*- Só para começar -*
*Roberto Malvezzi (Gogó)*
1. Estamos vivendo os primeiros momentos de uma nova era,
caracterizada pela crescente democracia direta, feita pela internet, meios de comunicação e nas ruas. As novas tecnologias permitem essa nova forma de fazer política com mais constância e profundidade. Veio para ficar.
2. As manifestações de rua não foram contra os partidos ou
movimentos, como querem alguns, mas contra os oportunismos partidários de aparecerem somente quando o povo já está na rua.
3. As manifestações questionam, sim, a inércia do sistema
representativo quando se trata da defesa dos interesses populares:
partidos, sindicatos, movimentos sociais organizados, silenciados nos últimos anos por deliberação própria, para não incomodar o governo, ou pela ocupação dos cargos públicos para defesa de interesses pessoais ecorporativos, também estão sob o crivo das ruas.
4. Não há risco de ditaduras ou golpes. Quem está nas ruas quer
liberdade de expressão porque não se sente expresso e representado nos meios institucionais. A direita – e sua extrema nazista – pode ter pego carona nos acontecimentos, mas é minoritária e não tem força própria nos meios populares. Portanto, muito ao contrário de ditaduras, o povo quer ter voz própria.
5. Não há mais como autoridades públicas esconderem-se sob rótulos ideológicos. Quem não tiver alguma competência administrativa, mesmo que de esquerda, será julgado pelas ruas.
6. A manifestação da rua exige uma revisão das políticas públicas e de desenvolvimento. O transporte público é o exemplo do momento, menosprezado diante da indústria automobilística do carro individual.
Entretanto, a política para recuperar a economia foi pela isenção do IPI para novos veículos particulares. As ruas estão entupidas de carros e o transporte público emperrado. Alguma autoridade um dia terá que enfrentar esse paradoxo. Mas, esse é um paradoxo de um modelo de civilização, não apenas de um governo.
7. Os gastos com obras faraônicas – maioria inútil – doravante
estarão sob o crivo da crítica popular, não somente de especialistas ou da mídia convencional. A prática promíscua da relação entre o dinheiro público e as empresas privadas vai estar sob o fogo cerrado com o aumento das informações.
8. As manifestações tem um caráter mais de classe média, mas, se ameaçarem o Bolsa Família, agências bancárias e organismos públicos verão a onda das massas mais pobres da sociedade surgirem praticamente do nada.
9. Nosso povo quer mesmo investimentos em transporte público, saúde, educação, saneamento, etc. Ou as autoridades se debruçam sobre essas exigências com decisão política de implementá-las, ou o povo voltará às ruas na próxima oportunidade.
10. A mídia convencional está mais perplexa que as autoridades públicas. O circo das copas e das olimpíadas acabou. Novas cobranças virão. A mídia também está sob o olhar das ruas.
Por Amaro Fleck, estudante de Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) colaborador da Revista Vaidapé.
Fotos por Gabriela Batista [FotoEnquadro]
Como outros milhares de brasileiros, sobretudo jovens de classe média, fui aos protestos de ontem. Diferentemente deles, porém, o que me moveu até o protesto era mais uma mescla de curiosidade e perplexidade do que, propriamente, de indignação (embora certamente esteja indignado, e não pouco, com a situação presente). Saí mais confuso e perplexo do protesto do que cheguei nele. E gostaria de dividir os motivos e algumas reflexões, correndo o risco de fazer a análise em meio ao acontecimento, sem saber ainda o que pode e vai resultar dele.
Em primeiro lugar, é preciso não ceder ao (completo) pessimismo. O Movimento Passe Livre (MPL), principal organizador dos protestos, ao menos no começo deles, é um movimento progressista, com um discurso coerente, afinado e sobretudo inteligente. A sua reivindicação não só é legítima como correta. Eles pedem um serviço de transporte público gratuito, de qualidade, financiado por impostos progressivos que incidam sobre a parcela mais abastada da população (é pena que esta última informação seja pouco dada, sobretudo pela grande imprensa). Isto não só é possível como melhoraria muito a vida e o trânsito das cidades, e diminuiria um pouco o imenso abismo que divide os dois brasis, o dos ricos e o dos pobres.
Os ganhos imediatos das manifestações também não foram poucos: 1) As tarifas dos ônibus diminuíram ou deixaram de ser aumentadas em várias cidades (e isto é uma vitória que não deve ser menosprezada); 2) A pauta por melhorias no transporte público foi elevada de um assunto secundário para tema de primeira grandeza, de modo que, num futuro próximo, é bastante provável que tenhamos melhorias consideráveis (em grande parte por temor de nossos governantes); 3) Nos últimos anos, toda manifestação que não tinha uma pauta puramente conservadora era tachada imediatamente de baderna e tratado como caso de polícia, desta vez foi diferente (aliás, passou a ser diferente após os confrontos no protesto da primeira quinta feira, em São Paulo, quando diversos jornalistas foram presos e agredidos), e, acredito, pode passar a ser diferente nos próximos (já que, doravante, qualquer manifestação é fogo perto de barril de pólvora); por fim, mas não menos importante, foi uma grande demonstração, legítima, de insatisfação popular, sobretudo com os gastos abusivos do dinheiro público com a copa das confederações e do mundo, assim como com as olimpíadas. Este dinheiro podia e devia ter sido mais bem aplicado, em mudanças estruturais, e foi desperdiçado, trará pouquíssimos benefícios, e estes serão dados principalmente para a parcela abastada que poderá pagar por ingressos tão caros e pelos times de futebol milionários que ganharão os estádios passado os eventos.
Mas nem tudo são flores. Em um dia chuvoso e cinzento, com vinte mil pessoas reunidas e a cidade parada, demorei algum tempo para ouvir um grito mais inteligente do que “capa de chuva a cinco reais”. Um discurso moralista e vazio de “basta de corrupção” era o predominante. O ódio a todos os políticos e partidos também. A ausência de qualquer discussão mais aprofundada por medidas institucionais (como o financiamento público de campanhas políticas) que dessem crédito a alguma esperança de mudança na vida política brasileira era notável. Aqui e acolá eram vistos cartazes com os ditos “fora PT” ou “fora Dilma”. Nada contra, estou entre os primeiros dentre os decepcionados com este partido e com este governo. Mas quem por em seu lugar? PSDB? DEM? PMDB? Ou o novo partido dos banqueiros, a REDE da Marina Silva? “Nem direita, nem esquerda, para frente”. Sério? Parece um slogan na medida para a REDE ou o PSD, Kassab assinaria embaixo.
As juventudes do PSOL, PSTU, PCB e mesmo gatos pingados do PT e do PC do B eram hostilizados pelos jovens nacionalistas, enrolados na bandeira positivista que clama por “ordem” e cantando um hino ufanista e conservador que tomam por brasileiro. Eram chamados de oportunistas, eles, que sempre estão nas manifestações progressistas, sejam estas por melhorias de transporte, por moradia popular, por direitos das minorias, mesmo quando a polícia reprime e a televisão não noticia. Lástima. Infelizmente, nenhuma mudança virá se não passar por vereadores, prefeitos, deputados, senadores e um ou uma presidente/a que ao menos compartilhem de algumas de nossas (?) visões.
Quem confunde Jean Wyllys com a bancada evangélica, Romário com a bancada da bola, Suplicy com os mensaleiros (sejam tucanos, sejam petistas), não percebe nem qual é o problema, nem qual a solução. E assim, viram a massa de manobra para uma mídia reacionária que está revoltada desde que seus favoritos não estão no comando desta tão imperfeita e indecente República. Se há ganhos por enquanto, parece ser este o momento de retornar às casas e aumentar o longo e penoso processo de politização social, debater os rumos e fazer as reflexões necessárias. Melhorias não vêm por acaso, e é preciso bons debates antes delas. O nível de politização dos protestos serve de claro aviso de que podem não vir boas coisas de uma continuação dele. Por enquanto, o melhor é pressionar o governo (nacional) existente e não substituí-lo. Tentar, na medida do possível, jogá-lo para a esquerda quando tantas e tão poderosas forças parecem levá-lo, cada vez mais, para a direita.
10 Coisas que grifei do discurso de Dilma
Um vídeo muito interessante e que acho devia ser
compartilhado porque nas rua tem muita gente quem nem sabe porque está lá.
Massa de Manobra de Uma Mídia Reacionária
Fotos por Gabriela Batista [FotoEnquadro]
Como outros milhares de brasileiros, sobretudo jovens de classe média, fui aos protestos de ontem. Diferentemente deles, porém, o que me moveu até o protesto era mais uma mescla de curiosidade e perplexidade do que, propriamente, de indignação (embora certamente esteja indignado, e não pouco, com a situação presente). Saí mais confuso e perplexo do protesto do que cheguei nele. E gostaria de dividir os motivos e algumas reflexões, correndo o risco de fazer a análise em meio ao acontecimento, sem saber ainda o que pode e vai resultar dele.
Em primeiro lugar, é preciso não ceder ao (completo) pessimismo. O Movimento Passe Livre (MPL), principal organizador dos protestos, ao menos no começo deles, é um movimento progressista, com um discurso coerente, afinado e sobretudo inteligente. A sua reivindicação não só é legítima como correta. Eles pedem um serviço de transporte público gratuito, de qualidade, financiado por impostos progressivos que incidam sobre a parcela mais abastada da população (é pena que esta última informação seja pouco dada, sobretudo pela grande imprensa). Isto não só é possível como melhoraria muito a vida e o trânsito das cidades, e diminuiria um pouco o imenso abismo que divide os dois brasis, o dos ricos e o dos pobres.
Os ganhos imediatos das manifestações também não foram poucos: 1) As tarifas dos ônibus diminuíram ou deixaram de ser aumentadas em várias cidades (e isto é uma vitória que não deve ser menosprezada); 2) A pauta por melhorias no transporte público foi elevada de um assunto secundário para tema de primeira grandeza, de modo que, num futuro próximo, é bastante provável que tenhamos melhorias consideráveis (em grande parte por temor de nossos governantes); 3) Nos últimos anos, toda manifestação que não tinha uma pauta puramente conservadora era tachada imediatamente de baderna e tratado como caso de polícia, desta vez foi diferente (aliás, passou a ser diferente após os confrontos no protesto da primeira quinta feira, em São Paulo, quando diversos jornalistas foram presos e agredidos), e, acredito, pode passar a ser diferente nos próximos (já que, doravante, qualquer manifestação é fogo perto de barril de pólvora); por fim, mas não menos importante, foi uma grande demonstração, legítima, de insatisfação popular, sobretudo com os gastos abusivos do dinheiro público com a copa das confederações e do mundo, assim como com as olimpíadas. Este dinheiro podia e devia ter sido mais bem aplicado, em mudanças estruturais, e foi desperdiçado, trará pouquíssimos benefícios, e estes serão dados principalmente para a parcela abastada que poderá pagar por ingressos tão caros e pelos times de futebol milionários que ganharão os estádios passado os eventos.
Mas nem tudo são flores. Em um dia chuvoso e cinzento, com vinte mil pessoas reunidas e a cidade parada, demorei algum tempo para ouvir um grito mais inteligente do que “capa de chuva a cinco reais”. Um discurso moralista e vazio de “basta de corrupção” era o predominante. O ódio a todos os políticos e partidos também. A ausência de qualquer discussão mais aprofundada por medidas institucionais (como o financiamento público de campanhas políticas) que dessem crédito a alguma esperança de mudança na vida política brasileira era notável. Aqui e acolá eram vistos cartazes com os ditos “fora PT” ou “fora Dilma”. Nada contra, estou entre os primeiros dentre os decepcionados com este partido e com este governo. Mas quem por em seu lugar? PSDB? DEM? PMDB? Ou o novo partido dos banqueiros, a REDE da Marina Silva? “Nem direita, nem esquerda, para frente”. Sério? Parece um slogan na medida para a REDE ou o PSD, Kassab assinaria embaixo.
As juventudes do PSOL, PSTU, PCB e mesmo gatos pingados do PT e do PC do B eram hostilizados pelos jovens nacionalistas, enrolados na bandeira positivista que clama por “ordem” e cantando um hino ufanista e conservador que tomam por brasileiro. Eram chamados de oportunistas, eles, que sempre estão nas manifestações progressistas, sejam estas por melhorias de transporte, por moradia popular, por direitos das minorias, mesmo quando a polícia reprime e a televisão não noticia. Lástima. Infelizmente, nenhuma mudança virá se não passar por vereadores, prefeitos, deputados, senadores e um ou uma presidente/a que ao menos compartilhem de algumas de nossas (?) visões.
Quem confunde Jean Wyllys com a bancada evangélica, Romário com a bancada da bola, Suplicy com os mensaleiros (sejam tucanos, sejam petistas), não percebe nem qual é o problema, nem qual a solução. E assim, viram a massa de manobra para uma mídia reacionária que está revoltada desde que seus favoritos não estão no comando desta tão imperfeita e indecente República. Se há ganhos por enquanto, parece ser este o momento de retornar às casas e aumentar o longo e penoso processo de politização social, debater os rumos e fazer as reflexões necessárias. Melhorias não vêm por acaso, e é preciso bons debates antes delas. O nível de politização dos protestos serve de claro aviso de que podem não vir boas coisas de uma continuação dele. Por enquanto, o melhor é pressionar o governo (nacional) existente e não substituí-lo. Tentar, na medida do possível, jogá-lo para a esquerda quando tantas e tão poderosas forças parecem levá-lo, cada vez mais, para a direita.
10 Coisas que grifei do discurso de Dilma
Chico Alencar
Entenda o projeto que destina 100% dos royalties do petróleo para a educação
Amanda Cieglinski - Portal EBC 21.06.2013 - 21h35 | Atualizado em 21.06.2013 - 21h47
A presidenta Dilma Rousseff destacou hoje (21) em seu pronunciamento em rede nacional a importância da aprovação pelo Congresso Nacional do projeto de lei que prevê a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação.
"Confio que o Cognresso Nacional aprovará o projeto que apresentei que
destonará 100% dos royalies do petroleo pra educação", disse.
Leia também:
De autoria do Executivo, a proposta tramita em regime de urgência
constitucional e está trancando a pauta de votações ordinárias da
Câmara. Pelo texto, todos os recursos dos royalties e da participação
especial referentes aos contratos firmados a partir de 3 de dezembro do
ano passado, sob os regimes de concessão e de partilha de produção de
petróleo, destinam-se exclusivamente à educação.
Com os recursos extras, seria possível aumentar os investimentos
públicos em educação. Atualmente, o Brasil investe 5,3% do PIB na área,
considerando os recursos investidos nas redes e instituições públicas – o
chamado investimento público direto. O projeto de lei que cria o novo
Plano Nacional de Educação (PNE),também em tramitação no Congresso
Nacional, inclui uma meta para ampliar esse percentual de investimento
em educação para 10% do PIB no prazo de dez anos. A meta foi aprovada
pela Câmara e agora tramita no Senado. Saiba mais sobre o PNE.
- Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
Lara Haje, da Agência Câmara
-----------------------------------------
Policia terrorista, "politboys" e movimentos urbanos pós-Lula disputam as ruas do Rio!
Policia terrorista, "politboys" e movimentos urbanos pós-Lula disputam as ruas do Rio!
por Ivana Bentes (Via facebook) em Sexta, 21 de Junho de 2013 às 10:46
O
que aconteceu no Rio foi incrivel e inaceitável ao mesmo tempo. A
policia barbarizou pós-passeata quando todos voltavam ou iam para a Lapa
e Cinelândia reunir e conversar! A tensão e as ondas de corre e de
refluxo começaram depois da Central do Brasil ainda em plena
Manifestação que vinha tranquila.
Enquanto os
helicopteros da Globo filmavam tudo de cima e transmitiam ao vivo no
horário do JN e da novela a policia ainda tentou se conter, mas já
reagiam de forma brutal e despreparada, transformando o prédio da
Prefeitura em um bunker de guerra.
Ainda nas
manifestações vi aumentar os "politboys", os garotos
nacionalistas-direitistas do Cansei, do Basta, que compraram a pauta
conservadora e são contra "a politica em geral" e atende a um apelo
midiático e moralista contra a "corrupção em geral".
Mas
foi bonito ver que a passeata trouxe também em massa as criticas mais
contundentes a organização da Copa do Mundo, que passou por cima de
todos os direitos para se impor como espetáculo e vitrine do novo Brasil
em que pra ter direitos precisa ser "consumidor", pra ter direitos
precisa ter patrão em emprego fordista e morto ou grana pra comprar
ingresso pra Copa. Uma violencia real, que expulsou os pobres do
Maracanã e das suas casas, removidos, e agora recebe os refluxos da
violencia real e simbólica!
Foi bonito de ver que
estavam presentes na Central do Brasil os gays, movimento GLBT, os
jovens negros, os estudantes cotistas, a garotada da periferia
(midiativista da Maré filmando e fotografando) os estudantes da ECO/UFRJ
nas ruas com milhares de outros), os jovens que emergiram das mudanças
pós-Lula, dos novos movimentos urbanos, ambientalistas, indigenistas,
pela legalização das drogas,galera do funk, movimentos por fora dos
partidos e que o próprio PT não entendeu nada!
A
policia do Rio é a do pé na porta da favela, das remoções para a Copa, e
agora esse terror chegou na classe média. Na Lapa, na Cinelandia, no
IFCHs....Na ditadura foi assim também! Precisou a policia prender e
torturar os estudantes e ativistas da classe média para se entender que o
Estado de Exceção é insuportável, que a policia de comportamento é
insuportável. Foi alegre e foi triste!
Vambora disputar as ruas!
"Tome
sentindo inútil aqui!" disse a minha amiga Isabela Santiago antes de eu
me perder dela na dispersão. Não é e nem será inútil ir pras ruas! Fo
intenso, estressante e confuso, por isso mesmo mais do que nunca temos
que disputar o sentido politico de tudo isso.
Leia também.
Sejamos criticos, mas não sejamos bobos. AQUI
Sopro de primavera antes da festa da Fifa e Safatle: juventude perdeu o medo do capitalismo. AQUI
Há almoço grátis? Há financiamento privado de campanha política com base no interesse público? AQUI
Estamos brincando de revolução
Estive hoje no protesto no Centro do Recife. Como moro na Boa Vista,
bastou uma caminhada de uns duzentos metros e lá estava eu, no meio do
furacão. Encontrei com o Presidente da Adufepe, o Professor José Luiz, e fomos caminhando juntos e conversando.
Percebi que existia um clima de Fora Collor no ar, o que
para mim vem com uma grande nostalgia, já que á época já era líder
estudantil, e participei ativamente da organização das passeatas em
Recife.
Vi no protesto muita gente que nunca foi às ruas, o que é muito bom.
Sem essa de ficar rotulando as pessoas pela sua característica
despolitizada. São cidadãos como qualquer um de nós, que por algum
motivo resolveu sair do sofá e ir às ruas.
Para entender o que está acontecendo, é preciso compreender que esta é
basicamente uma crise urbana, e majoritariamente de classe média.
Novamente, não há nada de pejorativo nisso, já que a classe média é
imensa hoje no país.
Falo isso porque é impossível não perceber que, apesar da melhora do
padrão de renda dos últimos anos, a vida nas grandes cidades tem piorado
bastante em alguns aspectos, em especial a mobilidade urbana, estopim
desta crise. E a inflação, localizada de maneira aguda no setor de serviços, tem afetado fortemente a classe média.
Uma família com uma renda alta, em torno de R$ 10 mil mensais, sempre
resolveu seus problemas colocando seus filhos na escola privada,
pagando plano de saúde e tendo dois carros em casa.
Com um grupo de jovens indo às ruas por causa de um aumento de
passagem, e observando os preços dos serviços aumentarem muito,
inevitavelmente as pessoas começaram a parar para pensar: Por que diabos
eu pago R$ 1500,00 de escola para meus dois filhos? Por que eu gasto
mais R$ 1 mil em plano de saúde? Por que preciso de dois carros na
garagem, ao invés de usar o transporte público?
E a absoluta incapacidade do Estado em responder com serviços
públicos decentes, presos a uma burocracia medonha, gerou uma onda de
rua que talvez o país nunca tenha visto, nem mesmo em outros movimentos,
já que todo dia tem passeata neste país.
E aí onde quero chegar.
O movimento tem alguns pontos importantes que devemos prestar atenção.
1 – Por ser um movimento de
insatisfação urbana por serviços públicos, está atraindo todo mundo. É
um movimento desprovido de ideologia. Quem está nas ruas é o que chamam
de sujeito médio (termo horrível), que é aquele que não se preocupa com o
noticiário político.
2 – É um movimento sem liderança
alguma. Como não temos experiência em mobilizações horizontalizadas via
rede, é impossível qualquer comando.
3 – Carrega um forte teor de rejeição a movimentos sociais e partidos políticos.
Observando este itens, percebemos um caldo sinistro se formando.
A rejeição
aos partidos não tem nada de despolitizado. É simplesmente uma
fortíssima crise de representação. O “sujeito médio” mobilizado neste
momento não consegue visualizar saída democrática pelos partidos que aí
estão, muito menos pelos políticos que aí estão.
Quando
olham para os movimentos sociais, percebem que a abdução destes foi
clara, já que algumas entidades se assemelham a cartórios de grupos,
quando não sindicatos familiares.
Estão
insatisfeitíssimos com o PT, e quando olham para o lado, só o que
aparece é o PSDB. Ele não quer ir para a esquerda do PT, muito menos
para a direita do PSDB. Ele quer alguém que coloque o Estado a seu
serviço, e na cabeça deles, os dois fracassaram. O resto, para ele, é
resto.
E esta crise de representação teve sua
senha dada na eleição presidencial de 2010, com a votação de Marina
Silva nas capitais. Mesmo que não se enxergasse Marina como alternativa
confiável, optaram pelo voto nela, com o objetivo de mandar um recado.
Recado este que não foi ouvido pelo PT.
E como este movimento está imenso e
sem comando, o perigo ronda o tempo todo. Não há com quem negociar, e
com a ausência de conhecimento deste tipo de movimento horizonta de
característica meio anárquica, abre-se espaço para todo tipo de
aventura.
Hoje vimos invasões de prédios
públicos, vândalos em escala crescente e cada vez mais gente nas ruas.
Isto sem falar no absurdo de agressões a partidários nas passeatas.
Obvio que levar bandeira de partido que está no poder, como PT e PCdoB, é
algo desproposital e sem noção neste momento, já que o protesto leva
muita gente contra estes partidos, a democracia se faz com a
participação de todos.
Não estou falando do protesto de
Recife, que foi marcado em sua maioria pela tranquilidade. Não devemos
desmerecer o clima ameno da passeata. O que vimos aqui foi um belo
exemplo de democracia e civilidade.
Já em outros lugares, não está sendo
bem assim. Ver o PT vaiado, com bandeira queimada, é algo de assustar.
Não foram fascistas, como alguns querem mostrar, mas de um teor
anárquico explosivo, principalmente porque tem o apoio da maioria. Ainda
mais com manifestações praticamente diárias e cada vez mais ousadas.
E neste ambiente horizontal, sem ter
com quem negociar, sem pauta clara de reivindicação, com os Governos
aturdidos por falta de experiência em movimentos desta forma, e vendo
extremistas de esquerda e direita de mãos dadas a uma massa revoltada e
sem perspectiva política clara, só posso chegar a uma conclusão…
Estamos brincando de revolução.
E já sou vivido o suficiente para acreditar que isso pode não acabar muito bem.
-------------------------------------------------------------
José Cleyton N. Lopes - Via facebook
Aos amigos ativistas de esquerda que estão confusos neste momento
Em todas as grandes mobilizações mundiais que eu
tenho notícia a ultradireita esteve presente. Na França, Le Pein e cia,
além dos votos em urna, tiverem representantes nas ruas para fazer valer
sua opinião. Na Grécia, a ultradireita neonazista compareu aos atos em
grandes blocos. Tiveram muitos votos na urna também. Na Espanha,
Portugal e Itália também.
O Brasil vive uma crise. O povo está puto e insatisfeito e não há saídas organizadas e unânimes para ela. A ultradireita está disputando nas ruas sua política, que passa por afastar o “mal do comunismo” da massa. Eles são espertos, se escondem atrás de um sentimento generalizado de insatisfação contra os partidos. Este setor é um câncer para as manifestações e precisa ser denunciado e combatido. Estou certa que eles são uma minoria. Militarmente organizados, e por isso parecem fortes, mas uma minoria.
Mas dois graves erros se reproduzem neste momento.
O primeiro é achar que os milhões que saíram às ruas estão organizados com esta ultradireita. É uma grande miopia. O povo rechaça os partidos porque não confia nos métodos tradicionais de se fazer política. Não confia nos velhos partidos brasileiros que sempre governaram para poucos. Desiludiram-se com a esquerda quando o PT traiu a confiança da massa. Em quem eles vão confiar agora? Eles não confiam em ninguém, porque as grandes referências partidárias no país os traíram. Infelizmente, a maioria da massa não pôde fazer a experiência com os demais partidos de esquerda. Convenhamos, a esquerda consequente no país ainda é nanica. Vocês se esqueceram disso? Na confusão e na falta de informação o povo rechaça o partido como forma, porque não sabe diferenciar ainda em conteúdo as distintas formas de partido. Aqueles que bradam para baixar as bandeiras fazem porque não se identificam com partido nenhum. O único sentido de pertencimento é ao Brasil como pátria. Mas este fato não quer dizer que esta massa defende o golpe militar no país, um partido único, o Collor, o AI-2, ou sei lá o quê.
Essas pessoas são os seus primos que nunca foram em ato nenhum, a sua mãe, a sua tia, o seu amigo que achava uma bobagem toda a sua atividade política. Os colegas da escola. Mas quais oportunidades estas pessoas puderam debater com a esquerda? Quantas vezes essas pessoas se reuniram conosco? Nenhuma. Nunca.
Daí vem o segundo erro. Essa gente confusa, cheia de dúvidas decide sair às ruas. E parte da esquerda que nunca esteve acostumada a debater com tanta opinião distinta se assusta e começa a defender o fim das manifestações. Ou ainda, começa a propor que a esquerda não saia mais às ruas. Vocês ficaram loucos?
Vocês acham que estas pessoas vieram da onde? Um contingente de milhões de aliens que a direita trouxe de Marte para dar o Golpe no país? Essas pessoas são o cobrador do ônibus, ou o filho dele. O taxista, ou os netos dele. A atendente do Mc Donalds, ou os primos dela. A telefonista do telemarketing, ou os amigos dela. O nerd da sala, que nunca nem abria a boca pra falar de política, ou os amigos errepegistas dele. Essa multidão é gente nem de esquerda e nem direita que saiu às ruas para protestar. E agora que eles saíram vocês pedem pra voltar? Acusam de golpistas de direita? Vocês só podem estar loucos. Ou mal acostumados. Nas ruas a esquerda convicta é minoria mesmo. Mas não era assim antes? Nas ruas tem a direita, a esquerda, os confusos, os nem isso nem aquilo, os ambas as coisas. Mas não era assim antes? Mas agora essa gente toda está na rua. E você, com seu preconceito de classe média ilustrada, os acusa de bando de ignorantes, mal-educados e direitosos.
Como eles não são e não pensam como você, você desiste e volta a se contentar com seu Facebook. Jesus apague a luz, os coxinhas não estão nas ruas segurando a bandeira do Brasil e com a cara pintada de verde e amarelo. Eles estão vestindo camisetas vermelhas com a cara do Che Guevera. Que mundo estranho, isso sim está me deixando confusa. Mas eu prefiro seguir nas ruas, é lá que as dúvidas serão tiradas a limpo.
Fraternalmente,
Nathalie Drumond, GTN Juntos!
Leia o texto acima, na fonte original. AQUI
-------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------
José Cleyton N. Lopes - Via facebook
Aos amigos ativistas de esquerda que estão confusos neste momento
O Brasil vive uma crise. O povo está puto e insatisfeito e não há saídas organizadas e unânimes para ela. A ultradireita está disputando nas ruas sua política, que passa por afastar o “mal do comunismo” da massa. Eles são espertos, se escondem atrás de um sentimento generalizado de insatisfação contra os partidos. Este setor é um câncer para as manifestações e precisa ser denunciado e combatido. Estou certa que eles são uma minoria. Militarmente organizados, e por isso parecem fortes, mas uma minoria.
Mas dois graves erros se reproduzem neste momento.
O primeiro é achar que os milhões que saíram às ruas estão organizados com esta ultradireita. É uma grande miopia. O povo rechaça os partidos porque não confia nos métodos tradicionais de se fazer política. Não confia nos velhos partidos brasileiros que sempre governaram para poucos. Desiludiram-se com a esquerda quando o PT traiu a confiança da massa. Em quem eles vão confiar agora? Eles não confiam em ninguém, porque as grandes referências partidárias no país os traíram. Infelizmente, a maioria da massa não pôde fazer a experiência com os demais partidos de esquerda. Convenhamos, a esquerda consequente no país ainda é nanica. Vocês se esqueceram disso? Na confusão e na falta de informação o povo rechaça o partido como forma, porque não sabe diferenciar ainda em conteúdo as distintas formas de partido. Aqueles que bradam para baixar as bandeiras fazem porque não se identificam com partido nenhum. O único sentido de pertencimento é ao Brasil como pátria. Mas este fato não quer dizer que esta massa defende o golpe militar no país, um partido único, o Collor, o AI-2, ou sei lá o quê.
Essas pessoas são os seus primos que nunca foram em ato nenhum, a sua mãe, a sua tia, o seu amigo que achava uma bobagem toda a sua atividade política. Os colegas da escola. Mas quais oportunidades estas pessoas puderam debater com a esquerda? Quantas vezes essas pessoas se reuniram conosco? Nenhuma. Nunca.
Daí vem o segundo erro. Essa gente confusa, cheia de dúvidas decide sair às ruas. E parte da esquerda que nunca esteve acostumada a debater com tanta opinião distinta se assusta e começa a defender o fim das manifestações. Ou ainda, começa a propor que a esquerda não saia mais às ruas. Vocês ficaram loucos?
Vocês acham que estas pessoas vieram da onde? Um contingente de milhões de aliens que a direita trouxe de Marte para dar o Golpe no país? Essas pessoas são o cobrador do ônibus, ou o filho dele. O taxista, ou os netos dele. A atendente do Mc Donalds, ou os primos dela. A telefonista do telemarketing, ou os amigos dela. O nerd da sala, que nunca nem abria a boca pra falar de política, ou os amigos errepegistas dele. Essa multidão é gente nem de esquerda e nem direita que saiu às ruas para protestar. E agora que eles saíram vocês pedem pra voltar? Acusam de golpistas de direita? Vocês só podem estar loucos. Ou mal acostumados. Nas ruas a esquerda convicta é minoria mesmo. Mas não era assim antes? Nas ruas tem a direita, a esquerda, os confusos, os nem isso nem aquilo, os ambas as coisas. Mas não era assim antes? Mas agora essa gente toda está na rua. E você, com seu preconceito de classe média ilustrada, os acusa de bando de ignorantes, mal-educados e direitosos.
Como eles não são e não pensam como você, você desiste e volta a se contentar com seu Facebook. Jesus apague a luz, os coxinhas não estão nas ruas segurando a bandeira do Brasil e com a cara pintada de verde e amarelo. Eles estão vestindo camisetas vermelhas com a cara do Che Guevera. Que mundo estranho, isso sim está me deixando confusa. Mas eu prefiro seguir nas ruas, é lá que as dúvidas serão tiradas a limpo.
Fraternalmente,
Nathalie Drumond, GTN Juntos!
Leia o texto acima, na fonte original. AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário