segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Lembrando o bem viver com o LP Em Canto lançado em Sergipe no ano de 1993 em Propriá.

Show de lançamento do LP Em Canto no Ginásio Diocesano em Propriá (SE).
Maria Cleía - Uma das integrantes da caravana que foi a Propriá participar do Show de lançamento de Em Canto. Acima em foto no Curso de Inverno em João Pessoa (PB). Inicio dos anos 1990.
Fotos: Emanuel Rocha

A transmissão na tarde do sábado, 31/07/2021,  do encontro musical de celebração dos trinta anos do lançamento do  LP Em Canto, reavivou a memória de muita gente espalhada Brasil a fora que tiveram contato com esta obra, além de alguns países do exterior.

O trabalho de Zé Vicente e Babi Fonteles foi lançado em um momento bem  difícil para nós brasileiros, com muitas semelhanças com o momento atual.  Lembro  de  ter visto o LP pela primeira vez em uma manhã de segunda feira na sede da Associação dos Moradores do Bairro América (AMABA).

Naquele tempo, ano de 1993  , a AMABA era o cenário e palco principal de um intenso trabalho de arte-educação popular, um trabalho social-educativo com linguagens artísticas realizado com crianças e adolescentes de um importante bairro da periferia de Aracaju.

O LP me foi apresentado por Emanuel Rocha, então coordenador geral do Projeto Reculturarte (Reeducação, Cultura e Arte), o qual foi acompanhado até a cidade de Propriá, por sete pessoas, entre jovens como ele e adolescentes, todos educadores do Reculturarte, além de educadores e militantes de organizações e movimentos sociais de Aracaju, alguns nascidos em Propriá,  e um amigo residente na cidade baiana de Camaçari, Francisco Glória, educador popular que veio se encontrar com a caravana de Aracaju rumo ao show Em Canto em Propriá.

Nessa cidade havia  um bispo católico progressista, Dom José Brandão de Castro,  em atuação desde a década de 1960, isso favoreceu bastante  a presença de Zé Vicente, Babi Fonteles  e as canções do Em Canto.

Quando soube da disposição dos educadores do Reculturarte em participar do show de lançamento em Propriá  fiquei muito feliz, porque como um dos fundadores e dirigente da AMABA, assim como  um dos principais idealizadores do Projeto Reculturarte, sempre busquei conhecer pessoas e iniciativas socioculturais semelhante a proposta do Reculturarte, assim como favorecer o mesmo aos educadores do Reculturarte. O que não era tão fácil em nosso entorno, tendo em  vista não haver iniciativas semelhantes em Aracaju e cidades próximas, salvo por  um período curto de tempo no inicio dos anos de 1960 com o trabalho desenvolvido pelo Movimento de Educação de Base (MEB), mas que as perseguições da  ditadura civil-militar de 1964 e as disputas ideológicas internas da igreja católica levaram  ao fim no final dos anos de 1960 e apagamento de uma parte significativa da memória.

Clique em cima das frases em azul para ter acesso a mais informações.

            Zé Vicente. Quem é este cantor

    Essa e outras histórias estarão nos três volumes do livro sobre a     AMABA/Projeto Reculturarte, cujo primeiro volume será lançado em     dezembro de 2021. 

    Livro AMABA/Projeto Reculturarte no facebook

No ano de 2020 recolhendo material documental para a escrita do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte, chegou até minhas mãos um conjunto de fotografias que avivou a memória pessoal acerca do lançamento de Em Canto em Propriá. Estas fotografias chegaram em minhas mãos por intermédio de  Crécia Paixão, uma das adolescentes que estiveram presentes ao acontecimento.

Também vieram fotografias da participação de Emanuel Rocha e Maria Cleia no Curso de Inverno em João Pessoa na Paraíba. Cleia veio a ser sua namorada e esposa. Fez parte da equipe de educadores  do Reculturarte, tendo infelizmente falecido no ano de 2005,   após ter dado importante contribuição para o sucesso das oficinas culturais, atividades educativas e mostras culturais do projeto.

Foi no Curso de Inverno no inicio da década de 1990, destinado a formação integral  de educadores, agentes culturais e religiosos ligados a teologia da libertação, todos com atuação em comunidades que Emanuel e Cleia tiveram o primeiro contato com Zé Vicente e sua arte, assim como a arte de  outros artistas populares  ligados as comunidades eclesiais de base e a iniciativas culturais de base comunitária.

Em meados da  década de 1990, também me recordo em Recife ,  ter participado com imenso prazer de uma coreografia com uma das músicas emblemáticas de EnCanto, “Companheira”, organizada por um grupo de mulheres residentes em Fortaleza, tratava-se de um seminário/oficina  acerca da questão de gênero, organizado para um publico misto de educadores (as)  populares na linha do mesmo espirito dos Cursos de Inverno na Paraíba. A promoção foi do Centro Nordestino de Animação Popular (CENAP).

    Ouça aqui as canções de Em Canto

            Conheça Propriá

Em termos de conceito,  “Em Canto” trazia uma proposta de canção popular na linha do que conhecemos como “Cantoria”, uma canção folk nordestina que remete a toada tradicional, porém carregadas de elementos da canção brasileira contemporânea. Ou seja, uma canção boa para tocar no rádio, sem ficar nada a dever ao que foi produzido por Geraldo Azevedo, Xangai, Vital  Farias, Ednardo, Belchior,  Sá e Guarabyra, Boca Livre e etc....

Em 23 de setembro de  2005, cantei “Companheira” junto com Rosângela Souza, ex-educadora do Reculturarte,  na missa de sétimo dia do falecimento de  Maria Cleia.

Em 13 de dezembro de 2013, cantei a mesma canção junto com Irene Smith, minha esposa, em nosso casamento, celebrado na igreja católica.

Zezito de Oliveira

O texto acima foi publicado no boletim da AMABA


Para assistir ou rever a transmissão do encontro virtual para celebrar os 30 anos de Em Canto.






"Babi Fonteles & Zé Vicente Em Canto" - O Long Play

Eu sou do tempo do LP, ou long play.
Quem não gravou um LP, não conhece a emoção do demorado processo que era a produção daquele imenso disco preto, cheio de sulcos a serem preservados de arranhões, que tocava um som com fundo de chuva fina.

O primeiro - e o único - LP que gravei, "Babi Fonteles & Zé Vicente Em Canto", uma produção independente, carrega consigo muitas histórias. Desde sua primeira versão em cassete, em 1991, este álbum me levou a lugares a pessoas entre os/as mais inusitados/as de minha vida. Lembro, por exemplo, o show realizado no Teatro Romano, em Verona, na Itália, no dia 13 de junho de 1992, quando milhares de pessoas se apinhavam dentro do recinto para nos assistir e, depois, invadindo o palco para cantar nossas canções e pedir bis inúmeras vezes, até que os seguranças nos pedissem para parar, por receio de que a estrutura do palco não aguentasse o peso de tanta gente.

Compartilho com vocês, amig@s, este trabalho já em sua maioridade de 18 anos!

Guardarei as histórias para contá-las aos poucos, neste espaço. Por ora, ofereço a vocês o texto escrito a quatro mãos com o parceiro Zé Vicente, que serviu de apresentação no encarte do LP.

Babi Fonteles - 2009

BOM LEMBRAR!

Junho de 91.

Nos encontramos em Recife,

Primeira gravação em cassete de “Em Canto”.

Era inverno no litoral

Chovia, chovia.

Tudo marcado de novidade e sonho.

A banda juvenil “Flor da Pele”

- Geraldo, Naldo, Léo, César Michilles –

Meninos lindos, plenos de audácia e alegria!

Ana Diniz, a Bisquí, presente

Companheira na voz e no carinho.

Margareth Malfliet nos olhando de longe

Encorajando com sua solidariedade concreta,

Dizendo sempre “vão sem frente!”

A vocês, cambada querida,

A quem deu força sem nada exigir,

Um beijo de ternura e saudade!

Nasceu “Em Canto”

Com direito até àquelas vigílias e lágrimas

Noite adentro,

Coisas da vida!

Março de 93,

Fortaleza 31 graus.

Estamos gravando o disco “Em Canto”.

Novo adjunto de energias, recursos, suores e paixão!

Tem mais gente se “em cantando”

Na cartada,

Nossos parentes artistas:

Pingo de Fortaleza, Eugênio Leandro, Flávio Paiva,

Luis Carlos Fonteles e tantos outros

Indicam contatos importantes,

Vêm participar com brilho e cumplicidade.

Nossos queridos Zé Maria, Lúcia, Durval, Geosa

Nos entregam a “chave da casa”

E nos sentimos em família!

O bloco de apoio econômico

E é um leque que se abre sempre mais

Contemplando até apoios “anônimos”,

Incluindo algumas instituições a quem recorremos

Na certeza da importância cultural do nosso projeto,

Mas na humildade de quem necessita:

Companheiros(as) de Cà Forneletti – Itália,

Universidade Federal do Ceará (UFC),

CBC & Associados Propaganda LTDA.

Estamos certos, outras mãos chegarão
E já respiramos aquele ar de satisfação

E reconhecimento!

Olhamos aqui, prá dentro da gente,

E sussurramos ao coração:

- vamos, pé na estrada

Afirmando na música

Que vale a vida, a beleza,

Todos os passos de resistência cultural

Ensaiados por nós, povo,

Aqui, no sertão do mundo.

A hora exige

O coração pede.

Valeu, povo querido!

Zé e Babi.

Assista também:

Babi Fonteles e Zé Vicente em Bovolone, Italia, 28.05.1992

Apresentação musical de Babi Fonteles e Zé Vicente realizada na cidade Bovolone durante a turnê do Movimento de Artistas da Caminhada - MARCA realizada na Itália, no período de abril a junho de 1992. Nesta apresentação, marcam presença também os companheiros/as de caravana, artistas da pintura e do teatro, além de muitos amigos e amigas das instituições que organizaram nossa turnê, na plateia


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