A produtora e empresária Paula Lavigne, 56, afirma que o ato musical do último domingo (21) não foi da esquerda, mas da sociedade civil. Ela cumpriu papel fundamental para organizar as manifestações ao redor do país, numa articulação entre a 342 artes, coletivo de artistas liderada por ela, e a Mídia Ninja. "Não delimito, não gosto de caixinhas e gavetinhas, e o próprio Caetano [Veloso, marido de Paula] fala isso: 'nunca tive uma definição política restritiva. Não entro em bloco definido. Sou artista'. E artista é parte da sociedade, se manifestar é direito e dever."
A reportagem está na edição jornal Folha de São Paulo, disse ela, referindo-se as manifestações de 21 de Setembro contra a PEC da Blindagem e contra a PEC da Anistia.
A fala de Paulo Lavigne, no jornal Folha de S. Paulo, reflete um ponto de vista importante sobre a natureza das manifestações de 21 de setembro. Para entender completamente, é útil decompormos os elementos:
A Declaração de Paulo Lavigne: Ao afirmar que as manifestações não foram um "ato da esquerda", mas "da sociedade civil", Lavigne está fazendo uma distinção política crucial. Ele busca enfatizar que o protesto tinha um caráter mais amplo, suprapartidário, e não era uma mobilização organizada exclusivamente por partidos políticos ou grupos tradicionais de esquerda.
O Conceito de "Sociedade Civil": Na ciência política, "sociedade civil" refere-se à esfera de ação coletiva voluntária em torno de interesses, causas e valores comuns. Ela inclui organizações não-governamentais (ONGs), associações, movimentos sociais, coletivos e cidadãos independentes. Ao usar esse termo, a ideia é destacar que a motivação para o protesto vinha de uma insatisfação difusa na população e em grupos organizados da sociedade, e não de uma diretriz partidária.
O Contexto das Manifestações de 21 de Setembro: As manifestações foram contra duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) específicas, popularmente apelidadas de:
PEC da Blindagem (ou PEC do Pacote de Maldade): Tratava-se de uma proposta que, entre outros pontos, dificultava a responsabilização de agentes públicos, incluindo a possibilidade de trancar ações penais com decisões monocráticas (de um único ministro do STF).
PEC da Anistia: Uma proposta que visava anistiar parlamentares condenados por crimes comuns, o que beneficiaria diretamente figuras políticas com condenações judiciais.
A Análise sobre a Afirmação: A declaração de Lavigne é, em parte, uma interpretação política e uma estratégia de narrativa.
Verdade Relativa: É correto afirmar que as PECs geraram uma reação ampla, atingindo setores que não se identificam estritamente com a esquerda partidária. A percepção de que essas medidas representavam um retrocesso na luta contra a corrupção e um privilégio para a classe política encontrou eco em diferentes espectros ideológicos. Muitos dos organizadores e participantes se veem como apartidários ou como parte de uma sociedade civil independente.
Complexidade da Composição: No entanto, é inegável que partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais tradicionalmente alinhados à esquerda aderiram e participaram ativamente das manifestações. Para esses grupos, as PECs eram uma afronta aos princípios de accountability e justiça.
Conclusão da Análise: Portanto, a afirmação "não foi um ato da esquerda" é mais uma tentativa de amplificar o alcance e a legitimidade do protesto, apresentando-o como uma causa nacional e não sectária. Na prática, foi um ato com forte participação e engajamento de setores da esquerda, mas que conseguiu atrair um apoio mais diversificado por tratar de um tema que gerou indignação generalizada – a impunidade e os privilégios da classe política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário