sábado, 29 de fevereiro de 2020

Os bons tempos de evidência do punk Antifa estão voltando.

Quando  era di menor,  não imaginaria  viver para descobrir a existência de punks com ideias nazifascistas, depois cresci e fiquei sabendo que tinham os   "skinheds" e os  "carecas".  

Mas quando veio a eleição de Bozonazi e sua trupe o espanto foi maior. porque o fenômeno se espalhou e chegou a todos os lugares. Onde tinha punks, passou a ter dois grupos, os pró bozonazi e os Antifa, embora estes últimos sejam maioria.

Mas eis que agora, o movimento punk retorna com toda a moral que teve para mim e para muita gente, quando éramos  di menor, isso no final dos anos de 1970. 

Aqui, a canção "o pulso ainda pulsa" tem bem a ver, mesmo que não seja uma canção punk.

Zezito de Oliveira


Para saber mais

Bolsonaro é retratado como Hitler e vomita cocô em pôster de festival de música no Pará


Organizadores do Facada Fest 

rebatem  Moro e publicam foto do

 despacho  assinado por ele

É a primeira vez que um festival underground de punk chama tanta
 atenção





Fascista pode, punk não: representante do Facada Fest, alvo de Moro, fala ao DCM



Outro  cartaz que já chamou a atenção..


Após polêmica com pôster alusivo a Bolsonaro, Dead Kennedys cancela shows no Brasil





Play list



Plebe Rude - Até Quando Esperar (DVD - Rachando Concreto ao vivo em Brasília 2011)





Dead Fish - Sonho Médio





Inocentes - Som e Fúria (DVD Ao Vivo)






Ratos de Porão-Crucificados Pelo Sistema






Cólera - Medo




Garotos Podres - Aos Fuzilados da C.S.N.





Dead Fish - Proprietarios Do Terceiro Mundo


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Cinzas do atraso - Carnaval de Olinda, Lacração Performática e Bolsonarismo Medieval.



Empoderamento feminino é um termo desse início de século que não tolero porque quanto mais as feministas rezam essa ladainha, mais mulheres morrem assassinadas por seus maridos, namorados ou amantes. 

É uma coisa triste esse desfile de mortes que enchem os noticiários diariamente na TV. Em 1978, Beto Guedes compôs uma melodia e o poeta Fernando Brant fez a letra e colocou o título: O MEDO DE AMAR É O MEDO DE SER LIVRE. 

“Ser livre” é a luta que as mulheres deveriam enfrentar. E ser livre não é apenas mostrar os peitos num bloco de carnaval como fazem as meninas do VACA PROFANA, de Olinda, que, famosas, já foram até desfilar em São Paulo. Mas o empoderamento tão sonhado pelas feministas fundadoras do bloco está fazendo com que ele regrida a cada ano que passa. Aliás, mulher com os peitos ao vento no carnaval, eu já via desde a década de 70. A coisa era feita individualmente na coragem ou na loucura mesmo e não chamava tanto a atenção como nesse agrupamento feminista da Marim dos Caetés. 

Cansei de ver moças com os seios livres lanchando no saudoso Drive In, do Derby, em cenas naturalmente lindas, até porque os peitos eram muito mais bonitos, não como esses tamanho-pitomba ou do tipo frevo de Michilles (me segura senão eu caio) das moças do bloco Vaca olindense. 

Em 2018, esse bloco fez um percurso alternativo, concorrido e sem chamar muito a atenção. Foi o auge! O decantado empoderamento fez o bloco ganhar a mídia e atrair a ira dos evangélicos bolsonaristas, uma desgraça que também chegou a Pernambuco: a deputada estadual Clarissa Tércio enviou ofício à polícia militar para proibir o desfile 2020 das profanas em nome da moral, dos bons costumes e da tradição familiar e cristã. Pura hipocrisia! 

Infelizmente, a polícia militar no dia 24/02, dia do desfile, chegou na sede do bloco querendo fazer uma varredura, mas algumas advogadas que dele fazem parte exigiram um mandado e a polícia não tinha nada. Também na Praça do Arsenal, a PM queria prender um vocalista de uma banda porque cantava música do grupo Nação Zumbi. Ambas as ordens devem ter sido dadas “de boca” por algum viado enrustido e bolsonarista do meio policial fardado de PE. E eles não são poucos! 

As meninas de Olinda, coitadas, desfilaram espremidas e pressionadas através de um beco estreito próximo das instalações do sistema de saúde que atende as pessoas necessitadas no carnaval de Olinda, ali no lado sul da Praça do Carmo. E dizem que o desfile foi até mais comportado com moças de mamilos cobertos e sem aqueles adornos de cabeça pedindo “vulva livre”. Empoderadas, mas recuadas e confinadas? São rimas que não formam uma poesia! 

Um cartaz que uma moça trazia às costas, no bloco, em 2020, me chamou a atenção: era uma frase da letra de Caetano Veloso para PAULA E BEBETO, com melodia de Milton Nascimento, lançada no seu famoso álbum Minas, de 1975, que dizia “toda maneira de amor vale a pena”. Dizem os pouco entendidos que essa é uma das primeiras músicas da MPB destinada à temática gay. É boato. Paula e Bebeto existem na vida real e são pessoas amigas de Milton. Ele compôs a melodia quando eles romperam o romance. Caetano fez a letra depois, mas a música não surtiu nenhum efeito no destino daqueles amantes: rompidos estavam e desunidos continuaram. 

Acho (e somente acho) que à mulher falta um pouco de razão ao falar sobre empoderamento feminino porque primeiro é preciso ser livre. Tenho certeza que os bolsonaristas em geral não têm juízo e chegaram trazendo intolerância, hipocrisia e 520 anos de atraso. A estes eu desejo que se f..., mas àquelas meninas de Olinda, eu dedico HORA DA RAZÃO, do grande sambista baiano Batatinha, gravado de forma impecável por Caetano Veloso no seu disco de 1977, “Muitos Carnavais”, acrescido de um recado: o medo de amar é o medo de ser livre e sofrer porque não existe amor sem sofrimento, mas em compensação, cada mulher sabe a dor e a delícia de ser o que é. Abraço de cinzas a todos! 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Sete punhaladas de frevo


Foto: https://oglobo.globo.com/brasil/o-dia-do-frevo-em-olinda-15291375

SENHORA DAS DORES São sete. Sete luas no minguante, sete dobres compassados, sete irmandades contritas, sete lanternas acesas. Sete vísceras sangrando, sete andores florescidos, sete tochas reluzindo, sete hastes. Sete farpas. Sete cravos pontiagudos. Sete espinhos venenosos, Sete chagas, sete horrores: são sete punhais de prata ferindo o peito das Dores. O primeiro, é o meu desprezo pela dor do desvalido; o segundo, o meu orgulho, que me cega aos meus defeitos; o terceiro, o preconceito com que trato os mais humildes; o quarto, minha soberba em ver tudo ao meu feitio; o quinto, esta vaidade que dissimulo com jeito; o sexto, minha cegueira, minha impossibilidade de ver o mundo ao avesso do retrato que eu desenho; o sétimo, mais doloroso, é exigir das pessoas que sejam meu próprio espelho… Perdoa, Senhora, as chagas que, existindo, lhe causo. Mas como existir perdão se nem sequer me arrependo? Se nem estanquei o sangue que das chagas cai ao chão? Que pode aspirar aquele que lhe cravou sete facas, se ainda oculta mais sete no cavo de sua mão? 

Um dia, passeando pela Gazeta de São João del Rei/MG encontrei este poema-oração maravilhoso. Frustrado fiquei porque não consegui descobrir o nome do autor. Sete é um número reconhecidamente misterioso: em Portugal há milhares de devotos da Virgem dos Sete Punhais; existe o Mistério dos Sete Punhais que é fonte de estudo de uma ordem secreta que se assemelha à maçonaria; no candomblé existe o Exu Sete Punhais assim como a Pomba Gira Sete Punhais; quando menino, eu me assustava com as histórias da Mulher das Sete Saias contadas por meu avô, aquela que tinha sete maridos e sete navalhas afiadas para cortá-los; e para ficar por aqui, as Sete Agonias de Jesus Cristo têm especial relevância para toda cristandade assim como as Sete Frases que proferiu pregado na cruz. 

Estamos na semana pré-carnavalesca. Então é preciso orar e refletir para depois cair na folia. Eu desejo abordar esse místico número de forma mais leve: sete punhaladas de frevo. Por que punhaladas? Porque compositores de frevo são poetas que gostam e entendem muito de gente, de modo que frases musicais podem ferir apenas pelo dom de iludir que certos frevos-canções trazem, os quais se transformam em verdadeiras punhaladas (sem sangramento) nos corações daqueles que não se arrependeram de amar ao longo da estrada da vida.  

O frevo liberta, faz a gente pular de tão feliz e ainda nos acena com aquela pequeníssima esperança de encontrar no meio do povo folião aquele amor do passado que o coração carrega em silêncio, mas ainda não se perdeu na poeira do tempo. Carnaval não é festa para casais ou grupos de amigos. É para quem quer se perder ou se achar. Não importa a idade do folião, o frevo embala a alma cativa de quem espera encontrar alguém especial na multidão. A quarta-feira de cinzas foi feita para os pecadores arrependidos, se bem que Chico Buarque tem um frevo cuja letra diz: "não existe pecado do lado debaixo do Equador". Então tá.

Pensando nisso, selecionei sete punhaladas de frevo que nem são cantados por essas ruas ingratas do Recife e Olinda que é por onde transito durante o carnaval. Mas esses frevos selecionados são muito, muito queridos por mim, uns mais lentos, outros mais apressados, uns com arranjos tradicionais e outros mais distantes disso. O que importa mesmo é que todos são frevos feitos para dançar e amar (deitado ou em pé). Então lá vai frevo, meu bem, e ele é todinho para você!

A 1ª punhalada-frevo, SEDUÇÃO, foi gravada pela saudosa Beth Carvalho em 1983, de autoria de Luiz Bandeira, que teve a 1ª gravação em 1959. O registro sonoro de Beth tem arranjos maravilhosos e bem pernambucanos e ela cantando frevo é o máximo! 

A 2ª punhalada-frevo, PRO QUE DER E VIER, foi dada por Joanna, também em 1983, quando pediu a Sivuca para gravar o frevo de sua autoria e Paulinho Tapajós, gravado pelo paraibano naquele mesmo ano, que não só autorizou a nova gravação como repetiu nela os belos arranjos do LP original. 

A 3ª punhalada-frevo foi desferida por Elba Ramalho, em A MULHER DO DIA, de 1979, que narra a emoção do compositor Carlos Fernando, em Olinda, o qual tendo dormido embriagado, despertou ao som dos clarins da troça de mesmo nome, ainda vestido de Nero, num sábado de carnaval, tendo ficando apaixonado pela boneca gigante que se casou em 1990 com o Homem da Meia-Noite e ambos ainda hoje puxam animados foliões ao som de orquestras de frevo.    

A 4ª punhalada-frevo foi aplicada de forma quase imperceptível pelo cearense Ednardo, autor de MAIS UM FREVINHO DANADO, de 1974, que é um dos mais esquecidos pelos cantantes do ritmo, no que se constitui uma tremenda injustiça com o antigo membro do grupo “pessoal do Ceará” que desembarcou no Rio de Janeiro no início dos anos 70 para brilhar como se fosse uma estrela. 

A 5ª punhalada-frevo tem a autoria assassina de Caetano Veloso até no título, DEIXA SANGRAR, gravado originalmente por Gal Costa e regravado de maneira insuperável por Roberta Sá em 2012. É um frevo espetacular que maltrata e recompensa ao mesmo tempo quem o ouve! 

A 6ª punhalada-frevo foi lançada em 1981 por Nara Leão, BLOCO DO PRAZER, de Moraes Moreira e Fausto Nilo, que em ritmo de marcha lenta avisa para quem quiser ouvir: “não quero oito nem oitenta, eu quero o bloco do prazer”. A gravação de Nara é impecável e ainda teve o auxílio luxuoso da sanfona de Oswaldinho do Acordeon. 

A 7ª e última punhalada-frevo tinha que ser do meu cantor de frevo preferido: Caetano Veloso. Aqui ele traz NOITES OLINDENSES, do saudoso Carlos Fernando, compositor e produtor desse gênero que, de 1979 a 1993, revolucionou o frevo-canção de Pernambuco. Faleceu em 2013, não sem antes sentir o amargo sabor do esquecimento em vida. 


POR ABILIO NETO
Pernambucano, 70 anos, é memorialista e pesquisador musical, além de  pequeno colecionador de discos. Seu arquivo contém algumas obras que se tornaram preciosas na música brasileira diante do mau gosto popular nessas duas primeiras décadas do século XXI. São frevos, sambas, maracatus, forrós, xotes, polcas, toadas, marchinhas, merengues e choros. Tem mais de 400 artigos escritos sobre música que foram publicados em sites da internet, ‘terreno’ que se notabiliza pela impermanência. Seus artigos provam que a História também se conta através da música.

O carnaval e nossos políticos eternamente mascarados




Por Narcizo Machado
E ele vem chegando, o Carnaval. Ah Carnaval, como o povo te espera! Uma sequência de dias de festa, alegria, descanso e confraternização, é a festa da ejaculação do amor. Naturalmente inspira a liberdade, para quem, gosta é a lavagem que a alma precisa para o ano ter continuidade. No Brasil, tradicionalmente nos acostumamos a dizer e de fato isso acontece: o ano só começa após o Carnaval.
Abre alas que ele vai passar, trazendo com ele um algo a mais. “Carnaval é a alegria popular. Uma das raras alegrias que ainda sobra para minha gente querida”, disse Dom Helder Câmara, quando era arcebispo de Recife no período do regime militar.  Quando o tambor bate, o povo logo grita: daqui não saio daqui ninguém me tira. É também a época da diversidade, onde se respeita o direito de quem de dia quer ser Maria e de noite ser João.
Mas me parece que o Carnaval, além disso tudo, é também momento de protestos. Protestos contra uma dura realidade vivida. Há letras de músicas, como esta de Carlinhos Brown, que trazem até reflexão sobre a política internacional e a vivência da violência nas ruas. “50 talibans no bando, e Zé na Romaria, o mundo vai se transformando, perfume de Maria, e com trabalho e contrabando nas ruas da Bahia, a gente é solução se amando, tá quente a guerra fria. Jesus desde menino, é palestino”. Esse verso traz muita discussão política e uma disputa histórica de poder.
A máscara é um adereço tradicional usado para homenagens, para protestos, para expressar sentimentos e a criatividade de nosso povo. Passado o Carnaval, a sociedade volta a focar no cotidiano da vida e abandona esse adereço da folia. Parte da classe política, não, fica eternamente usando máscaras. Na frente do povo uma coisa, por trás outra, em eleição um discurso, na gestão outra prática.
E está chegando o período em que estes mascarados ganharão as ruas para ir de casa em casa, dialogar com quem, de camarote, homologará quatro anos para mais atuações em defesa de objetivos pessoais. É tão cultural o uso da “falsidade”, que o próprio eleitor reclama quando ela não acontece. O povo gosta do cara que bate nas costas, que abraça, que dá beijos e sorri largamente, como também gosta dos que se fazem de durões para expressar seriedade. O período eleitoral se tornou uma disputa entre personagens.
No carnaval, o fim da folia é na quarta-feira de Cinzas. Na política, para parte dos nossos representantes, a quarta de Cinzas parece nunca chegar.
Foto: Divulgação de fábrica de máscaras no Rio de Janeiro (O Globo)


Hoje coluna hoje segue sem notas, o clima de carnaval chegou. No domingo de Carnaval, 23, não teremos publicação, voltando no primeiro domingo de março. Bom Carnaval, com responsabilidade e alegrias!!!