A tão conhecida Campanha da Fraternidade teve início em 1961, quando três padres que trabalhavam na Cáritas Brasileira, um dos organismos da CNBB, planejaram uma campanha para arrecadar recursos a fim de financiar as atividades assistenciais da instituição. À essa ação, eles batizaram de “Campanha da Fraternidade”. Na Quaresma de 1962 foi realizada pela primeira vez a Campanha da Fraternidade na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Devido ao bom êxito da experiência, no ano seguinte 16 dioceses do Nordeste também realizaram a campanha em suas comunidades. Esse projeto foi o embrião para a concepção do projeto da Campanha da Fraternidade que, mais tarde, seria assumida como uma ação da Igreja no Brasil como gesto concreto no período da Quaresma. Observemos um detalhe histórico: a Campanha nasce em sintonia com o “Concílio Vaticano II” – tempo de mudança na Igreja e momento de renovação na prática pastoral de um catolicismo que abrigava ventos modernos.
Entre 1964 a 1970, a Campanha foi aos poucos sendo
aprimorada e incorporada à Igreja no Brasil como momento importante de uma
consciência social do catolicismo brasileiro. A introdução do “método
ver-julgar-agir” foi fundamental para uma melhor compreensão das relações entre
Igreja e Sociedade. Nunca é demais lembrar: estávamos numa ditadura desde 1964
e radicalizada enquanto golpe em 1968 com o “AI 5”. Tortura e violação dos
direitos humanos básicos passaram a ser a rotina desse Brasil que com “milagre
brasileiro” e tudo o mais, passou a ser refém do modelo televiso da rede globo
e a ocultar as misérias de um povo cada vez mais empobrecido.
Uma série de temas importantes e impactantes foram
destacados nos 70 e 80. Família, moradia, justiça, trabalho, pão,
solidariedade, direitos, terra, negros (a inesquecível campanha de 1988)...
Numa época de ditadura (sem liberdade de expressão, perseguições, alienação
política...), os temas da Campanha da Fraternidade eram agregadores e
conscientizadores. Em momentos de inflação, desemprego, desânimo das camadas
populares, a Campanha da Fraternidade era uma esperança no ar.
Esse ano de 2022, o tema é o da Educação. “Fala com
sabedoria, ensina com amor” (Pr. 31, 26). O texto-base abre com a explicação do
tema e em seu objetivo geral e específico, depois e, como sempre, vem com uma
análise histórico-conjuntural do tema, passa pelo discernimento evangélico e,
por fim, nos coloca diante de algumas pistas de ação diante dos projetos de
educação em curso nesse Brasil. O texto vem com uma original reflexão sobre a pandemias
de covid 19 (a CNBB faz questão de se colocar na linha da ciência e longe de
negacionismos). Em síntese, uma campanha da fraternidade importante e atenta
aos sinais dos tempos.
Uma ausência gritante no texto-base: uma reflexão
sobre a educação popular. Como visto, o tema da Campanha é “Educação” e a CNBB
e a Igreja Católica no Brasil têm uma tradição em educação de camadas populares
desde o MEB (Movimento de Educação de Base) nos anos 60. O conceito e a práxis
da educação popular dos anos 60 aos 80, na Igreja foi importante. A presença da
obra de Paulo Freire (ausente no texto-base. Uma pena!) é um marco em qualquer
história ou perspectiva de educação no Brasil. Uma concepção de educação
humanizadora e libertadora não poderia jamais deixar de ser horizonte de uma
Campanha da Fraternidade que tem como tema a educação no Brasil. Obviamente,
nada impede que os católicos ampliem o tema da Campanha e assumam a plenitude
da educação para além da formalidade dos muros das escolas.
Romero Venâncio (UFS)
Excelente reflexão do Professor Romero Venâncio e que se coaduna com o que
penso e com o que já escrevi neste blog.... O convite e a tarefa que precisamos fazer é
essa colocada no final da nota acima, a partir do texto da Campanha da Fraternidade de 2022 e descer para águas
mais profundas na memória histórica e na práxis da educação popular... Neste
sentido, vale a pena também revisitarmos os textos das campanhas das
fraternidades anteriores sobre Educação.
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