Como dizem as letras das canções e o artigo abaixo..
Publicado em 16/02/2015
O Conversa Afiada reproduz artigo de Marcio Pochmann, extraído do Portal Vermelho:
Marcio Pochmann: O vigor do outro Brasil surgido dos anos 2000
O modelo de desenvolvimento
urbano e industrial constituído a partir da Revolução de 1930 no Brasil
caracterizou-se pelo movimento maior de centralização do emprego, renda e
riqueza em poucos lugares do território nacional. Apesar de contar com
mais de 5,5 mil municípios, apenas alguns emergiram identificados como
locomotivas da expansão econômica nacional.
Por Marcio Pochmann*, na Rede Brasil Atual
Isso porque no início da década de 1970, os militares oficializaram com o conceito de região metropolitana um conjunto de municípios centralizados em torno de nove capitais principais do país, a saber: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O restante dos municípios excluído da definição de região metropolitana seria expressão do atraso e da desigualdade, que sem força própria se tornaria dependente de transferências do governo central.
O resultado disso foi a trajetória do fluxo imigratório que deslocou uma massa de trabalhadores do meio rural fundamentalmente para as regiões metropolitanas do país. Entre 1940 e 1980, por exemplo, a população localizada nas regiões metropolitanas passou de 16,8% do conjunto dos brasileiros para 29,2%, um crescimento acumulado de 73,8% em somente 40 anos.
Ao mesmo tempo, a participação na produção nacional por parte das regiões metropolitanas subiu de cerca de um terço para quase 54% entre as décadas de 1940 e 1970. Um Brasil polarizado entre a modernidade de algumas cidades que se situavam em torno de poucas capitais a sustentar o núcleo dinâmico do desenvolvimento nacional e a parte restante representando o atraso passou a sofrer uma importante inflexão a partir de 1980.
A crise da dívida externa entre os anos de 1981 e 1983, bem como pelas medidas adotadas pelo último governo da ditadura (1964-1985), terminaram por romper o curso do projeto nacional desenvolvimentista estabelecido nos últimos 50 anos. As políticas neoliberais adotadas na década de 1990 colocaram uma pá de cal nas possibilidades de soerguimento do desenvolvimento nacional.
O resultado foi a regressão nas regiões metropolitanas concomitantemente com o resto do Brasil. De oitava economia do mundo em 1980, o País decresceu para o posto de 13ª no ano 2000, coincidindo com a expansão do desemprego que saltou de 1,8 milhão para 11,5 milhões no mesmo período de tempo.
Nos anos 2000, a retomada do desenvolvimento econômico com justiça social ofereceu novo horizonte para a questão da desigualdade no território. Passou-se a assistir ao crescimento econômico descentralizado, por opção de políticas públicas de investimento e políticas de renda onde o Brasil encontrava-se esquecido por séculos.
O resultado, em pouco tempo, não tardou a se apresentar. De um lado, a estabilização dos habitantes nas regiões metropolitanas, que as manteve abaixo de 30% a participação relativa no total da população do país.
De outro lado, a alteração na composição da riqueza nacional segundo a localização territorial. No ano de 2010, por exemplo, o conjunto das regiões metropolitanas respondeu por 40% do produto nacional, enquanto em 1970 chegou a representar quase 54%.
A queda no peso relativo das regiões metropolitanas no produto nacional ocorreu principalmente em função do verificado nas duas principais. A região metropolitana do Rio de Janeiro perdeu 50% de sua participação relativa entre os anos de 1970 e 2010, ao passo que a de São Paulo decaiu 29,3% no mesmo período.
No sentido inverso, as regiões metropolitanas de Salvador (17,6%), Fortaleza (62,5%), Curitiba (78,6%) e Belo Horizonte (14,3%) aumentaram suas posições relativas na riqueza nacional. Belém manteve intacta sua participação relativa no produto nacional nos últimos 40 anos.
Se considerar a parte restante do país, excluída do conceito de região metropolitana, percebe-se o crescimento na participação da riqueza nacional de 46,4%, em 1970, para 60%, em 2010. Ou seja, aumento acumulado de 29,3% em 40 anos.
Em função disso, nota-se que as fontes do dinamismo nacional localizam-se cada vez mais na interior do Brasil, o que reduz o grau de polarização entre regiões metropolitanas e o resto do território nacional. A riqueza aumenta mais puxada pela força do outro Brasil, assim como a própria expansão de empregos e renda.
Um país menos desigual surge das transformações introduzidas fundamentalmente na década de 2000. Mas isso, contudo, parece não agradar alguns, que buscam, mesmo de forma não democrática, interromper a todo custo o governo que produziu o vigor do outro Brasil.
*Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
Isso porque no início da década de 1970, os militares oficializaram com o conceito de região metropolitana um conjunto de municípios centralizados em torno de nove capitais principais do país, a saber: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O restante dos municípios excluído da definição de região metropolitana seria expressão do atraso e da desigualdade, que sem força própria se tornaria dependente de transferências do governo central.
O resultado disso foi a trajetória do fluxo imigratório que deslocou uma massa de trabalhadores do meio rural fundamentalmente para as regiões metropolitanas do país. Entre 1940 e 1980, por exemplo, a população localizada nas regiões metropolitanas passou de 16,8% do conjunto dos brasileiros para 29,2%, um crescimento acumulado de 73,8% em somente 40 anos.
Ao mesmo tempo, a participação na produção nacional por parte das regiões metropolitanas subiu de cerca de um terço para quase 54% entre as décadas de 1940 e 1970. Um Brasil polarizado entre a modernidade de algumas cidades que se situavam em torno de poucas capitais a sustentar o núcleo dinâmico do desenvolvimento nacional e a parte restante representando o atraso passou a sofrer uma importante inflexão a partir de 1980.
A crise da dívida externa entre os anos de 1981 e 1983, bem como pelas medidas adotadas pelo último governo da ditadura (1964-1985), terminaram por romper o curso do projeto nacional desenvolvimentista estabelecido nos últimos 50 anos. As políticas neoliberais adotadas na década de 1990 colocaram uma pá de cal nas possibilidades de soerguimento do desenvolvimento nacional.
O resultado foi a regressão nas regiões metropolitanas concomitantemente com o resto do Brasil. De oitava economia do mundo em 1980, o País decresceu para o posto de 13ª no ano 2000, coincidindo com a expansão do desemprego que saltou de 1,8 milhão para 11,5 milhões no mesmo período de tempo.
Nos anos 2000, a retomada do desenvolvimento econômico com justiça social ofereceu novo horizonte para a questão da desigualdade no território. Passou-se a assistir ao crescimento econômico descentralizado, por opção de políticas públicas de investimento e políticas de renda onde o Brasil encontrava-se esquecido por séculos.
O resultado, em pouco tempo, não tardou a se apresentar. De um lado, a estabilização dos habitantes nas regiões metropolitanas, que as manteve abaixo de 30% a participação relativa no total da população do país.
De outro lado, a alteração na composição da riqueza nacional segundo a localização territorial. No ano de 2010, por exemplo, o conjunto das regiões metropolitanas respondeu por 40% do produto nacional, enquanto em 1970 chegou a representar quase 54%.
A queda no peso relativo das regiões metropolitanas no produto nacional ocorreu principalmente em função do verificado nas duas principais. A região metropolitana do Rio de Janeiro perdeu 50% de sua participação relativa entre os anos de 1970 e 2010, ao passo que a de São Paulo decaiu 29,3% no mesmo período.
No sentido inverso, as regiões metropolitanas de Salvador (17,6%), Fortaleza (62,5%), Curitiba (78,6%) e Belo Horizonte (14,3%) aumentaram suas posições relativas na riqueza nacional. Belém manteve intacta sua participação relativa no produto nacional nos últimos 40 anos.
Se considerar a parte restante do país, excluída do conceito de região metropolitana, percebe-se o crescimento na participação da riqueza nacional de 46,4%, em 1970, para 60%, em 2010. Ou seja, aumento acumulado de 29,3% em 40 anos.
Em função disso, nota-se que as fontes do dinamismo nacional localizam-se cada vez mais na interior do Brasil, o que reduz o grau de polarização entre regiões metropolitanas e o resto do território nacional. A riqueza aumenta mais puxada pela força do outro Brasil, assim como a própria expansão de empregos e renda.
Um país menos desigual surge das transformações introduzidas fundamentalmente na década de 2000. Mas isso, contudo, parece não agradar alguns, que buscam, mesmo de forma não democrática, interromper a todo custo o governo que produziu o vigor do outro Brasil.
*Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
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