por Paulo Moura, no Público, quarta feira
Tinha começado ontem à noite: um italiano levou o seu piano de cauda para o meio da praça Taksim. Era pouco antes da meia-noite, a hora em que se esperava o ataque derradeiro da polícia ao parque Gezi. Contingentes da polícia de intervenção posicionavam-se dos dois lados da praça - cercando a estátua de Ataturk e em frente ao Centro Cultural. No meio, sem ter para onde fugir, concentrava-se a multidão.
E de repente começou. O italiano, David Marcello, que vive na Alemanha e veio de lá com um piano de cauda no carro, atacou os acordes de Imagine. Havia holofotes apontando para ele e um sistema de amplificação sonora.
Em frente à polícia, armada de escudos e capacetes, Marcello, de máscara de gás ao pescoço, interpretou Let it Be, e várias sonatas. A polícia ia atacar a qualquer momento, mas, em vez do gás lacrimogéneo, o som do piano enchia a praça.
Foi assim durante horas. E a violência não começou.
Entusiasmado com o êxito da receita, Marcelo repetiu-a hoje. Desta vez, colocou o piano a poucos metros dos polícias, junto à estátua. A multidão sentou-se à sua volta, e ele tocou, toda a noite. Juntou-se-lhe uma cantora de ópera.
Ver as cabeças dos polícias encaixadas nos capacetes com um sorriso embevecido enquanto os dois jovens músicos tocavam 'O Sole Mio' para uma multidão de manifestantes foi das cenas mais extraordinárias que alguma vez vi. Aqueles polícias que pouco antes tinham mandado 5 mil pessoas para o hospital, e que apenas esperavam a ordem de atacar de novo.
Por alguma razão misteriosa, ninguém acreditava que o ataque começasse no meio de uma peça musical. Por isso, imitando Sherazade, o segredo era não parar.
Já vim para o hotel, mas ainda os ouço lá na praça a cantar. O que vale é que aos italianos nunca falta repertório.
http://www.publico.pt/mundo/ noticia/ um-piano-de-cauda-na-praca-taks im-1597299
Tinha começado ontem à noite: um italiano levou o seu piano de cauda para o meio da praça Taksim. Era pouco antes da meia-noite, a hora em que se esperava o ataque derradeiro da polícia ao parque Gezi. Contingentes da polícia de intervenção posicionavam-se dos dois lados da praça - cercando a estátua de Ataturk e em frente ao Centro Cultural. No meio, sem ter para onde fugir, concentrava-se a multidão.
E de repente começou. O italiano, David Marcello, que vive na Alemanha e veio de lá com um piano de cauda no carro, atacou os acordes de Imagine. Havia holofotes apontando para ele e um sistema de amplificação sonora.
Em frente à polícia, armada de escudos e capacetes, Marcello, de máscara de gás ao pescoço, interpretou Let it Be, e várias sonatas. A polícia ia atacar a qualquer momento, mas, em vez do gás lacrimogéneo, o som do piano enchia a praça.
Foi assim durante horas. E a violência não começou.
Entusiasmado com o êxito da receita, Marcelo repetiu-a hoje. Desta vez, colocou o piano a poucos metros dos polícias, junto à estátua. A multidão sentou-se à sua volta, e ele tocou, toda a noite. Juntou-se-lhe uma cantora de ópera.
Ver as cabeças dos polícias encaixadas nos capacetes com um sorriso embevecido enquanto os dois jovens músicos tocavam 'O Sole Mio' para uma multidão de manifestantes foi das cenas mais extraordinárias que alguma vez vi. Aqueles polícias que pouco antes tinham mandado 5 mil pessoas para o hospital, e que apenas esperavam a ordem de atacar de novo.
Por alguma razão misteriosa, ninguém acreditava que o ataque começasse no meio de uma peça musical. Por isso, imitando Sherazade, o segredo era não parar.
Já vim para o hotel, mas ainda os ouço lá na praça a cantar. O que vale é que aos italianos nunca falta repertório.
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