canção caipira de Pena Branca & Xavantinho e Renato Teixeira, a pantaneira de Almir Sater, o rock paulistano dos Titãs e Rita Lee, os experimentos de Arrigo Barnabé, a maravilhosa canção mineira de Milton Nascimento e o Clube da Esquina, a Bossa Nova, nossa maior expressão cultural em todo o planeta, só porque o mercado assim o quer? Por que ele investe e precisa de retorno?

Tomara que a Gabriela Prioli, com a tamanha bobagem que falou, consiga despertar o amor próprio do brasileiro por sua herança cultural, suas tradições mais ricas e soberanas. Que ela, com as suas besteiras e arrogâncias, tenha mexido no calo e consiga nos devolver com força e indignação o amor próprio e o sentido da nossa existência.

ANNÁ - Daqui (Pesada)

https://www.youtube.com/watch?v=q_BI7t3CEdo


Mamãe, agora eu quero ser prefeito

Garanto que vou me candidatar

Do jeito que já sei mentir bastante

Acho que de hoje em diante minha vida vai mudar


Pra quem me apoiar eu dou abraço

Se fala mal de mim eu dou dinheiro e ele muda

E vai ficar tudo do mesmo jeito

Se eu ganhar para prefeito

É o mesmo Deus nos acuda


(e vai ficar tudo do mesmo jeito)

(se eu ganhar para prefeito)

(é o mesmo Deus nos acuda)


É a cidade esburacada (ai ai ai)

E o povo vivendo mal (ui ui ui)

Mas quando a coisa ficar preta

Eu invento uma micareta

E faço aquele carnaval


Trago um conjunto da bahia (ai ai ai)

Pago mais do que ele merece (ui ui ui)

Se pagar 100 digo é 500

Desviando os 400 meu saldo bancário cresce


Ai o povo esquece tudo (ai ai ai)

E no embalo desse som (ui ui ui)

A cidade fica feliz

E ainda tem gente que diz:

eita, que prefeito bom!


(a cidade fica feliz)

(e ainda tem gente que diz:)

(eita, que prefeito bom!)

A pergunta e o gráfico abaixo chega na esteira do debate que estamos realizando há vários dias neste blog.

O que esse dado nos diz sobre o consumo musical da população negra do país?


https://www.youtube.com/watch?v=D7a613szFFY


Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa

Estão matando a tradição no São João do Nordeste
É essencial discutir seriamente se devemos assistir em silêncio a essa invasão e destruição de um patrimônio nacional

A tradição das festas de São João no Nordeste está enfrentando um desafio significativo este ano, com a invasão de ritmos diferentes durante os festejos juninos. A reclamação inicial veio do cantor Flávio José, no dia 02 de junho, e desde então a discussão tem ganhado destaque na imprensa. Essa mudança tem levantado questionamentos sobre a preservação da cultura regional e o impacto negativo que ela pode causar nas festividades. 

Segundo informações da imprensa local, os produtores do evento solicitaram a Flávio José que diminuísse o tempo de sua apresentação para privilegiar o show de Gusttavo Lima, um renomado cantor sertanejo do Villa Mix. Durante sua própria apresentação, Flávio José expressou sua insatisfação, afirmando que nunca havia recebido um pedido para reduzir sua performance, especialmente em 30 minutos, como ocorreu nesse caso. 

Vídeos que circulam na internet mostram o esvaziamento do show de Gusttavo Lima na cidade de Caruaru, em 22 de junho. Com um cachê de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), o valor pago a esse artista supera o de qualquer outro renomado no cenário do Forró. Esses altos cachês pagos a artistas que não fazem parte da tradição forrozeira têm sido contestados pela população. Em muitas das cidades que recebem esses shows, a infraestrutura é precária, com sistemas educacionais deficientes e dificuldades até mesmo no recolhimento do lixo, contrastam os montantes astronômicos pagos para atrair essas "grandes atrações". 

Nos últimos anos, as festas de São João têm sido marcadas pela interferência de ritmos antes desconhecidos para o período, resultando da saída do forró autêntico e a entrada do chamado "forró de plastificado". Atualmente, o cantor Wesley Safadão é um dos principais representantes desse novo estilo. Embora a mudança de estilo e som agrade às massas, ela acaba descaracterizando a cultura regional, prejudicando a identidade das festividades juninas. 

Além da substituição de gêneros musicais tradicionais, prefeitos nordestinos estão buscando atrair artistas com grande apelo popular, mesmo que suas músicas não tenham qualquer relação com o período junino. Artistas de Axé Music, Arrocha, Pop Rock e Pagode têm ajustado seus repertórios e invadido a maior festa popular do Brasil, sem que medidas sejam tomadas para preservar a tradição do forró. 

É possível que continuemos a testemunhar reclamações por parte de forrozeiros nos próximos anos, diante dessa invasão de outros ritmos. Prefeitos ainda contratarão artistas sem nenhuma relação com o forró, a fim de atrair grandes multidões às praças públicas, com pessoas em busca de uma satisfação momentânea. No entanto, é essencial discutir seriamente se devemos assistir em silêncio a essa invasão e destruição de um patrimônio nacional, como as festas de São João no Nordeste. Certamente, o velho Luiz Gonzaga, grande ícone do forró, não ficaria nada satisfeito ao ver o que estão fazendo com essa tradição regional. 

Destacar a preocupação com a preservação da tradição do forró nas festas de São João do Nordeste não é uma defesa de mercado, é mais para enfatizar a descaracterização cultural causada pela invasão de outros gêneros musicais. Além disso, ressaltar o impacto financeiro e social dessa mudança, é para questionar mesmo o uso de altos cachês para atrações que não fazem parte da identidade junina. É fundamental refletirmos sobre as consequências a longo prazo e buscarmos soluções que preservem o patrimônio cultural e musical da região nordestina. 

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Astrid, Prioli e o São João: por que é erro congelar a cultura no formol