fonte: Site Viomundo
publicado em 4 de junho de 2013 às 0:58
Depois de Maio – política, arte e sensibilidade no cinema
por Lídice Leão
Um filme político, profundo, leve e sensível. Depois de Maio,
do diretor francês Olivier Assayas, tem como cenário o ano de 1971 e
todas as consequências da pós-revolução de costumes, gostos, cultura e
educação que recheou mundialmente o quinto mês de 1968.
No filme, um grupo de amigos na saída da adolescência vive as
angústias e incertezas tão próprias desta fase da vida, somadas a um
engajamento político que entra em choque com o envolvimento cultural
carregado à flor da pele.
Entre frases e ideias de Guy Debord, seus pares intelectuais e da
Internacional Situacionista — movimento liderado pelo francês, que se
difundiu pela Europa no final dos anos 60, pregando principalmente a
transformação social — os jovens herois do filme vivem, questionam, amam
e odeiam, sempre em intensidades exageradas.
Depois de Maio explora bem o embate arte versus
política, um dos pilares da IS. O protagonista Gilles vive interna e
externamente este dilema. Ao mesmo tempo em que milita no movimento
estudantil, discutindo alternativas a tudo o que ainda carrega espírito
conservador, pichando e explodindo prédios que significam o “antigo”, o
“retrógrado”, sofre com o desejo de se dedicar à arte.
Tem na pintura e no cinema suas grandes paixões, mas a todo momento é
questionado pelos amigos engajados, que não enxergam importância
coletiva no seu talento individual.
A única exceção é Laure, sua primeira namorada no filme e sua grande
paixão ao lado das artes. A estudante valoriza, analisa e opina sobre as
pinturas de Gilles, o que o deixa ainda mais encantado com a moça.
O amor entre os dois poderia ser perfeito, se não fosse um detalhe: a
história deles se passa logo depois de maio de 68, época em que as
mulheres decidem trilhar seus próprios caminhos, escrever seus próprios
roteiros e viver suas próprias histórias. E é exatamente o que Laure
faz.
Por que ficaria ao lado do seu amor pós-adolescência se pode ir para
Londres, conhecer outros homens, desenhar outros quadros, com novas
texturas?
A segunda namorada, Christine, é muito pragmática e engajada para ter
qualquer tipo de encanto ou admiração pela arte tão abstrata de Gilles.
O incentivo que vem dela é justamente o oposto da rival: o da dedicação
política e social, considerada tão dura e áspera por Gilles.
O protagonista vive estes conflitos durante as mais de duas horas de
filme. Que o espectador saboreia juntamente com os personagens.
Vivenciando cada momento do 1971 francês nos planos fechados em olhares
angustiados, perdidos e, às vezes, seguros dos jovens.
Nos planos abertos em paisagens coloridas e solares das praias da
Toscana. Nos momentos tensos de ataques ao prédio da escola. Cada cena é
um convite à vida na França após maio de 68.
Olivier Assayas, mais uma vez, mostra as dores e delícias do chamado
cinema de arte francês. E o filme — juntamente com os meninos e meninas
Gilles, Laure, Christine, entre tantos outros- – reforça o papel de 1968
como um período de conquistas, reviravoltas e tomadas de fôlego para o
que viria pela frente.
Afinal, foi necessário muito fôlego (e estômago) para enfrentar ou
mesmo assistir aos protestos contra o casamento homossexual na França,
45 anos depois das bandeiras levantadas em todas as praças possíveis
pelas liberdades sexuais. E este é apenas um fato que vai contra tudo o
que foi reivindicado com paixão e razão em maio de 1968.
Depois de Maio vale cada minuto, cada take, cada
diálogo. E olha que este texto não carrega nem um pedacinho do exagero
que os personagens derramam no decorrer do filme…
O enredo e a abordagem do filme "Depois de Maio" me lembrou muito, os propósitos e o formato do Sarau Multicultural, inclusive uma certa tensão que pairou nas discussões preparatórias acerca da presença concomitante do debate reflexivo/politico/acadêmico e a programação artistica. (Zezito de Oliveira) AQUI
Leia mais: AQUI
AQUI
Leia também: Saudades do maio que não vivi. AQUI
O enredo e a abordagem do filme "Depois de Maio" me lembrou muito, os propósitos e o formato do Sarau Multicultural, inclusive uma certa tensão que pairou nas discussões preparatórias acerca da presença concomitante do debate reflexivo/politico/acadêmico e a programação artistica. (Zezito de Oliveira) AQUI
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