ANÁLISE: ENTREVISTA DE LULA AO PODPAH ENTERRA
BOLSONARO NAS REDES
03 de dezembro de 2021 : 09h47 | INSCREVA-SE NA TV CAFEZINHO
Foi nesse mundo que
Lula se elegeu em 2002, e as crises que teve de administrar em seus dois
governos foram exercícios complexos de relações públicas com essa mídia
tradicional.
Aí nasceu a
internet, e o poder da mídia como “influencer” no mercado político começou a
declinar rapidamente.
A Lava Jato foi o
canto do cisne da grande mídia brasileira. A parceria criminosa entre o Estado
jurídico-policial e setores reacionários do jornalismo comercial produziu uma
verdadeira catástrofe econômica e política que, por sua vez, deu a luz
Bolsonaro.
Entretanto, o
próprio Bolsonaro nasceu fora do ambiente da mídia tradicional. Sua força vinha
das redes sociais, onde ele era, até pouco tempo, o personagem político com
maior poder de mobilização.
Até ontem.
A entrevista de
Lula ao Podpah, com audiência simultânea de mais de 300 mil pessoas, inaugurou
uma nova era na política brasileira, na qual Bolsonaro não é mais a força
hegemônica.
A recepção calorosa
e amistosa dos entrevistadores do Podpah sinaliza duas grandes mudanças na
conjuntura política deste final de 2021.
Uma delas é a
celebração de um pacto tácito entre os grandes influencers populares e a
candidatura Lula. Esse pacto vem sendo construído há meses. A entrevista de Lula ao podcast de Mano
Brown no Spotfy, em setembro, foi o primeiro marco desse movimento. A
propósito, a própria plataforma divulgou há dias de que a entrevista de Lula ao
rapper paulista foi o podcast de maior audiência no Brasil em 2021.
A segunda mudança é
a derrota, em qualidade e quantidade, de Bolsonaro nas redes sociais. Para
efeito de comparação, a live de Bolsonaro de ontem, exibida mais ou menos no
mesmo horário da entrevista de Lula, tem hoje 90 mil visualizações. A
entrevista com Lula ao Podpah já tem 3,4 milhões de visualizações, e crescendo
rapidamente a cada minuto.
Deve-se olhar,
portanto, para essa entrevista como um divisor de águas.
Dentre as inúmeras
diferenças entre o Antigo Regime da mídia, e o novos tempos da internet e redes
sociais, uma das mais interessantes é a transparência destas últimas. Quando um
medalhão do colunismo político dava sua opinião na imprensa escrita, não
tínhamos a menor ideia de quantas pessoas leriam o texto. Mesmo a audiência da
TV aberta sempre foi obscura. Havia inclusive interesse, por parte dos grupos
dominantes, de manter essa penumbra, que lhes ajudava a esconder seus
fracassos, por um lado, e a empurrar conteúdos políticos impopulares, de outro.
O mundo das redes,
ao contrário, é de uma transparência brutal. Podemos ver, em tempo real, a
audiência de todos os conteúdos. No caso das lideranças políticas, a sua
influência nas redes sociais pode ser medida pelo tamanho de sua mobilização.
Bolsonaro se
consolidou nas redes sociais. Até ontem, era a liderança política com mais
força nesse universo. Por isso conseguiu vencer as eleições mesmo com
praticamente zero tempo de rádio e TV.
Com picos de mais
de 300 mil de pessoas assistindo simultaneamente, a entrevista de Lula inaugura
um novo momento político no país, onde Bolsonaro não mais é mais hegemônico.
Lula já era o
primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto.
Agora é também a
figura política que gera mais mobilização na internet.
A entrevista ao
Podpah estorou a bolha da esquerda, e tem potencial de fazer o petista não
apenas ganhar mais alguns pontos nas próximas pesquisas, como de reduzir sua
rejeição em setores estratégicos da sociedade, especialmente nas periferias das
grandes cidades.
Miguel do Rosário é
jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro,
onde vive e trabalha até hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário