Sejamos criticos, mas não sejamos bobos.
Produzi esse texto depois de ter decidido parar e descansar, porém, um mote surgiu em minha cabeça e liguei novamente o computador por volta da 1 hora da manhã e então comecei a redigi-lo. E lá se vai, mais um dia.... (Zezito de Oliveira)
Este jogo politico no Brasil já estava mesmo muito parado, sem emoção ou então bastante dominado por temas de cunho moral e conservador, seja no plano religioso(bolsa crack, cura gay), como no plano sexual(kit ou casamento gay) ou politico (corrupção).
Leia o texto abaixo também no local de origem. AQUI
Produzi esse texto depois de ter decidido parar e descansar, porém, um mote surgiu em minha cabeça e liguei novamente o computador por volta da 1 hora da manhã e então comecei a redigi-lo. E lá se vai, mais um dia.... (Zezito de Oliveira)
Este jogo politico no Brasil já estava mesmo muito parado, sem emoção ou então bastante dominado por temas de cunho moral e conservador, seja no plano religioso(bolsa crack, cura gay), como no plano sexual(kit ou casamento gay) ou politico (corrupção).
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E DAQUI, PARA ONDE VAMOS?
Hoje participei da manifestação que
ocorreu em Belo Horizonte e sinto-me à vontade para dizer algo: Geraldo
Alckmin conseguiu o que queria e entrou para a História do Brasil. Não
como sonhava entrar, mas seu nome já está garantido ao menos como nota
de rodapé nos livros didáticos.
Explico: até a noite de quinta-feira, 13
de junho, o movimento que ocorria pontualmente ao redor do Brasil em
protesto ao aumento das passagens de ônibus era algo relativamente
difuso, sem muito potencial para crescimento. Havia duas opções de
desfecho: as passagens seriam reduzidas (como ocorreu em Porto Alegre) e
tudo voltaria ao normal ou eventualmente a negativa das empresas e do
governo deixaria claro que nada poderia ser feito quanto à questão. No
entanto, a partir do instante em que Alckmin agiu como Alckmin (e Serra)
e ordenou que a PM reprimisse a manifestação popular com força
desproporcional, catalisou um processo que talvez levasse um tempo
infinitamente maior para se cristalizar. Ninguém gosta de um bully
– e o governo tucano, como já havia se mostrado em tantas outras
ocasiões (com professores da rede pública, estudantes da USP, habitantes
do Pinheirinhos e até mesmo com a Polícia Civil), não hesita em se
entregar ao bullying sempre que questionado.
Desta vez, porém, Alckmin errou feio seu
cálculo e criou um monstro que se espalhou por todo o país. A partir de
quinta-feira, a questão definitivamente já não girava mais em torno de
20 centavos ou mesmo do transporte público livre; era uma questão de
cidadania. E, como tal, deixou também de ser algo contra o governo
tucano ou a prefeitura petista, passando a ser um grito de revolta
generalizado, um berro de “chega!”.
Mas “chega” o quê?
E foi esta pergunta que vi tantos jovens
se fazendo durante o manifesto em BH – mesmo que não percebessem o
questionamento. Assim, voltei para casa feliz por testemunhar o
despertar de uma juventude repleta de potencial, mas também inquieto por
perceber claramente que ela não tem ainda uma ideia muito clara do que
está fazendo ou de como prosseguir.
O que resulta numa combinação muito, muito perigosa.
(Aqui peço licença para um breve
flashback pessoal para estabelecer por que me julgo detentor de certa
experiência para discutir a questão: em 1992, depois de fundar e
presidir por dois anos o grêmio do colégio no qual estudava – Promove
Savassi -, fui eleito em assembleia estudantil como líder do movimento
secundarista no Fora Collor. Como tal, participei da organização das
manifestações em Belo Horizonte, discursei em carro de som na Praça da
Liberdade e na Praça Sete e fui o rosto de meus colegas sempre que uma
entrevista à imprensa era necessária – e certamente há fitas embaraçosas
nas emissoras mineiras que trazem meu rosto moleque tentando parecer
sério enquanto discute os motivos que tornavam necessária a saída do
Presidente. Na época, fui um dos estrategistas do movimento em Minas,
ajudando a decidir datas, locais e focos de protesto – e mais tarde
presidiria o DA da faculdade até abandonar o movimento estudantil ao
perceber que precisava me focar nos estudos. Não sou, portanto, um mero
palpiteiro, creio eu. Fim do flashback.)
Ao caminhar entre a multidão de milhares
de pessoas neste sábado, percebi duas coisas muito óbvias: uma imensa
empolgação e uma preocupante falta de foco.
A primeira é fácil compreender: há anos a
juventude não ia às ruas – e, como toda geração, eventualmente era
inevitável que ela se questionasse acerca de sua própria revolução. A
geração anterior teve o “Fora Collor!”; antes dessa, houve a luta contra
a Ditadura. O que a geração pós-anos 90 tinha para protestar, porém?
Quando e como poderia extravasar o impulso rebelde que faz parte do DNA
jovem e que é algo tão belo e fundamental para o avanço da Humanidade?
Os últimos dias trouxeram esta
oportunidade – e não é à toa que um jovem amigo pelo qual tenho imenso
carinho me enviou uma mensagem por telefone na qual dizia, em parte,
“estar em êxtase” após a passeata. Como não estaria? Lembro-me de meus
dias de líder estudantil e ainda sinto o calor nostálgico da sensação de
dever cumprido: como tantos antes de mim, eu estava deixando minha
marca na História.
É um sentimento lindo, único, precioso. E
sinto-me privilegiado por ter testemunhado o brilho que este trouxe aos
olhos de tantos jovens hoje em Belo Horizonte. Eu olhava ao meu redor e
via este êxtase em todos os rostos lisos que me cercavam – e sentia a
vontade de abraçá-los com força e dizer: “Eu sei. É lindo, não é?”.
Sim, é lindo.
Mas eu também me sentia inquieto ao
observar que, ao lado da euforia, havia uma clara dispersão de
objetivos. Assim, puxei papo com vários jovens e observei atentamente os
cartazes que carregavam.
“Pela humanização das prostitutas!”
“O corpo é meu! Legalizem o aborto!”
“Fora, Lacerda!”
“Viva o casamento gay!”
“Passe Livre já!”
“Passagem a 2,80 é assalto!”
“Pelo fim da PM no Brasil!”
“Cadê a Dilma da guerrilha?”
“Fuck you, PSTU!”
“Aécio NEVER!”
“Não à Copa no Brasil!”
E por aí afora. Era um festival
desconjuntado de causas, ideologias e revoltas. Os cartazes tratavam dos
sintomas, não da doença – e ao berrarem os sintomas pelas ruas de BH em
vez de identificarem a patologia que os provocavam, aqueles jovens
pareciam felizes, sim, mas também um pouco perdidos.
Passei a caminhar silencioso pela
multidão. Sentia a energia gostosa, positiva, da ação juvenil, mas
mergulhava cada vez mais em uma reflexão preocupada sobre o que via.
Seria apenas um sinal dos tempos? Uma revolução do tempo das redes
sociais, nas quais você pode “curtir” uma mensagem, uma causa, a cada
segundo? Havia, sim, um componente de hiperlink até nos bordões
cantados pela massa: um refrão sobre os ônibus levava a outro sobre a
PM que levava a outro sobre a Copa que levava a outro sobre Lacerda que
levava a outro sobre…
… sobre o quê?
Ao chegar em casa, manifestei esta
dúvida no Twitter e alguns jovens imediatamente responderam: “Ninguém
nos representa!” e “Sim, estamos contra tudo!”.
Mas “estar contra tudo” não é ideologia.
E sem ideologia não há movimento que se
sustente. Ou, no mínimo, que se sustente de maneira consistente – o que
abre espaço para a manipulação.
Foi isto, enfim, que me angustiou profundamente.
Vivemos em tempos perigosos: a direita
religiosa se torna cada vez mais influente e as grandes empresas da
mídia já perceberam que o PSDB não é uma oposição viável – e, assim,
decidiram ser elas mesmas a Oposição. Não é à toa que, contradizendo
todos os índices econômicos divulgados por órgãos independentes, a
Globo, a Foxlha, a Veja e o Estadão vêm pintando um quadro de
instabilidade crescente: inflação alta, dólar alto, PIB decrescente e
por aí afora, pintando um país em crise que, sejamos honestos, não
corresponde ao que vemos todos os dias nas ruas.
Enquanto isso, o aliado histórico dos
movimentos populares, o PT, parece ter se esquecido de suas origens:
tímido em sua resposta à brutalidade da PM, Haddad apenas embaraçou-se
ao relativizar os excessos da polícia – e sua proposta de se reunir com
as lideranças do movimento Passe Livre vem tardio, já que estas já não
representam mais as massas na rua. Enquanto isso, Dilma é vaiada num
estádio lotado por representar o poder – mesmo que, há pouco tempo,
tenha oferecido subsídios justamente para diminuir as passagens de
ônibus que, ironicamente, serviram como estopim da revolta.
Ora, se o PT não é visto mais como
representante popular pelos manifestantes (e nem tem projeto que o
aproxime da juventude) e o PSDB é claramente a mão pesada da repressão,
para onde os jovens podem se voltar? Além disso, como não têm uma causa
específica a defender, estes empolgados rapazes e moças criam um
problema impossível, já que não há solução viável que os acalme. Como
resultado, surge apenas um clima imponderável de insatisfação política
generalizada – um clima complexo, intenso, raivoso e insolúvel.
É deste tipo de contexto que nascem os golpes.
E esta não seria uma solução que desagradaria os barões da mídia – lembrem-se das manchetes dO Globo pós-golpe em 64.
Claro que esta não é a única resolução
possível para o quadro que se desenha. Uma revolução sem foco é uma
revolução em busca de um líder, de um emblema, de uma figura messiânica.
E não há, hoje, uma estrutura política mais equipada para preencher
este vácuo que a direita religiosa.
A guinada reacionário-fascista, portanto, é uma possibilidade nada absurda para este movimento que nasce tão bem intencionado.
Isto, aliás, é que me deixa tão
preocupado: os jovens que vi hoje na rua eram… lindos. Lindos. Felizes
em seu papel democrático, acreditavam estar desempenhando uma função
histórica fundamental. E estão. Mas se não surgir um foco para esta
embrionária revolução, o perigo para que ela se desvirtue e seja
cooptada pelo que temos de mais reacionário, conservador, atrasado e
estúpido é real e imediato.
E veríamos, então, a destruição dos
resultados trazidos por dez anos de um projeto político voltado de forma
inédita para o crescimento social dos miseráveis. Ninguém duvida que,
do ponto de vista social, o Brasil de 2013 seja infinitamente melhor que
o de 2003. Mas se esta massa juvenil maravilhosa não encontrar o foco
necessário, corremos um grande risco de regressarmos a 1993.
Foi isto, afinal, que me deixou tão triste após uma tarde de alegria ao lado daqueles admiráveis jovens.
Pablo Villaça.
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