sexta-feira, 26 de abril de 2019

"O Brasil não é um paraíso gay. Mas quem quiser vir pra cá fazer sexo com mulher, fique à vontade". (Bolsonaro)

Guilherme Boulos
"Não é "só" homofobia. Não é "só" machismo. É uma declaração criminosa de apologia ao turismo sexual. Na história das Nações será difícil encontrar um presidente que tenha descido a um nível tão abjeto."

Nilton Pereira

"Cafetão presidencial.
Primeiro libera o visto.
Depois oferece mulher para o sexo."






Bolsonaurus  nos remete ao pior do homem brasileiro. Sob o ponto de vista antropológico, nos coloca cara a cara, com o colonizador europeu, branco, carniceiro, sem requintes, ou com requintes de aparência, nem sempre bem disfarçados. 

São homens que estupraram  indias e negras, destruidores  vorazes  e inclementes  dos corpos dos meninos e jovens indios e negros. Bolsonaurus  é o lixo psico e cultural que está  contido em nosso subconsciente, em alguns mais, em outros menos. Uma gente que traz no corpo e na alma, essa luta de  liberdade contra  escravidão. Uma gente que é  filha de pai branco colonizador, muitos como Bolsonaurus, nem todos,  e de  mulheres  que foram reduzidas ao papel de  escravas sexuais e/ou cuidadora de filhos, do marido, da criadagem e do lar.

No livro “O POVO BRASILEIRO  Darcy Ribeiro afirma: 

(...)"A 
mais 
terrível 
de 
nossas 
heranças é 
esta 
de 
levar 
sempre 
conosco 
a cicatriz 
de 
torturador 
impressa 
na alma 
e 
pronta 
a 
explodir 
na brutalidade racista 
e 
classista. 
Ela 
é que 
incandesce, 
ainda 
hoje, 
em 
tanta autoridade brasileira 
predisposta 
a torturar, 
seviciar 
e 
machucar 
os pobres 
que 
lhes caem 
às 
mãos. 
Ela, porém, 
provocando 
crescente indignação 
nos 
dará forças, 
amanhã, para 
conter 
os 
possessos 
e 
criar aqui 
uma
 sociedade solidária (...) “


e também.....  “(...) Os brasilíndios ou mamelucos paulistas foram vítimas de duas rejeições drásticas. A dos pais, com quem queriam identificar-se, mas que os viam como impuros filhos da terra, aproveitavam bem seu trabalho quando meninos e rapazes e, depois, os integravam a suas bandeiras, onde muitos deles fizeram carreira. A segunda rejeição era do gentio materno. Na concepção dos índios, a mulher é um simples saco em que o macho deposita a semente. Quem nasce é o filho do pai, e não da mãe, assim visto pelos índios. Não podendo identificar-se com uns nem com outros de seus ancestrais, que o rejeitavam, o mameluco caía numa terra de ninguém, a partir da qual constrói sua identidade de brasileiro. (...)”

Bolsonaurus e quem concorda e aceita suas idéias e atitudes, são os que mais se identificam com o colonizador , exterminador de índios, traficante de escravos e fazendeiros escravocratas. Suas palavras e atitudes podem muito bem ser recuperadas em documentos e livros que estudaram o período do Brasil colônia e império.

Idéias e atitudes  que sempre esteve presente entre nós, mas que no século XX foi confrontado pelos movimentos no campo da luta de classes e das disputas ideológicas, incluindo o campo da educação, da imprensa e da cultura.

O que o colocou, relativamente a margem, em especial nas grandes cidades, nos centros “educados” dessas cidades ou que quiseram/querem parecer.

Todavia, como estratégia de guerra hibrida, esse Brasil arcaico, rural, conservador e reacionário, foi instigado e reforçado para fazer frente as conquistas e avanços que obtivemos no século XX e em especial, nesse  inicio de século,  com os governos Lula e Dilma.

Para aprofundar essa compreensão, além de Darcy Ribeiro, trago a necessidade de lermos  mais Gilberto Freire, com as devidas ressalvas, Manoel Bomfim, Paulo Freire, Abdias Nascimento, Clóvis Moura, Milton Santos, Durval Muniz,  Jessé de Souza, Marilena Chauí, Mary del Priore,  Lilia  Schwarcz  etc.

Também trago a lembrança de canções como “Perfeição” do Legião Urbana, “Maria, Maria”, de  Milton Nascimento e Fernando Brant. Assim como os filmes do Gláuber Rocha, dentre tantos.

Por último, frases soltas de três canções para nos ajudar a fazer memória, mas sem o peso de fazer isso somente de forma crua e dura. 

A primeira, da canção  “Refrão de Bolero” de Humberto Gessinger, com uma frase tirada do contexto da canção, mas adaptada para o argumento que defendo no texto acima. “(...)Brasil, seus caminhos são labirintos, que atraem os meus instintos mais sacanas(...)” Me refiro aqui aos desejos sexuais  do brasileiro, herdeiros da tensão, sexo como pecado, como defendido pelo catolicismo colonizador  de um lado, e  a liberdade sexual existente nos trópicos do outro lado, também com regras, mas sem tantas interdições e conflitos como acontecia no lado de lá, no velho continente, majoritariamente cristão com sua velha culpa pela perda do paraíso, em razão de um suposto pecado sexual.

atriz Nanda Costa, em ensaio fotográfico com o fotográfico Jorge Bispo. 2017
Cavucando a memória,tem um episódio que me lembra esta fala de Bolsonaurus. Quando adolescente em meados da  década de 1970, morando no Rio de Janeiro,  ouvi uma frase da  boca de homens mais velhos. "Mulher branca para casar, mulata para fud.... e negra para trabalhar".

Muito tempo depois, no inicio da década de 1990, começando a fazer as primeiras leituras do livro "Casa Grande e Senzala" na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe, buscando fontes para a produção de um artigo opinativo solicitado por um professor,  me surpreendi com a mesma frase sendo citada no livro escrito por  Gilberto Freire, como um dito popular no Brasil colônia dos homens da Casa Grande, o  qual depois se espraiou  para os homens livres das classes sociais inferiores.  

Abaixo também parodiando ou parafraseando, frases  de uma canção do Legião Urbana e outra do Skank

"O sistema é mau, e agora nem faz questão de esconder. A nossa turma precisa ser cada vez mais legal.  Tá mais junto e REEXISTIR é uma necessidade."

pacato cidadão, o grifo em REEXISTIR, não foi a toa não." 

Zezito de Oliveira - educador e agente/produtor cultural

 

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