domingo, 11 de fevereiro de 2024

COM-PAIXÃO! (breve reflexão para crentes ou não) Chico Alencar

Sliman Mansour (pintor palestino)

 Esse domingo (de carnaval no Brasil) é também tempo de pensar na nossa postura dentro de uma sociedade excludente e injusta.

O evangelho de Marcos (1, 40-45), lido nas comunidades de fé, é de uma clareza contundente.

A lepra (que hoje denominamos hanseníase), naquela época, era uma doença que gerava tremenda marginalização social. Seus portadores eram expulsos do convívio humano e tinham até que andar com um sininho no pescoço para que ninguém se aproximasse. Isolados fora dos povoados, deviam gritar sua condição à menor aproximação de alguém. Um horror, uma condenação à morte lenta.

Jesus ouve o apelo do leproso ("se queres, tu tens o poder de me purificar!"), fica irado com aquela situação de marginalização, manifesta vontade e AGE: estende a mão, toca na pessoa e lhe restitui a saúde. Recomenda: "não conte nada para ninguém, apresente-se ao sacerdote, seja um testemunho". Não queria idolatria.

Para resgatar a vida plena do outro, que sabia ser seu igual, rompeu as normas vigentes, quebrou tabus, repudiou a discriminação. Ouviu o clamor dos mais esquecidos, tidos como "escória".

Com esse gesto libertador, nem nas cidades podia mais entrar: a notícia se espalhou e "de toda parte as pessoas iam procurá-lo". Preferia o deserto, ficando mais próximo de todos os proscritos.

E nós, o que sentimos diante de tantos marginalizados da nossa sociedade? Que atitude temos para com eles? Qual é nosso empenho para mudar as estruturas do individualismo e da indiferença - que ampliam a quantidade dos à margem? Como reagimos diante daqueles que, usando o nome de Cristo, só pensam na "prosperidade" própria, negando seu exemplo, pregando a "fé em Jesus" mas distantes da fé de Jesus?

Com-paixão é sofrer junto, é estender a mão, é sentir na própria carne a dor do semelhante, açoitado por guerras, miséria, desemprego, desencanto. É combater a "doença" contagiosa do egocentrismo, de só ter olhos para si mesmo, prisioneiro das aparências. Compaixão é carregar em nós as dores e as esperanças da Humanidade.

Carnaval é festa gregária, de cantar o dom da vida, de celebrar junto com os outros a alegria de existir. E não nos impede de refletir: "Deus me proteja de mim/ e da maldade de gente boa/ da bondade da pessoa ruim/ Deus me governe e guarde/ ilumine e zele assim"

(Chico César).

Sejamos sinal de saúde e paz para os outros, em especial os mais abandonados, os que agora estão sofrendo, morrendo, sendo bombardeados de mil maneiras.

Marcos 1

40 Um leproso aproximou-se dele e suplicou-lhe de joelhos: "Se quiseres, podes purificar-me! "

41 Cheio de compaixão, Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: "Quero. Seja purificado! "

42 Imediatamente a lepra o deixou, e ele foi purificado.

43 Em seguida Jesus o despediu, com uma severa advertência:

44 "Olhe, não conte isso a ninguém. Mas vá mostrar-se ao sacerdote e ofereça pela sua purificação os sacrifícios que Moisés ordenou, para que sirva de testemunho".

45 Ele, porém, saiu e começou a tornar público o fato, espalhando a notícia. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente em nenhuma cidade, mas ficava fora, em lugares solitários. Todavia, assim mesmo vinha a ele gente de todas as partes.

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