quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A crise das esquerdas é uma crise de cultura politica e de cultura pedagógica. O que fazer?

Zezito de Oliveira

 A crise das esquerdas é uma crise de cultura politica e de cultura pedagógica... O que fazer?  A pergunta que não quer calar.. Em que medida autores como  Gramsci. Paulo Freire, Negri, Frei Betto e outros do campo do pensamento critico, não necessariamente marxistas ortodoxos ou nem mesmo marxistas,  precisam serem mais visitados e/ou revisitados.  

O autor desse texto no espirito da contracultura...

No caso da velha esquerda é perceptível o quanto as marcas da concentração de poder,  do personalismo, do preconceito, do sectarismo, do  elitismo, do burocratismo  e outras mazelas nessa trilha da dominação e do controle, deixaram marcas e cicatrizes profundas no modo  de conduta de muitas organizações e lideres, um atenuante para buscarmos entender,  é o clima beligerante enfrentado pela esquerda brasileira e mundial, até porque “luta de classes” não é moleza,  em especial para quem precisou/precisa agir na clandestinidade e no limite fazer enfrentamento armado.

O problema foi que,  mesmo com as lutas e  conquistas da redemocratização no plano da macro politica nos anos 1980, embora limitadas, a democracia interna no campo das organizações não conseguiu esvaziar na proporção esperada, os ímpetos autoritários, mesmo disfarçados ou encobertos por práticas supostamente democráticas  e nem reduzir  os danos das marcas e cicatrizes que vem de longa data. Em que pese,  as tentativas do PT que nasceu com  o propósito de superar os dilemas e impasses do antigo modus operandi da esquerda  pré 1980. Mas como nos lembra o genial Belchior, “o novo se tornou antigo”.  

A lembrar, também o expressivo trabalho pedagógico e politico realizado pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nas décadas de 1970 e 1980, antecedido pela Ação Católica, em especial por meio das juventudes católicas (operária, agrária, estudantil, independente e universitária), nas décadas de 1960 e 1970, a primeira década principalmente. Vale ressaltar o papel dessa chamada igreja progressista para o surgimento e consolidação do Partido dos Trabalhadores, inclusive no impulso democratizante e "basista" desta agremiação politica. Se  "basismo" ou "igrejeiro" foram  expressões pejorativas nas décadas de 1980 e 1990, em especial na primeira década, em razão de alguns excessos ou erros na condução da democracia na base, por outro lado, quando isso foi completamente abandonado pelo PT, chegamos ao estado atual, mentes e corações dos pobres e periféricos ocupados de forma demasiada  pela indústria cultural e pelo fundamentalismo religioso, e isso com o auxilio  luxuoso  dos  grandes inquisidores destes tempos,  o Papa João Paulo II e seu fiel escudeiro,  o cardeal Joseph Ratzinger, os quais atirando nos seguidores da teologia da libertação acertaram  a queda na entrada de cristãos oriundos das CEBs e pastorais progressistas no seio do PT, como em outras organizações populares. Neste caso, lembrando mais uma vez Belchior, ou melhor parafraseando Mas veio o tempo da nova inquisição e, esta força regressiva, fez conosco o mal que a força inquisitorial  sempre faz

A AMABA. a práxis pedagógica, cultural e politica em que fiz/faço um bom percurso,  por exemplo, sofreu tanto de forma positiva as consequências disso, a igreja da libertação de vento em popa, assim como de forma negativa,  o combate a teologia da libertação e a igreja de base popular, a partir da aliança EUA & Vaticano no inicio dos anos 1980. 

Quanto a cultura pedagógica, o modelo da educação bancária continua preponderante, mesmo em ambientes em que Paulo Freire é citado, como em muitos espaços de formação sindical, mesmo com as possibilidades que as antigas e novas tecnologias oferecem. As tecnologias atuais também podem ajudar na ampliação e fortalecimento da democratização politica no seio das organizações e das agremiações partidárias.

"A educação bancária, ou a concepção bancária de educação, é um modelo que tem por base o "depósito" de ideias e conteúdos nos alunos. Conceituado por Paulo Freire, este modelo é caracterizado por uma relação fortemente vertical e unilateral entre professor e aluno, educador e educando." (*)

Quem quiser seguir contribuindo com o raciocínio seja bem vindo...

Lembrete, um dos representante da coordenação nacional de um importante ator da cena politica brasileira nestes anos da segunda redemocratização(1985 em diante), João Paulo da coordenação do MST,  traz preocupação semelhante a nossa, com relação a crise das estruturas sindicais e partidárias.

A informação abaixo foi retirada de um slide apresentado por Rudá Ricci na live semanal do Instituto Cultiva.

A lembrar, estruturalmente a sociedade capitalista é construída com base em relações baseadas na concentração de poder, no personalismo, nos preconceitos, no elitismo e etc.. Por isso,  a dificuldade em construir organizações de esquerda dentro do sistema capitalista e direcionando seu modo de pensar e agir na direção contrária, entretanto há necessidade de fazer este enfrentamento,  tanto no campo da subjetividade e da cultura, como no campo da luta politica e da luta econômica. Do contrário, não sairemos de um fantasma que nos assombra e que leva muitos da nova geração a não sentirem vontade de participar de organizações do campo popular. 

O fantasma do anticomunismo que tem como pano de fundo para muitas pessoas,   o autoritarismo com tudo que o acompanha e que já citamos.  "concentração de poder,  personalismo,  preconceito, sectarismo, elitismo, burocratismo e etc. 

Vale lembrar a “auto critica”  um instrumento politico e pedagógico, individual e coletivo ao mesmo tempo,  utilizado pela esquerda revolucionária e também  pela Ação Católica Operária (ACO) em priscas eras...

Pode ser uma resposta, assim como as leituras dos autores acima indicados, além de outros clássicos e contemporâneos. Vale também valorizar e conhecer relatos de experiências de lutas e resistências coletivas, assim como biografias. Relatos e biografias,  não necessariamente no modo escrito, como também no modo audiovisual.

Nesta linha de respostas concretas e viáveis.  quem está fazendo bem é o professor de filosofia da UFS, Romero Venâncio  e o jornalista Cristian Goes. 

Romero com lives e cursos on-line sobre o golpe militar de 1964 e temas ligados a extrema direita, a cultura e a contracultura. E Cristian Goes com a séria de reportagens no site da agência de noticias Mangue Jornalismo sobre  golpe militar de 1964 em Sergipe e com a linha editorial do veículo. 

Retomando e ampliando o título deste artigo, "A crise das esquerdas é uma crise de cultura politica e de cultura pedagógica. Uma crise profunda, portanto." 

E por isso a dificuldade em mobilizar corações e mentes....E se é uma crise profunda.  é preciso ir mais fundo e com jeito.... 

Quem tem buscado responder respostas em profundidade a essa questão é o portal Outras Palavras e o Canal Não é Heresia.  Precisa ser mais lido e apoiado, no caso do primeiro, e mais assistido e apoiado no caso do segundo,   assim como as opções citadas mais acima, entre outras...

E para reforçar o argumento de médio e longo prazo acima, um programa com especialistas neste tempo que urge e que ruge..


P.S.: A  noticia abaixo revela um bom sintoma de nossa grave crise da democracia no plano macro,  ao mesmo tempo nos mostra o reflexo de uma profunda divisão na sociedade brasileira, com um  pensamento arcaico  acerca do tema "democracia",  de um lado, baseado no padrão grego antigo de uma democracia de e para homens adultos proprietários de terra e de escravos,  e um pensamento mais moderno do outro lado, neste segundo caso, partindo das bases iluministas onde foram fincadas as estruturas formais do chamado estado democrático de direito. O que reflete os limites de nossa democracia no plano econômico e cultural, ensejando condições para a ascensão e fortalecimento do pensamento da extrema-direita. O que se conclui portanto é , o quanto o autoritarismo deita raízes em nossa formação como nação,  o que eleva o nível de responsabilidade dos setores progressistas e de esquerda, valendo aqui como lembrança o papel da gestão democrática nas escolas, negligenciada pelo MEC do governo Lula 3, como já tinha sido feito com menos intensidade nos governos anteriores do PT,  desconsiderando a potência democrática da educação pública  como foi dito por um de nossos maiores pensadores na área da educação.  

“Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública”, escreveu Anísio Teixeira em 1936. (**)

Por último, em que medida a também desconsideração por uma prática radicalmente democrática ou uma democracia de alta intensidade no seio das organizações populares, incluindo os sindicatos e os partidos politicos,  colabora para a não compreensão da potência democrática da educação pública como preconizado por Aluísio Teixeira?

Este artigo que começou com uma pergunta, termina com outra....

(*)  https://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o_banc%C3%A1ria

(**) https://educacaointegral.org.br/reportagens/a-escola-publica-e-a-maquina-que-consolidara-a-democracia-no-brasil/

PL de Mourão para anistiar envolvidos no 8 de janeiro é aprovado por 51%

Uma consulta pública está aberta no site do Senado Federal para a população opinar sobre projeto de lei que prevê "perdão" aos acusados de golpe de Estado

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2024/02/6805154-pl-de-mourao-para-anistiar-envolvidos-no-8-de-janeiro-e-aprovado-por-51.html

Hamilton Mourão apresentou projeto de anistia para os criminosos do 8/jan. Tem consulta pública no senado e o "sim" está ganhando. Se vc é contra a anistia(perdão) aos criminosos, vote NÃO e compartilhe essa mensagem entre os seus contatos que defendem a democracia e a justiça: 

https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=160575

Atualizações dessa postagem. Em 25 de Fevereiro de 2024

 

O Brasil não é para amadores! O ato de hoje na paulista é "em defesa da democracia" com protagonistas do golpe!!!!

Pe. Manuel - Londrina/PR

Entendendo como funciona a cabeça de um bolsonarista com o professor João Cezar de Castro Rocha.





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