quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Qual o custo do voto e omissão da maioria em 2018?


 Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior – PUC-SP

No ano 2020 não haverá coligações de partido para o voto de vereadores. Todos os pequenos partidos serão varridos do mapa. As eleições terão dois turnos para prefeito/a em 15 de novembro e 29 de novembro.

1. Gato escaldado tem medo de água fria.

Conheça o passado e a biografia do/a candidato/a e a trajetória do partido em defesa das causas populares, da justiça social contra a opressão dos pobres.

2. Dize-me com quem andas e te direi quem és.

Descubra as alianças do partido e seus projetos, a que classe social pertence, quais interesses defende, com quem está articulado e quem paga a candidatura.

3. Toda mentira tem perna curta.

Confronte a imagem e o discurso do candidato com a sua prática política no passado.

4. Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas.

Exercite a inteligência política votando em candidatos que defendam causas populares e preparando-se para os dois turnos das eleições, com coerência de valores e de um projeto político claro. Evite votar em mentirosos.

5. Quem semeia vento colhe tempestades.

Analise os projetos do partido do/a candidato/a para o mandato que vai exercer como prefeito/a ou vereador/a e como propõe algo novo e sustentável. Suas propostas são transformadoras ou conservadoras? Defendem os pobres ou sugam a carne dos pobres para colocar na panela dos ricos? Como se articula em nível estadual e nacional?

6. Quem engorda o porco é o olho do dono.

Analise a campanha do candidato. Seus gastos. Qual é o seu slogan? Por que escolheu tal programa e é membro de tal partido?

7. Uma andorinha só não faz verão.

Quem são os/as assessores do candidato? Que lutas enfrentaram na vida pública? Tem currículo junto aos movimentos sociais? Defendem os negros, as mulheres, os jovens, o povo das favelas, dos cortiços, os moradores de rua ou são fascistas e promovem a morte e a segregação.

8. Aquele que não quer quando pode não pode quando quer.

Como o/a candidato/a pretende agir na Prefeitura e na Câmara de Vereadores? Como será a participação popular da sociedade civil? Quais serão os canais de participação popular? Tem processos judiciais? Por quê? Quais?

9. Quando a esmola é muita, o santo desconfia.

As propostas do/a candidato/a são concretas ou promessas? No passado fez o que em favor dos pobres e vulneráveis?

10. Papagaio come milho, periquito leva a fama.

Até que ponto a eleição será um passo no avanço da luta das periferias em favor da dignidade humana? À serviço de que classe seu/sua candidato/a vive diariamente? Se defende ricos e burguesia nunca vai pensar e defender os pobres. Fique esperto. Não vote em demagogos e fascistas.

https://cebi.org.br/artigos-e-reflexoes/dez-mandamentos-do-eleitor-consciente/?fbclid=IwAR3TTF2zkeHFDjyZibAeSbgCCjtDAZaO4iv8O8POkdpYpnL8r-XsWhm7dm8


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A burguesia no brasil de bolsonaro fede ainda mais. O bate boca no restaurante Gero em SP.

Paulo Teixeira

"A  briga dos ricos no restaurante GERO ontem à noite: "eu tenho berçoooo", " vc tá falando com alguém que tem beeerrrçoooo", 

"meu pai é médicooo", "vou falar com meu delegado" "eu tenho educação europeiiiaaa", “eu tenho CRM"

Essa briga no Gero mostrou claramente o nível de arrogância de parcela da classe média alta brasileira. O que se viu ali que o que é importante para eles são os títulos e a origem. 

São tão escrotos que é com isso que eles se importam e é por isso que o Brasil está pegando fogo e despencando ladeira abaixo, até que uma convulsão social ocorra e a violência exploda de vez no país"


https://revistaforum.com.br/blogs/popnoticias/empresario-faz-escandalo-para-ser-atendido-fora-do-horario-em-restaurante-nobre-de-sp/

Por Luisa Fragão - 27 set 2020 - 09:30

 Empresário faz escândalo para ser atendido fora do horário em restaurante nobre de SP

Carlos Iglesias, sócio do Grupo Rubaiyat, teria ofendido funcionários e tentado agredir uma mulher. "A plaquinha do seu Mercedes já está gravada e você que se cuide", ameaçou

restaurante Gero, localizado nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Ele chegou ao local perto das 22h, horário em que o estabelecimento é obrigado a fechar – em respeito às restrições impostas pelo governo estadual por conta da pandemia – e passou a ofender funcionários e clientes ao não ser atendido.

De acordo com a coluna de Léo Dias, no Metrópoles, o empresário teria tentado agredir uma mulher e foi contido pelos seguranças. Vídeos gravados por clientes do restaurante mostram Iglesias aos berros e aparentemente embriagado. “Essa senhora desrespeitou a mim e eu não admito isso. A senhora me mandou embora, a senhora é uma mal educada”, diz.

Um dos clientes disse à coluna que o médico insistiu em ficar e quis ocupar um lugar no balcão do bar, o que também não é permitido na casa. Na parte de fora do estabelecimento, o bate-boca continuou e Iglesias grita que uma pessoa o chutou. Enquanto isso, outras pessoas começam a pedir pelo registro de médico dele para “jogar fora e esquecer que ele existe”.

O empresário então pega o celular e diz que vai ligar para o “seu delegado”, de forma a cobrar a presença de policiais no local para registrar um boletim de ocorrência. “Ele é meu delegado, não vou dar o celular. Nós temos uma democracia”, diz o homem enquanto outros clientes tentam acalmá-lo.

No dia seguinte, o empresário gravou um novo vídeo novamente ameaçando os clientes do Gero. “Eu vou passar um recado para vocês, seus playboys que estavam no Gero ontem, embriagados e que não têm educação. Eu graças a Deus conheço a família Fasano há muitos anos e por onde ando, ando com orgulho e saúde. Por onde piso, piso com educação. Aqui teve educação americana, teve educação europeia. A plaquinha do seu Mercedes já está gravada e você que se cuide”, diz.

    A burguesia no brasil de bolsonaro fede ainda mais.. A confusão no Leblon RJ

     Barraco no Leblon: 'Bati com força e foi um tapa bem dado', diz mulher de biquíni

    Scheila diz que apenas revidou após levar garrafada: 'Não mereço apanhar à toa'

    https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/barraco-no-leblon-bati-com-forca-e-foi-um-tapa-bem-dado-diz-mulher-de-biquini/

    Em momentos como o que vivemos, o jornalismo sério ganha ainda mais relevância. Precisamos um do outro para atravessar essa tempestade. Se puder, apoie nosso trabalho e assine o Jornal Correio por apenas R$ 5,94/mês.

    Agora conhecida como uma das moças que passeou de biquíni em um conversível pelo Leblon, no Rio de Janeiro, Scheila Mack publicou um vídeo dando sua versão dos fatos e dizendo que não se arrepende do tapa que deu na arquiteta Aline Araújo, depois que essa jogou uma garrafa de água nas suas costas. "Apanhei, revidei. Tô certa? Eu acho que eu tô. Eu tenho certeza de que não mereço apanhar à toa", diz ela. "Eu não bati à toa". 

    O episódio aconteceu no final de semana e movimentou as redes sociais depois que vídeos com a cena viralizaram. As imagens mostram Scheila descendo do carro e dando um tapa na arquiteta. Depois, ela volta correndo para o conversível e um homem a segue e puxa a parte de cima do biquíni dela. 

    A arquiteta afirmou que as três pessoas do carro - além de Scheila, a amiga dela, Priscilla Dornelles, e o amigo Will Vacari - estavam fazendo "preliminares" como se estivessem em um "vídeo pornô". Ela alegou que agiu porque estava com crianças na mesa de um bar e considerou um atentado ao pudor.

    Scheila nega essa versão e diz que todos que viram o vídeo poder constatar que houve somente um beijo. "Sexta à noite, saindo do pós-praia, estávamos de biquíni sim, porque moramos na praia. Curtindo nossa vibe, nossa onda, tínhamos bebido. Estávamos de capota aberta, o carro é conversível. Conversando, dando risada, com som alto. Quando passamos em uma rua mais movimentada e escuto uma garota falar assim: 'Vagabunda'. Olhei pro lado e ela com a maior cara de deboche me manda um beijo. Achei desnecessário, dei até risada, falei 'Será que ela quer participar?'.", começa ela.

    O carro andou mais um pouco - foi quando as coisas pioraram. "Não satisfeita de não ter conseguido chamar minha atenção ela taca uma garrafa d'água nas minhas costas, bem na hora que eu estava abaixada mostrando o celular para Will. Tanto que eu estava no banco de trás e os dois na frente. Tudo que ela falou sobre orgia, não tem... É só assistir o vídeo, fatos são fatos, não teve isso", ressalta.

    Scheila diz que ficou muito nervosa ao receber a garrafada. "Levei a garrafada nas costas, olhei diretamente pra ela, porque já sabia que era ela, porque ela já tinha mexido comigo. Ela no maior deboche me manda outro beijo. Como não tenho sangue de barata, na hora minha reação foi pular do carro. Só que pulei e não sabia o que ia fazer, pulei porque fiquei com muita raiva, não aceito apanhar de graça. Quando pulei, ela fez assim para mim: 'Vem'. Eu fui. Revidei. Apanhei, revidei. Tô certa? Eu acho que eu tô. Eu tenho certeza de que não mereço apanhar a toa", diz ela.

    Ela também garantiu que acertou o tapa em Aline - no vídeo que fez após o incidente, a arquiteta diz que conseguiu se desviar. "Bati, bati sim, ela não se esquivou não, tá? Bati com força e foi um tapa bem dado. Quando vi um homem levantou da mesa, a mesa tinha um monte de homem e que me lembre um adolescente, não eram duas crianças. Quando ele levantou, já pra me bater, eu já saí correndo, pulei no carro. Ele veio e conseguiu tirar parte do meu biquíni. E foi isso que aconteceu", relata

    Scheila encerra o vídeo provocando, insinuando que Aline ficou com inveja da cena que viu. "A parte do vídeo que vocês veem é a parte que a gente já tá andando, ela já tinha me xingando, já tinha me afrontado... Só quero ficar em paz, quero que ela fique em paz também. Não tenho raiva dela. Minha querida, um beijo pra você. Espero realmente que você tenha paz de espírito e consiga se encontrar nessa vida para não ter inveja dos outros. Se seu objetivo for o que a gente tava curtindo, o que a gente tava passando, um dia você chega lá", diz.

    Scheila não cita intenção de processar Aline - nos vídeos que gravou, e depois apagou, a arquiteta diz que Scheila e Priscilla seriam "moças da vida" e "drogadas". Priscila e Will já afirmaram que tomarão medidas legais.

    "Só pra constar, sou engenheiro da Petrobras concursado, não pago mulher. Minhas amigas são mulheres que trabalham, e se sustentam. Não banco ninguém porque não preciso disso", disse Will ao colunista Léo Dias, da Metrópoles. "Os vídeos estão circulando nos meus grupos de trabalho e isso mancha minha imagem perante a minha empresa. Vou processar a arquiteta e o homem covarde que agrediu Scheila dentro do meu carro. Fui lesado. Até minha avó recebeu esses vídeos”, revolta-se.

    Arquiteta disse que estava com crianças e se incomodou com cena "inapropriada" (Foto: Reprodução)

    Ele disse que é normal passear com amigas no seu conversível. “Sempre ando de carro com a capota aberta com as minhas amigas, pra mim é uma coisa natural, quem é meu amigo ou me acompanha no Insta sabe que eu faço isso toda semana. Vim beijando uma, depois outra, depois elas se beijavam. Coisa mais que normal para sociedade de hoje em dia. Faço isso toda semana grande, jamais iria passar no Leblon, onde sou cria, fazendo cenas obscenas ou preliminares. Foi o que a menina achou de desculpa pra tentar aliviar um pouco o erro dela”, diz.

    Priscilla disse que foi difamada. “O que ela fez foi difamação. Não sou garota de programa e nem a Scheila. Will não nos contratou, ele é nosso amigo. Estávamos nos divertindo. Passamos a tarde andando de barco e na volta para casa resolvemos passar para ver o movimento naquela rua. Vou entrar com um processo por calúnia e difamação" garantiu. “Tudo o que ela falou é mentira. Não teve gesto obsceno. Eu e Sheila nos conhecemos ontem e rolou apenas uns beijos e só. Eu sou estudante e trabalho com um aplicativo de live”.



    Assista o vídeo resposta - https://www.instagram.com/tv/CFrpF-kFNED/

    domingo, 27 de setembro de 2020

    "Drão" - Gilberto Gil


    O compositor escreveu em 1981, poucos dias depois da separação. A letra é uma parábola sobre o amor, que não morre – e sim, se transforma. Assim como o trigo, ele nasce, vive e renasce de outra forma. Há referências à cama de tatame onde o casal costumava dormir (“cama de tatame pela vida afora”) e aos três filhos frutos do relacionamento deles (“os meninos são todos sãos”). 

    O curioso é que o próprio Gil era um dos poucos da roda de amigos que não chamava a mulher de Drão. Ele e Caetano a chamavam de “Drinha”.

    O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra "grão". Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. "Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?", questiona-se Gil no livro "Gilberto Gil-Todas as Letras" (Cia. das Letras).

    Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 73 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a "sua" música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada. 

    Sandra Gadelha: "Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei. 

    Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois. 

    Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar. 

    A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha."

    FONTE: Rosane Queiroz

    Gilberto Gil e Drão no exílio

    © Foto do acervo pessoal. Gilberto Gil com Sandra Gadelha (Drão), durante o exílio em Londres, c1970.

    Drão!

    O amor da gente

    É como um grão

    Uma semente de ilusão

    Tem que morrer pra germinar

    Plantar nalgum lugar

    Ressuscitar no chão

    Nossa semeadura

    Quem poderá fazer

    Aquele amor morrer

    Nossa caminhadura

    Dura caminhada

    Pela noite escura...

    Drão!

    Não pense na separação

    Não despedace o coração

    O verdadeiro amor é vão

    Estende-se infinito

    Imenso monolito

    Nossa arquitetura

    Quem poderá fazer

    Aquele amor morrer

    Nossa caminhadura

    Cama de tatame

    Pela vida afora

    Drão!

    Os meninos são todos sãos

    Os pecados são todos meus

    Deus sabe a minha confissão

    Não há o que perdoar

    Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão

    Quem poderá fazer

    Aquele amor morrer

    Se o amor é como um grão

    Morre, nasce trigo

    Vive, morre pão

    Drão!

    Drão!

    Aquele amor morrer

    Se o amor é como um grão

    Morre, nasce trigo

    Vive, morre pão

    Drão!


    sábado, 26 de setembro de 2020

    15 de Outubro de 2020 – (Quinta-Feira), 20 horas. Anisio Teixeira, Paulo Freire e Ginásio Vocacional. A educação no Brasil que pode dar certo.

     Eixo: Educação Básica, Universidade Pública e Educação Popular.

    Com a participação dos Professores  Romero Venâncio (UFS), Daniel Ferraz Chiozzini (PUC-SP) e  Luigy Marks (ex-aluno do Ginásio Vocacional e advogado).  

    A transmissão da Live será através da página da Ação Cultura no Facebook.  https://www.facebook.com/acaocultur


    BRASIL ARCAICO E SUBMISSO x BRASIL PROGRESSISTA E SOBERANO.

    "Houve um tempo, diz-nos Roberto Schwarz, em que o país estava  irreconhecivelmente inteligente. “Política externa independente”,  “reformas estruturais”, “libertação nacional”, “combate ao imperialismo e ao latifúndio”: um novo vocabulário – inegavelmente avançado para uma sociedade marcada pelo autoritarismo  e  pelo  fantasma da imaturidade de seu povo – ganhava a cena, expressando um momento de intensa movimentação na vida brasileira."  HOLLANDA, Heloisa e GONÇALVES, Marcos. Cultura e participação nos anos 60. São Paulo: Brasiliense, 1982. p.8

    Esse tempo foi antes de 1964, e começou pós ditadura de Getúlio Vargas, a partir de 1946, atingindo o ápice nos últimos anos da década de 1950 até 1964. Mas aí,   como  bem descrito por Chico Buarque na canção Roda Viva, sendo esse termo uma metáfora para ditadura civil-militar  “ A gente quer ter voz ativa. No nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda-viva. E carrega o destino pra lá.”

    E no decorrer desse período, 1964 à 1985, muitos brasileiros que participaram das tentativas de  construção desse país "irreconhecivelmente inteligente"  passaram a sofrer violações, incluído torturas e desaparecimentos,  por defender a democracia e a liberdade, por desejar um país mais justo.

    Todavia, após 21 anos de luta e resistência  contra a nova ditadura estabelecida em 1964, inclusive mediada com a canção e com o teatro, como foi o caso da peça e canção Roda Viva, o sol das liberdades democráticas recomeça a raiar no ano de 1985. Um sol ainda tímido, encoberto pelas nuvens do chamado entulho autoritário, 

    (...) A denúncia do “entulho autoritário” pelo pmdb (ou pelo grupo de “oposição autêntica” liderada por Fernando Lyra) e pela oab (presidida por Raymundo Faoro) apontava que, apesar da revogação dos atos institucionais, persistiam na ordem jurídica leis e instituições com a tônica autoritária da ditadura militar. (...) Era o caso da Lei de Segurança Nacional (...)  

    Mas “irreconhecivelmente inteligente”, além dos exemplos citados pelo critico literário  Roberto Schwarz, também era o Brasil pré 1964, no campo da educação e da cultura,  com muitas iniciativas educativas e culturais inovadoras e inclusivas, algumas mais conhecidas e outras menos, as quais sofreram uma ferrenha perseguição por parte dos “ridículos tiranos” que assumiram o comando da nação. 

    Dentre as iniciativas educativas e culturais mais conhecidas, podemos citar o Movimento de Cultura Popular do Recife, o Centro Popular de Cultura, o Movimento de Educação de Base, o Sistema Paulo Freire de Educação de Adultos e etc.

    Quanto as iniciativas pouco conhecidas, destacamos o  Sistema de Ginásios Vocacionais, um dos objetos de nossa Live, juntamente com a memória dos educadores e  escritores Anisio Teixeira e Paulo Freire.

    A memória dos três,  são marcados pelo tempo e pelos acontecimentos que tiveram lugar no Brasil durante a década de 1960/1970, em especial o asfixiamento do Sistema dos Ginásios Vocacionais provocado pela ditadura, assim como o exilio de Paulo Freire e a morte suspeita  de Anisio Teixeira.

    Entretanto, nem sempre pós 1985,   tiveram seu legado suficientemente reconhecido à altura da importância necessária para a  retomada e  consolidação da democracia, em especial dentro da escola pública, considerada por Anisio Teixeira como verdadeiras máquinas de democracia.

    Até que ponto isso não colaborou para o neoatraso bolsonarista que repete o clima de 1964?, como afirmou   Roberto Schwarz,  em entrevista ao jornal Folha de São Paulo de 15 de Novembro de 2019.  

    Zezito de Oliveira

    Leia também:

    O Pai De Família E Outros Estudos - Roberto Schwarz 

    120 anos de Anísio Teixeira: as ideias do criador da escola pública no Brasil


    MÚSICA “RODA VIVA”: DESVENDANDO SIMBOLISMOS

    Assista também:

    Ensino Vocacional em 9 minutos

    Memória Viva PAULO FREIRE




    E na semana seguinte........

    22 de Outubro (Quinta-Feira) 20 horas
    Paulo Freire no chão da Escola. A luta entre o sonho e a realidade.
    Com as Professoras Maíra Magno e Rosângela Meirelles Grabes e o Professor Dennis Portela.
    Eixo: Educação Básica, Universidade Pública e Educação Popular.
    ‏ jornalista @LEANDROBEGUOCI - "Um certo candidato e seus apoiadores dizem que vão acabar com o método Paulo Freire nas escolas. Para fazer isso, eles vão ter de garantir que todas as escolas brasileiras apliquem as ideias do Freire, o que está longe de acontecer."15:56 - 29 de ago de 2018









    sexta-feira, 25 de setembro de 2020

    A Terapia Comunitária pode contribuir para a retomada do trabalho de base numa perspectiva mais firme e integradora?

     Ecos pós Live Terapia Comunitária e Economia Solidária.

    O  Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista realizou  Live com o tema acima, no dia 24/09/2020. O texto de apresentação apresenta o seguinte resumo:  

    "O que é Terapia comunitária e como ela pode ajudar grupos de empreendimentos econômicos solidários? 

    Dr. Adalberto de Paula Barreto é o criador da Terapia Comunitária Integrativa.

    O objetivo desta metodologia é auxiliar a população na cura do sofrimento e no resgate da autoestima.
    Tem como alicerces teóricos cinco eixos: o pensamento sistêmico, a teoria da comunicação, a antropologia cultural, a pedagogia de Paulo Freire e a resiliência.
    A Terapia Comunitária é um espaço facilitador e acolhedor comunitário, onde as pessoas têm a possibilidade de apresentar seus sentimentos e sofrimentos e buscar a superação das suas dificuldades. As relações interpessoais e intercomunitárias se dão de forma horizontal e circular entre todos os participantes. Todo o apoio da comunidade, nos seus diferentes contextos socioculturais tem um importante mecanismo facilitador de transformação do “sofrimento em crescimento, “carência em competência”. A Terapia Comunitária é um instrumento de agregação e inserção social e, principalmente, facilitador para que cada participante se torne agente da sua própria transformação.
    A terapia comunitária promove coesão social por meio do compartilhamento, da reciprocidade.”

    Infelizmente a qualidade de áudio do Dr. Adalberto de Paula Barreto não estava muito bom, porém mesmo assim, é possível ouvir e compreender o que é dito.

    E as falas, tanto de  Adalberto  Barreto, como do índio Ubiratan Pataxó são potentemente  humanitárias.

    E dentre  tudo que foi dito,  um momento da fala de Adalberto Barreto me chamou a atenção, e aqui colocarei em letras maiúsculas com minhas palavras.

    “HOUVE UMA SITUAÇÃO DE CONVERSA COM FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO NORDESTE  ACERCA DE GRANDES INVESTIMENTOS  NA ECONOMIA SOLIDÁRIA EM UMA DETERMINADA REGIÃO DO CEARÁ, CUJOS  RESULTADOS NÃO LOGRARAM  OS ÊXITOS  ESPERADOS.

    E O PORQUE? AS QUESTÕES “DIFICEIS”  LIGADAS AO CAMPO DOS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS, COMO INTRIGAS, FOFOCAS, DISPUTAS DE PODER, MALEDICÊNCIAS E ETC... IMPEDIRAM  O FLORESCIMENTO DOS RESULTADOS NA EXPECTATIVA DESEJADA.

    E DAÍ UMA PERSPECTIVA NÃO CONSIDERADA:  UM PROCESSO EDUCATIVO E TERAPÊUTICO COM TERAPIA COMUNITÁRIA, O QUAL CONTRIBUIRIA PARA MITIGAR OU ATENUAR OS IMPACTOS NEGATIVOS DAS QUESTÕES “DIFICIEIS" CITADAS ACIMA”.

    Detalhe importante, há alguns anos essa questão foi   motivo de conversas com companheiros e companheiros de trabalho de base,  e inclusive em um certo momento,  até  foi possível direcionar algum recurso financeiro para a realização de uma proposta referenciada  no psicodrama, porém , por diversas razões  não teve prosseguimento e,  durante dez anos, em meio a  algumas questões “difíceis” como as citadas acima, o trabalho sucumbiu sob a disputa de egos e a fogueira de  vaidades, mesmo com tantos momentos  bons de convivência solidária e criativa, mas atravessado por situações de tensionamento e conflitos que minaram o lado virtuoso da realização.

    Foi um trabalho social-educativo com linguagens artísticas , reforço escolar e esporte

    Quem quiser assistir a Live  é só dar um play no endereço abaixo:

    https://www.facebook.com/vitwriasantos/videos/346676279790267/

    O trabalho social-educativo citado acima, pode ser conhecido com mais detalhes no link abaixo:

    AMABA/PROJETO RECULTURARTE

     

    Projeto 4 Varas | Adalberto Barreto | TEDxFortaleza





    Três canções para Guilherme Boulos

    "Boulos pode não chegar lá. Mas chegará perto. Tal como Lula em 1989. A conexão com a juventude e a comunicação estão 10."  - ZdO


    Boulos invade a casa da Karol!


     Se me chamar eu vou



    Ah! Se Eu Vou - Roberta Sá




    Dona Ivone Lara (Ao Vivo) Alguém Me Avisou


    E quais outras canções?

    GUILHERME BOULOS – FLOW PODCAST #199







    quinta-feira, 24 de setembro de 2020

    O DILEMA DAS REDES. O QUE FAZER?

     

    Orlando Calheiros @AnarcoFino - Ogã, antropólogo, fotógrafo e apresentador do  @benzinaInc

    24 de set de 2020·Twitter Web App

    A resposta usual das pessoas quando são questionadas sobre a efetividade desse compartilhamento compulsório (ou obsessivo) de conteúdo à direita é: "ué, então não vamos fazer nada". Como se o simples compartilhamento, a reclamação constituísse efetivamente um "fazer algo".
    Acho, inclusive, sintomático que as pessoas pensem isso. Estamos, tem pelo menos uma década, vivendo intensivamente um regime 24/7 de engajamento virtual; hoje, especialmente, a maioria das nossas relações é mediada pela internet, redes sociais.
    Conversamos pela internet, brigamos pela internet, nos apaixonamos pela internet, gozamos pela internet, etc... A ação política passou a ser realizada pela internet - e não estamos errados em pensar isso. A internet se tornou um dos principais campos de disputa de afetos.
    O problema, contudo, vai se tornando mais complexo: pois rapidamente se torna um campo de ação política pautada pelo voluntarismo. E isso, em grande parte, é um sintoma do próprio território em que estamos.
    A arquitetura das redes sociais são criadas para nos fornecer uma experiência totalmente personalizada para os usuários. Cada um funciona como o centro de uma rede muito própria - não gosto da palavra bolhas - que interage com outras redes.
    A timeline não é neutra, a busca do google também não. Ela tende a te mostrar aquilo, conteúdos, previamente identificados como alinhados ao seu desejo. Tudo se passa como se estivéssemos continuamente navegando no "Recomendações para você" da Amazon.
    Um assunto pode colonizar a sua timeline e ser completamente ignorado na minha, basta um mísero detalhe. Por exemplo, ter silenciado/bloqueado uma @ particularmente relevante naquele assunto, uma tag, etc...
    Voltamos para o começo: é nesse cenário que concebemos a ação política. O famigerado Bannon e integrantes da Nova Direita rapidamente notaram padrões de engajamento nas redes e passaram a pautar sua atuação, estratégia, em cima disso.
    Por exemplo, desenvolvendo estratégias de comunicação ampla, capazes de atravessar múltiplos setores da sociedade - e assim atingir um perfil muito variado de usuários. Ao mesmo tempo em que insistiam em uma propaganda segmentada muito personalizada.
    No primeiro caso, desenvolvem estratégias, pautam o debate público de forma transversal, criando ações que sejam capazes de mobilizar até mesmo setores à esquerda. Seja por meio de seus microfascismos - por exemplo, mobilizando a esquerda punitivista -, seja ali onde se revoltam.
    O engajamento pelo ultraje faz parte da estratégia dos sujeitos. Um exemplo claro disso: a exaltação do Ustra pelo Bolsonaro durante o discurso do impeachment. Nos grupos de apoio já se especulava sobre uma ação do então deputado para ganhar os holofotes.
    Eu acompanho desde 2014 o crescimento do Ustra nas redes, via como essa figura deplorável era taticamente acionado nos grupos de discussão do whatsapp como uma forma de chamar a atenção e conseguir um engajamento das esquerdas e consolidar pessoas como "verdadeira oposição".
    A crença no "fazer algo" parte, justamente, dessa experiência colada nas redes. Percebemos o mundo como mediado pela experiência virtual, logo, lutamos ativamente contra a presença desses elementos que estão no nosso horizonte.
    Contudo, ai vem a perversidade do sistema - e onde entra a segunda tática da comunicação ampla. Quanto mais reagimos a algo, mais a arquitetura das redes entende que temos interesse nesse algo.
    Se reagimos aos conteúdos da direita, independente de ser de forma negativa, o algorítimo vai entender que temos interesse naquilo - e de fato temos, como um adicto. Vai passar a mostrar mais daquele conteúdo.
    Basicamente, quanto mais reclamamos de algo, mais aparece para a gente. E vamos adoecendo, nos revoltando, e mais vai aparecendo, formando um círculo eterno. Por isso tendemos a nos radicalizar nas redes (e não apenas no sentido "ideológico" da palavra).
    Mais uma vez, o outro lado soube se apropriar disso, o escândalo da Cambridge Analytica mostra como nossos perfis psicológicos foram utilizados para produzir uma campanha de comunicação ampla e ao mesmo tempo segmentada, baseada nessa experiência individual das redes.

    Assista/Leia:




    domingo, 20 de setembro de 2020

    Eleições à vista. O que esperar em matéria de boas noticias? Mandatos coletivos e APPs , por exemplo.


     A se confirmar o que publicou Breno Altman sobre recentes pesquisas eleitorais, a resistência contra o fascismo e a novidade que disso pode advir, vem/virá mesmo é da periferia. E mesmo nos grandes centros, é das periferias destes locais que também virá a resistência com novidade. Aliás, resistência para dar certo, só mesmo com novidade ou criatividade..

    O que Breno Altman publicou: 

    @brealt
    À luz das pesquisas, a esquerda tem boas chances de vitória, nas capitais, com Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém, Marília Arraes (PT) em Recife, Zé Ricardo (PT) em Manaus, Manuela Dávila (PCdoB) em Porto Alegre, Luizianne Lins (PT) em Fortaleza e Adriana Accorsi (PT) em Goiânia.
    4:00 PM · 19 de set de 2020·Twitter for iPhone

    Lembrando que, periferias não é apenas um lugar e em tempos de modernidade liquida, periferia pode se tornar simultaneamente centro, mesmo que provisório.

    Uma novidade que surge a partir das periferias, não apenas territoriais, como existenciais, são os mandatos coletivos..

    Outras novidades de outros tempos podem ser renovadas, ressignificadas, com "up grade". Assim penso ser o Orçamento Participativo, podendo incorporar APPs, nestes tempos de conectividade via internet. Como afirmou Boulos em uma entrevista para jovens nerds de direita...

    A utilizaçãó de APPs me parece também uma necessidade para mandatos coletivos, ou para quem se propor a ser menos personalista e/ou menos corporativo, mesmo se lançando de forma individual.

    Nesse sentido, há uma série de programas de uma produtora independente e que foram veículados pela Globo News, os quais apresentam várias iniciativas de utilização de aplicativos, não só em campanha, como na condução de mandatos.

    Dessa maneira, os mandatos que queiram inovar coletivamente, precisam compreender que o eleitor/ cidadão não quer apenar receber informações de como está procedendo o parlamentar, por melhor que seja a sua atuação. O eleitor/ cidadão que incidir mais sobre os mandatos, inclusive sendo ouvido no caso de votações.. 

    Assim também como quer sugerir leis, indicações, temas e pessoas para serem ouvidas em audiências públicas, quer sugerir serviços que o mandato pode prestar ou colaborar, direta e indiretamente. 

    Mas, é claro, me refiro aqui ao eleitor e cidadão... Cidadão não apenas do ponto de vista formal, mas de consciência e prática mesmo. Portanto, tudo que está escrito acima ainda não é para todos, Mas um mandato coletivo, mesmo eleito por menos pessoas, pode ajudar a preparar mais cidadãos e eleitores a favor de propostas de radicalização da democracia, o que não acontecerá com eleitores menos cidadãos ... E se a democracia não for radicalizada, será cada vez golpeada e reduzida, além do que está sendo.. 

    Informação importante, quem mais tem utilizado os APPs para aumentar a comunicação e a participação do eleitor na condução do mandato, são parlamentares jovens e ligados a centro-direita e à direita, mesmo que paradoxal.

    A série a que me referi no inicio desse texto.  Click em cima do titulo para saber mais....

    POLÍTICA: MODO DE USAR

    Zezito de Oliveira

    quarta-feira, 26 de agosto de 2020

    Para quem tem interesse em conhecer a proposta do Mandato Coletivo


    Sobre a dificuldade de uma amplo setor da esquerda em lidar com comunicação digital e redes sociais...

    quinta-feira, 17 de setembro de 2020

    Guarde bem essa data e horário, 23 de setembro (quarta-feira), 20 horas. LIVE ECONOMIA SOLIDÁRIA CONTRA A BARBÁRIE


    ´Newton Rodrigues,  de Santos SP,  um  dos convidados que irá nos explicar como isso é possivel, é um dos autores do texto abaixo e está presente em outros links e vídeos na sequência. 

    O outro convidado é Sidney Porto de Aracaju-SE.

    Eixo: Ação Local e Mobilização Social.


    O Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista (FESBS) publicou as suas propostas para candidatos às prefeituras e câmaras municipais da região https://folhasantista.com.br/noticias/ativismo/forum-de-economia-solidaria-da-baixada-santista-apresenta-propostas-a-candidatos-da-regiao/

    Posteriormente, alguns integrantes do FESBS publicaram um texto que também teve a intenção de orientar futuros governantes intitulado “Ativar Proximidades para Construir a Economia Solidária” https://folhasantista.com.br/noticias/ativismo/ativar-proximidades-para-construir-a-economia-solidaria/

    O presente texto apresenta mais uma contribuição composta de conceitos, exemplos e ensinamentos que podem ser mobilizados para se ter uma outra governança na Baixada Santista, fundamentada em políticas públicas de inclusão socioeconômica e redes de cooperação.

    A teoria econômica clássica, fundamentada no liberalismo, sustenta que o mercado deve ser autônomo, o mais descolado possível do entorno social, inclusive dos governos. Acredita-se que, dessa forma, se torna autorregulado e promove a felicidade e o bem-estar coletivos. Isso implica que os agentes engajados nesta forma de organização econômica busquem de forma racional, com base no utilitarismo e no individualismo, os melhores resultados.

    Com o advento do neoliberalismo, ou seja, a radicalização do liberalismo com a proposta de torná-lo uma forma de vida fundamentada na competição regida pelo mercado, atribuiu-se a denominação de Homo economicus ao ser humano que assume este comportamento. Economia e sociedade estariam distanciadas e as relações econômicas reduzidas ao toma lá dá cá dinheiro por serviços e produtos.

    Dessa forma, o encontro de dois Homo economicus para a realização de negócios em que cada um quer tirar o maior proveito possível da situação, seria o encontro de dois egoístas, pois não há qualquer característica de cooperação na fugaz relação estabelecida, evidenciando somente a competição. Será que esta forma de viver satisfaz os seres humanos e está de acordo com a sua história, necessidades e essência?

    No sistema econômico brasileiro não existe somente o princípio econômico fundamentado na maximização do lucro, como pleiteiam os neoliberais.

    Karl Polanyi, no seu clássico livro A Grande Transformação, publicado em 1944, explica que, além deste princípio, outros três integram o referido sistema. Há o princípio da redistribuição, no nosso caso representado pelo Estado, que recolhe impostos para redistribuir em forma de produtos e serviços; há o princípio do modelo familiar de gestão e o princípio da reciprocidade, integrado, principalmente, pelas associações e cooperativas. Observa-se que a reciprocidade também ocorre no seio de empreendimentos familiares, sendo resultado de proximidades entre parentes. É comum encontrar diferentes empreendimentos de gestão familiar que atuam de forma associativa para a compra de insumos ou comercialização, o que reforça as relações de reciprocidade. O apoio do poder público a esses empreendimentos e às iniciativas econômicas solidárias que desenvolvem, assim como a dos seus responsáveis com os consumidores fidelizados, reforçam as relações de reciprocidade.

    No Brasil, há um significativo número de trabalhadores desempregados, desalentados ou em atividades informais que, comumente, são realizadas por necessidade de sobreviver após serem dispensados pelas empresas. Este fenômeno não pode ser chamado de empreendedorismo, como afirmam os neoliberais, mas trata-se de fazer algo pela sua sobrevivência e da família e comumente de forma precarizada.

    O professor da Unicamp, Roberto Dagnino, afirma que 80 milhões de brasileiros não têm ou terão carteira assinada https://www.youtube.com/watch?v=MxuS7xxm49Y&t=95s

    Para agravar o quadro, as ações governamentais dos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, que desregulamentaram as relações trabalhistas, provocaram perdas consideráveis para os trabalhadores.

    No entanto, evidencia-se ainda a necessidade de os brasileiros, de forma geral, terem vínculo empregatício. Há uma educação, formal e informal, para se ter estabilidade e/ou competir no mercado para se ter salário pago por uma empresa ou pelo Estado. Este sonho ainda perdura, apesar da sombria situação, com aumento do desemprego que se acentuou com o afastamento social provocado pela pandemia do coronavírus.

    Além disso, na reunião ministerial de 22/04/2020 o ministro da economia, Paulo Guedes, declarou que o governo federal deve disponibilizar recursos somente para grandes empresas, que este é o único caminho para o desenvolvimento.

    Obviamente que esta opção ignora completamente a pluralidade da economia e traz a seguinte questão: quais valores são criados e quem se apropria dos resultados de uma política como esta? Certamente este modelo apoia-se na competição e na concentração de riquezas, provocando o aumento da pobreza.

    Outra questão que emerge: quais consequências terão para os empreendimentos de gestão familiar, as associações e cooperativas populares? Estes segmentos necessitam de financiamento, formação continuada e apoio na comercialização para que haja geração de trabalho e renda e promoção do desenvolvimento local.

    Políticas públicas

    As necessidades da população por saúde, educação, assistência social e oportunidades de trabalho são comumente canalizadas para as prefeituras, em alguns casos para os governos estaduais e raramente para o governo federal. É na cidade, nos bairros, onde a vida acontece. Dessa forma, as políticas públicas municipais de apoio e fortalecimento dos modelos de gestão familiar e associativo/cooperativo são de fundamental importância.

    O termo Políticas públicas se refere a um conjunto de decisões formalizadas sobre um assunto de interesse coletivo, que é considerado importante e prioritário para o desenvolvimento social. É a expressão formalizada de diversos interesses processados.

    As políticas públicas emanam do poder público que as formaliza, legitima e controla. Uma política pública é constituída por uma totalidade de medidas concretas que se inscreve em um quadro geral de ação, o que permite distingui-la de uma ação isolada.

    Assim, a política pública tem um público definido, isto é, grupos ou organizações cuja situação é afetada pelas ações, que obrigatoriamente têm objetivos a alcançar. Dessa forma, as políticas públicas de apoio e fortalecimento da economia solidária (EcoSol) devem ser direcionadas para as populações pobres.

    A EcoSol é definida como uma forma de organização econômica que se fundamenta nas associações, cooperativas e grupos informais que se dedicam a produzir, comercializar, poupar, consumir, prestar serviços.

    Historicamente, em momentos de crise do modelo “emprego – salário”, a economia solidária tende a se expandir por se fundamentar no modelo “trabalho – renda”.

    O fortalecimento dos empreendimentos econômicos solidários e daqueles de gestão familiar contribui para a democratização da economia, criando oportunidades para pessoas que não encontraram emprego, mesmo com suas competências e talentos. Afinal, reduzir custos por meio da liberação de mão de obra é uma lógica das empresas privadas, inclusive com a adoção de novas tecnologias.

    Capital social, capital cultural e capital econômico

    A dinâmica organizacional das comunidades é determinante para que resultados positivos sejam obtidos na execução das políticas públicas, principalmente de EcoSol, considerando seus princípios, como democracia, solidariedade, autogestão e transparência.

    Exige-se, portanto, o apoio governamental e não a apropriação política dos grupos de EcoSol, como se fossem obra do governo. Para evitar esse tipo de desvio e potencializar os impactos positivos das políticas públicas, há somente um caminho: a existência ou a construção de capital social nas comunidades.

    Os resultados positivos da interação entre políticas públicas e organização social como fator de desenvolvimento socioeconômico foram apontados, pela primeira vez, pelo francês Alexis de Tocqueville no livro A Democracia na América. Esta obra é resultado de uma viagem de estudos do autor aos EUA na década de 1830, quando registrou este fenômeno.

    Em 1961, Jane Jacobs utilizou, pela primeira vez, a expressão capital social no sentido de se referir a redes de colaboração territoriais no artigo intitulado A Morte e a Vida nas Grandes Cidades Americanas.

    No entanto, somente a partir de 1980 o termo capital social se expandiu entre acadêmicos e gestores públicos devido à publicação do texto intitulado O Capital Social. Notas Provisórias, pelo filósofo e sociólogo francês Pierre Bourdieu, que o conceitua como “a totalidade de recursos existentes ou potenciais que estão vinculados a uma rede permanente e útil de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e interreconhecimento entre os atores integrantes da rede”.

    Estes dois aspectos, interconhecimento e interreconhecimento, apontados pelo autor, são de fundamental importância, pois ativam as proximidades geográfica, econômica e social fundadas em trocas materiais e simbólicas e facilitam a construção de redes de colaboração territoriais.

    Para Pierre Bourdieu, a capacidade de uma pessoa agir na sua comunidade em favor de projetos coletivos depende do volume do capital social que esta pessoa possui, o que depende da extensão das relações que ela mobiliza dentro e fora do local onde atua.

    Assim, os resultados da ação de um grupo estão relacionados com a solidariedade assimilada como reciprocidade e não caridade no seio da comunidade e em suas relações estabelecidas com apoiadores externos.

    Ainda analisando indivíduos e suas relações em redes de colaboração, Bourdieu define um outro fator importante, o capital cultural, de constituição individual, mas que impacta o volume de capital social de um coletivo.

    A origem do conceito de capital cultural está no estudo da desigualdade como fator que influencia positiva ou negativamente o sucesso escolar.

    O autor nomeia como capital cultural o repertório herdado da família, de forma indireta, que compreende desde o vocabulário ao conhecimento artístico e cultural, tendo uma relação direta com a classe social de origem. É um “ter” que se torna “ser”, segundo Bourdieu, e que é cultivado de acordo com a renda familiar, que possibilita adquirir bens materiais como livros, ou promover experiências como ir a museus e ao teatro, o que interfere no desempenho do estudante.

    A escola, como instituição, tende a conservar a classe social de origem, ou seja, não consegue proporcionar o enriquecimento do capital cultural em medida suficiente para transformar o cenário social de desigualdade, o que amplia a importância dos grupos que atuam em outros coletivos sociais.

    Atuar de forma coletiva toma grande importância em comunidades em que o capital econômico é baixo. Unir forças, talentos e ativar as proximidades geográfica e organizacional para a geração de trabalho e renda é uma forma de construir uma outra realidade econômica, fundamentada na criação e ampliação do capital social e promoção de interação de saberes, o que também promove o enriquecimento do capital cultural.

    Posteriormente à constatação de Tocqueville, à citação de Jacobs, e à conceituação de Bourdieu, o norte-americano Robert Putnam e colaboradores estudaram, entre os anos de 1970 e 1990, os efeitos de uma reforma administrativa na Itália que descentralizou as decisões governamentais.

    A sua conclusão foi de que nas regiões onde havia maior capital social obteve-se melhores resultados socioeconômicos. Enquanto aquelas com baixo estoque de capital social, inclusive dominadas pela máfia que intimidam e inibem as relações de proximidade entre moradores, tiveram um desempenho ruim.

    O resultado deste estudo consta no livro Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna, onde Putnam faz referência a capital social como “as características de organização social tais como as redes, as regras e ao mesmo tempo a ação coletiva fundamentadas na confiança, que facilitam a coordenação e a cooperação para o bem de todos, ou seja, para aumentar a eficiência da sociedade”.

    Após estudar a Itália, o mesmo autor realiza uma pesquisa em que aborda o capital social existente nos EUA entre as décadas de 1950 e 1990 e conclui que há perdas na dinâmica social na sociedade norte-americana, devido a fatores como aumento do individualismo, competição e isolamento com a adoção de tecnologias modernas, havendo queda de participação nos sindicatos e associações.

    O seu artigo foi publicado em 1995 com o título Jogando boliche sozinho: o declínio do capital social nos EUA. Para o autor, os norte-americanos continuavam a jogar boliche, a atividade até mesmo aumentou, mas não mais em grupos, quando podiam conversar, conviver e se apoiar mutuamente. Atualmente, jogam sozinhos.

    Com base nesses estudos, fica evidente que o desenvolvimento socioeconômico está associado à interação entre políticas públicas e capital social. A ausência de um desses fatores, pode provocar pobreza, violência e exclusão cultural e socioeconômica.

    Assim, serão apresentados dois casos. O primeiro, referente ao México 70, bairro popular de São Vicente/SP. Apesar das relações de confiança, solidariedade em forma de reciprocidade e engajamento cívico da população, não há, ainda, uma política pública de apoio e desenvolvimento da economia solidária.

    Assim, há iniciativas econômicas solidárias que estão na informalidade e se desenvolvem no seio da Associação Comunitária Flor do México e contam somente com o esforço dos moradores que objetivam a sobrevivência.

    O segundo caso refere-se aos bairros Cota, de Cubatão/SP. Trata-se de uma abordagem histórica sobre os efeitos de uma política pública que, com base em uma série de intervenções, possibilitou a criação de capital social com engajamento cívico dos moradores e estabelecimento de confiança, que resultou no surgimento de seis empreendimentos econômicos solidários.

    O caso do bairro México 70 de São Vicente

    O México 70 é habitado por 28 mil pessoas notadamente de baixa renda e se situa na periferia do município de São Vicente. Parte do bairro é formado por palafitas. A criação do capital social desta comunidade teve início em 2004, com a realização de reuniões de mães em uma creche.

    Apesar das dificuldades financeiras que enfrentavam, passaram a contribuir semanalmente para a compra de frutas, legumes e verduras que não eram fornecidos pela prefeitura, responsável pela gestão do equipamento. Além disso, debatiam os problemas enfrentados pelas crianças no cotidiano.

    Em 2006, mães de outra creche do mesmo bairro adotaram o mesmo procedimento. No entanto, mais um problema surgiu nos dois equipamentos da prefeitura: a falta de material de limpeza. A mesma mãe que propôs as reuniões e apoio coletivo para reforçar a alimentação das crianças na primeira creche, articulou a coleta de óleo de cozinha usado pelas famílias para troca por materiais de limpeza com um comerciante. Esta iniciativa foi denominada “Compromisso com o Futuro” e envolveu 75 famílias vinculadas às creches.

    Posteriormente, se expandiu por estabelecimentos comerciais e outras famílias do bairro. O excedente do valor correspondente às necessidades de materiais de limpeza das creches passou a ser utilizado nos custos da organização de outro projeto denominado “Ação Compartilhada com a Comunidade”.

    Este projeto consiste em realizar com as mães, crianças e adolescentes do bairro festas em datas comemorativas para proporcionar lazer devido à carência de atividades esportivas e culturais.

    Criou-se as funções do multiplicador e do monitor, que são assumidas por crianças e adolescentes na faixa etária entre 10 e 15 anos. As funções são orientar filas, cuidar das crianças menores, organizar a utilização dos brinquedos e outras atividades. Ao final, participam das reuniões de avaliação.

    A organização das mães e as festas são o núcleo da criação das relações de confiança e de envolvimento cívico da comunidade, ou seja, do capital social. Além disso, há uma ampliação da rede com o apoio de um assistente social, gestor em economia solidária, que anima as rodas de conversa e professores da escola.

    Em 2010 foi criada a Associação Comunitária Flor do México, que passou a ser a referência da dinâmica das ações e dos projetos já criados. A presidente da entidade é a mãe que mobilizou o apoio às creches, que propôs os projetos “Compromisso com o Futuro” e “Ação Compartilhada com a Comunidade”.

    Esse fato evidencia a necessidade de haver atores sociais que coloquem as pessoas em relação de acordo com a criação de um quadro de interesse comum para que se construam as redes sociotécnicas que viabilizam os projetos. Afinal, como afirmam os sociólogos da inovação Bruno Latour e Michel Callon, nenhuma ideia nasce boa ou se viabiliza sem que uma rede de atores sociais a porte.

    No entanto, a participação do poder público nesta dinâmica foi pontual, como um curso realizado 2013, no âmbito da Agenda 21 da Petrobras. O objetivo era formar 32 gestores sociais, mas o interesse na comunidade foi grande e participaram 125 pessoas. Foram utilizadas duas salas cedidas pela prefeitura.

    Além disso, fizeram um curso no Sesc de horta comunitária também pela Agenda 21 e tiveram assistência técnica em horticultura de um técnico da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). Por fim, ganharam quatro máquinas de costura do Fundo Social do Estado de São Paulo, que não são utilizadas por falta de local para funcionamento.

    A falta de interesse do poder público em se inserir na rede dos moradores e fortalecê-la torna-se evidente, quando se considera o fato de que em 2004 o governo estadual construiu um prédio com algumas salas na comunidade, que é utilizado eventualmente e não o cede para que seja um centro de referência de economia solidária, inclusive para abrigar as costureiras.

    Apesar dessa postura do poder público, a mobilização social e o apoio dos moradores aos empreendimentos de gestão familiar que ofertam alimentos preparados também é um componente determinante na ativação das proximidades geográfica e organizacional para a construção da economia solidária no bairro. Há uma interação de apoios entre estes empreendimentos e grupos locais de mulheres, fundamentada na troca de saberes, trabalho e produtos.

    Em 2020 foi criada a Comunidade Empreendedora da Economia Solidária (Coempes). Havia a necessidade das jovens do bairro que estavam desempregadas se associarem para gerar trabalho e renda. Foi decidido organizar um grupo para prestar serviços em festas e outros eventos. Cada integrante tem uma habilidade ou mais, como fazer doces, decoração, alimentos salgados ou trabalhar como garçonete.

    Houve uma união de talentos. Trata-se de um grupo que trabalha somente no seio da comunidade. Ainda não atua em outros bairros por não ter como fazer o transporte de alimentos e materiais. Para superar a falta de equipamentos de conservação, uma integrante centraliza as comidas em casa por ter geladeira e freezer. O valor total arrecadado em cada evento é dividido de acordo com as regras estabelecidas pelo grupo, que é composto por 20 pessoas.

    Além disso, a comunidade do bairro México 70 tinha uma horta que envolvia 20 pessoas e se encontra em fase de reconstrução, devido a uma reforma na escola que a abriga.

    Considerando todas as práticas comunitárias do México 70, atualmente há cerca de 400 famílias envolvidas. Estas experiências nos mostram que o capital social da comunidade foi criado a partir de um grupo de mulheres que fundou e mantém as iniciativas econômicas solidárias.

    Há a evidência da atuação de uma mulher, mãe, para criar a rede sociotécnica que viabiliza as ações coletivas. No entanto, é notória a ausência do poder público no seio da rede para que os trabalhos realizados não experienciem a precarização, como atualmente ocorre, apesar da presença do vínculo estabelecido em relações de dar – receber – retribuir entre os moradores.

    Essas trocas instituíram o interconhecimento e o interreconhecimento constituintes do capital social, mas seu fortalecimento requer um mínimo de homogeneidade dos indivíduos e dos elementos que o constituem, inclusive o capital cultural e o econômico, o que demanda a ação institucional do poder público. Ressalta-se, porém, que a ausência de políticas públicas também é uma política pública.

    Em 2019, foi aprovada na Câmara Municipal de São Vicente e sancionada pelo prefeito, a legislação que fundamentará as políticas públicas de economia solidária no município que, consiste, fundamentalmente, na criação de um centro de referência, do fundo de financiamento e custeio de atividades de apoio ao fortalecimento da EcoSol e a empreendimentos econômicos solidários, assim como de um conselho.

    O resultado das ações com fundamentação no capital social criado pelo bairro do México 70, deve ser a porta de entrada dessa política, que somente será exitosa se for participativa e respeitar a lógica dos moradores e não a de governantes ou a de gestores de EcoSol.

    O caso dos bairros Cota de Cubatão

    Em 1939, foi iniciada a construção da Rodovia Anchieta, que liga a cidade de São Paulo à Baixada Santista, trouxe moradores de diversas partes do país, dando origem aos Bairros Cota: Cota 95/100, Cota 200, e Cota 400/500.

    Estas denominações referem-se ao nível em que se encontram em relação ao mar. Outros fatores, como a construção da rodovia dos Imigrantes a partir de 1976, contribuíram para trazer novos moradores à região. Na crise dos anos 1980, a ocupação se intensificou e provocou impactos sociais e ambientais. A história da ocupação destas áreas pode ser conhecida com mais detalhes ao acessar o link https://youtu.be/wB-alXUJQX8.

    Em 2007, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos moradores deste território e promover preservação ambiental, uma ação do governo do estado de São Paulo, Secretarias de Habitação e Meio Ambiente, que contou com investimentos do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, deu início ao Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar, operacionalizado pela CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo.

    A intervenção compreendeu o atendimento a 7.265 famílias, sendo que cerca de 4.500 foram deslocadas para novas unidades habitacionais em outros bairros da Baixada Santista e o restante permaneceram nas áreas urbanizadas.

    No entanto, os trabalhos desenvolvidos não se limitaram a intervenções no campo da engenharia civil. O maior desafio era transformar uma ação governamental vertical descendente em um projeto participativo em que os resultados fossem consequência de um processo pautado pela concertação, ou seja, pelo entendimento de todos os envolvidos quanto à necessidade das intervenções e que os projetos a serem desenvolvidos para as famílias que continuassem no território fossem pertinentes e conciliassem trabalho, geração de renda e valorização do meio ambiente.

    Tratava-se de estimular a criação do capital social, por meio do engajamento cívico e estabelecimento de relações de confiança entre os integrantes da comunidade e destes com os técnicos, por meio de uma política pública. Havia famílias em áreas de risco que tiveram que ser transferidas para os apartamentos construídos pela CDHU, outras optaram pela transferência.

    Assim, com as famílias que permaneceram no bairro definiu-se um conjunto de ações. Em um dos eixos do trabalho técnico social realizado concentravam-se as atividades de estímulo à participação, organização comunitária e debates sobre as possibilidades de implementação de projetos de desenvolvimento local.

    O início dos trabalhos coletivos se deu com a realização de um curso de formação de agentes comunitários. Assim, começou a construção da interlocução entre gestores e comunidade com a problematização de temas como urbanização e protagonismo comunitário; memória, cidadania e comunicação comunitária; projetos de organização comunitária e desenvolvimento local e recuperação urbana.

    Os agentes comunitários, representantes legitimados pela população por meio do Núcleo Operacional de Urbanização (NOU), órgão que tem a participação de gestores e representantes dos moradores, informam-se, discutem e acompanham os projetos executivos e as obras de urbanização, como: construção de muros de arrimo, escadarias, pavimentação de ruas etc.

    Durante o curso de agentes comunitários, a partir da identificação das potencialidades e demandas sociais locais, originaram os denominados projetos sociais nos bairros Cota, que são iniciativas econômicas solidárias.

    O projeto Comcom se volta à produção e gestão da informação comunitária, por meio de um jornal e uma rádio transmitida pela internet, divulgação da intervenção e dos projetos sociais e formação de moradores para operacionalização de equipamentos como filmadoras, máquinas fotográficas e mesmo o uso do smartphone, com o objetivo de difundir ideias e projetos locais nas redes sociais.

    Além disso, produziram cartões postais com motivos do bairro. O Ateliê Arte nas Cotas, com a arte e educação promove a transformação do bairro urbanizado colorindo as fachadas das casas, dos muros e praças além promover geração renda a partir da arte produzida pelos moradores e aplicadas em produtos de papelaria, vestuário e artigos para casa. Há uma semelhança entre os desenhos dos muros e materiais produzidos, o que provoca um sentimento de pertencimento.

    O Núcleo de Economia Solidária e Desenvolvimento Local (NESDEL) estimula a geração de renda por meio da valorização dos saberes. Este projeto foi materializado com a construção de uma cozinha, Sabores da Serra, administrada por um grupo de mulheres do bairro, que desenvolve iguarias com produtos locais.

    O Cota Viva e o Varre Vila são projetos voltados à educação e preservação ambiental, inclusive com a construção de estufa para produção e comercialização de mudas.

    Cada um desses projetos configura redes sociotécnicas que permitiram aos moradores o abandono de suas lógicas de vida individuais para se lançarem na construção coletiva.

    Assim, por meio de uma política pública estimulou-se a criação do capital social e as pessoas se associaram conciliando a organização social com a economia e o ambiente. Destaca-se em todo o processo a atuação dos gestores da CDHU como os principais atores sociais que colocaram os moradores em relação, assim como com outros técnicos, para a construção de cada rede.

    Com a urbanização em fase de finalização percebeu-se a vocação da comunidade para o Turismo de Base Comunitária, pois o local passou a despertar o interesse de diversos visitantes por suas belezas naturais, por seu valor histórico e pelos trabalhos desenvolvidos pelos moradores nos projetos sociais.

    Assim, em 2015, por meio de uma parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp/São Vicente/SP), diversas ações de formação foram realizadas para estruturar o Turismo de Base Comunitária. Dessa forma, surgiu o Tur na Serra que representa a junção dos denominados projetos sociais, ou seja, das iniciativas econômicas solidárias.

    As alianças estabelecidas pelos moradores com a universidade, a participação em cursos e palestras no Sesc de Santos, assim como a presença na feira de trocas organizada com aqueles eventos, e as palestras de integrantes do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista na sede do Ateliê, ampliaram a aprendizagem e o capital social do grupo.

    Na rádio, os parceiros foram e são entrevistados pelos integrantes do projeto Comcom. Em 2019, participaram 2.012 visitantes do Turismo de Base Comunitária conhecendo aspectos históricos do bairro e os seis empreendimentos econômicos solidários.

    Em 2019, depois de um processo de discussões e de formações, os integrantes dos projetos se uniram e criaram a Imaginacom, OSCIP que abriga as 36 famílias das iniciativas econômicas solidárias.

    É importante ressaltar que em projetos de economia solidária há pessoas que participam e não se adaptam integralmente ao trabalho coletivo e outras que vão morar em outro local. No entanto, todas levam consigo os princípios e valores da EcoSol e os reproduzem de alguma forma em outras atividades e novos locais de moradia. Assim, os projetos também funcionam como espaços de educação não formal de construção da democracia.

    Alguns fatores contribuíram de forma decisiva para as transformações observadas durante o processo de urbanização. Os princípios da EcoSol pautaram a organização interna e a relação entre os projetos. A solidariedade, cooperação, autogestão e participação democrática fundamentam as ações.

    Além disso, o resgate histórico, a valorização da memória coletiva e dos saberes locais aumentaram a autoestima e fortaleceram os vínculos e a identidade comunitária. O que se percebe como resultado de um processo alicerçado na promoção da organização comunitária é a crescente autogestão dos projetos e, de forma geral, a emancipação das pessoas com aumento do capital cultural de cada um nas interações coletivas. Há, ainda, o fortalecimento do sentimento pertencimento que muda a relação com o bairro e com o município, fomentando o desenvolvimento local.   

    A experiência dos bairros Cota foi executada pelo governo estadual e é concentrada em um território da cidade de Cubatão. Apesar de receber visitantes de diferentes regiões, não existe uma política pública municipal de apoio e fortalecimento da economia solidária.

    Ensinamentos

    Os dois casos abordados nos permitem tirar alguns ensinamentos:

    – A economia solidária é uma forma de organização econômica que gera trabalho e renda e pode ser uma estratégia de desenvolvimento socioeconômico para a Baixada Santista, com apoio de políticas públicas para o fortalecimento dos empreendimentos econômicos solidários formalizados, como associações e cooperativas, assim como os informais.

    – O apoio governamental aos empreendimentos de gestão familiar também é de grande importância em um quadro econômico de desemprego crescente. Pode-se dar apoio para que passem a atuar de forma coletiva para a compra de insumos, comercialização, formação para a gestão, enfim, para que resolvam os seus problemas de forma conjunta, migrando para a economia solidária.

    – As políticas públicas são de fundamental importância para o fortalecimento da economia solidária. É necessário que haja uma legislação municipal elaborada de forma participativa para respaldar as políticas. Alguns aspectos são indispensáveis, como financiamento para investimento e custeio dos empreendimentos. Afinal, nenhuma inovação social é adotada sem recursos. Além disso, deve-se ter um centro de referência com profissionais de apoio que sejam capazes de promover a construção de redes sociotécnicas e uma programação de formação continuada que contemple aspectos técnicos e do cooperativismo.

    – Não cabe aos governos municipais se apropriarem dos projetos de EcoSol como se fossem obra governamental ou haver a atuação de gestores públicos que se sentem verdadeiros donos dos projetos e agem como se fossem patrões, reproduzindo as relações do sistema capitalista e impedindo a autogestão dos empreendimentos e a emancipação das pessoas.

    – O poder público deve atuar onde já existe capital social construído ou agir para construí-lo com projetos pertinentes, ou seja, que sejam efetivamente participativos e tenham a ver com a realidade e necessidades dos moradores.

    – A existência do capital social em determinada comunidade, ou seja, a capacidade de os moradores resolverem os seus problemas coletivamente, não dispensa as políticas públicas de apoio e fortalecimento da economia solidária, sob pena de os empreendimentos econômicos solidários estarem mais próximos do processo de precarização.

    *Newton José Rodrigues da Silva, Francisca Eliene da Silva, Susana Santos e Alcielle dos Santos são integrantes do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista