informações voltadas ao fortalecimento das ações culturais de base comunitária, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
O melhor do Brasil é o brasileiro e o melhor do brasileiro é
a sua cultura.
Na era Lula/Dilma esse slogan foi criado ou redescoberto,
não sei dizer ao certo.
Mas, eis que veio a força, a econômica, apoiada na mídia, em
setores do judiciário e do legislativo, nas forças armadas e o mal que a força sempre faz, aqui lembrando Belchior.
E essa força é uma parte menor do Brasil, menor em tamanho e
menor em humanidade, mas com poder de exercer a enorme exploração e dominação que tem sobre a maior parte do Brasil, sobre a melhor
parte, inclusive por meio da escravização mental exercida através dos meios de comunicação, dos sistemas de ensino e das igrejas, em que pese uma parte destas, fazerem parte do esforço de libertação mental realizado país a fora, além dos enormes esforços dos professores, desde o ensino básico até as universidades, assim como da parte de jornalistas progressistas, a grande maioria atualmente buscando sobreviver, através de blogs e canais independentes com relação ao poderio econômico dos grandes conglomerados empresariais.
Darcy Ribeiro resume essa questão ou nó górdio do Brasil nos
seguintes termos:
“O maior e único
problema do Brasil são as suas elites: apátridas, parasitárias, vivem de vender
o patrimônio nacional e manter o povo escravizado, ignorante, feito gado.”
Por isso, em tempos
de um governo que busca fazer de tudo para diminuir a nossa auto estima ou nosso amor próprio,
como sempre buscou-se fazer desde antes da Era Lula e Dilma, sempre é bom fazermos
algumas perguntas quando lermos sobre o brasileiro ser isso ou àquilo, sempre
nivelado por baixo e generalizando com maus exemplos, comportamentos inadequados,
posturas canalhas ou sórdidas, semelhante ao que fala e age Bolsonaro e seu bonde.
O que ouvimos dizer, para nos convencer, entre outras expressões depreciativas, "O brasileiro é egoísta", "O brasileiro é corrupto", "O brasileiro fura fila", porém como já argumentamos acima, Qual brasileiro? O "brasileiro" único existe?
Não, o brasileiro não é único, é plural. O que faz
predominar o melhor ou o pior, são as escolhas politicas, escolhas que
aparentemente é realizada livremente pela maioria, mas que na verdade são induzidas com
muito dinheiro e muita manipulação.
E quem bem resume esse propósito é Darcy Ribeiro quando afirma: “A educação no Brasil, não é uma crise, é um projeto.”
E para fazer a separação devemos começar primeiramente e principalmente pela classe social, sem descuidar secundariamente da influência geográfica e climática que temos em um país de dimensões continentais, assim como as características étnicas culturais das correntes migratórias que chegaram desde a colônia, a começar pelos negros escravizados e torturados, cujas marcas de violência estão bastantes visíveis em nosso cotidiano, e em especial escancarado para quem tiver olhos e ouvidos, nessa quadra histórica do pior governo da história republicana no Brasil.
E nos
valendo mais uma vez do grande e saudoso mestre Darcy Ribeiro:
"A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. Ela, porém, provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter os possessos e criar aqui uma sociedade solidária.”
(Do livro “O povo brasileiro”, editora Companhia das Letras, 1995)
E quem não deixa Darcy Ribeiro mentir é Lemann, considerado o homem mais rico do Brasil, um dos financiadores do golpe de 2016 e de candidaturas liberais "progressistas" e "ultraliberais a cargos no parlamento e no executivo.
Em evento com banqueiros, o homem considerado pela revista Forbes como o mais rico do Brasil crê que os problemas econômicos vividos pela maioria dos brasileiros são algo positivo.
Mas a luta não pode parar, quem for artista, procure dar o seu melhor, como Belchior e Gilberto Gil já citados, além de Alceu Valença, citado abaixo, quem for intelectual e/ou professor, procure se inspirar em Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Anisio Teixeira, Abdias do Nascimento e etc...
Os militares tem bons exemplos como Rondon, Marechal Lott, capitão Sérgio Macaco e etc...
Os padres tem bons exemplos, como Dom Hélder, Dom Távora, Dom Paulo Evaristo, Dom Pedro Casaldáliga e por aí vai.
O judiciário tem Sobral Pinto e etc...
Não podemos reduzir o Brasil e os brasileiros, ao tipo de gente que assumiu o comando da nação com o golpe de 2016.
O Brasil não tem um pinto pra dar água, mas festeja um idiota. Na nação construída sob a égide da escravidão e do servilismo, opta-se pela miséria. Para o povo forjado na inexistência de educação, escolhe-se a ignorância
Faz poucos anos assisti no Cine Vitória, em Aracaju, um
filme luso-brasileiro, cujo enredo traz a história de uma jovem portuguesa que vinha para o Brasil, mais especificamente a cidade de Belo Horizonte, em busca de melhores
condições para viver, tanto por causa do mercado do trabalho, em franca expansão, como pelo ambiente de
liberdade, assim como o Brasil ser um campo potente de criatividade. Isso foi nos tempos do governo Lula
Não lembro a profissão da garota, mas tinha ligação com o
campo da comunicação e/ou das artes.
Hoje como sabemos, o ambiente e o clima para respirarmos
liberdade, criatividade e boas condições de vida não está nada bom aqui no Brasil, seja isso metáfora ou realidade.
Mas nuncaé demais
lembrarmos de canções e filmes que nos trazem a memória esse tempo bom, bem como a memória do que está
sendo realizado de bom no tempo presente, porque, em meio a tantas dificuldades e apesar da má
vontade e mesmo oposição do atual governo federal de plantão, sem contar os muitos governos
estaduais e municipais, o setor da criação artística e intelectual em nosso
país, pôde respirar um pouco melhor no segundo semestre de 2020.
Isso por causa da conquista da Lei Aldir Blanc, mesmo que tenha sido por período curto, mas o
suficiente para produzir uma série de bons espetáculos, shows, livros, filmes, cursos, audiovisual, exposições, conversas on-line, oficinas e etc...
O resultado disso já está aparecendo e continuaráaté meados do ano de 2021. O que isso significa, nunca esqueçamos do que
fomos e do que somos capazes.
As obras artísticas e literárias são muito importantes por
causa disso e precisam alimentar a nossa confiança e a nossa esperança. Sim,
esse governo passará e precisa ser lembrado o mal que está fazendo, para que
nunca mais aconteça, para que a nossa gente, de pouca memória, não se
esqueça.
E com as limitações e dificuldades de nossas escolas para
fazer um bom trabalho educativo no campo
da memória, temos a arte e a literatura como grande parceira nesse campo.
Evohé! Ou um Viva! a todos os artistas, escritores e
intelectuais, incluindo os da quebrada. Além dos aliados no parlamento e governos. Saudações aos que tem coragem!!
“Glória!!! Glória aos piratas, as mulatas, as sereias
Glória a farofa, a cachaça, as baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais.”
Compositores: Aldir Blanc Mendes / Joao Bosco De Freitas Mucci
Já faz um bom tempo, dez anos
aproximadamente, quando fui convidado
para fazer parte de coletivo para administrar um grupo de Teologia da
Libertação (TdL) no facebook, possivelmente o pioneiro no tema.
Em termos de qualidade de postagens o grupo é muito bom. O debate
acontece, e em muitos casos, a qualidade do mesmo agrega ainda mais valor ao que é
publicado.
Mas também, ao longo desses anos nos deparamos com situações bem
diferentes e constantes de adversários contrários a TdL, buscando minar,
atrapalhar, confundir, em síntese, combater a teologia da libertação dentro do
próprio grupo. Ora vejam!!
Como o grupo começou antes da renúncia de Bento XVI, o jogo era
mais pesado, afinal, ser adepto da Teologia da Libertação naquele momento era
ser contra a igreja, contra o Papa, havia mais reforço para acusar os adeptos
da teologia da libertação de heresia e declarar excomunhão.
Nos tempos atuais, estamos na companhia do próprio Papa Francisco quanto a este tipo de acusação. Pode isso Arnaldo? E se Jesus voltasse como na primeira vez também seria incluído nesse tipo de grupo. Imaginem vocês! O próprio fundador do caminho, sendo acusado de heresia, traição e por isso necessitado de uma nova crucificação.
Nos tempos atuais o grupo conseguiu um equilibro, embora para isso, medidas preventivas de contenção ou de reparação imediata
do dano cometido, precisem ser tomadas, o que leva no limite a expulsão sumária do membro
adversário.
Mas, no inicio dessa semana, uma
postagem me chamou a atenção pelo nível de confusão que busca espalhar, além do que percebi a
primeira vista, e isso merece ser
socializado com mais pessoas.
O assunto dessa postagem é um comparativo de dados do desempenho
econômico e social, na época Lula/Dilma e agora na era Bolsonaro.
Mas o questionamento inicial que fiz a quem publicou foi sobre a forma
como a página fazia sua apresentação.
Esquerda com Jair Bolsonaro e Lula
“Uma nova união vai surgir, vamos acreditar. Contra
a Globo, contra o Moro. #COMUNISMOCONSERVADOR.”
Outro membro do grupo se manifestou estranhando, e então marquei o autor da postagem para se explicar, e este me respondeu, dizendo não ter o que explicar.
Já em outro grupo administrado pelo autor, onde a postagem também foi publicada, o debate foi direcionado para o questionamento aos números apresentados.
Um comentarista afirmou discordar dos dados de pobreza e desemprego, por razões óbvias , apresentando argumento lógico e outro complementou: " O desemprego chegou a 4 % no governo Lula, uma taxa baixa , mas não zero. O nosso país nunca teve analfabetismo zero também. Temos que ser diferente deles para não ficar propagando fake news."
O autor da postagem insistiu ser correto compartilhar os dados "tendenciosos" na opinião dele, porque a situação atual está muito critica mesmo. Na verdade dados mentirosos misturados com possíves verdadeiros.
No grupo da TdL, reafirmei esse ponto de vista, mesmo sendo o post supostamente "favorável" a Lula e ao PT, não podemos aceitar o compartilhamento de fakenews.
Por outro lado, é estranho o autor da postagem mentirosa, e não tendenciosa, ter se apresentado no grupo em alguns momentos, como defensor da candidatura de Ciro Gomes a presidente, fazendo criticas ferrenhas a preferência de muitos integrantes do grupo da TdL demonstram por Lula e pelo PT.
O historiador indica cinco livros que discutem os avanços e
desafios da cultura na gestão pública brasileira de décadas recentes
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Segundo o professor Antônio Albino Rubim, da Ufba
(Universidade Federal da Bahia), as políticas culturais no Brasil são
historicamente marcadas por “três tristes tradições”: ausência, autoritarismo e
instabilidade. Todas remetem à atuação estatal na área e retratam diferentes
períodos do país desde 1930: do intervencionismo do Estado Novo ao alheamento
dos governos que o sucederam antes do golpe, do autoritarismo e dos
investimentos da ditadura militar à instabilidade na redemocratização, da
carência nos anos 1990 à implantação de políticas de Estado na década de 2000.
O que se construiu perdeu importância no atual governo,
capaz de juntar as três tristes tradições simultaneamente: ausência
(rebaixamento do Ministério da Cultura à secretaria e inoperância das
instituições), autoritarismo (censura) e instabilidade (cinco secretários em
dois anos).
Reconheço e me causa incômodo o desequilíbrio de gênero na
seleção dos livros que apresento a seguir. Entre as cinco obras, há somente uma
escrita por uma mulher, e, mesmo na coletânea indicada, de mais de 20 autores,
apenas três são mulheres. Necessário também registrar a ausência de autores
negros. Tal situação denota o quanto o cânone no campo dos estudos das
políticas culturais precisa ser revisto à luz da produção das mulheres e dos
negros e negras.
Cultura brasileira e identidade nacional
Renato Ortiz (Brasiliense, 1984)
Este livro é importante não só para a compreensão das
políticas culturais, mas do tema da cultura de modo geral e suas ramificações:
cultura popular, nacional, erudita, de massa, e as relações do Estado e do
mercado com o setor. Embora oriundo das ciências sociais, Ortiz faz um estudo
de cunho historiográfico — sua abordagem alcança a produção intelectual do
século 19.
Ortiz dedica dois capítulos ao regime militar, que correspondem
a metade do livro. Neles, trata da formação do Conselho Federal de Cultura e da
instituição da Secretaria de Assuntos Culturais, ambos vinculados ao Ministério
da Educação. Merece especial atenção a análise do Plano Nacional de Cultura
formulado em 1975, a criação da Funarte (Fundação Nacional de Artes) e da
Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes) na mesma época e a ação seletiva da
censura que perseguia criadores. As artes, no entanto, tiveram um impulso
significativo via ação do Estado, e houve forte expansão da indústria cultural.
Cidadania cultural – O direito à cultura
Marilena Chauí (Fundação Perseu Abramo, 2006)
A exemplo de Renato Ortiz, Marilena Chauí é uma autora
fundamental no debate sobre cultura no período de abertura do regime militar na
década de 1980. Naquele contexto, ela publicou dois livros muito importantes:
“Cultura e democracia – O discurso competente e outras falas” (Cortez) e
“Conformismo e resistência – Aspectos da cultura popular no Brasil”
(Autêntica). No final daquela década, a autora assumiu a Secretaria de Cultura
de São Paulo na prefeitura de Luiza Erundina. O capítulo que sistematiza sua
exitosa experiência como gestora pública é a melhor parte do livro: ali são
relatadas dificuldades com a precarização dos equipamentos, barreiras
jurídicas, impasses com o Legislativo e iniciativas frustradas. Mesmo assim, a
gestão de Chauí introduziu o conceito de cidadania cultural no programa de
governo, os mecanismos de participação social e as ações descentralizadas que
possibilitaram a criação dos ainda poucos equipamentos culturais nas
periferias.
Pontos de Cultura – O Brasil de baixo para cima
Célio Turino (Anita Garibaldi, 2009)
Os Pontos de Cultura foram introduzidos pela Secretaria de
Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, da qual Célio Turino foi titular
durante os dois mandatos do presidente Lula (2003-2010). No livro aqui
indicado, o autor relata a epopeia que foi a implantação desse modelo
descentralizado e inovador de gestão cultural. Historiador com veia poética, Célio
escreveu uma obra de grande vigor literário que extrapola o que poderia ser um
registro datado e restrito de uma experiência de governo.
O Ponto de Cultura consiste no repasse de recurso público
direto a um grupo cultural, para que estruture sua sede, adquira equipamentos e
tire sua programação do papel. Do primeiro edital lançado em 2005 até 2010, o
Brasil chegou a ter 3.500 pontos. Hoje, estimativas apontam a existência de
5.000 organizações culturais reconhecidas como Ponto de Cultura com base na Lei
Cultura Viva promulgada em 2015. Ministro responsável pelo lançamento do
programa, Gilberto Gil viu nos Pontos de Cultura a materialização de sua ideia
de “do-in antropológico” (o ponto que irradia energia no organismo). Uma ideia
tão potente quanto simples.
Plano Nacional de Cultura – Direitos e políticas culturais
no Brasil
Guilherme Varella (Azougue, 2014)
O Plano Nacional de Cultura promulgado em 2010 foi produzido
com um amplo lastro de participação popular e deu base para uma política
cultural de Estado, e não de governo. O plano ganhou mais respaldo quando foi
aprovada a emenda constitucional que instituiu o Sistema Nacional de Cultura em
2016. Esse arcabouço normativo regulamenta a efetivação da cultura como
direito.
Guilherme Varella fez um estudo aprofundado de todo esse
marco legal em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Direito da USP
(Universidade de São Paulo) e transformou o estudo no livro que indicamos aqui.
A abordagem jurídica é um diferencial, em virtude da escassez de obras no campo
do direito dedicadas à cultura. Além de pesquisador, Varella é militante e
gestor de cultura, tendo sido secretário de cultura de São Paulo por um breve
período durante a gestão de Fernando Haddad. Trata do assunto, portanto, com
conhecimento de causa profundo. Vigente até 2020, o Plano Nacional de Cultura
foi prorrogado por mais dois anos, em medida provisória assinada pelo
presidente da República no começo de dezembro. Suas metas, contudo, estão muito
longe de serem alcançadas.
Política cultural e gestão democrática no Brasil
Org. Antonio Albino Rubim (Fundação Perseu Abramo, 2016)
A escolha deste livro tem três motivos principais. O
primeiro é fazer justiça a Antonio Albino Rubim, talvez o nome mais importante
no debate atual das políticas culturais no Brasil. O segundo é que a obra traz
um panorama amplo com base em experiências locais de gestão cultural, com
textos bem elaborados que fogem ao estilo chapa-branca. O terceiro motivo é
histórico, uma vez que a obra traz como apêndice um longo documento intitulado
“Política cultural” assinado por Marilena Chauí, Antonio Candido, Lélia Abramo
e Edélcio Mostaço, publicado originalmente em 1984.
Eleilson Leite é historiador formado pela USP, com mestrado
em estudos culturais pela mesma universidade. É programador e produtor cultural
e coordena a área de cultura da ONG Ação Educativa, onde trabalha há 20 anos. É
organizador do livro “Graffiti em SP – tendências contemporâneas” (Aeroplano
Editora) e colabora anualmente com o Relatório Direitos Humanos no Brasil (Rede
Social de Justiça e Direitos Humanos), no qual faz um balanço da política
cultural e as violações do direito à cultura no Brasil.
Contra os escroques, a saída possível é a imunização. Mas ela não nos protegerá de um sistema que devastou os serviços públicos, aprofundou o abismo das desigualdades e escancarou o divórcio com a natureza. Será preciso ir muito além
OUTRASPALAVRAS CRISE CIVILIZATÓRIA
POR ANTONI AGUILÓ*
PUBLICADO 15/01/2021
"EM O LIVRO DO RISO E DO ESQUECIMENTO MILAN KUNDERA NOS RECORDA QUE A “LUTA DO HOMEM CONTRA O PODER É A LUTA DA MEMÓRIA CONTRA O ESQUECIMENTO”. SÓ COM REFLEXÕES E EXERCÍCIOS DE RECORDAÇÕES CONSEGUIREMOS VENCER A PANDEMIA DO ESQUECIMENTO, SUPERAR AS SIMPLIFICAÇÕES HISTÓRICAS E CUIDAR DO TÊNUE E FRÁGIL FIO DE NOSSA MEMÓRIA." "
* Antoni Aguiló é um filósofo, colunista e pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra nas áreas de filosofia, política e sexualidade, além de defensor dos direitos LGBTQIA+. Professor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal). É também estreito colaborador do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, com quem tem diversas publicações a quatro mãos.
A exigência da vacina e o risco da deslembrança
Contra os escroques, a saída possível é a imunização. Mas ela não nos protegerá de um sistema que devastou os serviços públicos, aprofundou o abismo das desigualdades e escancarou o divórcio com a natureza. Será preciso ir muito além
Publicado 15/01/2021 às 22:27 - Atualizado 15/01/2021 às 22:59
Por Antoni Aguiló, no Público.es | Tradução: Rôney Rodrigues
Diz Boaventura de Sousa que as sociedades atuais se dividem em dois grandes grupos populacionais: quem não pode esquecer e quem não quer recordar as injustiças de ontem e hoje. A dicotomia entre o esquecimento e a memória foi umas das que atravessou com mais força os debates éticos e sociais da segunda metade do século XX. As guerras mundiais, os totalitarismos, os fascismos, os campos de extermínio, os gulags e os crimes contra a humanidade exigiram uma reflexão sobre o dever de recordar sob o imperativo de que “Auschwitz não se repita”, nas palavras de Adorno.
Se o século XX foi, em boa medida, o século da memória, pode ser que o século XXI seja o da desmemória, sujeitos como estamos à era do aceleracionismo, da imediatez e das fake news. Em plena crise pandêmica, corremos o risco de desenvolver uma memória frágil e muito seletiva que registre só como recordáveis determinados dados abrumadores (as estatísticas oficiais de infectados, de falecidos e curados, os dados de desemprego, etc.) cuidadosamente selecionados, em detrimento daquela memória comum das experiências cotidianas vividas, das aprendizagens, dos sentimentos, da vulnerabilidade, da precariedade e da finitude da vida.
Em Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez narra um episódio magistral sobre a importância do dever coletivo de não esquecer. Fala de uma praga contagiosa em forma de epidemia de insônia que se alastra e aflige os habitantes de Macondo, e cuja evolução mais crítica consiste em contrair a enfermidade do esquecimento. Quando o enfermo se acostumava a ficar desperto durante dias, sua memória começava a se desvanecer paulatinamente. Primeiro, se desvaneciam as recordações de sua infância, logo o nome e o significado das coisas e as pessoas e, numa fase terminal, se esquecia por completo da consciência da própria existência, caindo em um estado que Márquez descreve como “idiotia sem passado”. As tentativas de restaurar a memória perdida foram inumeráveis: de infusões medicinais à construção de uma máquina que oferecia a possibilidade de repassar os conhecimentos adquiridos ao largo da vida. No entanto, nenhum dos remédios surtiu efeito. O único que conseguiu curar a Macondo da amnésia foi uma poção mágica trazido pelo velho Melquíades, uma espécie de sábio alquimista.
A vacina contra o coronavírus corre o perigo de ser percebida socialmente como a poção mágica de Melquíades, a cura “milagrosa” em que as pessoas depositam todas suas esperanças, quando na realidade a melhor resposta preventiva às novas pandemias é fortalecer os investimentos públicos no Estado de Bem-Estar e o enfoque ecológico da vida e da economia.
No entanto, entre os efeitos colaterais da vacina se encontra a possibilidade de um episódio de amnésia coletiva. Como entender a dita amnésia no contexto atual? Que relação há entre amnésia e pandemia?
Metaforicamente falando, os possíveis efeitos amnésicos derivados da vacina são vários. Entre eles, esquecer que 2020 provavelmente pressupõe nossa entrada no Covidceno, a era das pandemias. Pode ser que o tão anunciado “princípio do fim” da covid-19 seja somente o fim do princípio das próximas pandemias.
Outro possível efeito adverso consiste em esquecer que o impacto mais avassalador da crise é sofrido pelos setores que o capitalismo considera fardos improdutivos: os idosos, os enfermos e as pessoas dependentes. Esqueceremos a importância de políticas sociais eficazes que protejam os setores mais vulneráveis que não estão em condições de vender ao mercado sua força de trabalho? Por que a economia capitalista da saúde permite a cooperação acelerada entre a comunidade científica, as administrações públicas, a indústria farmacêutica e as agências reguladoras de medicamentos para fabricar a vacina contra o coronavírus, mas não contra outros problemas de saúde pública como a pobreza?
Também corremos o risco de esquecer que a pandemia atingiu particularmente os jovens trabalhadores precarizados no que diz respeito a suas oportunidades de encontrar emprego, ter acesso à formação (não são todos que estão em condições de fazer a transição para o ensino online) e exercer o ativismo social.
Os efeitos secundários da vacina também nos podem levar a perder de vista que a pandemia de covid-19 não afeta de forma igual a homens e mulheres, a ricos e pobres, a brancos e negros, a cidadãos com pleno direito e migrantes sem documentação, a heterossexuais e pessoas LGBTI.
Do mesmo modo, existe o risco de esquecer que esta pandemia não é consequência de uma fatalidade natural, mas sim o fruto de uma natureza colonizada; um fenômeno resultante da ação predatória do capitalismo sobre a vida, que invade e arrasa ecossistemas. O degelo das zonas polares, o desmatamento de florestas inteiras, o aumento do nível do mar, a proliferação de furacões, de chuvas torrenciais e secas, a extinção de espécies e o surgimento de determinadas doenças, entre outros fenômenos, são o resultado de um modelo de desenvolvimento mais vinculado à morte que a vida. Segundo um relatório recente da Plataforma Intergovernamental Científico-normativa sobre Diversidade Biológica e Serviços dos Ecossistemas (IPBES), se não deixarmos de explorar a natureza, cerca de 850 mil vírus desconhecidos em animais poderiam causar pandemias. Os governos adotarão medidas preventivas para frear de uma vez por todas a mais que previsível pandemia climática que se avizinha ou esperarão que as pessoas morram em massa por exposição a uma contaminação excessiva, como ocorreu a pequena Ella Adoo-Kissi-Debrah [criança que, devido a ilegais de poluição do ar em uma região de Londres, morreu após um ataque de asma]?
Por últimos, não se pode esquecer que os países com maior índices de mortes por covid-19 são governados por políticos de extrema-direita populista: os EUA de Trump, o Brasil de Bolsonaro e o Reino Unido de Johnson, os mesmos que tripudiaram sobre a pandemia e as mudanças climáticas.
Em poucas palavras, o problema da amnésia coletiva é a possibilidade de que o coronavírus seja assimilado como uma experiência de choque armazenada em uma memória passiva e derrotada. Walter Bejamin explica que muitos soldados que regressavam do campo de batalha depois da Primeira Guerra Mundial estavam emudecidos e traumatizados. Isso lhes impedia de transformar as experiências vividas na guerra em uma “experiência comunicável”, ou seja, em sabedoria compartilhada, em memória viva.
Experiência e memória são constitutivas de nossa identidade. Separá-las leva a perda de vínculos, de referências compartilhadas, de comunidade, enfim. Temos o dever de preservar e compartilhar a memória social da pandemia, um registro feito de afetos, valores e aspirações que nos permite não só recordar o passado, mas também reconstruir o presente, curar suas feridas.
Em O livro do riso e do esquecimento Milan Kundera nos recorda que a “luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”. Só com reflexões e exercícios de recordações conseguiremos vencer a pandemia do esquecimento, superar as simplificações históricas e cuidar do tênue e frágil fio de nossa memória.
No facebook houve quem respondeu a pergunta proposta acima:
RC
"Não concordo!!! É melhor deixar ele cair no esquecimento!!! Criar um museu, uma página sobre esse infeliz ou até mesmo um lugar para lembrar sobre esse infeliz!!!! É dar nome para ele e para as pessoas que pensam como esse idiota!!!!
Gostaria que após a pandemia ..... Que tivesse um memorial gigante em Brasília.... Na frente da rampa do palácio.... Com o nome dos mais de 200 mil brasileiros.... Enfatizado os nomes dos funcionários da saúde!!!! E que esse monumento ficasse iluminado 24 horas.... Para que o próximo Presidente... Lembra-se todos os dias a merda que o seu antecessor fez!!
Minha opinião!"
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IS
"Coisas ruins jogamos fora, temos que elevar o bem."
MB
Pensei num livro de figurinhas dos horrores. Bem didático para as gerações futuras....
Pensei em usar tweets oficiais também. Fonte histórica
Parabéns ao deputado Iran Barbosa por essa iniciativa.
Em termos de contribuição:
1 – A Assembleia Legislativa pode criar um hotsite, um sitio de internet especifico e exclusivo, para servir como espaço de cadastramento e agenda do que está programado para homenagear Paulo Freire durante este ano em Sergipe.
2 – A TV ALESE pode realizar série de programas de entrevistas, com no mínimo uma hora de duração, cada um, sobre a presença de Paulo Freire e sua influência em trabalhos desenvolvidos aqui em Sergipe no campo da Educação Popular, incluindo até mesmo experiências que tiveram inicio de forma concomitante ao Sistema de Educação Paulo Freire no inicio da década de 1960, e que também retroalimentaram-se mutuamente, como é o caso do MEB – Movimento de Educação de Base e as Caravanas UNE Volante e CPC da UNE em SERGIPE , assim como experiências realizadas no período da redemocratização como é o caso do Centro Sergipano de Educação Popular, AMABA/Projeto Reculturarte, estes nas décadas de 1980/1990 e etc..
Nesse caso, faz-se necessário a contratação de um pesquisador ou o deslocamento de um profissional da ALESE para fazer trabalho de levantamento bibliográfico nesse campo.
3- Por último, no caso de audiência pública, entrevistas na TV Alese e etc., considerar a importância da participação de educadores populares, mesmo que não tenham pós graduação ou tradição no campo da produção acadêmica, educadores populares aqui, incluindo dirigentes de movimentos sociais e sindicatos, religiosos, artistas ou ativistas culturais, terapeutas populares e etc..
4 - A Assembleia Legislativa em parceria com a Secretaria de Estado da Educação pode incentivar a produção de desenhos, redações, podcast, vídeos e artigos científicos para alunos e professores da rede da educação básica. Os escolhidos podem concorrer a prêmios em bens culturais e/ou tecnológicos, desde que não sejam equivalentes a souvenirs.
Em reunião, deputado Iran Barbosa e presidente da Alese
Webinário que abre as comemorações dos 100 anos do pedagogo e escritor Paulo Freire, com a participação de Nita Freire, viúva do educador, e a colaboração dos professores sergipanos Flávio Nascimento, Sandra Beiju e Ângela Melo, vereadora por Aracaju; além do jornalista e doutor em Comunicação, Cristian Góes. - Acrescido em 27/01/2021 - 19:47