terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Opinião - Cultura em Sergipe, desafios e possibilidades

 24 de Jan de 2022, 21h32

[*] Nino Karvan

Durante toda a sua existência o Estado de Sergipe nunca teve uma política pública de desenvolvimento que vislumbrasse estrategicamente o desenvolvimento social e econômico, tendo a Cultura como um elemento fundamental.

Mesmo quando chegou ao poder a geração liderada pelo saudoso ex-governador Marcelo Déda, essa compreensão esteve muito aquém do que poderia ter sido. No entanto, ainda assim, algumas coisas boas, à exemplo da criação do Museu da Gente Sergipana e da revolucionária gestão de Indira Amaral na Fundação Aperipê, não podem ser esquecidas.

A desastrosa gestão do atual prefeito da capital, em relação à pasta da Cultura e o grande equívoco do governador em dar fim à Secretaria de Estado da Cultura, sob o silêncio ensurdecedor e cúmplice de setores progressistas, são prova cabal do descaso histórico com essa atividade.

Segue-se o pensamento engessado de secretários de Finanças que, de forma totalmente anacrônica, enxergam o que seriam investimentos como meros gastos. Quando o assunto é patrimônio material e imaterial, a lacuna é imensa e carece de um texto específico.

A nossa arquitetura histórica tomba há anos para servir de estacionamento. Nesse quesito há que se fazer justiça ao Governo do Estado e seu belo projeto de um Centro Cultural em Simão Dias, com a reforma de um prédio histórico crucial para a memória daquele município.

No Ceará, desde a primeira gestão de Tasso Jereissati e depois a de Ciro Gomes, atentou-se para isso. O atual governador Camilo Santana mantém a política e anunciou em evento realizado em novembro passado o investimento de R$ 180 milhões de recursos próprios na área da cultura até o final de 2022, onde o Centro Dragão do Mar é só a ponta do iceberg.

Os desafios para o desenvolvimento das sociedades periféricas, na estrutura global do sistema capitalista, passam, sem sombra de dúvidas, pelo investimento público estratégico na formação e capacitação técnica que prepare mão de obra qualificada para os desafios da sociedade da informação.

Valorizar as produções simbólicas, levando-se em consideração as especificidades territoriais e regionais e pensando de que forma isso pode se inserir na seara global é de fundamental importância. As artes e as diversas manifestações culturais são  grandes vetores para essa construção e trazem em si o potencial para a produção de bens, produtos e serviços de valor simbólico que agregam valor econômico.

Uma política pública de desenvolvimento que possa vir a ser alavancada pelo aspecto cultural precisa passar necessariamente por alguns pontos. No que tange ao empreendedorismo, é preciso compreender que a indústria do lazer, do entretenimento e do mercado de bens simbólicos, cada vez mais movimenta recursos de uma significativa monta, gerando emprego e renda através de uma vasta cadeia produtiva que envolve um número sem fim de profissionais, na chamada economia da cultura.

Com a pandemia, muitos desses elos foram quebrados, daí a importância do planejamento e do investimento público. Há dois anos, por exemplo, Aracaju não investe um centavo de recursos próprios em cultura. Apenas administra os recursos públicos da Lei Aldir Blanc. Dói saber que se gasta mais no recapeamento asfáltico de uma rua do que a Funcaju dispõe por ano para investimento em toda capital. O Estado, ao menos, acena com alguns pequenos editais com recursos próprios.

Levando-se em consideração o aspecto da qualidade de vida, uma política pública de Estado não pode, jamais, prescindir do aspecto cultural. Diversas experiências mundo afora demonstram a força da cultura como elemento fundamental no enfrentamento do esgarçamento do tecido social, ajudando a combater a violência urbana, o tráfico de drogas e todas as mazelas desses nossos tempos. A integração com a segurança pública, o turismo, saúde, juventude, esporte é um ponto chave.

A cultura pode ser também um poderoso elemento integrador das diversas regiões e territórios do Estado de Sergipe, facilitando a geração de novos negócios, a interação da produção de bens simbólicos, a troca de experiências educativas, a criação de projetos e eventos que possibilitem o escoamento das produções, atraindo divisas e dinamizando o turismo nos municípios.

Os saberes e fazeres populares, as artesanias, as artes dramáticas, a literatura, as artes visuais, a música, a publicidade, o design são exemplos de setores que produzem bens e serviços para as indústrias criativas.

Em um mundo globalizado, com uma competição cada vez maior, urge o planejamento e o investimento na profissionalização, através da informação e da capacitação. Sendo propositalmente repetitivo, não há como pensar em desenvolvimento sem abraçar a cultura como elo de suma importância, sob pena de mais uma vez abortarmos o futuro da nossa gente.

Esse ano teremos eleições. Ampliemos esse debate e cobremos dos postulantes um posicionamento sobre isso. Eu, de minha parte, não darei meu voto em quem aponta para o passado sem vislumbrar a grandeza e a importância da cultura. Sejamos mais exigentes, sergipanos.

[*] É artista e comunicador.  

Fonte: https://jlpolitica.com.br/colunas/aparte/posts/presidentes-da-alese-e-da-camara-de-aracaju-vivem-expectativa-pra-ano-legislativo-de-2022/notas/opiniao-cultura-em-sergipe-desafios-e-possibilidades


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