sábado, 27 de abril de 2019

Darcy Ribeiro e o amor incondicional pelo Brasil

https://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/darcy-ribeiro-e-o-amor-incondicional-pelo-brasil.html




Pouco tempo antes de morrer, Darcy pediu para ficar em casa: “doutora, quero dar uma aula, a senhora não me traz uma criança pra eu dar a aula?”. Deu aula a uma criança de 9 anos. Falou sobre o Brasil, sobre a importância de respeitar todas as culturas. Era seu testamento

darcy ribeiro documentário
Tv Senado exibiu belíssimo documentário sobre Darcy Ribeiro (Foto: Edição / Pragmatismo Politico)
Rodrigo Vianna, em seu blog
A TV Senado levou ao ar no fim de semana um belo documentário sobre Darcy Ribeiro. Documentário clássico, em que os depoimentos costuram a história. A diretora Maria Maia não pretendia se mostrar genial. Até porque gênio era o personagem retratado.
Entrevistei Darcy uma vez, em 1995, pela TV Cultura. Fazíamos um especial sobre UTIs, sobre formas de humanizar o tratamento hospitalar. Darcy tinha muito a dizer. Fugira pouco antes do hospital, porque o ambiente da UTI o matava lentamente. Fugiu porque queria escrever (terminar de escrever, na verdade) seu grande livro: O Povo Brasileiro. Deu certo. Fugiu, escreveu, e viveu mais alguns anos.
Era a segunda vez que driblava a morte. Nos anos 70, exilado, teve câncer de pulmão. Foi desenganado pelos médicos. Pediu aos militares autorização para voltar ao Brasil, onde queria morrer. Voltou, e não morreu. O amor pelo Brasil, pelo conhecimento, pelos índios e pela educação: tudo isso alimentava Darcy Ribeiro.
Acadêmico, jamais se escondeu atrás da pompa universitária. Fundou a UnB (Universidade de Brasília), andou pelo Brasil, fez Política com P maiuúsculo. Foi Chefe da Casa Civil do governo de Jango. Caiu em 64. Foi o último janguista a abandonar o Palácio, com o golpe já consumado. teve que fugir de Brasília num teco-teco, ao lado de Waldir Pires. Diz que foi o momento de maior tristeza na vida: saber que haviam sido derrotados pela direita. Exilou-se no Uruguai, Chile, Peru. Já era um antropólogo renomado. Vivera entre os índios – sua primeira grande paixão. Escrevera sobre os índios obras fundadoras.
Leia também
O exílio permitiu que estudasse mais sobre América Latina. Debruçou-se sobre o tema. Escreveu o grandioso As Américas e a Civilização. Depois da Anistia (e do drible no câncer), Darcy fundou o PDT com Brizola. Foi vice de Brizola no Rio. Idealizador dos CIEPs e do Sambódromo.
Perdeu a eleição para governador em 86, para Moreira Franco. Mais tarde, viraria senador. Nacionalista, professor, namorador… O documentário retrata bem a vida de Darcy.
Adorava o Brasil. “Temos um povo maravilhoso, e uma classe dominante horrorosa. Precisamos dar lição a ela, mostrar que é possível construir esse país”, diz Darcy em transcrição não literal, numa das entrevistas concedidas pouco antes de morrer e recuperadas no documentário.
Ele dizia que “sentia dó” porque não veria a grandeza do Brasil consumada. Iria morrer antes. E disse, olhando para a câmera e para as gerações mais novas: “ficam vocês encarregados de fazer esse país. Mas façam! Sem copiar ninguém! Seremos uma das grandes civilizações desse mundo”.
A história mais emocionante sobre Darcy é contada por uma das médicas que cuidou dele. Pouco tempo antes de morrer, Darcy – percebendo que o fim se aproximava – disse que queria ficar em casa. E pediu: “doutora, estou com uma vontade de dar uma aula, a senhora não me traz uma criança pra eu dar a aula?“. Deu aula a uma criança de 9 anos. Falou sobre o Brasil, sobre a importância de respeitar todas as culturas. Falou sobre escolas e sambódromos. Era o testamento que ele queria deixar.
Darcy amou o Brasil. Sem pompa, mas com energia.

Play list - Talvez o mundo tenha jeito se olharmos com o olhar de uma criança.

OLHA O  MENINO! CAETANO VELOSO



OLHA O MENINO! JORGE BEN


O ERÊ - CIDADE NEGRA


Emicida - Aos olhos de uma criança (trilha sonora de O Menino e o Mundo)




CORAÇÃO CIVIL COM ELOGIO A MARCELO FREIXO - MILTON NASCIMENTO


MENINOS DE HUAMBO - MARTINHO DA VILA



TRÊS MENINAS DO BRASIL - JUSSARA SILVEIRA, TERESA CRISTINA, RITA RIBEIRO


BOLA DE MEIA, BOLA DE GUDE - MILTON NASCIMENTO


Roberto Ribeiro - "Todo menino é um rei" (clipe de 1978)






QUE AS CRIANÇAS CANTEM LIVRES - TAIGUARA

A FALA DE UM GRANDE LÍDER, UMA GRANDE ALMA. UM MAHATMAN, UM HOMEM SÁBIO.



 A representação arquetípica brasileira do ancião negro. Ou preto véio.
LULA DIZ QUE CIRO FAZ MAL A SI PRÓPRIO E SE DIZ PRONTO PARA RECEBÊ-LO

"Ele não causa mal ao PT. Ele causa mal a ele mesmo. O Ciro Gomes precisa aprender uma lição elementar: é preciso aprender a ouvir coisas de que você não gosta. Suportar os contrários. Conviver na diversidade. Ele precisa aprender essa lição mínima", disse Lula em sua entrevista histórica, concedida nesta sexta-feira. "O dia em que ele pedir para me visitar, eu vou aceitar que ele me visite aqui, para ter uma conversa boa com ele. Porque eu gosto dele"
"FHC DEVERIA TER UM PAPEL MAIS RESPEITOSO COM ELE MESMO", DIZ LULA
O ex-presidente Lula também afirmou que falta grandeza ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que apoiou sua prisão sem provas e também o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff. "Eu sinceramente acho que ele poderia ter um papel de grandeza para quem já foi presidente da República, para quem já foi chamado de príncipe da sociologia. Ele poderia ter um papel mais respeitoso com ele mesmo, não comigo", disse Lula
LULA DIZ SENTIR PENA DE ANTONIO PALOCCI
"Eu tenho pena do Palocci porque um homem da qualidade política dele não tinha o direito de jogar a vida fora como ele jogou. Tenho um profundo respeito pela mãe do Palocci, que é fundadora do PT, que carrega barro até hoje pelo PT lá em Ribeirão Preto. Mas lamentavelmente eu tenho pena do Palocci. Ele não merecia fazer com ele o que ele está fazendo", disse o ex-presidente Lula

"Tem uma novidade política no Brasil, que não teve um bom desempenho eleitoral mas é um menino que vai crescer muito, que é o companheiro Boulos", disse o ex-presidente Lula, na entrevista a Florestan Fernandes Júnior e Mônica Bergamo
GLOBO DÁ VEXAME HISTÓRICO E CENSURA ENTREVISTA COM LULA
A edição deste sábado do jornal O Globo, da família Marinho, simplesmente ignora a entrevista concedida pelo ex-presidente Lula, que foi o assunto mais debatido no mundo nesta sexta-feira. Na entrevista, Lula falou sobre sua condição de preso político, do papel da mídia na destruição do Brasil e disse ainda que o Brasil é governado por malucos. Censura da Globo lembra capítulos tristes de sua história, como o veto à campanha Diretas-Já

LULA ELOGIA CURSO SOBRE CANUDOS, DO CANAL PAZ E BEM, DE MAURO LOPES




Veja a íntegra de entrevista que Lula concedeu à Folha na prisão




sexta-feira, 26 de abril de 2019

"Foi bonita a festa, Pá!". Revolução dos Cravos, Portugal, 25 de Abril de 1974

Os cravos no Portugal da revolução de abril de 1974, floresceram na primavera, depois de tantos anos de noites escuras e manhãs frias e com céu nublado, em meio também a noites salientes, regadas a bom vinho do Alentejo, alimentando e aquecendo a luta de sempre, por justiça e liberdade, com canções de amor, rebeldia e de esperança.
Também houve dias de sol e praia, para aquecer os corpos e alegrar corações, sempre lembrando que os dias e as noites, vem e vão, assim como as estações. Até que chega o 25 de abril na primavera de 1974.

Lembrar essa primavera especial será sempre necessário, para que mesmo no inverno possamos nos aquecer com a memória das flores que brotam nos campos, e do sol tranquilo que chega nestes dias. Lembrar que a primavera no sentido politico, como empregado aqui, é uma construção.
Que mesmo demorando, nunca deixa de chegar. Como diz uma canção brasileira "O sol há de brilhar mais uma vez...."

LINCOLN SECCO: AS LIÇÕES DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS - 20 Minutos Entrevista



Capitães de Abril (2000) Trailer




acrescido em 25/04/2022



Fico cá a imaginar como brasileiro. Se lembrássemos mais , de forma diversa e criativa, dos acontecimentos e personagens que fortalecem a nossa identidade democrática e socialista, será que não estaríamos em melhor situação na disputa das memórias e narrativas?

Zezito de Oliveira - Educador e Agente/Produtor Cultural

45 ideias para celebrar os 45 anos do 25 de Abril

18.04.2019 19:15 por Pedro Henrique Miranda0
Passam quatro décadas e meia desde a Revolução dos Cravos e Portugal recorda-o, com infindáveis momentos festivos. Selecionámos precisamente 45.

Músicas de abril: símbolos da revolução da liberdade


“E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho foi o sinal para arrancar a revolução.
O povo, na sua generalidade, não sabia o que estava prestes a acontecer. Mas os militares e outras partes preparavam uma revolução para instituir a democracia e pôr fim à ditadura e opressão em que vivia Portugal.

Aguardavam o sinal para saber que era hora de iniciar o golpe militar tão esperado. E ele chegou através da rádio. A música e a cultura tiveram parte crucial na revolução que mudou o país. “E depois do adeus”, música de Paulo de Carvalho, foi o sinal tão esperado que soou. 







Tanto Mar - Versão Original


acrescido em 26/04/2022

Como Portugal mudou nos 45 anos desde a Revolução dos Cravos?

As mudanças na sociedade portuguesa após o movimento que tirou o país da ditadura de Salazar em 25 de abril de 1974 são celebradas nesta quinta (25)









"O Brasil não é um paraíso gay. Mas quem quiser vir pra cá fazer sexo com mulher, fique à vontade". (Bolsonaro)

Guilherme Boulos
"Não é "só" homofobia. Não é "só" machismo. É uma declaração criminosa de apologia ao turismo sexual. Na história das Nações será difícil encontrar um presidente que tenha descido a um nível tão abjeto."

Nilton Pereira

"Cafetão presidencial.
Primeiro libera o visto.
Depois oferece mulher para o sexo."






Bolsonaurus  nos remete ao pior do homem brasileiro. Sob o ponto de vista antropológico, nos coloca cara a cara, com o colonizador europeu, branco, carniceiro, sem requintes, ou com requintes de aparência, nem sempre bem disfarçados. 

São homens que estupraram  indias e negras, destruidores  vorazes  e inclementes  dos corpos dos meninos e jovens indios e negros. Bolsonaurus  é o lixo psico e cultural que está  contido em nosso subconsciente, em alguns mais, em outros menos. Uma gente que traz no corpo e na alma, essa luta de  liberdade contra  escravidão. Uma gente que é  filha de pai branco colonizador, muitos como Bolsonaurus, nem todos,  e de  mulheres  que foram reduzidas ao papel de  escravas sexuais e/ou cuidadora de filhos, do marido, da criadagem e do lar.

No livro “O POVO BRASILEIRO  Darcy Ribeiro afirma: 

(...)"A 
mais 
terrível 
de 
nossas 
heranças é 
esta 
de 
levar 
sempre 
conosco 
a cicatriz 
de 
torturador 
impressa 
na alma 
e 
pronta 
a 
explodir 
na brutalidade racista 
e 
classista. 
Ela 
é que 
incandesce, 
ainda 
hoje, 
em 
tanta autoridade brasileira 
predisposta 
a torturar, 
seviciar 
e 
machucar 
os pobres 
que 
lhes caem 
às 
mãos. 
Ela, porém, 
provocando 
crescente indignação 
nos 
dará forças, 
amanhã, para 
conter 
os 
possessos 
e 
criar aqui 
uma
 sociedade solidária (...) “


e também.....  “(...) Os brasilíndios ou mamelucos paulistas foram vítimas de duas rejeições drásticas. A dos pais, com quem queriam identificar-se, mas que os viam como impuros filhos da terra, aproveitavam bem seu trabalho quando meninos e rapazes e, depois, os integravam a suas bandeiras, onde muitos deles fizeram carreira. A segunda rejeição era do gentio materno. Na concepção dos índios, a mulher é um simples saco em que o macho deposita a semente. Quem nasce é o filho do pai, e não da mãe, assim visto pelos índios. Não podendo identificar-se com uns nem com outros de seus ancestrais, que o rejeitavam, o mameluco caía numa terra de ninguém, a partir da qual constrói sua identidade de brasileiro. (...)”

Bolsonaurus e quem concorda e aceita suas idéias e atitudes, são os que mais se identificam com o colonizador , exterminador de índios, traficante de escravos e fazendeiros escravocratas. Suas palavras e atitudes podem muito bem ser recuperadas em documentos e livros que estudaram o período do Brasil colônia e império.

Idéias e atitudes  que sempre esteve presente entre nós, mas que no século XX foi confrontado pelos movimentos no campo da luta de classes e das disputas ideológicas, incluindo o campo da educação, da imprensa e da cultura.

O que o colocou, relativamente a margem, em especial nas grandes cidades, nos centros “educados” dessas cidades ou que quiseram/querem parecer.

Todavia, como estratégia de guerra hibrida, esse Brasil arcaico, rural, conservador e reacionário, foi instigado e reforçado para fazer frente as conquistas e avanços que obtivemos no século XX e em especial, nesse  inicio de século,  com os governos Lula e Dilma.

Para aprofundar essa compreensão, além de Darcy Ribeiro, trago a necessidade de lermos  mais Gilberto Freire, com as devidas ressalvas, Manoel Bomfim, Paulo Freire, Abdias Nascimento, Clóvis Moura, Milton Santos, Durval Muniz,  Jessé de Souza, Marilena Chauí, Mary del Priore,  Lilia  Schwarcz  etc.

Também trago a lembrança de canções como “Perfeição” do Legião Urbana, “Maria, Maria”, de  Milton Nascimento e Fernando Brant. Assim como os filmes do Gláuber Rocha, dentre tantos.

Por último, frases soltas de três canções para nos ajudar a fazer memória, mas sem o peso de fazer isso somente de forma crua e dura. 

A primeira, da canção  “Refrão de Bolero” de Humberto Gessinger, com uma frase tirada do contexto da canção, mas adaptada para o argumento que defendo no texto acima. “(...)Brasil, seus caminhos são labirintos, que atraem os meus instintos mais sacanas(...)” Me refiro aqui aos desejos sexuais  do brasileiro, herdeiros da tensão, sexo como pecado, como defendido pelo catolicismo colonizador  de um lado, e  a liberdade sexual existente nos trópicos do outro lado, também com regras, mas sem tantas interdições e conflitos como acontecia no lado de lá, no velho continente, majoritariamente cristão com sua velha culpa pela perda do paraíso, em razão de um suposto pecado sexual.

atriz Nanda Costa, em ensaio fotográfico com o fotográfico Jorge Bispo. 2017
Cavucando a memória,tem um episódio que me lembra esta fala de Bolsonaurus. Quando adolescente em meados da  década de 1970, morando no Rio de Janeiro,  ouvi uma frase da  boca de homens mais velhos. "Mulher branca para casar, mulata para fud.... e negra para trabalhar".

Muito tempo depois, no inicio da década de 1990, começando a fazer as primeiras leituras do livro "Casa Grande e Senzala" na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe, buscando fontes para a produção de um artigo opinativo solicitado por um professor,  me surpreendi com a mesma frase sendo citada no livro escrito por  Gilberto Freire, como um dito popular no Brasil colônia dos homens da Casa Grande, o  qual depois se espraiou  para os homens livres das classes sociais inferiores.  

Abaixo também parodiando ou parafraseando, frases  de uma canção do Legião Urbana e outra do Skank

"O sistema é mau, e agora nem faz questão de esconder. A nossa turma precisa ser cada vez mais legal.  Tá mais junto e REEXISTIR é uma necessidade."

pacato cidadão, o grifo em REEXISTIR, não foi a toa não." 

Zezito de Oliveira - educador e agente/produtor cultural

 

terça-feira, 16 de abril de 2019

“O sistema é mau, mas minha turma é legal.” Legião Urbana.


Tão importante quanto politizar as pessoas, é criar, espaços e oportunidades para que elas possam se relacionar por inteiro, espaços e oportunidades onde possam falar com segurança e tranquilidade sobre sonhos, medos, frustrações, esperanças, dificuldades, alegrias  e desejos.

Isso vivi ontem e vivo hoje, na AMABA/Projeto Reculturarte, nas oficinas culturais e fóruns de arte e cultura realizados pela Ação Cultural, nas rodas de danças circulares, nas escolas bíblicas do Centro Ecumênico de Estudos Biblicos (CEBI) e em encontros de comunidades eclesiais de base e,  mais recentemente no Cantinho do Afeto, um grupo  de apoio e acolhimento multidisciplinar e polifônico que se propõem a dar auxilio emocional, físico e logístico às vitimas da violência fascista em suas mais diversas formas.

simbolo do cantinho do afeto. arte de Maíra Magno
Este último me remete as jornadas de junho de 2013, quando marchamos  em Aracaju e depois nos reunimos, a banda progressista, em praças no centro da cidade, umas duas ou três vezes, para pensarmos em formas de reunir as pessoas em grupos pequenos e médios, não mais com o sentido apenas de marchar, mas de construir ações voltadas para o incremente da democracia na base, a democracia participativa de fato, porque de direito, já havia por meio dos conselhos, mas que não contemplava a potência de criatividade e inovação cidadã que tínhamos, que temos.

Se isso não foi adiante como pensado,  sem dúvida nenhuma colaborou para os milhares de saraus que pipocaram por aí afora,   ocupações de escolas, ocupações culturais, assim como atraiu mais gente para iniciativas no campo da permacultura e da agroecologia, impulsionou a criação de mandatos coletivos , como no caso de São Paulo e de  Recife, e  mandatos individuais, mas com uma forte pegada de ousadia, coletividade  e criatividade, como acontece com muitos do PSOL e alguns do PT.

Lembrando a fala de uma entrevistada para o livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte, é curioso o que  fez uma velho partido de  esquerda,  que investiu em um militante politico, confuso, arrogante e maledicente, para tomar e transformar a organização naquilo que os militantes mais velhos chamam  de aparelho do partido.

O argumento para tal, segundo a entrevistada, foi que o trabalho sob a minha liderança não era suficientemente “politizado”.

O final desse história já é conhecido, assim como o Brasil derrete sob Bolsonaro, a AMABA derreteu sob a liderança de um jovem militante da velha esquerda. 

Mas para essa história não acabar triste, vale lembrar o quanto de experiência fica para a História, experiências positivas, que foram muitas e experiência negativas, que não foram poucas.

E quanto mais aprendermos as lições, mais facilmente derrotaremos não só Bolsonaro, assim como a cultura, que lhes dá substrato, fortaleza e  proteção.

Tarefa para muitos anos é verdade, mas que pode se tornar menos cansativa e dispendiosa a partir de uma sincera e constante  autocritica, a qual pode ser chamada também de auto avaliação ou avaliação simplesmente.

Vale lembrar também , a iniciativa de círculos terapêuticos de  base,  fundamento de psicologia comunitária, realizados em Fortaleza ao mesmo tempo que vicejava por essas bandas de Aracaju, a AMABA/Projeto Reculturarte. Do final da década de 1980 até o final da década de 1990.

Em Recife, também nos anos de 1990, o Centro Nordestino de Animação Popular anunciava e realizava a novidade de integrar a formação humana integral, com base na arte educação  popular, algo bem diferente até então, voltada para educadores e militantes das organizações de base comunitária, em especial as que trabalhavam com crianças, adolescentes, jovens e mulheres.

Aqui eu concluo com  uma frase de Anunciação do Alceu Valença.  “Na bruma leve das paixões que vem de dentro.Tu vens chegando prá brincar no meu quintal “

Sem esquecer  que estes versos aparentemente despolitizados da canção composta em 1983, anunciava um Brasil que emergia dos escombros de uma ditadura civil militar que destruiu o sonho de um Brasil mais justo, mais humano, mais democrático e colaborador da felicidade geral para todos e todas. Sonho que foi abortado por um  um golpe em 1964, realizado  para sustar as reformas de base (agrária, educacional, fiscal , eleitoral e urbana), proposta pelo presidente João Goulart, acusado de comunista por causa disso e pretexto utilizado para a sua derrubada.



E para não esquecer: “O historiador não é aquele que fala do passado. Ele se serve do que sabe do passado  para falar do presente, para compreender o que se passa hoje.”
Marc Bloch

P.S.: Qual o significado politico de  Aparelho?  No contexto da ditadura militar no Brasil, referia-se a um local (apartamento ou casa) usado como refúgio por uma "célula" (grupo de ativistas com ideal e atuação afins) de organização política clandestina e servindo também para a realização de reuniões, guarda de material de propaganda, dinheiro, armas, etc.[1] Cada célula era hierarquicamente organizada, dotada de comando próprio (mais ou menos autônomo) e integrada à hierarquia do partido ou organização clandestina do qual fazia parte.[2]
Atualmente, o termo "aparelhamento" aplica-se à tomada de controle de órgãos ou setores da administração pública por representantes de grupo de  interesses corporativos ou partidários, mediante a ocupação de postos estratégicos das organizações do Estado, de modo a colocá-las a serviço dos interesses do grupo.[3]
Fonte Wikipédia
Zezito de Oliveira - educador e agente/produtor cultural

Leia também, na mesma vibe....

sexta-feira, 12 de abril de 2019