terça-feira, 30 de junho de 2020

Mais um artista sergipano, querido e talentoso se foi, Edgar do Acordeon.

Zezito de Oliveira
E a memória, o legado, o exemplo. O que fica para as novas gerações?
O que faz os departamentos de história da UFS, UNIT? Os departamentos de memória ou de preservação do patrimônio imaterial da Funcaju e da SEDUC? E o acervo da Rádio e Televisão Aperipe? Como falar em Sergipanidade sem cuidar da memória, em termos de pesquisa, registro e difusão? Afinal, custa muito investir em termos financeiros? E as oportunidades que as novas tecnologias oferecem?
Publicado no facebook em 30/06/2020
Paulo Corrêa
Como costuma dizer o nosso Sr. Brasil, Rolando Boldrin, quando somos surpreendidos pela partida prematura de alguém muito especial, "Ele partiu fora do combinado", ou como dizia Guimarães Rosa, "Ele se encantou", foi assim com o nosso querido Edgard do Acordeon, que muito além de um talentoso compositor e forrozeiro, era um ser humano admirável, na mais completa definição da palavra, e por ser assim, construiu ao longo da sua vida uma legião de grandes amigos e uma linda família.
Mas deixa um legado excepcional da sua obra registrada nas suas composições em LP's e CD's e o exemplo de pessoa que sintetizava, humildade, simplicidade, honestidade, caráter, responsabilidade, talento e amizade.

Por tudo isso, nosso querido Edgard, não morreu, encantou-se.

Publicado no facebook em 30/06/2020
Edgard do Acordeon:49 anos de carreira

A 11ª live de quinta da Ação Cultural, 02 de julho, a partir das 20 horas, tratará do Fórum do Forró e do artista plástico Félix Mendes..


Com base no eixo alma sergipana, alma nordestina,  trará como tema .” “O São João autêntico resiste em Sergipe com o fórum do forró e com a obra do artista e agente cultural Félix Mendes.” 


Contaremos com a participação de  Paulo Correa, pesquisador, produtor cultural e radialista e Wendel SalvadorLicenciado em Artes Visuais/UFS, professor de Artes e artista visual.


A live será realizada através da página da Açao Cultural no facebook.






Para saber mais: 


segunda-feira, 29 de junho de 2020

As lives da Ação Cultural apresentando saídas para essa encruzilhada braba que nos meteram.





Duas lives  com temática “festejos juninos” realizadas com tema e convidados especiais. E ainda temos a terceira, a ser realizada nessa  próxima quinta-feira, 2 de julho, às 20 horas, e com base na mesma temática.
Nessa terceira live temática,  contaremos com  dois  importantes pesquisadores sergipanos do campo da cultura popular. Paulo Correa que é também radialista e produtor cultural,  e Wendel  Salvador,  professor da rede pública de ensino e mestrando de culturas populares na  UFS
Em 2 de  agosto, voltaremos ao tema, por ocasião da lembrança da data de falecimento do saudoso Gonzagão.
Também registramos e agradecemos a participação de muita gente nos comentários , gente   especial  também.
E por último, um questionamento e algumas conclusões..
1 – Os mega arraiais, como  Forrocaju,  esvaziaram os arraiais de bairro, embora estes já estivessem em franca decadência no inicio dos anos 2000,  por conta da politicagem que começou a dominar estes espacos. Se bem que não tivessem  como escapar disso,  em razão da quase total dependência das prefeituras, governo do estado e de alguns parlamentares para a instalação e manutenção dos arraiais de bairro.
 Porém o Forrocaju com as características de evento de massa, destrói os aspectos sociais, comunitários e culturais que formam a base da forte sociabilidade proporcionada pelo São João Antigo. Estes mega eventos de São João acabam por fazer parte de um ciclo incessante de grande festas, onde se misturam uma série de ritmos e artistas de diferentes estações e estilos musicais, o que levou a emissora que retransmite a programação  da Rede Globo na Bahia, agora em 2020, apresentar um artista de pagode para representar o  estado na live de São João do pool de emissoras  Globo Nordeste.
Dois questionamentos que podem ser objetos de pesquisa, caso já tenham sidos, podem ser disponibilizados para conhecimento.
1-      Em que grau ou dimensão, em comparação com Aracaju,  acontece em outras praças nordestinas, o esvaziamento do São João das comunidades , tanto nas grandes cidades, como nas cidades do interior, por conta dos mega arraiais?
2-      Os novos formatos de organização dos festejos juninos também criam outras formas de sociabilidade, como bem  descrito na canção “O atirador e a pegadora” do mestre Gilberto Gil. Que novas formas de sociabilidade são estas  e que impactos  tem na convivência coletiva, na consciência do valor cultural dos festejos juninos, nas escolhas estéticas e politicas de seus frequentadores mais constantes, na formação do ethos pessoal e coletivo, na visão de pertencimento social e cultural, na auto estima  e etc.?
Algumas conclusões:
As escolas precisam incorporar o eixo cultura popular  como componente estruturante das suas  ações pedagógicas e de sociabilidade,   tanto dentro como fora da sala de aula.  Mas isso de forma critica e criativa, questionando os valores e padrões da indústria cultural, e não incorporando  de forma acrítica como acontece muitas vezes.

E para isso, é fundamental politicas públicas que proporcionem  formação permanente em cultura popular  para os  professores da educação básica . E por que não dizer, dos professores do ensino superior também, já que estes são formadores dos professores da educação básica.
É preciso que haja financiamento público , incluindo com a participação da iniciativa privada via  Lei Roaunet, afim de proporcionar recursos financeiros, materiais e humanos, nesse caso principalmente  mestres da cultura popular, artistas,  arte-educadores e animadores culturais, afim de apoiar projetos pedagógicos e culturais  nas escolas, cujo eixo estruturante seja cultura popular.
É preciso reunir as pessoas que tem experiência  comprovada em  iniciativas de ações pedagógicas e culturais com base no eixo cultura popular, que trabalham em diversos espaços culturais e educativos afim de socializar experiências bem sucedidas.
Um  fórum democrático onde professores mestres da cultura popular, professores da educação básica, arte educadores e agentes/animadores culturais, possam falar com o mesmo tempo e condições dos  pesquisadores do tema cultura popular que atuam no ensino superior.
Diversos espaços de discussão sobre cultura popular aqui em Sergipe, não atentaram muito para o que estamos propondo acima, e já disse pessoalmente para seus  organizadores, tanto presencialmente, como pelas redes sociais. Se Deus nos ouve, que ouçam também, enquanto a vaca não for toda para o brejo e ficar toda atoladinha, sem poder sair mais...
E por último, além de cobrar dos poderes públicos e das instituições precisamos fazer a nossa parte, ouvir boa música,  ler mais sobre cultura popular, frequentar  mais os espaços que preservem a cultura popular ou que discutam sobre a mesma, aqui vale para os espaços físicos, assim como lives. 
Quem tiver crianças em casa então... A responsabilidade é dobrada!!
Mais na frente,  traremos textos para provocar/instigar o debate, com base nas outras lives que realizamos.  As opiniões externadas pelos que assistiram as nossas lives também serão objetos de vários textos. Mas tudo com o tempo...
O importante para nós,  que os temas heterodoxos de nossas lives e os convidados pouco comuns,  possam inspirar outras ações no campo das politicas públicas e de ações no campo da  comunicação e da educação..
Já temos nos acompanhando com muito apuro e atenção,  uma pré candidata a vereadora,  e dois de nossos participantes  foram convidados para participar de programa de rádio e de uma outra live com o mesmo tema.
As  lives da Ação Cultural  também estão proporcionando a divulgação e comercialização de livros escritos por nossos convidados, assim como  divulgação de trabalhos acadêmicos , livros, documentários, canções e etc., apresentados pelos convidados  nas lives, além das sugestões que fazemos. 
Gratidão a todxs que estão colaborando para o sucesso das lives da Ação Cultural.
Assim também colaboramos para fazer um país. Abrindo os braços, as nossas mentes e os nossos corações para o melhor que herdamos de nossos antepassados,  e que serve como base de criação e de invenção para quem está presente no mundo atualmente. Aqui lembrando bela canção gravada por Marina Lima.
Porque o valor que damos a preservação da cultura popular é bem por isso, por ser fonte de inspiração para novas criações, para novas invenções.  Mas sem deixar de fazer a necessária  salvaguarda daquilo que recebemos de nossos antepassados.

.Viva São João! Viva São Pedro! Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!!!

Leia também:

SESC

A cultura é a saída

por Danilo Miranda
4 de junho de 2008


A Cultura como saída para a crise


sábado, 27 de junho de 2020

40 anos de ‘Refavela’


Rian Santos

Um quarentão com tudo em cima. ‘Refavela’ (1978), o disco mais precioso já gravado pelo baiano Gilberto Gil, varou quatro décadas sem perder o vigor. Hoje, o esforço de aproximação com as periferias globais talvez não impressione o ouvinte menos atento, alheio ao contexto de então. Lá atrás, antes de a fusão virar regra, no entanto, a pegada do terceiro mundo não havia ainda sido assimilada pela indústria fonográfica. Gil foi pioneiro, um desbravador.

Basta dar uma olhada nos principais discos lançados no mesmo ano. Em 1978, as fronteiras musicais estavam perfeitamente delimitadas, numa espécie de geografia política sensível. Punk Rock de um lado, Disco Music do outro. O reggae era um produto tão exótico quanto puro. A ousadia de Gil consistiu justamente em dar de ombros para a rigidez dos gêneros estabelecidos e se dispor ao encontro de sonoridades irmãs. Brasil, África, Jamaica e Caribe foram finalmente compreendidos como territórios afetivos, onde o ritmo manda e só o coração fala alto.

Para além de sua formalidade revolucionária, de um rock soando a baião, ‘Refavela’ antecipa também um discurso e um lirismo que só floresceria plenamente agora, quando as questões de pele, a negritude orgulhosa e a buscar por raízes ancestrais são exploradas a torto e direito, em militância raivosa, produtos cosméticos e até programas de televisão. Ao contrário das palavras odiosas despejadas sob o pretexto do engajamento hodierno, no entanto, Gil é um poeta sintonizado com as vibrações positivas do universo. Mesmo quando pega pesado, aguerrido, ele jamais perde a ternura.

Com ‘Refavela’, Gil anunciou uma ‘Era nova’, para evocar o título de uma faixa presente no próprio disco. A promessa ali realizada em forma de música, contudo, não foi ainda cumprida. O otimismo da própria descoberta, um continente místico de tambores e sonoridades outras, degenerou em desencanto. Em entrevista concedida ao jornal El País, há dois anos, o músico, confessou certo cansaço. Mas não desistiu de cantar a mesma verdade, urgente: O melhor lugar do mundo é sempre aqui e agora.


GILBERTO GIL RECUPERA A NOSSA ESPERANÇA


Live histórica do artista resgata a memória da potência criativa desse país

sexta-feira, 26 de junho de 2020

10ª Live da Ação Cultural "Memórias afetivas e culturais dos festejos juninos." com a participação do Professor José Paulino.


"Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias."Eduardo Galeano


ARTE - MAXIVEL FERREIRA



Saudade de um tempo bom de São João eternizado em poemas, canções, romances, pinturas, filmes  e nas  memórias de pessoas idosas, mesmo que no  caso de alguns,  vivenciado   por um certo período, em especial por causa da migração para cidades das grandes metrópoles. O que é o caso do Gonzagão e da maioria dos   parceiros artisticos  que foram residir no Rio de Janeiro ou em São Paulo, assim como milhões de nordestinos que saíram de seu torrão natal  em busca de melhores condições de vida.

E, um tempo bom de São João cada vez mais distante para quem nasceu no século XXI. Ou será que sempre é tempo bom para quem está disposto a viver o melhor que o presente lhe oferece?  

Seguindo o recomendado pelo livro do Eclesiastes no capitulo 5, versículo 17 "Concluí que a felicidade para o  homem é comer e beber, usufruindo de todo o trabalho que ele realiza debaixo do sol, durante os dias de vida que Deus lhe concede."

 E como diz o comentário da bíblia pastoral acerca desse versículo até o dezenove. 17-19: "Repete-se aqui o pensamento-chave do autor. Vivendo na alegria do momento presente, a pessoa descobre que a eternidade - experiência de Deus e da vida - não consiste em viver muito, e sim em viver intensamente cada momento."  E para uma compreensão fundamental o capitulo 2 versículo  24 afirma:  ‘”Vejam:  felicidade do homem está em comer e beber, desfrutando o produto do seu trabalho. “

O que significa comer e beber, mas não às custas do trabalho dos outros como acontece nos sistemas econômicos que utiliza o trabalho escravo e/ou o trabalho assalariado, o que garante a boa vida de poucos em detrimento da maioria.

Daí,  voltando a nossa afirmação primeira, acerca  da  saudade de um tempo bom de São João, penso que  se deve as possibilidades de  relações familiares e comunitárias  baseadas em valores e atitudes  realizadas com  mais gratuidade, fantasia, imaginação, prazer, ajuda mútua, compartilhando  saberes e fazeres.  Em suma, saudade da verdadeira  alegria que é partilhar  a vida.

Isso pelo menos nos dias das festas de junho, ainda mais por tratar-se de   festas  de  celebração da colheita, de celebração da fertilidade, o que não é pouco, em especial nas sociedades baseadas em relações de exploração, quando  o sofrimento provocado por isso, tinham/tem  nestes dias um momento de relaxamento ou distensionamento,  mesmo que simbólico. 

E para concluir, deixo uma bela e pouco conhecida canção do Padre Zezinho, bem de acordo e ampliando a compreensão do argumento acima. 


De um valor que foi perdido.”
Zezito de Oliveira


A live será realizada através da página da Açao Cultural no facebook.

https://www.facebook.com/acaocultur/


Quem é o Professor José Paulino: José Paulino da Silva é formado em Pedagogia e Filosofia, Mestre em Educação e Doutor em Filosofia e História da Educação. Nascido em Cachoeira do Taépe - Surubim Pernambuco, em 1942.Veio para Sergipe trabalhar na Universidade Federal ,onde além de professor, coordenou o projeto de pesquisa : “Resgate da Memória Histórica :Canudos Ontem e Hoje”, exerceu atividades administrativas tendo sido Pro Reitor de Assuntos Estudantis, Pro Reitor de Pesquisa e Vice Reitor. Em 1993, recebeu o título de cidadão sergipano. Tem trabalhos publicados nas áreas da Educação, Cultura Popular e História da Guerra de Canudos. Para ele , uma educação de qualidade deve desenvolver sobretudo, o senso crítico e a solidariedade". (Jorge Lins de Carvalho).

(1)  Gonzaguinha - Da Vida (part. especial Gonzagão)



LEIA TAMBÉM!

LEMBRANÇAS DOS TEMPOS DO SÃO JOÃO ANTIGO NA OBRA DE LUIZ GONZAGA
 Marcos Barreto de Melo

Já faz algum tempo, estamos sendo bombardeados por uma infinidade de músicas, se é que podemos assim chamá-las, que a cada ano surgem neste período que antecede as festividades juninas. 

Na sua quase totalidade, são músicas apelativas, com letras insinuantes e de duplo sentido, totalmente descompromissadas com o verdadeiro espírito da festa de São João. São músicas que em nada retratam os costumes ou a cultura do nosso povo, mas tão -somente visam à lucratividade. 

Ao que me parece, um objetivo já alcançado, haja vista o crescente número de cantores e adeptos deste gênero. Por serem músicas passageiras, de breve duração, podemos até classificá--las como mais um artigo de consumo para uma determinada faixa da população. Como não apresentam qualquer sustentação poética, estas músicas não conseguem resistir à ação demolidora do tempo, residindo neste fato a grande diferença entre estas e aquelas músicas mais antigas.

Dificilmente encontramos hoje músicas que cantem o São João na sua forma mais autêntica, como ainda é festejado no interior. O São João de quadrilhas e brincadeiras ao redor da fogueira, com balões e foguetões, onde as pessoas fazem pedidos a São João e se divertem com as adivinhações. O São João de fartura, com milho verde, canjica, pé-de--moleque, licor e aluá.

As marchinhas, os forrós baiões com motivação junina são hoje raríssimas exceções. Os atuais cantores da música nordestina parecem desinteressados na preservação deste estilo ou encontram-se já corrompidos pela lucratividade que o pornoforró lhes proporciona. Naturalmente que há exceções ao que foi exposto acima como exemplos, podemos citar os sanfoneiros Dominguinhos e Luiz Gonzaga, dois pernambucanos de fibra e que sempre souberam se manter fiéis ao compromisso de cantar os valores e a cultura da terra nordestina.

Diante deste quadro, nos parece muito confortante o fato de ainda podermos ouvir músicas que são verdadeiros clássicos da música junina. São obras que não envelheceram, não obstante tenham sido gravadas há quase 40 anos, e que ainda continuam trazendo alegrias e recordações até mesmo para o público mais jovem. 

Se não ouvimos com mais freqüência estas músicas, é porque os esquemas de divulgação não permitem. Quem não conhece, por exemplo, São João na Roça (A fogueira tá queimando/em homenagem a São João/ O forro já começô ô...), marchinha junina composta por Luiz Gonzaga em parceria com o poeta pernambucano Zé Dantas, em 1952, e cantada até os dias de hoje; Noites Brasileiras (Ai que saudade que eu sinto/das noites de São João/das noites tão brasileiras, das fogueiras/sob o luar do sertão...), também de autoria de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, gravada pela primeira vez em 1954; São João antigo (Era festa de alegria/São João/ tinha tanta poesia/São João/tinha mais animação...), outra marcha junina composta por Zé Dantas e Luiz Gonzaga no ano de 1957; São João no Arraiá (Ô Iaiá vem vê/Ô Iaiá vem cá/vem vê coisa bonita/São João no arraiá ..), composição de Zé Dantas gravada por Luiz Gonzaga em 1960; Olha pro Céu (Olha pro céu meu amor/vê como ele está lindo/ olha pra aquele balão multicor...), de José Fernandes e Luiz Gonzaga, gravada em 1951.

Estes são apenas alguns exemplos de músicas juninas que se transformaram em imortais sucessos e que, indiferentes à ação do tempo, continuam vivas ainda hoje. Com isso, vemos que a música que tem base poética, de único sentido e voltada para os valores da terra, não tem vida limitada. Para ela, sempre haverá espaço.

Observamos hoje, com tristeza, que a descaracterização do São João não está apenas na música, mas, também, na maneira como vem sendo comemorado. O que se vê hoje nas grandes cidades não passa de uma grosseira imitação.

É necessário que haja uma conscientização ainda maior no sentido de preservar esta que é uma das nossas mais tradicionais festas populares. Por tudo isso é que procuro refúgio no intetior, seguindo o conselho de Zé Dantas e Luiz Gonzaga.em São João Antigo, para ter a certeza de que não mudei, nem tão pouco o São João. Quem mudou foi a cidade.




SÃO JOÃO NO ARRAIÁ – (Zé Dantas), 1960





SÃO JOÃO NA ROÇA - (Zé Dantas & Luiz Gonzaga), 1952



OLHA PRO CÉU – (José Fernandes & Luiz Gonzaga), 1951


  
Salvador, junho de 2003

Canção tema da  10ª Live



GILBERTO GIL. POR DUAS VEZES. UMA NOTA

Romero Venâncio

Num dia 26 de junho nascia o baiano Gilberto Gil. Tenho fresco na memória dois momentos em que conheci a música de Gilberto Gil. Em dois momentos diferentes e distantes no tempo.
Como todo garoto pobre de cidade no interior do Nordeste, escutava e gostava musicalmente o que tava a disposição. Não tive formação musical familiar. O que os pais escutavam, escutava eu também. Sem internet, sem televisão até uma certa idade... Só o rádio, alguns discos em vinil e conversas com meninos da mesma idade... O Gilberto Gil que entrou em minha vida na adolescência foi o da televisão, da música numa novela (coisa que mais via na época e gostava!!!). Foi o Gil do álbum "Realce". Entre 1979 e 1980. Ouvir aquelas músicas era muito novo para alguém que começava a entrar na adolescência e era um estudante sem nada mais na vida. Me vinha uma imensa caricatura: um Gilberto Gil do Chacrinha, de roupas que pareciam de mulheres, um tanto Hippie, rebolava, dançava, gritava... E muito discoteca e outras misturas que nem detectava no momento. Mas sei que gostava. As vezes (poucas, na verdade) me detinha na letra das músicas. Por exemplo, não tinha como não notar a maravilhosa: "Superhomem, a canção". Uma letra bonita, melancólica, a voz melodiosa e a letra. Ela falava do filme "Superman I" que eu tinha visto num cinema de Garanhuns e que me tocou no ato ao escutar a canção. O herói americano salvava sua amada da morte mudando a rotação da terra. Meu deus!!! Alguém viu isto como eu e colocou numa canção... Arrasou. Tudo nessa música era para nos fazer lembrar de uma mulher, de um amor... Mas tinha algo intrigante nela que não entendia, mas sabia que tinha. Essa coisa de "um lado mulher" ou que esse "mundo masculino" não é tudo para um macho. Essa dialética "verão/primavera" que nos habita. sentia assim. Entendia pouco, mas sentia muito. Amei todo o álbum. Quem não amou "toda menina baiana" ou um "sarará miolo"??? e por ai vai... e foi. Não tinha a menor ideia de que tinha um Gilberto Gil antes do "Realce". Apenas adorei "Realce" todo. Uma curiosidade da época: algum colega na escola que me viu com o disco, me disse que tinha escutado uma "história" de G. Gil com maconha. Disse que leu numa revista. Pensei, só pode ser fofoca. Imaginem se comentasse em casa que escutava um cantor que usava maconha!!! o mundo caia e o pau cantava... Mas saibam que como sempre e até hoje, Deus escreve certo por linhas tortas. E nesse assunto, fico por aqui.
O segundo Gilberto Gil que entrou em minha vida. Já era anos 90. Morava numa capital, curso superior em teologia e filosofia, animado com a cultura petista e procurando mergulhar nos anos 60 e 70. Correr atrás das histórias perdidas e não sabidas... Já sabia da trajetória de Gilberto Gil toda até aquele momento dos anos 90. Havia lido o "Gilberto Gil: literatura comentada" e alguns textos do Luiz Tatit e do José Ramos Tinhorão (já tava com aquele peito marxista que me acompanha até hoje). Descubro um Gil que combateu a seu modo a ditadura, andou por Caruaru atrás da cultura popular, foi sanfoneiro, tropicalista de primeira hora, exilado em Londres, a volta ao Brasil e os "doces bárbaros" e que "Realce" era um ponto alto de sua carreira e de sua popularização nacional e internacional. Descubro um Gil filósofo, pensador, sutilmente amoroso e irônico. Um cantor sempre contemporâneo de seu tempo.
Por fim e até hoje, nos anos 90 me brotou um Gilberto Gil "mais profundo" em termos de "espiritualidade". Esse tema me interessa desde muito e me marca. Aprendi na educação pela pedra que é esta vida que não podemos pular a própria sombra (e para um bom entendedor, basta isto!!!). Aquela "coisinha" que vinha lá de 1979: "...que Deus entendeu de dar a primazia". Percebo (agora fala o homem feito e trabalhador da educação) e cada vez mais cristalina o quanto essa espiritualidade transpassa como um fio condutor a obra de Gil. É público e notório sua relação com o candomblé, sua ancestralidade de raiz, sua alegria com os orixás e sua cultura africana impregnada e disseminada. Tá em muitas e muitas de suas composições. Talvez seja Gilberto Gil o cantor brasileiro que mais valorizou o candomblé e o tirou de sua marginalidade imposta por um cristianismo hegemônico, ciumento e intolerante. Talvez seja ele que faz isto. Não sei. Nunca estudei a fundo isto. Mas desconfio do assunto. Mas quero ir mais longe nesse tema. Há um Gilberto Gil que, sem perder suas raízes ancestrais (ou por elas!!!), vai fundo numa "espiritualidade cósmica". Mística de um tempo rei:
"Pensamento
Mesmo o fundamento singular do ser humano
De um momento
Para o outro
Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos..."
ou ainda:
"Porque mistério sempre há de pintar por aí"
ou ainda mais longe:
"Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar, vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar."
Não falo aqui de um Gil apenas da "maturidade". Mas de um Gilberto Gil que se preparou para esta maturidade e que sabe o que sempre soube onde vamos chegar nesse caminho que é a vida. Viva Gilberto Gil.