terça-feira, 23 de setembro de 2025

Lula: Um estadista na ONU



Senhora Presidenta da Assembleia Geral, Annalena Baerbock,

Senhor Secretário-Geral, António Guterres,

Caros chefes de Estado e de Governo e representantes dos Estados-Membros aqui reunidos.

Este deveria ser um momento de celebração das Nações Unidas.

Criada no fim da Guerra, a ONU simboliza a expressão mais elevada da aspiração pela paz e pela prosperidade.

Hoje, contudo, os ideais que inspiraram seus fundadores em São Francisco estão ameaçados, como nunca estiveram em toda a sua história.

O multilateralismo está diante de nova encruzilhada.

A autoridade desta Organização está em xeque.

Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder.

Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra.

Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia.

O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades.

Quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas.

Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades.

Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais, e cerceiam a imprensa.

Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há quarenta anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais.

Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. 

A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável.

Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias.

Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil.

Não há pacificação com impunidade.

Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito.

Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso.

Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas.

Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.

Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela.

Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral.

Seu vigor pressupõe a redução das desigualdades e a garantia dos direitos mais elementares: a alimentação, a segurança, o trabalho, a moradia, a educação e a saúde.

A democracia falha quando as mulheres ganham menos que os homens ou morrem pelas mãos de parceiros e familiares.

Ela perde quando fecha suas portas e culpa migrantes pelas mazelas do mundo.

A pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo.

Por isso, foi com orgulho que recebemos da FAO a confirmação de que o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome neste ano de 2025. 

Mas no mundo, ainda há 670 milhões de pessoas famintas. Cerca de 2,3 bilhões enfrentam insegurança alimentar.

A única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza.

Esse é o objetivo da Aliança Global que lançamos no G20, que já conta com o apoio de 103 países.

A comunidade internacional precisa rever as suas prioridades: 

- Reduzir os gastos com guerras e aumentar a ajuda ao desenvolvimento;

- Aliviar o serviço da dívida externa dos países mais pobres, sobretudo os africanos; e

- Definir padrões mínimos de tributação global, para que os super-ricos paguem mais impostos que os trabalhadores.

A democracia também se mede pela capacidade de proteger as famílias e a infância.

As plataformas digitais trazem possibilidades de nos aproximar como jamais havíamos imaginado.  

Mas têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação.

A internet não pode ser uma “terra sem lei”. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis.

Regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.

Ataques à regulação servem para encobrir interesses escusos e dar guarida a crimes, como fraudes, tráfico de pessoas, pedofilia e investidas contra a democracia.

O Parlamento brasileiro corretamente apressou-se em abordar esse problema.

Com orgulho, promulguei na última semana uma das leis mais avançadas do mundo para a proteção de crianças e adolescentes na esfera digital.

Também enviamos ao Congresso Nacional projetos de lei para fomentar a concorrência nos mercados digitais e para incentivar a instalação de datacenters sustentáveis.

Para mitigar os riscos da inteligência artificial, apostamos na construção de uma governança multilateral em linha com o Pacto Digital Global aprovado neste plenário no ano passado. 

Senhoras e senhores,

Na América Latina e Caribe, vivemos um momento de crescente polarização e instabilidade.

Manter a região como zona de paz é nossa prioridade.

Somos um continente livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou religiosos.

É preocupante a equiparação entre a criminalidade e o terrorismo.

A forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é a cooperação para reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o comércio de armas.

Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento.

Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias. 

A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela.

O Haiti tem direito a um futuro livre de violência.

E é inadmissível que Cuba seja listada como país que patrocina o terrorismo.

No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. 

O recente encontro no Alaska despertou a esperança de uma saída negociada.

É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista.

Isso implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes.

A Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, criado por China e Brasil, podem contribuir para promover o diálogo.

Nenhuma situação é mais emblemática do uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina.

Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo.

Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza.

Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes.

Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente.

Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo.

Em Gaza a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente.

Expresso minha admiração aos judeus que, dentro e fora de Israel, se opõem a essa punição coletiva.

O povo palestino corre o risco de desaparecer.

Só sobreviverá com um Estado independente e integrado à comunidade internacional.

Esta é a solução defendida por mais de 150 membros da ONU, reafirmada ontem, aqui neste mesmo plenário, mas obstruída por um único veto.

É lamentável que o presidente Mahmoud Abbas tenha sido impedido pelo país anfitrião de ocupar a bancada da Palestina nesse momento histórico. 

O alastramento desse conflito para o Líbano, a Síria, o Irã e o Catar fomenta escalada armamentista sem precedentes.

Senhora presidenta,

Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática.

O ano de 2024 foi o mais quente já registrado.

A COP30, em Belém, será a COP da verdade.

Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta.

Sem ter o quadro completo das Contribuições Nacionalmente Determinadas (as NDCs), caminharemos de olhos vendados para o abismo.

O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59 e 67% suas emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.

Nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios.

Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões.

Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de justiça.

A corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos.

Em Belém, o mundo vai conhecer a realidade da Amazônia.

O Brasil já reduziu pela metade o desmatamento na região nos dois últimos anos.

Erradicá-lo requer garantir condições dignas de vida para seus milhões de habitantes.

Fomentar o desenvolvimento sustentável é o objetivo do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar para remunerar os países que mantêm suas florestas em pé.  

É chegado o momento de passar da fase de negociação para a etapa de implementação.

O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima.

Mas é necessário trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU, para que ela tenha a atenção que merece.

Um Conselho vinculado à Assembleia Geral com força e legitimidade para monitorar compromissos dará coerência à ação climática.

Trata-se de um passo fundamental na direção de uma reforma mais abrangente da Organização, que contemple também um Conselho de Segurança ampliado nas duas categorias de membros.

Poucas áreas retrocederam tanto como o sistema multilateral de comércio.

Medidas unilaterais transformam em letra morta princípios basilares como a cláusula de Nação Mais Favorecida.

Desorganizam cadeias de valor e lançam a economia mundial em uma espiral perniciosa de preços altos e estagnação.

É urgente refundar a OMC em bases modernas e flexíveis.

Senhoras e senhores,

Este ano, o mundo perdeu duas personalidades excepcionais: o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, e o Papa Francisco.

Ambos encarnaram como ninguém os melhores valores humanistas.

Suas vidas se entrelaçaram com as oito décadas de existência da ONU.

Se ainda estivessem entre nós, provavelmente usariam esta tribuna para lembrar:

- Que o autoritarismo, a degradação ambiental e a desigualdade não são inexoráveis;

- Que os únicos derrotados são os que cruzam os braços, resignados;

- Que podemos vencer os falsos profetas e oligarcas que exploram o medo e monetizam o ódio; e

- Que o amanhã é feito de escolhas diárias e é preciso coragem de agir para transformá-lo.

No futuro que o Brasil vislumbra não há espaço para a reedição de rivalidades ideológicas ou esferas de influência.

A confrontação não é inevitável.

Precisamos de lideranças com clareza de visão, que entendam que a ordem internacional não é um “jogo de soma zero”.

O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral.

O Brasil confere crescente importância à União Europeia, à União Africana, à ASEAN, à CELAC, aos BRICS e ao G20.

A voz do Sul Global deve ser ouvida.

A ONU tem hoje quase quatro vezes mais membros do que os 51 que estiveram na sua fundação.

Nossa missão histórica é a de torná-la novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância.

Que Deus nos abençoe a todos.

Muito obrigado.

 Lula não precisou citar nomes para desenhar Donald Trump como um vilão global na tribuna onde abriu hoje o discurso de chefes de Estado na Assembleia Geral da ONU. O presidente dos Estados Unidos pairou sobre a fala do petista não como um fantasma, mas um perigo real a ser combatido por outras nações.

Com declarações duras, o brasileiro falou diversas vezes sobre Trump, sem mencioná-lo. Soberania, sanções arbitrárias, intervenções, falsos profetas e oligarcas. Pintou um quadro sombrio de uma desordem internacional, onde o multilateralismo é atacado por quem se julga autossuficiente e que promove a violência e a intolerância, mas também cerceia a imprensa e gera aumento de preços.

O discurso também foi um convite a seguir o exemplo brasileiro, uma nação que, segundo ele, resistiu a ataques sem precedentes contra suas instituições e sua economia. Nesse contexto, citou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por atentar contra o Estado democrático de direito não como um ato de revanchismo, mas uma afirmação da força de nossas instituições. Destacou os falsos patriotas. Aliás, foi bastante aplaudido ao afirmar que o Brasil deu um recado ao mundo, de que “nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”.

Vendeu o Brasil como farol do combate à pobreza, ao ter saído do Mapa da Fome, segundo a própria ONU, e ao liderar uma aliança global para combatê-la. Defendeu a regulação das plataformas digitais. O tema é sensível, e tem levado a ameaças dos EUA contra o Brasil, a União Europeia, o Canadá e a Austrália. 

Ao final, falou das perdas de Pepe Mujica e do papa Francisco. Disse que suas vidas se entrelaçaram às oito décadas da ONU. “O autoritarismo, a degradação ambiental e a desigualdade não são inexoráveis” e que “podemos vencer os falsos profetas e oligarcas”. Ou seja, podemos vencer Trump. 

Em seu (longo) discurso, após Lula, Trump falou sobre as tarifas impostas ao mundo, mas não citou Bolsonaro. Revelou que ele e Lula se abraçaram nos bastidores, disse que gostou do brasileiro e que combinaram de se encontrar. O que indica que a tática do governo brasileiro foi correta, afinal Trump não trata bem quem baixa a cabeça (leia a íntegra do texto no UOL)


Sobre o discurso de Lula na ONU
Por Edward Magro.

A maioria dos pronunciamentos diplomáticos costuma ser entediante: acumulam fórmulas gastas, agradam aos ouvintes, mas raramente iluminam. São discursos sem graça e desnecessários. Poucos contêm alguma verdade; menos ainda revelam sinceridade. Há, no entanto, aqueles que, assim que ditos, escapam ao instante e se instalam na história. Transbordam do espaço restrito em que foram proferidos, ultrapassam a rigidez e a formalidade da diplomacia e se insinuam como murmúrios subterrâneos que desvelam verdades sufocadas. Palavras há muito afogadas pelo poder encontram passagem nos interstícios do discurso e se apresentam à humanidade, lembrando-nos de que o convívio internacional deve ser regido pelo respeito e que a política pode, com delicadeza e verdade, preservar os laços afetivos que nos unem a todos.

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proferido há poucas horas na sede da ONU em Nova York, durante a Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, pertence a essa categoria rara. Não foi simples registro protocolar entre tantos, mas gesto de humanidade que devolve à cena internacional a possibilidade da justiça, num tempo em que convenções e fórmulas esgotadas parecem obscurecer a sensibilidade.

A fala de Lula iniciou-se com uma lembrança necessária, que atribui ao Brasil uma responsabilidade histórica no tema dos dois estados na Palestina: o papel do diplomata brasileiro Osvaldo Aranha na sessão de 1947 que aprovou o plano de partilha. Ao trazer esse episódio à memória, o presidente não se deteve em orgulho nacional, mas expôs a distância entre o projeto de dois estados e a permanência de apenas um, sustentado por privilégios militares e políticos, enquanto o outro permanece privado de sua própria existência. Essa evocação não foi ornamento: foi denúncia de uma ferida antiga, ainda aberta, incapaz de cicatrizar.

Em seguida, o presidente abordou um ponto decisivo para a sobrevivência da ONU: o poder de veto. Não o apresentou como mero mecanismo burocrático, mas como uma arma funcional de paralisia ética, capaz de corroer o multilateralismo em sua essência. Criada para impedir a repetição dos horrores da Segunda Guerra Mundial, a organização tornou-se refém de um artifício que permite à violência perpetuar-se sob a aparência de legitimidade. Lula recordou, com firmeza serena, que esse veto não bloqueia apenas resoluções: compromete a própria razão de ser da instituição.

Lula lembrou que é o poder de veto — embora não tenha citado, referia-se possivelmente aos Estados Unidos, à França e ao Reino Unido — que, até hoje, inviabilizou todas as tentativas de solução para a criação do Estado Palestino.

Nesse ponto, de gravidade extrema, Lula retomou a definição clássica de Estado — território, população, governo — e a transladou para a realidade palestina. Cada um desses pilares tem sido minuciosamente erodido. O território se reduz sob o avanço de assentamentos ilegais; a população é expulsa, deslocada ou exterminada em processos que ele nomeou, sem hesitação, como limpeza étnica; o governo é fragilizado, privado de autoridade efetiva. Nesse momento, o discurso ultrapassou o plano estritamente político e se converteu em testemunho, quase ato de registro histórico, ao adotar a palavra que muitos evitam: genocídio.

A coerência do gesto se evidenciou quando anunciou que o Brasil passaria a integrar o processo iniciado pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça. Não foi adesão ideológica, mas fidelidade a princípios jurídicos e morais. A condenação ao terrorismo do Hamas esteve presente, clara e firme, mas Lula soube distinguir entre o repúdio a tais atos e a recusa em aceitar a justificativa de massacres sistemáticos contra a população civil. Nenhum argumento pode sustentar o assassinato de milhares de crianças, a destruição de quase todos os lares palestinos, o uso da fome como instrumento de guerra.

Entre as passagens mais comoventes, uma frase iluminou-se pela singeleza e pela força da imagem da fragilidade humana: “A fome não aflige apenas o corpo, ela estilhaça a alma.” Nela, a fome deixa de ser estatística, número ou abstração; torna-se ferida íntima, ruptura espiritual. É nesse instante que a fala transcende a denúncia e alcança a compaixão, devolvendo ao debate internacional uma proximidade que os discursos habituais há muito perderam.

O desfecho voltou-se para o horizonte da coexistência. Israel e Palestina, lembrou o presidente, têm ambos o direito de existir. Sem um Estado palestino, não haverá paz, mas apenas a repetição de uma violência desigual que enfraquece a credibilidade da comunidade internacional. Essa lembrança adquire peso particular no presente contexto: nos últimos dias, Canadá, Reino Unido, Austrália, Portugal, França, Bélgica, Luxemburgo, San Marino e Malta reconheceram formalmente o Estado da Palestina, somando-se a uma maioria já expressiva de países-membros da ONU. Cada nova adesão reforça o gesto de 2010, quando o Brasil se antecipou e acolheu oficialmente a soberania palestina. Cada uma dessas adesões recentes carrega a marca da incisiva fala de Lula, proferida em 8 de fevereiro de 2024, durante entrevista coletiva após a Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, Etiópia: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus.” Foi ali que o mundo recebeu o choque de realidade que desnuda a limpeza étnica em curso na Palestina e, em particular, o genocídio palestino em Gaza.

Ao propor a criação de um órgão inspirado no comitê que acompanhou o fim do apartheid sul-africano, Lula converteu experiência histórica em projeto de futuro. Foi como afirmar que, se um regime de opressão pôde ser derrubado pela persistência da solidariedade internacional, também a Palestina poderá ver nascer seu Estado por meio de vigilância contínua e compromisso partilhado.

Na conclusão, o presidente brasileiro ofereceu mais que um discurso: deixou uma convocação serena. Sua fala recorda que o multilateralismo só terá sentido se ousar enfrentar os crimes mais evidentes do nosso tempo. Do contrário, permanecerá condenado a ser uma assembleia estéril, incapaz de proteger aqueles para os quais foi criada.

O que fica, após a escuta ou leitura desse pronunciamento, é a convicção de que ainda é possível falar de política com clareza, ternura e rigor. Não houve ali exaltação vazia, nem retórica inflada: houve uma voz que, mesmo cercada de formalidades diplomáticas, ousou restituir à cena internacional um pouco da humanidade que tantas vezes lhe falta.


Trumposo assistindo a fala de #LulaOMelhorPresidenteDoBrasil na ONU: O que ele tem que eu não tenho?


🔴 Presidente Lula concede entrevista coletiva à imprensa na sede da ONU






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