‘Cidade Cinza’ é documentário de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo
que mostra a iniciativa da prefeitura de São Paulo de aplicar uma nova
política de limpeza urbana. Com isso, muros da maior cidade brasileira
são pintados de cinza para apagar intervenções artísticas. Artistas como
Os
Gemeos, Nunca e Nina, que tiveram importantes obras destruídas pela
iniciativa, se juntam para repintar um muro de 700 metros. No Cine Vitória (localizado na antiga 24h).
O filme no facebook
https://www.facebook.com/cidadecinzafilme
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Documentário Cidade Cinza joga novas cores na arte de rua de São Paulo
Roberto Sadovski
Em minha cabeça, grafite era uma coisa; pichação, outra. Pouco antes do começo da sessão de Cidade Cinza,
o diretor Marcelo Mesquita (que trabalhou ao lado de Guilherme
Valiengo) me puxou de lado e explicou que, no fim, tudo é igual e tudo é
válido. “Mas como a arte e a sujeira podem ser a mesma coisa?”, cocei a
cabeça. “A discussão não é sobre o que é arte”, ele disse. “Mas sobre
como a voz de quem não tem voz, mesmo necessária, é apagada.” Pouco
menos de duas horas depois, com Cidade Cinza flutuando nas
ideias, eu voltei a pensar nas palavras de Mesquita. E, ao sair do
cinema, enxerguei os muros grafitados (pichados?) ao redor e pensei em
vozes, em cores. E no cinza que os cobre.
Cidade Cinza é
um trabalho de sete anos. O que começou como o registro do trabalho de
artistas de rua como Nunca e Osgemeos, que viram seus grafites por
muros, paredes e pontes de São Paulo ganhar o mundo como arte legítima,
evoluiu para o universo paralelo em que a prefeitura da cidade se
esforça para cobrir de cinza os muros “sujos”. Não só mostra uma cidade
que perde sua cor, mas também ampliando o debate sobre a quem pertence o
espaço público e até que ponto o poder vigente – independente de
partidarismo, já que, a cada troca de administração, a “operação
limpeza” se mantém firme – vai de encontro com a voz das ruas.
O que fica claro com as palavras dos protagonistas de Cidade Cinza
é que, acima de tudo, o grafite (pichação?) é a expressão de quem não
encontra espaço “formal” para dizer o que pensa sobre a própria cidade
na qual habita. Com habilidade, o filme estabelece uma cronologia dos
artistas, mostrando de forma clara seu desenvolvimento e suas
influências, o reconhecimento de institutos de arte fora do Brasil, até
chegar à encruzilhada atual. Sua defesa apaixonada de seu trabalho é
esperada, porém justa: existe estilo, existe evolução e, principalmente,
existe uma visão muito clara do que a turma reunida no documentário
quer mostrar. Mas a contrapartida é ainda mais sensacional: ao
acompanhar os representantes do poder público que fiscalizam São Paulo
em busca de grafites (pichações?) para cobrir de cinza, chegamos a um
mundo bizarro em que o funcionário da prefeitura assume papel de censor,
“crítico de arte” e até curador, determinando com o polegar para cima
ou para baixo, arvorado em seu pequeno poder, quais obras “merecem” ser
mantidas e quais, determinadas “feias e sujas”, são levadas ao caminho
do esquecimento. Triste e impressionante.
O ponto central de Cidade Cinza
é um mural de 700 metros quadrados, na alça de acesso da avenida 23 de
maio, que foi apagado pela administração pública em 2008. Com a atenção
da mídia e o protesto da elite cultural paulistana, o prefeito de então,
Gilberto Kassab, admitiu o “equívoco” (“Um equívoco de 700 metros
quadrados?”, pergunta a certa altura o artista Nunca), e um novo mural
foi pintado em conjunto. A “reinauguração”, com direito a muita
demagogia e palavras vazias por parte dos donos do poder, que
praticamente ignoram as palavras dos artistas ao posar para as câmeras
da imprensa, é um dos momentos brilhantes captados pelas lentes de Cidade Cinza.
Afinal,
é grafite ou pichação? Afinal, é sujeira ou arte? Afinal São Paulo é
uma cidade que não compreende artistas desse porte ou é uma cidade cuja
vocação é para a frieza do concreto? Não há respostas. Mas Cidade Cinza consegue levantar a discussão. Particularmente, de cinza basta a chuva.
Ampliar
O
documentário "Cidade Cinza", de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo,
acompanha a trajetória de grafiteiros brasileiros como OsGemeos, Nina e
Nunca, que tiveram diversas obras pintadas de cinza pela prefeitura. O
filme, que entra em cartaz nos cinemas graças a uma campanha de
crowdfunding, tem música inédita do rapper Criolo na trilha-sonora.
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Alcançamos 100mil visualizações do #CurtaMetragemCriolo em 48 horas e só temos a agradecer. Obrigado, família!
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