sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Outros Olhares Possiveis... Para pais, educadores, artistas, politicos e gente de maneira em geral.....


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Mundo, mundo admirável menino


Thiago Paulino · Aracaju, SE
19/2/2014 · 13 · 1
Animação brasileira e segundo longa-metragem de Alê Abreu, "O Menino e O Mundo" reúne realidade e magia em traços simples

O mundo pelo olhar de um menino. A frase é simples, mas o significado pode ser profundo. Coisas simples também podem ser geniais e dizer muito. Simplicidade de uma boa música: como Three Little Birds (Bob Marley) ou em um poema Haikai japonês no qual em apenas três linhas conectam-se harmonicamente idéias passando recados,às vezes belos e profundos.

Simplicidade está na história de "O Menino e Mundo" (2003) segundo longa metragem do paulistano Alê Abreu. Simplicidade de traços, simplicidade na narrativa. Mas não por isso menos genial e belo.Pouquíssimos diálogos com um dialeto próprio de um mundo mágico (mas ao mesmo tempo tão próximo a realidade). Diálogos poucos e guturais. Seja na conversa da mãe com o pai do menino, ou até mesmo na voz impostada de uma dupla de apresentadores do telejornal. Os diálogos não tem legenda,mas entendemos tudo.

Mas que Mundo é esse? Um mundo em que o menino sai em disparada atrás de um pai que partiu em busca de um trabalho. Um mundo com cores de um bailado de rua com músicas que alimentam esperança. Mas também um mundo cruel, de cores escuras, mundo do consumo, mundo onde se vive longe de onde se trabalha. Isso tudo está lá na simples corrida de uma vila até uma cidade grande. Em um mundo que cabem muitos mundos.

Durante 80 minutos o menino que sai correndo em busca do pai, passa por muitos lugares e (re)conhece outros personagens. Nessa jornada entendi dois recados do menino: 1) o nossa maior jornada sempre está ligada ao crescimento de nós mesmos. 2) A arte tem uma força incrível de reforçar utopias cultivar esperanças tão essenciais em um "admirável mundo moderno". Mundo moderno que falhou e ainda falha em vários aspectos da boa humanidade que há em nós.

Como um bom Haikai, "O Menino e O Mundo" fecha seu ciclo de forma simples e harmônica. E por falar em harmonia... a trilha fez um feliz casamento do filme. Seja na poesia de Emicida que nos dá uma instigada para sair o cinema pensando no mundo quando os créditos finais sobem; Ou nas melodias instrumentais que funcionam como uma "espinha dorsal" da narrativa. A música reforça encontros, emoções e a memória do menino como no momento em que escuta a flauta de pífano do pai.

Nem tanto pela estética, mas pelo conteúdo a animação de Alê Abreu me remeteu a outra obra “L’homme qui plantait des arbres” (O homem que plantava árvores, de 1987), dirigido por Fréderic Back. A produção, se não me engano franco-canadense, é baseada em um conto do romancista francês Jean Giono, de 1953 e também traz dois mundos só que sob ótica de um velho pastor que se dedicava a plantar carvalhos. O filme também mexe com cores e esperanças. "O Homem que planta árvores" ganhou vários prêmios: Oscar (1988), Annecy (um dos mais tradicionais festivais de animação do mundo que existe há 45 anos), (1987), Festival Internacional de Ottawa (1988).

Apesar de lançado em 2014 "O Menino e o Mundo" Alê Abreu também já coleciona prêmios em Cuba, Otawa, Mostra Internacional de São Paulo. Uma coisa é certa: o maior prêmio para uma animação desse porte é sua maior circulação, portanto se estiver passando na sua cidade vale conferir."O Menino e O Mundo" - é uma boa metáfora do mundo real, do mundo que queremos e do mundo que ainda não nos libertamos. Vem a calhar numa época de efervescência o Brasil atravessa, ou que, de certa forma, em vários países de nosso mesmo mundo atravessam.

Outro Brasil é possivel. Outro olhar é necessário.  

Arquivo Ong Ação Cultural
Projeto Ecarte (Estatuto da Criança e do Adolescente com Arte) - Ano 2004

Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
15/11/2007 · 215 · 18
O ditado popular diz "o que os olhos não vêem o coração não sente", embora no mundo real seja diferente, pois quem é negro, mora na periferia, com pouca estudo ou que estuda em escola pública, que ganha salário mínimo ou que está desempregado o que vê? Falta de respeito pelos direitos humanos mais elementares, o principal deles o direito a vida, quase sempre negado através da sujeira, buracos, ônibus velhos e atrasados, assaltos, mortes, escolas tristes, falta de praças e de outros espaços para a prática da cultura, do esporte e do lazer, desemprego etc...

E o sentimento dominante é de impotência, de acomodação, de passividade, não adianta fazer nada, é muito difícil mudar, a única solução e entregar tudo na mão de Deus e esperar a solução que virá do alto E assim as pessoas vão vivendo e de tão comum os olhos e ouvidos já se acostumaram.

E para fugir da realidade ou para fazer com que as pessoas vejam, mas não enxerguem, há gente de todo tipo. Desde os vendedores de milagres até os traficantes, passando pela maioria dos donos das associações de moradores, das quadrilhas juninas, dos times de futebol, dos bares e muitos, mas muitos cabos eleitorais empregados nas escolas e postos de saúde. Todos eles agindo com a cobertura de uma fabrica de idiotas, a televisão, que como diz o grupo musical Titãs “ Está sempre deixando as pessoas muito burras, burras demais”.

Mas há pessoas que escapam, há aqueles que querem ver com os olhos do coração, aqueles que querem ver o essencial que na opinião do pequeno príncipe é invisível aos olhos do rosto , há aqueles que começam a querer ver com os olhos e os ouvidos do espirito o qual segundo Jesus Cristo muda a forma de ver, de ouvir e as atitudes. “Quem tiver olhos para ver, veja”. “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”.

São nessas pessoas que querem ver e ouvir com o coração, com o espirito, que reside a esperança de um mundo melhor. E estas pessoas estão presentes nos milhares de iniciativas socioculturais espalhados pelo Brasil afora. Estas ações desenvolvidos na sua maioria por ONGs, Movimentos Sociais e setores conscientes das religiões, buscam um olhar que valorize o que se é, mas que procure ir sempre além. Um ouvido que descubra outros sons e outros tons, que não somente o superficial, o efêmero que se ouve em quase todas as rádios. Um olhar critico que considere que assim como a dança, o teatro e a música são criações humanas, a miséria, o desrespeito aos direitos do cidadão, a falta de dignidade também são ,e, portanto podem ser transformados, porque quem transforma o corpo em instrumento para transmissão de beleza e alegria pode também transmitir mensagens de socorro e de solidariedade e intervir nos acontecimentos políticos como bons artistas que aprenderam a lutar pela justiça, para alcançar a paz.

Conta Eduardo Galeano, no Livro dos Abraços que um garoto chamada Diego não conhecia o mar, seu pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul: Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai. - Me ajuda a olhar!

É isto que me estimula a participar de iniciativas que buscam descortinar através das infinitas possibilidades de beleza e criatividade que a arte oferece um mundo de justiça e felicidade.

Penso que seja um bom papel que a arte pode desempenhar em um pais que consegue, sabe Deus como, conviver lado a lado com tanta beleza e com tanta feiura. Ajudar a olhar o que das tradições que herdamos merece ser preservado, o que deve ser jogado fora. Ajudar a olhar o que alimenta as nossas esperanças e os nossos sonhos, e o que nos faz deixar de acreditar e de lutar por eles. Ajudar a olhar o que nos torna diferentes e originais, ao contrário daquilo que nos confunde e que nos deixa bastante parecidos com os demais.

Publicado no Jornal da Cidade em 19 de maio de 2004 com o titulo “Outro mundo é possivel, outro olhar é necessário."
e no Webjornal Balaio de Noticias


P.S.: No periodo de 23 a 25 de Novembro estaremos participando do 3º Fórum Popular de Cultura esperando que este e outros eventos possam contribuir para diminuir o isolamento e a falta de reflexão que enfraquece o potencial transformador das milhares de experiências que envolvem crianças, adolescentes e jovens e algumas centenas de adultos que não deixaram de acreditar que vale a pena continuar fazendo arte e educação popular para virar esse mundo em “Festa, Trabalho e Pão” como disse um dia, o poeta José Carlos Capinam.

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