quinta-feira, 25 de abril de 2024

#abril1974+50 - 25 de abril

 

O que escrevi e publiquei aqui no blog da Ação Cultural em 26 de abril de 2019, agora blog da cultura, no primeiro ano em que um capitão do exército brasileiro, eleito pela maioria do povo brasileiro, ameaçava atrasar o relógio da história do Brasil a abril de 1964  

“Os cravos no Portugal da revolução de abril de 1974, floresceram na primavera, depois de tantos anos de noites escuras e manhãs frias e com céu nublado, em meio também a noites salientes, regadas a bom vinho do Alentejo, alimentando e aquecendo a luta de sempre, por justiça e liberdade, com canções de amor, rebeldia e de esperança.

Também houve dias de sol e praia, para aquecer os corpos e alegrar corações, sempre lembrando que os dias e as noites, vem e vão, assim como as estações. Até que chega o 25 de abril, na primavera de 1974.

Lembrar essa primavera especial será sempre necessário, para que mesmo no inverno possamos nos aquecer com a memória das flores que brotam nos campos, e do sol tranquilo que chega nestes dias. Lembrar que a primavera, no sentido político, como empregado aqui, é uma construção.

Que mesmo demorando, nunca deixa de chegar. Como diz a canção de Nelson Cavaquinho, “O sol há de brilhar mais uma vez….”

Uma terra de duas fraternidades

O impacto do 25 de Abril de 1974 em Portugal foi bastante grande no Brasil, quer junto dos oposicionistas à ditadura que governava a antiga colónia portuguesa, quer junto dos seus dirigentes e apoiantes dos militares que controlavam o poder desde 1964.

Não foi por acaso que antigos membros da elite do fascismo português, como o Presidente da República, Américo Tomaz e Presidente do Conselho deposto, Marcelo Caetano, se refugiaram no Brasil. E também não foi por acaso que a celebração da Revolução dos Cravos criou no cancioneiro dos democratas brasileiros o célebre tema “Tanto Mar” no qual se pede que aquilo que aconteceu em Portugal possa acontecer rapidamente no Brasil – o que só se verificaria em 1985, mais de 10 anos depois.

Mas ainda antes de “Tanto Mar” de Chico Buarque (que estas emissões de Panfelros analisaram na emissão de 24 de Abril de 2023, que pode ser ouvida no site/app RTPplay: https://www.rtp.pt/play/p8339/e687066/panfletos), outra grande vedeta brasileira homenageou o 25 de Abril com a gravação, em 1974, de um single com versões de duas canções de José Afonso: “Maio, Maduro Maio” e “Grândola, Vila Morena”, a senha usada pelos militares do Movimento das Forças Armadas para, através da rádio, darem sinal há 50 anos para o avanço das tropas que realizaram o golpe de Estado.

Nara Leão, a cantora desta “Grândola”, estava sem gravar desde 1972 e tinha a sua vida artística mais ou menos parada, limitada a alguns espetáculos e atuações ocasionais na TV, por ter resolvido focar-se em tirar em apenas num ano, graças às equivalências académicas que já possuía, um curso superior de psicologia, o que veio a conseguir. Ao conhecer, porém, a canção-senha do 25 de Abril, a raiz popular da conceção da composição de José Afonso e a letra sobre a “Terra da Fraternidade”, ela fez questão em gravá-la num disco a que chamou “A senha do novo Portugal” e que a censura brasileira deixou avançar.

Nara não era apenas um símbolo da renovação da música brasileira da segunda metade dos anos 60 que sucedeu à bossa nova dos anos 50, a chamada MPB, a Música Popular Brasileira; ela era também um símbolo político da esquerda brasileira e da luta pela liberdade de expressão – faz parte da história dessa luta o espetáculo de Augusto Boal (que viria a refugiar-se em Portugal depois do 25 de Abril) que em 11 de dezembro de 1964, logo no início da ditadura brasileira, protestava contra o regime e que depois originou um disco com as canções do espetáculo onde Nara Leão se destacava precisamente com a interpretação da canção “Opinião”, sobre a qual também falei numa emissão de Panfletos de 27 de setembro de 2021 (https://www.rtp.pt/play/p8339/e569491/panfletos).

Reprimida e perseguida pelo regime (o poeta Carlos Drummond de Andrade chegou a compor em 1966 um poema intitulado “Não prendam Nara Leão” depois de ela dar uma entrevista a criticar os militares que lhe trouxe mais problemas), Nara, com a sua voz macia, o seu violão e as suas posições políticas e culturais, firmes mas sensatas como quase toda a gente lhe reconheceu quando morreu, aos 47 anos, em 1989, tornar-se-ia um ícone da sua geração.

Nara atuou em Portugal antes do 25 de Abril, quando veio em 1969 ter com Vinicius de Moraes e Chico Buarque (que já estava refugiado em Itália) para dar uma série de seis espetáculos que acabaram por ser nove, dada a procura de bilhetes para o Teatro Villaret em Lisboa ter sido muito superior ao esperado pelo promotor, o ator Raul Solnado.

No final dessa série, Nara Leão, Vinicius e Chico Buarque foram homenageados com um jantar em Alfama onde estiveram Amália Rodrigues, Raul Solnado, o espanhol Joan Manuel Serrat e o compositor italiano, parceiro de Chico, Sergio Bardotti.

Nara adorou a estada em Portugal (voltaria cá em 1985 para uma digressão verdadeiramente gloriosa em várias cidades do nosso país) e essa foi com certeza mais uma razão para, há 50 anos, ao saber da conquista da liberdade, ela ter rapidamente gravado esta versão de “Grândola”.

GRÂNDOLA, VILA MORENA

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo

Em cada rosto igualdade

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada rosto igualdade

O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira

Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade

Jurei ter por companheira,

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

Para ouvir esta emissão de Panfletos, clicar aqui:

https://www.rtp.pt/play/p8339/e764068/panfletos








sexta-feira, 22 de setembro de 2023

O BRASIL PODE APRENDER COM PORTUGAL SOBRE DEMOCRACIA E MEMÓRIA e + canções que acompanha o artigo.




Acesse a matéria do HP e o link para o documento histórico coletivo do qual Glauber Rocha participou de suas filmagens, já que estava em Portugal no histórico 25 de Abril de 1974.

"Em 25 de abril de 1974, Glauber estava em Portugal. Nesta data, o sindicato de trabalhadores do cinema foi às ruas empunhando câmeras para documentar a agitação do povo na rua. Glauber juntou-se aos colegas profissionais de ofício e tomou parte no que viria a ser o filme – o registro mais fidedigno dos desdobramentos da revolução, além de documento histórico e manifesto sobre as relações do cinema como representação histórica." - Leia mais na matéria do Hora do Povo de 2021, republicada hoje, sobre o documento histórico "As Armas e o Povo", restaurado pela Cinemateca Portuguesa - https://horadopovo.com.br/as-armas-e-o-povo-o-encontro-de-glauber-rocha-com-a-revolucao-de-25-de-abril  / O link para o documentário que consta da matéria, do canal da Cinemateca Portuguesa, está indisponível. Segue outro link válido - https://youtu.be/h2vDdG9szrs

FICHA TÉCNICA DE "AS ARMAS E O POVO":

Realização: Colectivo dos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica

Colaboração: Acácio de Almeida, José de Sá Caetano, José Fonseca e Costa, Eduardo Geada, António Escudeiro, Mário Cabrita Gil, Fernando Lopes, António de Macedo, João Moedas Miguel, Glauber Rocha, Elso Roque, Henrique Espírito Santo, Artur Semedo, Fernando Matos Silva, João Matos Silva, Manuel Costa e Silva, Luís Galvão Teles, António da Cunha Telles

Montagem: Monique Rutler

Produção: Sindicato dos Trabalhadores da Produção de Cinema e Televisão/Instituto Português de Cinema

Laboratório: Tóbis Portuguesa

Estúdio de Som: Valentim de Carvalho

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