"Sob o ponto de vista da diversidade, há momentos em que uma música dita descartável, como o brega ou arrocha também cabe. A questão é a monocultura imposta com métodos comerciais agressivos, na maioria das vezes com base em chantagens, subornos e propinas tanto para donos de emissoras de rádio, como para prefeitos e parlamentares. O efeito disso é uma tragédia de grandes dimensões em termos subjetivos, éticos e estéticos que não surpreende, aqueles (as) que estão atentos ao modo de agir, assim como aos efeitos e consequências da ação nefasta de oligopólios e cartéis privados no campo da comunicação e da cultura, associados a grupos politicos majoritariamente ligado as elites conservadores ou alinhados ao pensamento da chamada direita. Culpar os pais, as crianças, os adolescentes, os jovens e a escola, é covardia..."
Zezito de Oliveira
É preciso pensar um pouco sobre isso: qual o papel que cabe ao povo hoje
em dia na formação da cultura do país ao se constatar que é esmagado
pela indústria do entretenimento? Não é uma resposta difícil porque tudo
é feito às claras. Só não vê quem não quer. Às camadas menos
favorecidas da população sempre coube uma parcela importante da criação
da arte popular. E arte é transformação. E com transformação se muda o
curso da História. Foi a lição que aprendemos.
QUAL O PAPEL QUE CABE AO POVO NA
FORMAÇÃO DA CULTURA?
Abílio Neto - pesquisador musical
É preciso pensar um pouco sobre
isso: qual o papel que cabe ao povo hoje em dia na formação da cultura do país ao se constatar que é
esmagado pela indústria do entretenimento? Não é uma resposta difícil porque
tudo é feito às claras. Só não vê quem não quer. Às camadas menos favorecidas
da população sempre coube uma parcela importante da criação da arte popular. E
arte é transformação. E com transformação se muda o curso da História. Foi a
lição que aprendemos.
Infelizmente, a realidade é muito
triste: o povo é refém de um inteligentíssimo esquema de mercado que envolve
proprietários e diretores de programação de estações de rádio e TV, donos de
casas noturnas, de blocos de axé, de clubes de carnaval como “Galo da
Madrugada” e “Virgens de Olinda”, de grandes cervejarias, de gravadoras, até
chegar aos “intelectuais do convencimento”, esses a quem cabe o papel de tapar
o sol com a peneira, ao defenderem com unhas e dentes que essa subordinação não
existe, ou que não passa de papo de esquerdista frustrado.
A verdade é que procura-se no
meio do povo um novo Zé do Norte e não se acha. Quem não se lembra de: “os óios
da cobra é verde/ hoje foi que arreparei/ se arrepasse há mais tempo/ não amava
quem amei”?
Quem recorda esses versos de
domínio público recolhidos no recôncavo baiano: “ô marinheiro, marinheiro/
marinheiro samba/ quem te ensinou a nadar/marinheiro samba/ foi o tombo do
navio/marinheiro samba/ foi o balanço do mar”?
São peças populares, mas tão
lindas que foram incorporadas ao repertório do grande Caetano Veloso. Hoje me
parece que esse processo criativo do povo foi interrompido porque foi
atropelado pelo desprezo ao que não tem apelo comercial. Quem é o responsável
por isso? Ora, só pode ser aquele a quem cabe zelar pela cultura. Nada contra o
tecnobrega, sertanejo ou funk carioca, mas vejam quem está por trás deles e
faturando alto: são os empresários.
Entre esses, os DJ funkeiros e os
DJ de aparelhagem. Um traço em comum entre eles é a riqueza, igualmente aos
artistas que mais se destacam nesses gêneros. Tecnobrega, sertanejo-pop e funk
são manifestações culturais do povo? Para mim, não, com todas as vênias e
respeitos a quem diverge.
Acho que é coisa imposta de cima pra baixo. Na origem, há uma nítida inversão de camadas sociais. Se eu estiver errado, me apontem os do povo que são autores dos sucessos dessas citadas “manifestações culturais”. Indo mais além, vejo o povo como um mero figurante nesse grande jogo de interesse que se me afigura como puramente mercadológico.
Acho que é coisa imposta de cima pra baixo. Na origem, há uma nítida inversão de camadas sociais. Se eu estiver errado, me apontem os do povo que são autores dos sucessos dessas citadas “manifestações culturais”. Indo mais além, vejo o povo como um mero figurante nesse grande jogo de interesse que se me afigura como puramente mercadológico.
Emprega-se hoje o nome de
manifestação cultural onde não existe cultura. Cultura de verdade, entendo eu,
não é aquela que se vale do rápido e fácil domínio das plateias, ao contrário,
ela tem um longo processo de formação e somente se reconhece pela sua
finalidade maior que é a transmissão para a posteridade de obras ricas em
valores artísticos, sejam eles folclóricos, populares (da classe média) ou
eruditos. Não é à toa que Alceu Valença, em suas entrevistas, meta a lenha na
indústria do entretenimento. Ele sabe o que fala!
O cordelista, músico, cantor e
compositor Allan Sales, um dos artistas populares mais famosos do Recife, vê
assim a questão:
“É preciso matar a alma do povo
na fonte, não pondo em cena o que naturalmente brota desse povo, mas
valorizando mercadologicamente toda espécie de lixo cultural que vem a
responder a essa demanda midiática e criação de produtos culturais
descartáveis. O problema é que hoje somos
majoritariamente uma sociedade de
consumidores e não de criadores, e uma sociedade de consumidores, por
definição, pressupõe uma massa amorfa, passiva e isenta de senso crítico que
engole goela abaixo, sem grandes questionamentos, os 'lepo lepo' da vida.”
Ouça, clicando no link abaixo,
uma manifestação insuspeita de cultura popular:
o maracatu “Rainha de Tamba”, de
Zé do Norte.
Leia também:
Entre o espanto e a gracinha - A cultura de massa atravessando a Escola.
Os baianos invadiram quase tudo e agora reclamam da invasão do sertanejo"made in brazil"
AGONIA DO CARNAVAL BAIANO
Mãe de Igor Kannário diz sofrer ameaças de morte dos empresários do filho
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Comentários no facebook
Rosangela Meireles Grabe - Penso que nosso papel
enquanto educadores, formadores de opinião, lideres de pastorais é fundamental
na formação das crianças e jovens. Hoje na escola só deu Lepo Lepo. Eu disse:
Essa música não foi feita para ser cantada por crianças inteligentes! Ninguém
cantou mais. Podem me chamar de radical, mas interfiro mesmo!
Zezito de Oliveira - Além de fazer isso é
necessário buscar apresentar alternativas. Para isso, ás vezes é necessário
recursos financeiros, além de muita criatividade. http://acaoculturalse.blogspot.com.br/.../se-ja-tem-112...
Leia mais: http://www.folhadopovo.com/2014/03/ar... Clique em gostei para divulgar e curta nossa página no Facebook https://www.facebook.com/tvrevolta
Acesse o canal do artista plástico Antonio Veronese no YouTube https://www.youtube.com/channel/UCbkr...
Página oficial do artista plástico
http://antonioveronese.over-blog.com/
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OUTRO BRASIL? SOMENTE COM PARTICIPAÇÃO E ARTE.
Certa feita, conversando com um amigo educador/artista, que
reside na cidade de Olinda, em Pernambuco, sobre o modo de a esquerda
governar, ele externou para mim algumas preocupações referentes ao
modelo de gestão de muitas administrações progressistas que ele conheceu
e que se moldam facilmente à cultura política das oligarquias locais e
realizam, mesmo que de forma mais eficiente, uma gestão cuja prioridade
são apenas as grandes obras, os programas assistenciais e os shows com
grandes artistas ligados à cultura de massa, o que acaba lembrando uma
canção do Cazuza: “Um museu de grandes novidades” ou parafraseando Belchior: “Minha
dor é perceber que apesar de tudo que fizemos, ainda somos os mesmos,
“pensamos” e administramos a coisa pública como os velhos coronéis.”
E o meu amigo fez o questionamento porque, ocorrendo o término do mandato (sem reeleição), uma outra administração ligada a partidos conservadores, com inteligência e perspicácia pode fazer a mesma coisa: realizar grandes obras, investir em programas sociais e prosseguir na organização dos mega shows e, conseqüentemente, passar para a população a idéia de que não haverá necessidade de se votar na esquerda novamente.
Se na época não consegui imaginar isso como uma possibilidade real, decorridos alguns anos dessa conversa, reconheço que essa opinião é pertinente e esse texto foi escrito para ajudar na reflexão sobre o assunto, na linha de que tudo que é sólido se desmancha no ar e de que o que é novidade facilmente torna-se comum, e por isso todo indivíduo ou organização que deseja ser sempre considerada e reconhecida deve continuadamente buscar se aprimorar naquilo para que foi criada e facilitar as coisas para que novas descobertas e novas invenções possam ter lugar.
E isso só acontece num ambiente de autonomia e que favoreça condições e oportunidades para a construção e reconstrução subjetiva dos indivíduos .
Nesse sentido, considero duas questões primordiais. Em primeiro lugar, atenção especial para a mudança de valores e práticas de relacionamento político pautado nos antigos procedimentos da elite dominante, como o clientelismo, o paternalismo, o autoritarismo etc...
Em segundo lugar, atenção especial àquilo que aponta para a criação de sujeitos mais solidários, mais livres, mais ousados, àquilo que cria e dá sentido à realização plena das pessoas (refiro- me aqui à produção artístico/ cultural).
No primeiro caso se faz necessário (re)construir, fortalecer ou criar estruturas formais e informais de participação “real” da população nas decisões sobre os rumos do governo, como os conselhos, as conferências, as câmaras setoriais, os fóruns e as redes, além do incentivo e apoio à organização da sociedade civil através das ongs, e cooperativas. Assim, se viabilizaria um ambiente favorável à gestação de novas idéias e recursos para resolver ou atenuar velhos problemas, o que também pode garantir a criação de um antídoto para evitar o retrocesso de condução antidemocrática das decisões, a partir da eleição de partidos ligados às velhas elites dirigentes, após suceder-se um governo de esquerda.
No segundo caso, democratizar o acesso aos meios de produção artística e dos meios de produção e difusão da informação, com orçamento decente e gestores comprometidos, preparados e que saibam ouvir os interessados no assunto, o que resultará em diretrizes e ações que garantirão à maioria da população a possibilidade de se expressar de maneira que não fiquem apenas se comportando como meros consumidores de um bocado de lixo que é comercializado como produto cultural e cujos conteúdos -- carregados de intolerância (inclusive religiosa), vulgarização do sexo, preconceitos vários, individualismo exacerbado, banalização da violência, etc., -- vão na direção contrária de tudo aquilo que defendemos, formando o “caldo” da cultura que conduz ao retorno e sustentação da nova/ velha direita.
E isso é tudo que muita gente que ousa lutar e acreditar em outro país menos deseja, mas que será inevitável, caso opiniões como a nossa não sejam levadas em consideração a tempo.
P.S.: Segundo o pensador italiano Norberto Bobbio a esquerda orienta-se por um sentimento igualitário e a direita aceita a desigualdade como natural. Embora no Brasil seja praticamente impossível perceber a diferença através dos discursos e propaganda em época de campanha eleitoral.
Quanto as questões que apresento no texto acima percebo que o modelo de gestão do Ministério da Cultura aponta para o que escrevi acima. Apesar da necessidade de aumento do orçamento e da capacitação técnica e redução da burocracia para o acesso dos pequenos empreendedores culturais do interior e das periferias aos editais. Em Recife, em visitas a comunidades periféricas e em conversas com artistas e arte-educadores populares e também com o Secretário de Cultura, João Roberto Peixe, que nos concedeu audiência de quase duas horas no ano de 2004, pude perceber que muito daquilo que queremos/sonhamos já é realidade. Na oportunidade, o secretário me entregou cópias do relatório de gestão 2000/2004 e da I Conferência Municipal de Cultura do Recife, da qual tive a honra de participar.
José de Oliveira Santos - “Zezito” Professor de história e ativista cultural
E o meu amigo fez o questionamento porque, ocorrendo o término do mandato (sem reeleição), uma outra administração ligada a partidos conservadores, com inteligência e perspicácia pode fazer a mesma coisa: realizar grandes obras, investir em programas sociais e prosseguir na organização dos mega shows e, conseqüentemente, passar para a população a idéia de que não haverá necessidade de se votar na esquerda novamente.
Se na época não consegui imaginar isso como uma possibilidade real, decorridos alguns anos dessa conversa, reconheço que essa opinião é pertinente e esse texto foi escrito para ajudar na reflexão sobre o assunto, na linha de que tudo que é sólido se desmancha no ar e de que o que é novidade facilmente torna-se comum, e por isso todo indivíduo ou organização que deseja ser sempre considerada e reconhecida deve continuadamente buscar se aprimorar naquilo para que foi criada e facilitar as coisas para que novas descobertas e novas invenções possam ter lugar.
E isso só acontece num ambiente de autonomia e que favoreça condições e oportunidades para a construção e reconstrução subjetiva dos indivíduos .
Nesse sentido, considero duas questões primordiais. Em primeiro lugar, atenção especial para a mudança de valores e práticas de relacionamento político pautado nos antigos procedimentos da elite dominante, como o clientelismo, o paternalismo, o autoritarismo etc...
Em segundo lugar, atenção especial àquilo que aponta para a criação de sujeitos mais solidários, mais livres, mais ousados, àquilo que cria e dá sentido à realização plena das pessoas (refiro- me aqui à produção artístico/ cultural).
No primeiro caso se faz necessário (re)construir, fortalecer ou criar estruturas formais e informais de participação “real” da população nas decisões sobre os rumos do governo, como os conselhos, as conferências, as câmaras setoriais, os fóruns e as redes, além do incentivo e apoio à organização da sociedade civil através das ongs, e cooperativas. Assim, se viabilizaria um ambiente favorável à gestação de novas idéias e recursos para resolver ou atenuar velhos problemas, o que também pode garantir a criação de um antídoto para evitar o retrocesso de condução antidemocrática das decisões, a partir da eleição de partidos ligados às velhas elites dirigentes, após suceder-se um governo de esquerda.
No segundo caso, democratizar o acesso aos meios de produção artística e dos meios de produção e difusão da informação, com orçamento decente e gestores comprometidos, preparados e que saibam ouvir os interessados no assunto, o que resultará em diretrizes e ações que garantirão à maioria da população a possibilidade de se expressar de maneira que não fiquem apenas se comportando como meros consumidores de um bocado de lixo que é comercializado como produto cultural e cujos conteúdos -- carregados de intolerância (inclusive religiosa), vulgarização do sexo, preconceitos vários, individualismo exacerbado, banalização da violência, etc., -- vão na direção contrária de tudo aquilo que defendemos, formando o “caldo” da cultura que conduz ao retorno e sustentação da nova/ velha direita.
E isso é tudo que muita gente que ousa lutar e acreditar em outro país menos deseja, mas que será inevitável, caso opiniões como a nossa não sejam levadas em consideração a tempo.
P.S.: Segundo o pensador italiano Norberto Bobbio a esquerda orienta-se por um sentimento igualitário e a direita aceita a desigualdade como natural. Embora no Brasil seja praticamente impossível perceber a diferença através dos discursos e propaganda em época de campanha eleitoral.
Quanto as questões que apresento no texto acima percebo que o modelo de gestão do Ministério da Cultura aponta para o que escrevi acima. Apesar da necessidade de aumento do orçamento e da capacitação técnica e redução da burocracia para o acesso dos pequenos empreendedores culturais do interior e das periferias aos editais. Em Recife, em visitas a comunidades periféricas e em conversas com artistas e arte-educadores populares e também com o Secretário de Cultura, João Roberto Peixe, que nos concedeu audiência de quase duas horas no ano de 2004, pude perceber que muito daquilo que queremos/sonhamos já é realidade. Na oportunidade, o secretário me entregou cópias do relatório de gestão 2000/2004 e da I Conferência Municipal de Cultura do Recife, da qual tive a honra de participar.
José de Oliveira Santos - “Zezito” Professor de história e ativista cultural
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