24.04.2014
Artigo da estudante Yasmin Thayná publicado no Brasil Post
Eu
não tinha conseguido derramar lágrimas intensas durante esses dias
tenebrosos no Rio de Janeiro. Esses dias de Amarildos sumidos, Claudia
arrastada, jovem negro amarrado no poste e tantos outros casos de
extermínio do povo negro. Mas foi no aeroporto de Brasília que derramei
as lágrimas assim que olhei para o céu e já estava de noite. Já tinha
deixado o ônibus com uma parte dos jovens mais importantes do país. Já
não estava morrendo de rir com a história do psicodrama e a psicopiada
do Jean, filho do Nelson Triunfo. Que garoto gente fina e bem humorado!
Já não estava rindo de doer a barriga com a Cinthya do São Miguel do
Gostoso gritando torcendo pelo Vasco da Gama dentro do ônibus que nos
levava ao aeroporto.
Estava partindo para o Rio com ainda mais vontade de fazer coisas, de estar participando mais ativamente desse tipo de construção. Chorei de emoção e dor: encontrei, no Curto Circuito da Juventude, pessoas que nunca encontraria se fosse esperar pelo planejamento geográfico do Brasil, que não foi feito para os encontros. De dor chorei porque boa parte da discussão foi pelo fim do extermínio da juventude negra no Brasil. E tem que ser assim. Enquanto o nosso povo negro estiver morrendo por esse Estado exterminador, não nos calaremos! Enquanto discutíamos políticas públicas para a juventude, um jovem negro foi assassinado na Maré.
Estava partindo para o Rio com ainda mais vontade de fazer coisas, de estar participando mais ativamente desse tipo de construção. Chorei de emoção e dor: encontrei, no Curto Circuito da Juventude, pessoas que nunca encontraria se fosse esperar pelo planejamento geográfico do Brasil, que não foi feito para os encontros. De dor chorei porque boa parte da discussão foi pelo fim do extermínio da juventude negra no Brasil. E tem que ser assim. Enquanto o nosso povo negro estiver morrendo por esse Estado exterminador, não nos calaremos! Enquanto discutíamos políticas públicas para a juventude, um jovem negro foi assassinado na Maré.
No
avião, parei de chorar e disse para mim: eu quero voltar muitas vezes,
mas quero um dia participar de um encontro desses quando não for mais
jovem para ouvir a juventude futura discutir suas políticas públicas.
Quero que o extermínio da juventude negra não seja pauta e que tenhamos
uma cultura que preze pela diversidade, com menos burocracias e para
todxs. Que o povo cigano, indígena e quilombola sejam respeitados. Chega
de extermínio!
Participei de um encontro onde boa parte era composta pela juventude negra. Pela primeira vez, entrei num lugar que não era um encontro específico para pretxs, fiz a minha clássica pergunta: quantxs pretxs? E vi MUITXS. Gente do interior do Acre, de Manaus, de Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe, Pernambuco, Maranhão, Bahia, Goiás, Pará e tantos outros lugares. De quebra, no final do primeiro dia, assisti um show maravilhoso do Gog. Não é pouca tiração de onda não.
Foi o primeiro encontro de cultura que eu me senti parte importante. Onde vi que tinha coisas importantes para dizer, que eu podia participar ativamente sem medo de errar, sem medo de expor os problemas que a minha juventude enfrenta. Eu pude falar sem ser censurada, sem ser menosprezada. Tivemos todos esse espaço de fala que tanto falta dentro dos debates de cultura. O jovem é sempre um espectador. Na maioria das vezes tem alguém decidindo por nós. Estamos mudando!
Participei de um encontro onde boa parte era composta pela juventude negra. Pela primeira vez, entrei num lugar que não era um encontro específico para pretxs, fiz a minha clássica pergunta: quantxs pretxs? E vi MUITXS. Gente do interior do Acre, de Manaus, de Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe, Pernambuco, Maranhão, Bahia, Goiás, Pará e tantos outros lugares. De quebra, no final do primeiro dia, assisti um show maravilhoso do Gog. Não é pouca tiração de onda não.
Foi o primeiro encontro de cultura que eu me senti parte importante. Onde vi que tinha coisas importantes para dizer, que eu podia participar ativamente sem medo de errar, sem medo de expor os problemas que a minha juventude enfrenta. Eu pude falar sem ser censurada, sem ser menosprezada. Tivemos todos esse espaço de fala que tanto falta dentro dos debates de cultura. O jovem é sempre um espectador. Na maioria das vezes tem alguém decidindo por nós. Estamos mudando!
Participei do primeiro
Curto Circuito da Juventude com a Ministra Marta Suplicy ouvindo nossas
necessidades talvez até um pouco surpresa com o grupo potente que esteve
presente lá durante três dias. Pesadão! Esse grupo era pesadão.
No primeiro dia, todo mundo falou o nome, a idade, de onde é e o que
faz. Só nessa rodada de apresentação, já valeu. Gente de todos os
sertões brasileiros (periferias, interiores, favelas, quilombos,
ocupações), e grandes cidades. Todos com ação no território. A maioria
não institucionalizada, muitos coletivos, sujeitos fluidos que apavoram
no país. Elxs querem desburocratizar os editais públicos de cultura,
investimento continuado, diminuir fronteiras, ter o orgulho de contar
quem são, instalar impressoras 3D em equipamentos públicos que
disponibilizam computadores e internet em comunidades e centro de
referência da juventude, um número maior de mulheres na computação,
ampliar o Pronatec, criar micro-centros de formação, lançar uma prática
de troca de pares entre os coletivos (para que eles aprendam um com os
outros a resolver o problema que já lhe pertenceu), investimento direto
para a juventude de maneira não meritocrática, que a juventude LGBT
possa criar uma secretaria dentro do Ministério para criar suas
políticas públicas, ônibus para a juventude ir para as ações em seus
terreiros, baile funk, entre outros; instituição do passe livre, acesso à
memória: substituição de figuras públicas que nomeiam as ruas,
edifícios e outros equipamentos por atores históricos ligados às
tradições e lutas por direitos, volta do edital Ponto de Mídia Livre
Anual, entre outros.
Josinaldo do
Mate com Angu, morador da Maré, puxou o assunto sobre o que está
acontecendo na Maré com as ocupações militares. Os jovens fizeram um ato
simbólico em apoio a todxs xs moradorxs do Complexo e incentivaram o
Ministério da Cultura dialogar com os outros Ministérios.
Fiquei pensando o que é encontrar jovens como eu para discutir
políticas públicas. Somos afetivos (de verdade!!), emocionados (mas não
deslumbrados!!!), acreditamos uns nos outros, nos respeitamos, estamos
sempre dizendo ao outro: máximo respeito. Trocamos WhatsApp, beijos,
abraços, nos apaixonamos uns pelos outros, trocamos Facebook, conversas
pautadas no futuro da cultura. Nos olhamos, nos tocamos, discutimos
muito. Foi isso que fizemos durante os três dias.
Queria deixar um salve aqui para a equipe inteira que produziu o
evento. Um salve super especial ao Guti Fraga, que almoçou com a gente,
olhou nos nossos olhos, prestou atenção, ficou com a gente o tempo todo,
não deixou a gente em momento nenhum. Muito obrigada!
A minha sorte foi ter voltado ao lado do Cebolinha,
do bonde do passinho. Conversamos sobre editais, passinho, funk e
subúrbio. Além de dividir o fone de ouvido comigo, ele disse: "agora sou
um evangélico candomblecista. Me identifiquei com os caras, fiz uma
nova família. Os manos dos terreiros deveriam fazer coisas junto com os
evangélicos".
Conheci maior galera
maneira. Deixo aqui o link (poucos, não dei conta de pegar todos) para
alguns dos trabalhos sensacionais que marcaram presença no evento. Deixo
aqui meu muito obrigada a todxs vocês que hackearam esse encontro!
· Keila Serruya é uma cineasta de Manaus que faz uns corres com vídeo junto com o grupo que se chama Picolé na Massa: http://vimeo.com/keilaserruya
· Leila Tupinambá é produtora do Eu Amo Baile Funk, aqui no Rio de Janeiro:http://www.euamobailefunk.com/
· No sabadão, participei do Sarau Radical, numa
quebrada de Brasília, em São Sebastião realizado pela galera do Radicais Livres - SA.
Essa edição foi mais do que especial. Teve Maracatu, Jean filho do
Nelson Triunfo no beat box para o Mc Caio da VP cantar que "mulher
nenhuma no mundo merece ser estuprada", entre outras intervenções
artísticas do pessoal que foi ao encontro.
· Lá no Sarau, conheci o Magu Diga How, Rapper lá de São Sebastião:http://www.digahow.com.br/site/
· Marcinho Zola é diretor no grupo Instiga Gestão Cultura, lá em Porto Alegre:https://www.facebook.com/instiga.gestao.producao
· Luiz Fernando é ator e produtor no Coletivo Peneira e também produz o Sarau do escritório, no Bar da Cachaça, aqui no Rio:https://www.facebook.com/ColetivoPeneira
· Nilo Mortara é do Paraná e faz parte do Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina- Kinoarte: https://www.facebook.com/fanpagekinoarte?fref=ts
· Conheci a Janaina,
do Circo Crescer e Viver. Ainda quero hacker muito contigo! O pessoal
do Circo, além de ter um programa super importante de circo social, está
produzindo o maior festival internacional de circo:http://www.festivaldecirco.com.br/
· Cinthia Matos de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, faz parte do espaço de cultura e direitos humanos, o Tear: http://tearcultura.blogspot.com/
· O Mil Onilètó lá de São Luis do Maranhão faz parte da Rede Mocambos- Ma / Ile Ase Alagbede Olodumare / Juventude de terreiro.
· A Hanna, de Niterói, faz parte da Revista Biblioo. Vale a pena ler o que ela escreveu sobre o encontro: http://biblioo.info/cultura-pra-quem/
· Pai Júnior do Axé Talabi, de Pernambuco, é idealizador do projeto Comida de Santo: Poéticas Ancestrais da Culinária nagô:http://projetocomidadesanto.blogspot.com.br/
· Suellen Tavares é do Rio, faz parte do querido Grupo Cultural Jongo da Serrinha e também é uma das Jovens Lideranças Jongueiras do Sudeste:http://jongodaserrinha.org/
· André Luis da Associação Jongo Dito Ribeiro/Ile Omonibu Axé Beje-Ero/Jovens de Terreiro RMC/ Coletivo Saravaxé:http://comunidadejongoditoribeiro.wordpress.com/
· Luiza Mançano do CineKombão e Marcha Mundial das Mulheres:http://cinekombao.wordpress.com/
· Greice Ellen de
Guaíba, Rio Grande do Sul do Ponto de Cultura Ilê Axé Cultural -
Assobecaty (Associação Beneficiente Cultural Templo de Yemanjá):http://templodeyemanja.blogspot.com.br/
Assista mais vídeos, AQUI
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