domingo, 30 de abril de 2023

Antônia Amorosa: “O País do Forró precisa ocupar seu lugar de direito” - Entrevista ao blog JL - Política e Negócio

29/4/2023-19h

Antônia Amorosa de Menezes. Você pode até discordar muito, ou razoavelmente, do gingado, de modo superlativo como essa moça vê o mundo, percebe as coisas e as pessoas há 56 anos em Sergipe.

Mas jamais poderá ser indiferente ou levantar suspeita de omissão ou descompromisso em relação à sua atuação na cultura do Estado, na música e até mesmo perante as pessoas do seu tempo. 

Amorosa, portanto, não deixa nada a dever a qualquer teórico do setor cultural de Aracaju, de Sergipe ou do Brasil - tanto dentro quanto fora de cargos públicos.

Amorosa tem um poder de atuação e um histórico que se encaixam bem nessa boa visada da coisa cultural. Este ano, completa 40 de carreira artística, com um foco que à faz atracada à música, mas é também poeta, radialista, jornalista, teórica e agitadora cultural.

Ela se impôs tanto e de tal modo na vida e na cultura que se fez identificar apenas pelo adjetivo que carrega no sobrenome: Amorosa. É Amorosa, e pronto. De Antônia e de Menezes, as pessoas, desde que não sejam as mais íntimas e intimíssimas, até esquecem. Ou pouco lembram.

E é com essa carga densa e respeitável que Amorosa chega a um atracadouro forte e importante no curso das políticas públicas culturais de Estado de Sergipe.

O espaço que ela preside, a Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe - Funcap -, só não é uma Secretaria de Estado em si por filigranas. Ou mera morfologia de nomenclatura. Mas é quem define e gere toda a política de cultura do Estado.

Se, deste posto, ela vai agir como gestora na mesma proporção do que visualiza e promete, isso é uma outra coisa. É tábua ou madeira de uma outra lei. Às vezes a política é mais atravanco do que avanço.

Mas Amorosa é atenta e não esquece área ou atividade alguma sob o seu domínio ou entorno na esfera que representa. Sua visada perpassa o pop junino, o cult do teatro, da poesia e das artes visuais. Da música dita popular, reino em que ela habita.

Pensa no interior como uma grande bandeira de possibilidades, nos equipamentos e monumentos apensados ao fazer cultural - incluindo aí os de Comunicação do mundo Aparipê, que são da sua jurisdição e paróquia.

Para este ano de início de Governo, a Funcap que ela preside dispõe de uma alavanca fantástica em forma de mais de R$ 33 milhões vindos da Lei Paulo Gustavo, em cima da qual o desgoverno federal anterior havia botando uma pedra.

Desde algum tempo, Amorosa e sua equipe de Funcap estão Sergipe adentro promovendo treinamento para aplicar essa dinheirama toda sem complexidade.

“Entendo que a cultura é o nível mais alto da educação de uma sociedade, e que se pode fazer muito por ela quando um gestor e também esse povo entendem da sua importância, da intensidade e da sua permanência”, teoria a gestora.

Amorosa sempre ressalva que encontra no governador Fábio Mitidieri, PSD, um agente público com sensibilidade prática para as coisas culturais. Programar uma festa junina com uma grade de 30 dias para este ano, como fez Fábio, é para ela uma demonstração clara disso.

“O País do Forró precisa ocupar seu lugar de direito. Não temos no Brasil nenhum lugar que se aproxime da riqueza cultural de Sergipe. Se em Pernambuco a festa é em Caruaru e na Paraíba, em Campina Grande, em Sergipe, podemos dizer que não citamos só uma cidade, mas várias delas”, diz.

“Temos um potencial cultural valioso que precisa ser colocado numa vitrine compatível com o mercado nacional. Na visão do novo governo, a cultura de Sergipe deve caminhar com a cultura nacional, não de forma isolada, mas confluindo entre o permanente e o midiático”, reforça.

Como era de esperar da faladeira Amorosa, nessa Entrevista Domingueira ela se expõe sem filtro e ungida pelos sais das boas intenções.

Antônia Amorosa de Menezes nasceu no dia 27 de fevereiro 1967 na velha Itabaiana Grande. “Pelas mãos da minha avó Zita, parteira”, diz ela, se autodefinindo como “menina de gamela”. É filha de Lucindo Lima de Menezes e de Percília da Silva Barreto.

Solteira, “até casar de novo”, ela é mãe de Glau Marcel de Menezes Rocha, 34 anos, Gabriel de Menezes Rocha, 31, Amora Raynah Menezes de Medeiros, 23, e avó de Maria Luiza Tavares de Menezes, 4 anos, e de Maya Menezes Vasconcelos, de apenas três semanas.

Se dizendo “formada na faculdade que tem escrito na frente sei que sei, mas sei que por mais que saiba, sei que nada sei”, além de cantora, Amorosa tem registro de radialista e de jornalista.

Ela bateu os bancos do Educandário João XXIII, Eduardo Silveira, Murilo Braga, Atheneu Sergipense e da Unit. “Minha especialização (acadêmica) foi construída na lida diária da dedicação de 40 anos na vida cultural com shows local, nacional e internacional, cinco livros lançados, oito anos assinando uma coluna no Correio de Sergipe, mais de 400 artigos publicados e tendo servido ao poder público por quatro anos na Funcaju. Posso até me aposentar aos 56 anos, mas não vim ao mundo para me acomodar”, adverte.

Nos 40 de cantorias, Antônia Amorosa gravou sete CDs, fez parte de 10 coletâneas fonográficas e participou do Festival Canta Nordeste em 1993, promovido pela Rede Globo, onde foi contemplada como melhor intérprete, do Festa da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, em 2001, onde ganhou também como melhor intérprete e do Festival de Cascavel, no Paraná, levando a Aclamação Popular, que ela considera “o voto mais desejado por um artista”.

“A cultura, dita humana, é um universo amplo, complexo, contraditório, definido, mutante, dinâmico, estático, permanente, exuberante e diferente. Necessário e sacrificado, elevado e simples, reconhecido e esquecido”, teoria ela.

A Entrevista com Amorosa está cheia de convincentes afirmações e vale o tempo dedicado à leitura.

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O que faltou ser perguntado pelo jornalista Jozailto Lima a presidente da FUNCAP - Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe?  As melhores perguntas serão publicadas até o final da primeira semana de maio no blog da Ação Cultural. Participe! Vamos elevar o nível do debate sobre políticas culturais em Sergipe Del Rey.

DA TEORIA DE CULTURA

“Entendo que a cultura é o nível mais alto da educação de uma sociedade, e que se pode fazer muito por ela quando um gestor e também esse povo entendem da sua importância, da intensidade e da sua permanência”

JLPolítica & Negócio - Para além do que pensa e propõe o Governo sergipano para a cultura, o que a senhora pessoalmente compreende da área e o que pensa para ela?

Antônia Amorosa - Entendo que a cultura é o nível mais alto da educação de uma sociedade, e que se pode fazer muito por ela quando um gestor e também esse povo entendem da sua importância, da intensidade e da sua permanência.

JLPolítica & Negócio - Quais são os principais desafios que se sobrepõem ao seu caminho como gestora de cultura do Estado via Funcap?

AA - O maior deles é se deparar com uma estrutura ainda não modernizada, que necessita de maiores investimentos tecnológicos e de registros, além de uma capacitação técnica em torno dos seus operadores, na esfera funcional permanente ou temporária. É igualmente desafiador tentar ressignificar na mentalidade de uma parte artística que o Estado pode ser um grande parceiro quando o agente tem atividade laboral ativa no mercado ou se faz ser percebido pelo povo através da sua arte. Afinal, quem reverbera o valor de um artista não é unicamente o Estado, mas primeiramente o povo. Um artista, um pensador, um pesquisador que não ecoa no coração de um povo, e não reverbera sua missão ao ponto de gerar admiradores ou fãs, precisa rever sua missão, produzindo arte com conceito e qualidade para se tornar coadjuvante da sua própria história e legado.

JLPolítica & Negócio - O que é que a senhora encontrou na Funcap enquanto ambiente para fomentar e fecundar a Cultura do Estado?

AA - Dispomos de bons equipamentos que precisam ser ocupados pelo setor artístico de Sergipe. Do Gonzagão aos teatros, Sergipe precisa ver mais Sergipe nestes ambientes. E, com brevidade, anunciaremos as novidades que pretendemos desenvolver, não apenas nestes equipamentos públicos, como também no interior, que precisa de um olhar mais atento pelo Estado, onde o governo tem dado uma aula exemplar através do projeto idealizado pelo próprio governador Fábio Mitidieri, via o “Sergipe é Aqui”, que tem feito diferença por onde tem passado.

DA TEORIA DE CULTURA II

“A cultura, dita humana, é um universo amplo, complexo, contraditório, definido, mutante, dinâmico, estático, permanente, exuberante e diferente. Necessário e sacrificado, elevado e simples, reconhecido e esquecido, seja pela instrução, por suas atividades ou vocações, dons ou interesses. Penso que a construção coletiva da cultura é o caminho para seu alicerce”

JLPolítica & Negócio - Aliás, o que foi possível a sua gestão tocar nesses 100 dias de Governo?

AA - Chegamos em janeiro e nossa posse ocorreu em fevereiro. Entre as ações, fizemos um levantamento do inventário da maioria das unidades, faltando concluir a TV Aperipê e unidades em reforma. Formamos uma equipe do patrimônio e solicitamos que realizassem diligência no patrimônio da própria Funcap, além de visitas nos bens tombados que necessitam de vistoria e laudo. A área de patrimônio urge atenção, dada a sua importância e necessidade de planejamento estratégico de preservação. Solicitamos um levantamento das obras de artes visuais da Lei Aldir Blanc e da Funcap e, em breve, anunciaremos uma ação em torno deste acervo. Direcionamos uma equipe para apresentar um diagnóstico de todas as unidades, assim como levantamento dos processos jurídicos em andamento. Estamos reavaliando os modelos contratuais dos espaços, a exemplo dos teatros, sobre as taxas, regras na reserva de pauta com maior transparência e a busca por uma melhor modernização no atendimento das bilheterias. Como ações culturais, realizamos o I Cortejo Forró Verão durante o Festival de Verão e realizamos o maior encontro de mulheres da música, dança, poesia, circo, teatro e ritmos de Sergipe, contemplando 75 delas em uma política pública de inclusão no Dia da Mulher. Com o apoio do governador, que tem uma visão de turismo também voltada ao entretenimento com cultura, a Funcap realizou parceria com a Prefeitura Municipal de Aracaju através do Festival de Verão, apoiou o Rasgadinho, Lagarto Folia e tem dado suporte às emendas impositivas da esfera federal e estadual. Cumprimos com a etapa das oitivas da Lei Paulo Gustavo e já estamos na quarta rodada de gestores do interior, faltando apenas três para concluir. Realizaremos após essa rota cultural pelo Estado, uma grande oitiva e seminário visando instruir gestores e a cadeia produtiva da cultura no tocante às regras e projetos que serão viáveis pela Lei Paulo Gustavo que é mais rigorosa do que a Lei Aldir Blanc, necessitando de maior preparação onde estamos apenas aguardando a regulamentação. Temos um projeto inovador para a Orsse e desejamos com maior brevidade possível, colocá-la em prática. Entendemos da necessidade de uma ação estratégica em torno dos museus e já estamos debatendo com nossa equipe para definirmos coordenações especializadas nestes espaços, com a devida capacitação técnica para avançarmos nesta área. No tocante aos projetos de ações culturais estaremos lançando, ainda em maio, todo o plano estratégico que será realizado no biênio 2023/2024, atendendo à visão do nosso gestor que tem preparado toda equipe de governo numa visão transversal de unidade, comprometimento e resposta positiva junto a sociedade. Pela alta demanda da Funcap, dispomos de uma equipe pequena, porém disposta ao trabalho.  

JLPolítica & Negócio - Afinal, a partir do espaço que a senhora ocupa e representa, o que é cultura para a senhora?

AA - A cultura, dita humana, é um universo amplo, complexo, contraditório, definido, mutante, dinâmico, estático, permanente, exuberante e diferente. Necessário e sacrificado, elevado e simples, reconhecido e esquecido, seja pela instrução, por suas atividades ou vocações, dons ou interesses. É o cenário que endeusa os homens e, muitas das vezes e infelizmente, reduz ilusoriamente a superioridade de Deus. Mas, no que concerne especificamente à pergunta, a nossa cultura é a menina rica desta terra Serigy que seus habitantes precisam saber mais da sua existência e dos seus tesouros, mas que ainda insistem em observar tudo que possa vir de mais longe, que seja quase intocável e, por isso, torna-se mais valioso. Penso que ela, a “menina rica” em que defino a nossa cultura em toda sua pluralidade, segue pelos anos, corpos, vozes, movimentos, poéticas e mãos a dançar, pintar, moldar, tocar, cantar, sentir, criar, representar numa luta insana para conseguir chamar a atenção de todos que estão bem aqui, ao seu lado, tão perto e, muitas vezes, tão longe.

JLPolítica & Negócio - O que fazer para preservá-la e nela avançar?

AA - A única forma de seguir é continuar mostrando-se como é, com cada agente, cada expressão, 

disposto à missão, seja pelo novo, seja pela arquitetura que preserva o passado. Penso que a construção coletiva da cultura é o caminho para seu alicerce. De mãos dadas com o poder público, cada um entendendo qual é o seu papel. Defendo ações que tragam para nossa gente um reconhecimento do que somos e do que queremos para nosso presente e futuro. E o duelo reside justamente nisso: em discernir a cultura permanente da paralela, sem desprezar esta ou aquela. O que penso sobre cultura no sentido prático é executando ações que contribuam com cenários democráticos, acessíveis, respeitando as regras burocráticas inevitáveis que obrigam os seus fazedores a ocupar o cenário de negócios com organização, planejamento e visão. 

AÇÃO EM PARCERIA COM A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

“Fui surpreendida positivamente com a convivência que tenho tido com o secretário Zezinho Sobral, da Educação. Um homem público cordato, atencioso, dinâmico, e que já visitou a Funcap para reuniões regulares, sempre com pontualidade, conselhos pertinentes e abertura para parcerias”

JLPolítica & Negócio - É solitário e complexo tocar um projeto em nome dessa área?

AA - É desafiador. Lembro de uma noite em que não dormi, idealizando tudo o que desejo fazer, se Deus permitir, diante da oportunidade que me foi concedida pelo governador Fábio Mitidieri, com apoio direto do meu amigo Nitinho Vitale, um apaixonado por cultura, da mesma forma que Fábio. A pasta é plural, é complexa, e exige de mim uma atenção constante em todos os movimentos que a compõem. Defendo uma modernização em todas as suas instalações para um acompanhamento mais dinâmico e seguro, visando proteger o bem público e acompanhar as dinâmicas de cada ambiente integrado à Fundação.

JLPolítica & Negócio - Com que previsão orçamentária a senhora conta para tocar a Funcap neste 2023?

AA - Já chegamos com uma previsão orçamentária e, embora a Funcap tenha, para este ano, um valor visualmente generoso, ele tem destino e finalidade. A primeira delas envolve a maior festa dos sergipanos, na qual o governo pretende realizar um investimento compatível com a visão de mercado para concorrer com Estados que também são destaque nacional. O País do Forró precisa ocupar seu lugar de direito. Não temos no Brasil nenhum lugar que se aproxime da riqueza cultural de Sergipe. Se em Pernambuco a festa é em Caruaru e na Paraíba, em Campina Grande, em Sergipe, podemos dizer que não citamos só uma cidade, mas várias delas. Temos um potencial cultural valioso que precisa ser colocado numa vitrine compatível com o mercado nacional. Na visão do novo governo, a cultura de Sergipe deve caminhar com a cultura nacional, não de forma isolada, mas confluindo entre o permanente e o midiático. Ao mesmo tempo, há valores que chegam pela Funcap que são emendas federais e estaduais, a maioria delas impositiva, e não será diferente com a Lei Paulo Gustavo que embora lide com um valor expressivo, sua destinação tem base legal e será conduzida de forma responsável para quem de direito: a cadeia produtiva da cultura. Por fim, realizaremos projetos que irão contemplar diversos setores da cultura. Ou seja: estamos diante de um governo que não fará gestão cultural se baseando numa Lei que foi conquistada pela cadeia produtiva da cultura. O governo de Fábio está sintonizado com a inovação, a coragem e a vontade de fazer diferente, tendo em seu próprio orçamento o devido para este setor.

JLPolítica & Negócio - Qual é a interação entre a Funcap e a sua Secretaria-mãe, a da Educação? Há uma interface entre elas, ou as duas marcham por caminhos solitários?

AA - Fui surpreendida positivamente com a convivência que tenho tido com o secretário Zezinho Sobral, da Educação. Um homem público cordato, atencioso, dinâmico, e que já visitou a Funcap para reuniões regulares, sempre com pontualidade, conselhos pertinentes e abertura para parcerias. Portanto, o que posso dizer é que nossa convivência tem atendido à visão do nosso líder que defende a convivência colaborativa, respeitosa e construtiva.

O DESTINO DO TEATRO LOURIVAL BATISTA

“Há, por parte da gestão, grande interesse em entregar o teatro com a maior brevidade possível. Se ele sobreviveu até aqui e o Estado jamais desistiu dele, mesmo que tenha sido estagnado por causa, talvez, da crise pandêmica, estamos acompanhando os relatórios dos nossos técnicos para que seja retomada a sua finalização (de recuperação)”

JLPolítica & Negócio - A senhora chegou à Funcap quase numa pós-pandemia. Há algo especificamente a fazer para atenuar os danos deixados por aquele período?

AA - Há muito a fazer desde antes da pandemia. É fato que não se faz uma transformação radical em 100 dias. Mas, pode-se dizer muito de uma gestão a partir das diretrizes iniciais e temos visto um gestor altamente dinâmico, de energia positiva e muita vontade de realizar o melhor que puder. Sobrevivemos a uma guerra onde a saúde física e psicológica desafiou a todos nós. Mas, se atravessamos este monte, Deus espera que sejamos proativos em favor do próximo, entendendo que a dinâmica do servir ensinado por Ele mesmo continua sendo o melhor investimento que fazemos em favor da vida e do bem comum.

JLPolítica & Negócio - Quais são os equipamentos específicos de atribuição da Funcap, e fisicamente como estão eles?

AA - Dispomos de dois equipamentos em reforma, dois teatros ativos, dois espaços para eventos multicultural, museus administrados em parcerias e três deles diretamente pela Funcap. Um cinema administrado pelo Curta-SE, uma galeria e a TV/Radio Aperipê. Como sendo espaços antigos ou de rotatividade constante, a manutenção e preservação exige da gestão planejamento para pequenas ou inovadoras reformas que exigem oportuno planejamento orçamentário que já está sendo analisado para os devidos ajustes e cronograma para sua realização.

JLPolítica & Negócio - O Teatro Lourival Batista vai sumir do mapa da cultura sergipana?

AA - Se ele sobreviveu até aqui e o Estado jamais desistiu dele, mesmo que tenha sido estagnado por causa, talvez, da crise pandêmica, estamos acompanhando os relatórios dos nossos técnicos para que seja retomada a sua finalização, atendendo ao objeto contratual e entendendo o diagnóstico até aqui apresentado. Há, por parte da gestão, grande interesse em entregar o teatro com a maior brevidade possível.  

DA BOA PARCERIA COM A SECRETARIA DE TURISMO

“Temos uma relação respeitosa e construtiva. Realizamos juntos o Calendário de Sergipe na perspectiva cultural e turística. E lançaremos, no comando do governador Fábio Mitidieri, o Projeto Segundona do Turista, visão do nosso gestor que uniu cultura, turismo e trabalho em torno deste importante objetivo artístico anual no cenário de forró mais secular do Brasil”

JLPolítica & Negócio - Como é que a Funcap vê institucionalmente o interior do Estado e suas múltiplas manifestações?

AA - Vemos como o melhor palco que podemos ter para fazer acontecer o que realmente somos com nossas expressões artísticas, literárias, sonoras, de criação, originalidade e movimento. O interior é um tesouro cultural a ser descoberto, investido e valorizado.  

JLPolítica & Negócio - É boa ou inexistente a interlocução entre a Funcap e a Secretaria de Estado do Turismo?

AA - Temos uma relação respeitosa e construtiva. Realizamos juntos a construção do Calendário de Sergipe na perspectiva cultural e turística. E, em breve, lançaremos no comando do nosso governador Fábio Mitidieri, o Projeto Segundona do Turista, visão do nosso gestor que uniu cultura, turismo e trabalho em torno deste importante objetivo que apresentará para a sociedade uma programação artística anual no cenário de forró mais secular do Brasil.

JLPolítica & Negócio - Para a senhora, a estrutura burocrática de Sergipe estava preparada para um São João de 30 dias corridos, como determinou o governador Fábio Mitidieri para este ano?

AA - A gestão de Fábio Mitidieri não pensa ou age unilateral, mas sempre com transversalidade. Para que tenha ideia, embora o Encontro Nordestino de Cultura envolva vários eventos interligados - Arraiá do Povo, Encontro Nacional de Música Nordestina, Arranca Unha do Centro de Criatividade, Arraiá do 18 do Forte, apoio à Rua São João, Arraiá do Gonzagão, além do concurso para escolha do Cavalheiro e da Rainha do Milho no País do Forró e Salva Junina com desfile de quadrilhas até o Centro de Criatividade, somados ao apoio para iniciativas populares -, este projeto traz consigo a participação direta da Funcap, das Secretarias de Turismo e de Comunicação, através de uma equipe operacional que atua na logística, jurídica, financeira, contratual e de comunicação. Onde existe amor pelo que faz, até o improvável se torna viável.

DOS MAIS DE R$ 33 MILHÕES DA LEI PAULO GUSTAVO

“São R$ 33.036,415,48 onde cada município recebe 20% pelo FPM e 80% por seus habitantes. Deste valor, R$ 24.305,515,06 é para o audiovisual - por ser um recurso de impostos do setor e conquista nacional do segmento -, e R$ 8.730.900,41 destinados a outras manifestações culturais”

JLPolítica & Negócio - O que é que uma festa deste porte e deste tamanho pode deixar de positivo para o turismo e a cultura de Sergipe?

AA - É a oportunidade que Sergipe tem de dizer ao mundo porque somos O Pais do Forró. Já testemunhei como artista várias piadas em torno desta frase, quando muitos diziam que “País do forró que só tem forró nas festas juninas é igual a qualquer outro lugar!”. Neste governo Sergipe irá testemunhar ações concretas de mobilização para o fortalecimento desta frase “País do Forró”, porque Sergipe avança na frente após a conquista do forró como Patrimônio Cultural do Brasil. Aliás, lembremos que foi Sergipe quem decretou o 24 de junho como feriado pela importância cultural que celebramos como sendo um segundo natal dos sergipanos. Todo o Estado se movimenta, e isso só ajuda na economia criativa e no estímulo ao turismo.

JLPolítica & Negócio - Qual é o planejamento da Funcap para 2023 diante da Lei Paulo Gustavo?

AA - Estamos realizando as oitivas com gestores. Já alcançamos algumas regiões reunindo cidades em torno de uma delas. Fizemos em Boquim, Propriá e Porto da Folha através do Sergipe é Aqui, orientando também artistas em torno do mapa cultural. Em breve, faremos na região centro sul, região Metropolitana de Aracaju e na área da cidade de Capela. Recentemente estivemos em Itabaiana alcançando as cidades circunvizinhas da região. Temos cumprido com as etapas exigidas por lei e orientado artistas sobre o mapa através do departamento da Dicult. Quanto às oitivas que são obrigatórias, já cumprimos, graças a Deus, com esta primeira etapa.

JLPolítica & Negócio – A Funcap sabe quanto virá para Sergipe da Lei Paulo Gustavo?

AA - São R$ 33.036,415,48 onde cada município recebe 20% pelo FPM e 80% por seus habitantes. Deste valor, R$ 24.305,515,06 é para o audiovisual - por ser um recurso de impostos do setor e conquista nacional do segmento -, e R$ 8.730.900,41 destinados a outras manifestações culturais.

DO FIM DOS PRÊMIOS ESTADUAIS DE POESIA E CONTO

“Afirmo que neste governo a literatura terá seu momento e vez em que poderemos dar maior visibilidade aos nossos escritores. Entre as nossas metas, estão a criação da biblioteca virtual sergipana, a itinerância literária e um festival de música que irá confluir com a poesia” 

 JLPolítica & Negócio - Quais serão o formato e o planejamento do Encontro Nordestino de Cultura deste ano?

AA - Ele será ampliado em sua estrutura, estratégia de marketing, atrativos artísticos e alcance na cadeia produtiva do mercado junino, contribuindo com uma aceleração em diversos setores que dependem diretamente da cultura de eventos. Somente na área musical, alcança em Sergipe mais de mil trabalhadores entre músicos, quadrilhas juninas, filarmônica, grupos folclóricos, equipe técnica e setorial de produção.

JLPolítica & Negócio - A senhora acha normal que o Governo do Estado de Sergipe tivesse apagado do horizonte da literatura os Concursos Estaduais de Poesia Santo Souza e de Contos Núbia Marques?

AA - Não quero entrar no mérito de quem assim o fez por desconhecer o aspecto orçamentário da época. O que afirmo é que neste governo a literatura terá seu momento e vez em que poderemos dar maior visibilidade aos nossos escritores. Entre as nossas metas, estão a criação da biblioteca virtual sergipana, a itinerância literária e um festival de música que irá confluir com a poesia. 

JLPolítica & Negócio - O Sistema Aperipê de Comunicação - com sua TV e Rádio - vai continuar natimorto sob a sua gestão?

AA - Atualmente a pasta está sendo conduzida diretamente pelo jornalista Carlos Batalha, profissional experiente que já dirigiu a emissora radiofônica em outra gestão. Seguindo a diretriz de transversalidade do governo e a divisão de tarefas, a Funcap tem cumprido sua parte onde estamos colhendo material sonoro de artistas sergipanos considerando que o acervo atual da emissora neste sentido está aquém da realidade do mercado. Também estamos preparando um material voltado para o segmento da TV, sempre na linha cultural.

DAS SAUDADES DE ISMAR BARRETO

“Ismar Barreto dizia que eu era a sua quarta irmã e péssima companhia para farras - porque eu não bebia nada alcoólico e assim sigo nesta disciplina. Eu digo que ele foi meu maior compositor e o sergipano mais incrível que conheci, com orelha e tudo, tendo sido capaz de ler o contemporâneo com humor, sonoridade e poesia”

JLPolítica & Negócio - Mas não é pra já!

AA - Você há de convir que um projeto desta natureza não se constrói em três meses de governo. Recentemente estive lendo um TCC de quase dez anos e as mesmas reclamações de hoje são as mesmas registradas no trabalho. Portanto, o problema estrutural da Aperipê não nasceu agora. E para que a gestão consiga transformá-la, que é um dos focos do novo governo, será necessário uma intervenção planejada com recursos, assim como na reformulação do organograma e programação, sem esquecer da equipe ativa daquela unidade que merece ser valorizada, onde conhecemos aqueles que por ela se dedica, por anos.  

JLPolítica & Negócio - Ao longo da sua carreia, como foi e tem sido a sua relação com os compositores sergipanos?

AA - Fui uma das intérpretes que contribuiu com o surgimento de compositores no mercado sergipano, a exemplo de Ismar Barreto, tendo sido a primeira artista que gravou sua obra e a que mais cantou também. Tenho satisfação em afirmar que fui a primeira intérprete a gravar uma música de Rubens Lisboa. Na música, cada artista busca parceiros afins e eu me orgulho muito deles, assim como de outros que tive o prazer de gravar, como Joésia Ramos, Tonho Baixinho, Neu Fontes e Cláudio Miguel.

JLPolítica & Negócio - O que é que Ismar Barreto significa para a senhora entre os tantos compositores entre os quais se relacionou artisticamente?

AA - O Ismar Barreto dizia que eu era a sua quarta irmã e péssima companhia para farras - porque eu não bebia nada alcoólico e assim sigo nesta disciplina. Eu digo que ele foi meu maior compositor e o sergipano mais incrível que conheci, com orelha e tudo, tendo sido capaz de ler o contemporâneo com humor, sonoridade e poesia.

DO PRECONCEITO SERGIPANO CONTRA SI MESMO

“De José Augusto a Luiz Americano, o sergipano conhece mais o que acontece no Brasil do que na história cultural de Sergipe. Onde estaria o erro? Na escola, na família ou na contaminação midiática? Cremos que um dia tudo isso pode mudar se decidirmos pensar mais em Sergipe, por Sergipe”

JLPolítica & Negócio - Qual é o seu conceito da música sergipana?

AA - É o de um grupo de pensadores sonoros e de letras em busca da própria identidade, achada em uns, ainda procurada por outros, mas resilientes e construtores de uma linguagem que resiste, apesar da praga dos caranguejos. Temos compositores incríveis. Só precisamos de mais ouvidos para ouvi-los. 

JLPolítica & Negócio - O sergipano tem preconceito de José Augusto Sergipano? Por que o nome dele é tão esquecido por aqui, inclusive pelo ente Estado?

AA - De José Augusto a Luiz Americano, o sergipano conhece mais o que acontece no Brasil do que na história cultural de Sergipe. Onde estaria o erro? Na escola, na família ou na contaminação midiática? Não sabemos, mas cremos que um dia tudo isso pode mudar se decidirmos pensar mais em Sergipe, por Sergipe.

JLPolítica & Negócio - As artes plásticas não têm espaço na grade da cultura de Sergipe? O destino da Galeria de Arte Ana Maria Alves na Atalaia foi mesmo o da desativação?

AA - A Galeria de Arte Ana Maria Alves foi idealizada por um visionário, o saudoso amigo João Alves Filho, mas não compreendida no sentido de gestão por quem foi chegando. Parece-me que não há uma atração em consumir cultura permanente às margens do mar, entretanto, isso pode mudar com uma nova visão de gestão a partir de um plano mais abrangente. Quanto ao destino da Galeria, confesso não ter essa resposta precisa para lhe dar.

TEATRO SERGIPANO DIZ ALGO À GRADE DA CULTURA?

“Diz muito. Em breve lançaremos o edital OcupART, que é um dos eixos do Inteirart-SE, que tem como finalidade incentivar e promover a cultura local. Sou uma defensora do teatro quando há na sua grade um equilíbrio entre a cultura local e nacional. Se há desequilíbrio, urge apresentar um novo conceito em favor de quem ama o teatro pela sua finalidade”

JLPolítica & Negócio - O teatro sergipano diz algo ou alguma coisa para a grade da cultura do Estado?

AA - Diz muito. Sou uma defensora do teatro quando há na sua grade um equilíbrio entre a cultura local e nacional. Se há desequilíbrio neste sentido, urge apresentar um novo conceito em favor do fomento e da difusão de quem ama o teatro pela sua finalidade e com quem tem compromisso com o fortalecimento da nossa cultura. Em breve lançaremos o edital OcupART, que é um dos eixos do Inteirart-SE, que tem como finalidade incentivar e promover a cultura local.

JLPolítica & Negócio - Como fica a sua carreira de cantora com esta dedicação temporária à burocracia da cultura?

AA - Ela fica ali, em mim, sempre, entendendo a missão que assumi em favor de um coletivo e renunciando alguns palcos na perspectiva individual. Porém, este ano farei 40 anos de carreira e não deixarei de realizar alguns shows para celebrar a conquista de uma vida dedicada à missão de cantar. Estar temporariamente gestora é uma forma também de cantar através de outras vozes.

JLPolítica & Negócio - Como a senhora concilia seu tempo de mãe de família com o da gestora pública?

AA - De janeiro para cá tenho dedicado até fins de semana e feriados ao trabalho, porque entendo que preciso cumprir a agenda de atividades e debruçar horas para aperfeiçoar o que se faz necessário, considerando a complexidade da Fundação em suas mais diversas vertentes da qual preciso me inteirar. Meus filhos, noras e genro têm entendido isto, minha mãe, irmãos e amigos. Mas, quando chego no limite físico ou mental, vou em busca das netas que me levam ao lugar mais feliz da minha vida: aonde a inocência não cobra nada de mim, senão riso e brincadeiras, e a certeza que há um Deus poderoso que me guarda em cada etapa da minha jornada nesta terra passageira. A Ele entrego tudo e, por tudo, só agradeço.

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O que faltou ser perguntado pelo jornalista Jozailto Lima a presidente da FUNCAP - Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe?  As melhores perguntas serão publicadas até o final da primeira semana de maio no blog da Ação Cultural. Participe! Vamos elevar o nível do debate sobre políticas culturais em Sergipe Del Rey.

Fonte original da entrevista

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quarta-feira, 26 de abril de 2023

Morre Ribeiro em 25 de abril. Um dos símbolos do São João antigo de Aracaju

 

Antônio da Silva RIBEIRO. Um dos símbolos do Fórum do Forró e de uma Aracaju que vai aos poucos perdendo  a memória do São João mais autêntico, mais familiar , mais comunitário. Isso com a anuência ou complacência de quem deveria evitar ou atenuar, a prefeitura da cidade..

A cidade da disputa insana entre a memória e o futuro, entre o houvera e o haverá...

E como povo sem memória é povo sem futuro, ai já sabemos né,  o que isso representa em termos estéticos e éticos..

Quem dera o nosso prefeito e a maioria dos vereadores compreendessem o quanto o investimento na cultura e na memória impacta positivamente na saúde, inclusive na saúde mental, na educação, na atração de turistas para melhorar a riqueza produzida pelo turismo, na segurança, quem dera....

Que a terra lhes seja leve Ribeiro....

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Grande e Forte Ribeiro!!!! De sorriso lindo, farto e acolhedor... E palavras fortes na defesa da Justiça Social e da Cultura!!!! Que essa terra possa semear as suas idéias e movimentos!!!! Essa terra está melhor depois que passou por aqui!!!! Que sua força e palavras possam continuar nos mobilizando e mobilizando o sonho de outros tempos mais justos, inclusivos, com mais alegria, forró e cultura popular!!!!!

Três salvas de tiros de canhão... Em honra aos mortos da Ilha da Ilusão... Durante a última revolução do coração e da paixão..."

 🙌🏾✨🙏🏾🍀 Salve Ribeiro!!!!!!!!

Luiz Soares


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Abaixo, texto que escrevi no portal Overmundo no ano de 2012 onde faço alusão a  Ribeiro, motivo de grande alegria e agradecimento da parte dele...

Espetáculo “Pau de Arara” O nordeste bom de se ver



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Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
10/5/2012 · 4 · 7

Pierre Feitosa é um ator sergipano cuja carreira teve início no prestigiado grupo teatral Imbuaça, em meados da década de 80. Nos últimos anos, o ator tem se destacado como apresentador dos mais importantes eventos ligados ao ciclo junino em solo sergipano.

Nesta atividade, o sucesso decorre da forma bem humorada e espirituosa de suas falas, expressões faciais e corporais, que incorporam um personagem nordestino urbano, mas preservando muito do jeito interiorano de ser.

Para surpresa de muitos e deleite dos que foram conferir, Pierre estreou, nos palcos de Aracaju, como cantor ou ator que canta, sem pretensões de fazer carreira de vocalista, como explicou em um dos momentos do memorável espetáculo musical “Pau de Arara”, apresentado no teatro Atheneu nos dias 5 e 6 de maio de 2012.

Ao ouvir, em diversos programas da Aperipê FM, Pierre Feitosa falar sobre a estréia do seu trabalho, fiquei em uma situação difícil, pois já tinha comprado a mesa para participar de uma noite cultural, na qual haveria apresentação de diversos artistas e poetas com trabalhos referenciados no conceito musical conhecido como cantoria. Além disso, já contava com outros planos de investimento em cultura e lazer.

Entretanto, ouvindo no programa dominical “Nação Nordestina”, da Aperipê FM, os comentários entusiasmados do apresentador Paulo Correa, também colaborador do “Pau de Arara”, na produção do repertório e do ouvinte Ribeiro, divulgador cultural e um fervoroso defensor das genuínas tradições sergipanas e nordestinas, não tive dúvidas: “Pau de Arara”, lá vamos nós, mesmo que tenhamos que ultrapassar os gastos planejados do orçamento mensal.

O “nós”, em questão, refere-se à esposa e, em especial, aos filhos adolescentes, que teriam a oportunidade de ver o quanto de riqueza cultural a arte nordestina pode alcançar.

A preocupação com a formação cultural das novas gerações no âmbito da escola onde trabalho e no seio da minha família acompanha-me desde muito tempo. Os motivos para isso decorrem do alto grau de mercantilização da cultura brasileira, cujo exemplo mais significativo é o famigerado jabá, um tipo de propina paga aos donos de rádios comerciais para que sejam tocadas músicas degradadas e degradantes, em vários sentidos, inclusive no estético musical.

Sem dúvida, este foi um dos ganhos da noite: possibilitar a algumas crianças e adolescentes, não apenas aos meus filhos, pois outros pais também levaram seus rebentos, a oportunidade de assistirem a um espetáculo com o melhor da música nordestina, com uma base instrumental ampla, além do tradicional conjunto sanfona, zabumba e triangulo.

Experiência como esta facilita a comunicação com os mais jovens, acostumados a ouvir música nordestina contemporânea com uma maior parafernália de instrumental e de recursos cênicos.

Segue nessa linha o espetáculo “Pau de Arara”, porém tendo no palco um ator conhecido, cuidadoso com o conteúdo e compromisso estético, cultural e ético das canções, na companhia de excelentes músicos e bailarinos, e que surpreendeu a todos pelo seu talento como interprete musical.

No que se refere à dança, um aspecto importante foi a presença de bailarinos ligados ao estilo contemporâneo, fazendo performances inspiradas nas cadências e ritmos populares.

Em outros momentos, foram apresentadas cenas curtas teatrais, em forma de pantomima, a exemplo da cena da despedida de alguns familiares que iam embora do sertão deixando um rastro de tristeza e saudade, como bem cantado em diversas músicas do cancioneiro nordestino e, ainda, a cena da procissão, diversas vezes repetidas no decorrer da bela e conhecida interpretação que Pierre fez do clássico composto por Gilberto Gil.

Vale citar também a apresentação de textos curtos de espetáculos dos quais Pierre Feitosa participou quando atuava no Imbuaça, com destaque para o texto “O matuto e o balaio de maxixe”. Houve também a exibição, em telão, de um pequeno trecho da obra poética “Morte e Vida Severina”, apresentado pelo premiado ator sergipano Orlando Vieira.

Para também fazer soar outras vozes que assistiram ao espetáculo “Pau de Arara”, obtive por telefone o depoimento de Ribeiro.

“Assistir ao espetáculo “Pau de Arara” na minha opinião foi ver no palco, Sergipe do tamanho do Brasil. A seleção das músicas, a interpretação do Pierre Feitosa, a equipe de produção, o teatro Atheneu reformado, bonito e mais confortável. Foi tudo nota 10 e aplaudido de pé no encerramento.
Por isso, é preciso que o sergipano valorize a arte que é produzida em nosso estado, indo ao teatro com mais frequência, demonstrando realmente que gosta e que valoriza nossos artistas.
Foi-se o tempo de ficar falando que não se ia ao teatro para assistir arte sergipana por causa da falta de opções e qualidade. Agora estamos em tempos de grandes artistas e grandes produções, como exemplo, além do Pierre Feitosa, posso citar Antônio Rogério e Chico Queiroga, o grupo Cataluzes, Amorosa, Edvaldo de Carira, Edgar do Acordeon, Luiz Paulo, Marcos Guedes, Ararão e muitos outros.
O espetáculo “Pau de Arara” é do tipo exportação , é um show que merece ser apresentado em outros estados.”


SAIBA MAIS:

Ator sergipano Pierre Feitosa canta no espetáculo `Pau de Arara´

São João da Gente com Pierre Feitosa: Urânia faz macumba para casar

ALGUMAS MÚSICAS DO SHOW:

No dia em que eu vim-me embora Luiz Gonzaga

Súplica Cearense - Luiz Gonzaga

Suplica Cearense - O Rappa

Último pau-de-arara - Gilberto Gil

Na sombra da Jaqueira - Joseane Dyjosa

Gilberto Gil (1968)- Procissão

Na Base da Chinela - Jackson do Pandeiro

Olha pro céu meu amor - Gilberto Gil

Gal Costa - Festa do Interior

TEXTOS SOBRE MÚSICA SERGIPANA E NORDESTINA, DA MINHA AUTORIA, E PUBLICADOS NO OVERMUNDO.

O Portal do Som (3) - Sergipe para exportação

Justiça e Beleza se abraçam na obra de Zé Vicente.


LEIA TAMBÉM:

O sergipano não valoriza o produto cultural local

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Chico Buarque do Brasil recebe o prêmio Camões das mãos de Lula, outro grande filho do Brasil

 *Discurso de Chico Buarque - Prêmio Camões 2019*

Cerimônia de entrega - dia 24 de abril de 2023, Palácio Nacional de Queluz, às 16.00 horas. 

📸: Ricardo Stuckert

Ao receber este prêmio penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência nem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária. Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade. Meu pai também contribuiu para a minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na Esquerda Democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos sessenta, retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática no nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairíamos num fosso sob muitos aspectos mais profundo.

 O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco. Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de  tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição, pode ser que algum dia eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica. Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos sinto-me em casa e esmero-me nas colocações pronominais. Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema Morte e Vida Severina com músicas minhas, ele, um poeta consagrado e eu, um atrevido estudante de arquitetura. O grande João Cabral, primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música, e não sei se chegou a folhear algum livro meu. 

 Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de prêmio Camões. De vários autores aqui premiados fui amigo, e de outras e outros – do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde - sou leitor e admirador. Mas por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim. 

 Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade. Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte. Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula. Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.

    Muito obrigado

https://www.youtube.com/watch?v=KO9z4yu2xpQ


VIVA CHICO BUARQUE

Chico, Lula e um Camões em Queluz são o Brasil que renasce em sua grandeza


Um dia muito feliz para a cultura brasileira. Um abraço, meu caro amigo Chico Buarque.

📸: Ricardo Stuckert



Leia a íntegra do discurso do presidente Lula:

O convite para participar, aqui em Portugal, da cerimônia de entrega do prêmio Camões ao querido Chico Buarque é motivo de grande honra e de imensa alegria.

Hoje, para mim, é uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi.

Todos nós sabemos por quê. O ataque à cultura, em todas as suas formas, foi uma dimensão importante do projeto que a extrema direita tentou implementar no Brasil.

Se hoje estamos aqui para fazer esse gesto de reparação e celebração da obra do Chico, é porque a democracia venceu no Brasil.

Não podemos esquecer que o obscurantismo e a negação das artes também foram uma marca do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal. Esse prêmio é uma resposta do talento contra o censura, do engenho contra a força bruta. Um prêmio escolhido por unanimidade por jurados de Portugal, do Brasil, de Angola e Moçambique. Um prêmio da língua portuguesa que nos une mesmo quando barreiras geográficas ou fronteiras nos separam.

Hoje já é outro dia.

Meus caros amigos e amigas,

A obra de Camões marca o início da grande epopeia da língua portuguesa, que hoje floresce nos nove países que a utilizam oficialmente. A obra de nosso Chico Buarque, produzida nesse mesmo idioma, acompanha toda a história recente do Brasil, com especial atenção ao destino político e cultural de nossos países-irmãos.

Chico transformou em patrimônio literário comum os amores de nossos povos, as alegrias de nossos carnavais, as belezas de nossos fados e sambas, as lutas obstinadas de nossas cidadãs e cidadãos pela conquista da liberdade e da democracia.

Em seu cancioneiro, em suas peças de teatro e em seus romances, o autor hoje homenageado nunca deixou de fazer da língua portuguesa instrumento de transmissão de nossas culturas e de nossas lutas.

Na literatura, Chico fez de sua obra uma declaração de amor à língua portuguesa, mesmo quando ousou transformar o idioma húngaro em um dos personagens centrais do romance "Budapeste" – que José Saramago saudou com estas palavras:

"Chico Buarque ousou muito, escreveu cruzando um abismo sobre um arame e chegou ao outro lado. Não creio enganar-me dizendo que algo novo aconteceu no Brasil com este livro".

Na obra de Chico Buarque, o passado, o presente e o futuro de nossas nações sempre estiveram vinculados. Foi assim que ele decidiu revisitar nossa história, na peça Calabar, para nos mostrar, por meio deste personagem luso-brasileiro, quantas vezes em nosso destino se fizeram de traidores, heróis; de heróis, condenados; e da justiça, arbítrio.

Quando Brasil e Portugal atravessavam violentos regimes ditatoriais, foi assim que Chico jogou luz sobre a festa da redemocratização portuguesa, fazendo com que guardássemos, “teimosos e renitentes”, um velho cravo como esperança para nós mesmos. Um cheirinho de alecrim.

E foi assim que Chico também festejou a independência política de nossos irmãos e irmãs africanos.

Minhas caras amigas e amigos,

Chico conseguiu sintetizar as paixões e os desejos de tantas Joanas e Joões, de tantas Teresas e Josés Costas, de tantas Genis e Pedros pedreiros, de tantos guris e mambembes de nossa gente. Transformou o cotidiano em poesia extraordinárias.

Mas a vasta contribuição da obra de Chico Buarque vai além de seus inegáveis aportes à riqueza literária da língua portuguesa e mostra que arte e cultura estão entrelaçados com a política e com nossos ideais de liberdade e democracia.

Ao expressar a beleza de tantos heróis quase anônimos de nossos povos, Chico não nos deixou esquecer a força inquebrantável que vem da expressão popular de nossas culturas únicas, mas compartilhadas. O estreitamento de nosso intercâmbio cultural, que deve ainda ser aprofundado, só poderá enriquecer as tradições e expressões de nossos povos.

Não posso deixar, portanto, de agradecer, aos organizadores deste prêmio literário (a Fundação Biblioteca Nacional do Brasil e a Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal) e a todos aqueles que têm contribuído para aproximação de nossas sociedades e para o fortalecimento de nossos valores e aspirações comuns.

Como nosso autor homenageado, tenho a convicção de que é desejo de todos nós que, na celebração das nossas democracias e da nossa valiosa produção cultural, possamos nos tornar, todos, uma imensa unidade alicerçada na nossa rica diversidade.

A unidade na diversidade que Chico Buarque sonhou na bela canção em parceria com Ruy Guerra: um "Fado Tropical", onde o rio Amazonas desagua no Tejo, brotam avencas na Caatinga e alecrins no Canavial, e se misturam guitarras, sanfonas, jasmins, coqueiros, fontes, sardinhas e mandiocas. Tudo num suave azulejo, como somente a sensibilidade desse gênio da língua portuguesa é capaz de criar.

Meus parabéns, querido Chico, por receber, merecidamente, o prestigioso prêmio Camões.

Muito obrigado!





Carta de outro tempo, de outro remetente.....

Carta ao Chico - Tom Jobim

Chico Buarque meu heroi nacional
Chico Buarque gênio da raça
Chico Buarque salvação do Brasil
A lealdade, a genialidade, a coragem
Chico carrega grandes cruzes, sua estrada é uma subida pedregosa
Seu desenho é prisco, atlético, ágil, bailarino
Let's dance! Eterno, simples, sofisticado, criador de melodias bruscas, nítidas, onde a Vida e a Morte estão sempre presentes, o Dia e a Noite, o Homem e a Mulher, tristeza e alegria, o modo menor e o modo maior, onde o admirável intérprete revela o grande compositor, o sambista, o criador, o grande artista, o poeta maior Francisco Buarque de Hollanda, o jogador de futebol, o defensor dos desvalidos, dos desatinados, das crianças que só comem luz, que mexe com os prepotentes, que discute com Deus e mora no coração do povo.
Chico Buarque Rosa do Povo, seresteiro poeta e cantor que aborrece os tiranos e alegra a tantos... tantos...
Chico Buarque Alegria do Povo, até seu fox-trote é brasileiro. Zona Norte, Malandragem, Noel Rosa, Sinuca, Neruda, Futebol, tudo canta na tua inesgotável Lyra, tudo canta no martelo.
Bom Tempo, bota água no feijão, pra ver a banda passar, vem comer, vem jantar, menino Jesus, dia das mães, vou abrir a porta, Deus, Pai, afasta de mim este cálice de vinho tinto de sangue. Chico também não evitou os assuntos escabrosos, sangue, tortura, derrame, hemorragia...
Houve um momento em que temi pela tua sorte e te falei, mas creio que o pior já passou.
Chico Buarque homem do povo
Fla Flu, calça Lee, carradas de razão
Mamão, Jacarandá, Surubim
Macuco não, Pierrot e Arlequim
Você é tanta coisa que nem cabe aqui
Inovador, preservador, reencarnado, redivivo
Mestre da língua
Cabelos Negros
Olhos de gatão selvagem
Dos grandes gatos do mato
Olhos glaucos, luminosos
Teu sorriso inesquecível
Ó Francisco, nosso querido amigo
Tuas chuteiras caminham numa estrada de pó e esperança

Tom Jobim
Nova York Outubro 89

Rádio Batuta  - Chico Buarque recebe o Prêmio Camões nesta segunda, dia 24, em Lisboa. Na terça, 25, Portugal celebra a Revolução dos Cravos, que pôs fim em 1974 a quatro décadas de ditadura. Foi inspirado na Revolução dos Cravos que Chico compôs "Tanto mar". No Brasil, a música foi censurada e tornada pública apenas em 1978, com alterações na letra. Em Portugal, Chico interpretou a letra original num disco jamais lançado aqui. Esta gravação é uma das raridades analógicas da carreira do artista reunidas para a Batuta pelo jornalista e pesquisador Renato Vieira.



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