quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Frei Betto sobre Olavo de Carvalho e mais, do que realmente interessa saber acerca do avanço da extrema direita.

 OLAVO DE CARVALHO E EU

 Frei Betto

         O autodenominado filósofo Olavo de Carvalho, outrora astrólogo de profissão, inclusive com anúncios de consultas em jornais, indicou dois ministros ao governo Bolsonaro: o das Relações Exteriores e o da Educação. 

        Em entrevista a Natália Portinari, de O Globo, Olavo de Carvalho contou que conversou com Bolsonaro “três vezes. Eles (Bolsonaro e filhos) leem as coisas que eu escrevo e levam a sério”, afirmou (não sei se em tom de ironia...). E arrematou ao ouvido da repórter: “Eu sou irresistível. Daqui a pouco você vai estar apaixonada por mim.” Disse ainda a propósito de quem indicou para a pasta da Educação: “Vélez Rodríguez é o (acadêmico) que mais conhece o pensamento brasileiro, no Brasil e no mundo.”

        Bolsonaro chegou a citar Olavo de Carvalho como possível ministro da Educação, mas o “filósofo” morava nos EUA e rejeitou a ideia de se tornar "funcionário público", disse o presidente.    

        Em maio de 2004, Olavo de Carvalho dedicou-me um artigo, publicado em jornal de Pernambuco, intitulado A missa do Anticristo. Nele escreveu: “Conheço um jornalista que há vinte anos não faz senão cortejar militares e, de vez em quando, ainda tem a cara-de-pau de lançar sobre alguém a pecha de `vivandeira de quartel`. 

Quem o ouve, tem a impressão de estar diante de um antimilitarista inflamado, sem notar que ele está apenas fazendo uso da receita leninista para o trato com os inimigos: `Xingue-os do que você é.` Mas ninguém supera nessa prática o tal “Frei Betto” (entre aspas porque é frei como os fazendeiros do Nordeste eram coronéis). 

Nos seus escritos, o tom homilético e o apelo convencional aos bons sentimentos – `fraternidade`, `paz`, `amor` – denotam seu intuito de ser ouvido como autoridade sacerdotal. A encenação é reforçada pelo apelido, que o público iludido toma como emblema de uma condição eclesiástica ao menos informal. Mas o sr. Betto não é sacerdote, não é frade, não é sequer um membro leigo da Igreja. (...) Está, literalmente, fora da Igreja. Continuar a assinar-se “Frei”, depois disso, é sobrepor aos mandamentos de Cristo uma presunção vaidosa (ou publicitária) cuja origem na hubris (sic) demoníaca não poderia ser mais evidente. Leitor e discípulo de Antonio Gramsci, o sujeito levou ao pé da letra a lição do mestre que ensinava a não combater a Igreja Católica, mas verter fora o seu conteúdo espiritual e utilizar-lhe a casca vazia como canal para a propaganda comunista.”

        Frente às diatribes escritas por Olavo de Carvalho que, do alto de sua presunção, quis inclusive me excomungar, quatro advogados da OAB de Pernambuco decidiram processar o articulista em minha defesa e me solicitaram o endereço dele para que a Justiça pudesse citá-lo. Indaguei de um colunista de O Globo se seria possível obter a informação na administração do jornal, e essa minha solicitação chegou aos ouvidos de Olavo de Carvalho. No entanto, não me interessei em levar o processo adiante.

        Em setembro de 2004, o suposto filósofo voltou a disparar sua bateria contra mim, desta vez em O Globo: “Desde que o senhor Frei Betto tentou obter da administração do Globo o meu endereço pessoal, um assistente meu tem recebido misteriosas ligações, com número bloqueado, de alguém que diz ter urgência de me encontrar mas, solicitado a declarar seu nome e a cidade de onde fala, desliga o telefone. 

Não sei se os dois fatos têm alguma ligação entre si. Mas uma coisa é certa: o consultor da Presidência para assuntos celestes e infernais preferiu se fazer de surdo ante a minha oferta de enviar-lhe pessoalmente meu endereço caso o pedisse por e-mail, e essa reação só pode ser interpretada de duas maneiras: ou ele desistiu de obter por via simples o que tentara obter por via complicada, ou prefere colher suas informações sem dar na vista.

 Tudo isso é muito esquisito, sobretudo não só porque continua no ar o site pornográfico com o nome dele, que encontrei na internet, mas ainda apareceram mais dois. São páginas comerciais, pagas, e uma delas anuncia: “All about Frei Betto. See this now.” Que palhaçada é essa? Por que o senhor Frei Betto não manda investigar isso, em vez de ficar sondando, pelas costas, a vida de quem sempre lhe disse a verdade com toda a franqueza?”

        Obcecado pela ideia de que eu o perseguia – e quem sabe tal alucinação tenha sido um dos motivos que o levaram a deixar o Brasil para morar nos EUA – Olavo de Carvalho ainda me mencionou em mais duas crônicas em O Globo.

        Em setembro de 2004, jornalistas de O Globo me sugeriram escrever um artigo em resposta ao direitista fundamentalista. Decidi remeter este e-mail ao jornal, publicado, a 10 de setembro de 2004, na seção Cartas dos Leitores, sob o título Artigos de Olavo: “Convido o jornal a uma reflexão sobre a prática que se tem tornado rotineira nos artigos de Olavo de Carvalho. Fossem apenas as opiniões do sr. Olavo, nenhuma objeção. É legítimo. É direito assegurado pelo jornal com base na Constituição do país. O problema é que, de forma reincidente, ele levanta calúnias contra a minha pessoa e, em estilo literário duvidoso, ventila inverdades. E sobre isso não posso nem quero calar. 

Em seu último artigo (“Quem quer a verdade?”, 4/9), o sr. Olavo levanta suspeitas sobre uma suposta perseguição minha contra ele, e ainda me acusa de ser complacente com sites pornográficos que estariam usando meu nome. Isso já é demais! O sr. Olavo não merece resposta. Mas os leitores, sim. Estes merecem informação e opinião respeitosas e de qualidade. Igualmente sou colaborador deste diário e não me furto de manter uma postura de respeito ao leitor em minhas opiniões, mesmo sabendo que nem todos concordarão comigo.”

        A única vez que cruzei pessoalmente com Olavo de Carvalho foi em setembro do ano passado, em São Paulo, no consultório de nosso urologista (que, aliás, discorda das ideias dele). Não me reconheceu. 

        Negacionista e bolsonarista, se recusava a tomar vacina contra a Covid. A pandemia o levou.

 Frei Betto é escritor, autor de “O diabo na corte – leitura crítica do Brasil atual” (Rocco), entre outros livros. 

Livraria virtual: freibetto.org

Assine e receba todos os artigos do autor: mhgpal@gmail.com

Leia também:

Vídeo em que Pedro Bial elogia Olavo de Carvalho volta a circular: “brilhante pensador”


Gustavo Conde 
Em um mundo civilizado, levemente revestido de cifras democráticas, Olavo de Carvalho seria considerado um palhaço incendiário e nada mais. Um Paulo Francis sem erudição vagabunda, um Pedro Bial sem deslumbramento e cafonice, um Augusto Nunes sem complexo de inferioridade, um Rodrigo Constantino com dois neurônios a mais. 
Seria, a rigor, um iconoclasta divertido, bobo da corte, personagem folclórica, colunista da Folha de S. Paulo ao lado de Antonio Risério. 
A tragédia, no entanto, é que Olavo viveu em um mundo incivilizado, prenhe dos mais odientos pendores golpistas e elitistas. A elite branca vagabunda brasileira, burra, racista e egocêntrica, viu em Olavo de Carvalho a oportunidade de se revestir com uma leve película de sofisticação intelectual. 
O nosso jornalismo de cativeiro contribuiu ferozmente para essa equação trágica (de um idiota convencendo legiões de idiotas), elevando Olavo de Carvalho a "escritor" e "filósofo". 
Nesse contexto, o guru da morte e do ódio se tornou altamente tóxico e serviu como referência sub acadêmica para a mais detestável casta de bandidos que chegou ao poder neste país. 
Sua morte marca o declínio dos imbecis, a diluição da miséria intelectual, o esfarelamento do ódio profissional que ainda habita as chefias de redação dos grandes jornais brasileiros - vide o episódio Antonio Risério. 
Quando Hitler morreu, ninguém chorou. Foi, enfim uma festa - ainda que extremamente dolorosa pelo rastro de destruição e morte. O mesmo vale para esta criatura infeliz que contaminou com o ódio balbuciante todos aqueles que tiveram o azar de lhe roçar o caminho. 
Olavo de Carvalho foi um inimigo do pensamento, da humanidade e da vida. Que sua trágica passagem por este planeta nos sirva, ao menos, de lição - de como não se deve assassinar o intelecto com a iconoclastia vagabunda dos fracassados.

https://www.youtube.com/watch?v=spA727bPJ14


https://www.youtube.com/watch?v=vENrwJ--wW4


https://www.youtube.com/watch?v=B0rtKpIvYYc




Sem Meia Verdade

Uma ajuda pros companheiros cristãos que (ainda) estão constrangidos de entrar na festa. Uma passagem bíblica.

"A cidade inteira comemora o sucesso dos justos; todos gritam de alegria quando morrem os perversos."

Provérbios 11:10

Pode comemorar, galera, tá na Bíblia...



O livro tem um ponto de partida básico: os governos dos Estados Unidos, do Brasil e da Rússia são influenciados por três intelectuais com forte ação nas instituições governamentais: Steve Bannon, Olavo de Carvalho e Aleksandr Dugin. 

Com atuações diferentes, os três contam com discípulos nos quadros do governo e têm em comum uma obscura doutrina intelectual, o Tradicionalismo. 

Seus preceitos fazem críticas à modernidade, que seria responsável pelo declínio da espiritualidade e da influência religiosa nas instituições, tornando necessária uma verdadeira “batalha espiritual” para pôr fim a valores que remontam ao Iluminismo. 

Elaborado a partir de entrevistas, o livro traça um contexto histórico detalhado e aborda aspectos de enorme interesse para o público brasileiro, como a atuação do governo Bolsonaro nas relações internacionais e suas consequências nos laços comerciais do Brasil com importantes parceiros, como a China. 

Uma leitura obrigatória para qualquer pessoa que queira entender a visão da extrema direita e sua atuação no mundo. Li e recomendo... 



Nenhum comentário: