A Notícia
Nilson Chaves
O "New York Times" não deu uma linha
A "BBC"de Londres nenhuma palavra
Mas ontem no Xingu um índio se afogou
E um guarda-marinha
Se atirou nas águas
Pra salvar a sua vida
Na mesma hora um favelado da Rocinha
Que tinha sete filhos arrumou mais um:
Era menino loiro de olho azul
Que tinha sido abandonado nu
Numa avenida
Gente má,
Gente linda
Dia vem, noite finda
Em todo lugar
Destino Marajoara
Nilson Chaves
Quando me dei conta
Eu cantava Amazônia
Era um rio de beleza
Navegando em minha voz
O céu do Marajó
O canto do curió
Baía do Sol, quando dei por mim
Um curumim vibrava aqui
O coração de cantador, sorrir, assim, aqui
Destino Marajoara
Destino Marajoara
Destino
Sina, sina, sina
Ajuruteua, Salinas
Tudo que aprendo me ensina
O prazer de te cantar
Sina, sina, sina
Luar de Mosqueiro fascina
A marujada me anima
Adoro o teu siriá
Quando fiz as malas
Pra correr o mundo
Mergulhei meus olhos
No fogo do teu calor
O límpido igarapé
O Círio de Nazaré
Alter do Chão, não fique distante
Não te esqueci nenhum segundo
Teu amuleto está no mundo
Em mim, aqui, assim
Destino Marajoara
Destino Marajoara
Destino
Da Minha Terra
Composição: Jamil Damous / Nilson Chaves.
Te trago da minha terra
O que ela tem de melhor
Um doce de bacuri
Um curió cantador
Trago da minha cidade
Tudo o que lá deixei
Dentro do bolso a saudade
E na mala o que sei
E eu sei tão pouco menina
Desse planeta azul
Sei por exemplo que o norte
Fica pros lados do sul
Sei que o Rio de Janeiro
Deságua em Turiaçú
Sei que você é pra mim
O que o ar é pro urubu
Te trago da minha terra
O que ela tem de melhor
Tigela de açaí
Bumba-meu-boi dançador
Trago da minha cidade
Tudo o que lá deixei
Numa das mãos a vontade
E na outra o que sonhei
E eu sonhei tanto menina
Londres, Estocolmo, Stambul
Sonhei New York, Caracas
Roma, Paris e Seul
Mas hoje o Rio de Janeiro
Ainda é Turiaçú
Só você pra mim já é
Leste, Oeste, Norte, Sul
Fafá de Belém - Ao Pôr Do Sol
Ao Pôr do Sol - Teddy Max
Ao pôr do Sol
Eu vou te dizer
Que o nosso amor
Não pode morrer
Quando as estrelas
No céu despontarem vão dizer
Que a Lua, eu fiz pra você
E então eu serei amor
O sereno e o luar será você
Ardente de paixão
Que raia no meu coração
E então eu serei amor
O sereno e o luar será você
Ardente de paixão
Que raia no meu coração
Para conhecer a história do cantor e compositor Theddy Max, falecimento precocemente quando cantava em um show na cidade de Macapá, leia aqui
Olhando Belém
Composição: Celso Viáfora.
detalhe importante: Esta canção é da autoria de um compositor que nasceu em São Paulo mas que nutre por Belém e pela Amazónia um sentimento de profunda conexão. Para conhecer mais sobre Celso Viáfora clique aqui
O Sol da manhã rasga o céu da Amazônia
Eu olho Belém da janela do hotel
As aves que passam fazendo uma zona
Mostrando pra mim que a Amazônia sou eu
E tudo é muito lindo
É branco, é negro, é índio
No rio Tietê mora a minha verdade
Sou caipira, sede urbana dos matos
Um caipora que nasceu na cidade
Um curupira de gravata e sapatos
Sem nome e sem dinheiro
Sou mais um brasileiro
Olhando Belém enquanto uma canoa desce um rio
E o curumim assiste da canoa um Boeing riscando o vazio
Eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa
Os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa
Olhando Belém enquanto uma canoa desce um rio
E o curumim assiste da canoa um Boeing riscando o vazio
Eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa
Os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa
Olhando os meus olhos de verde e floresta
Sentindo na pele o que disse o poeta
Eu olho o futuro e pergunto pra insônia
Será que o Brasil nunca viu a Amazônia?
E vou dormir com isso
Será que é tão difícil
Olhando Belém enquanto uma canoa desce um rio
E o curumim assiste da canoa um Boeing riscando o vazio
Eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa
Os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa
Olhando Belém enquanto uma canoa desce um rio
E o curumim assiste da canoa um Boeing riscando o vazio
Eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa
Os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa
O Brasil não conhece a Amazônia
Certa vez de montaria
Eu descia o Paraná
O caboclo que remava
Não parava de falar, ah, ah
Não parava de falar, ah, ah
Que caboclo falador
Me contou do lobisomem
Da mãe-d'água, do tajá
Disse do Jurutai
Que se ri pro luar, ah, ah
Que se ri pro luar, ah, ah
Que caboclo falador!
Que mangava de visagem
Que matou surucucú
E jurou com pavulagem
Que pegou uirapuru, ah, ah
Que pegou uirapuru, ah, ah
Que caboclo tentador!
Caboclinho, meu amor
Arranja um pra mim
Ando roxo pra pegar
Unzinho assim
O diabo foi-se embora
Não quis me dar
Vou juntar meu dinheirinho
Pra poder comprar
Mas no dia que eu comprar
O caboclo vai sofrer
Eu vou desassossegar
O seu bem querer, ah, ah
O seu bem querer, ah, ah
Ora deixa ele pra lá!
Waldemar Henrique da Costa Pereira (Belém do Pará, 15 de fevereiro de 1905 — Belém, 29 de março de 1995) foi um maestro, pianista, escritor e compositor brasileiro. Artista símbolo do Pará, a cidade de Belém possui uma praça e um teatro que levam seu nome. Leia mais aqui
“Eu olho o futuro e pergunto pra insônia: será que o Brasil nunca viu a Amazônia?”
Aldenor Ferreira
Publicado em: 10/02/2024 às 00:37 | Atualizado em: 10/02/2024 às 00:37
Celso Viáfora, em sua emocionante obra musical “Olhando Belém”, interpretada por Nilson Chaves, traz uma questão provocadora: “eu olho o futuro e pergunto pra insônia: será que o Brasil nunca viu a Amazônia?”, argumenta.
De fato, é uma questão pertinente. Infelizmente, parte da sociedade brasileira desconhece a Amazônia. E, lamentavelmente, o que se conhece da região, muitas vezes, é atravessado por preconceitos.
Conforme observado pelo sociólogo Antônio Carlos Witkoski, a Amazônia é uma formação socioeconômica moldada desde sua origem pela dinâmica do capitalismo. Ela nasce de costas para o Brasil, mas de frente para a Europa e para a exploração capitalista que esta dinâmica sempre propiciou.
Ainda segundo o sociólogo, “no curso do processo civilizatório ocidental, desde as grandes navegações – uma das primeiras manifestações de intensa globalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais no novo mundo –, a Amazônia se destaca mais pela lembrança/presença do que pelo esquecimento/isolamento”.
A dinâmica de exploração predatória dos recursos naturais da Amazônia passou por diversas fases. No século XX, a Ditadura Militar (1964-1985), ao tomar posse definitiva deste território com o lema “integrar para não entregar”, manteve a exploração capitalista predatória. Mesmo nos governos progressistas e democráticos, a região foi submetida à lógica do neodesenvolvimentismo.
A ignorância é conveniente
Portanto, o desinteresse, o preconceito e a negligência do “Brasil litorâneo” e das regiões metropolitanas mais ricas em relação à Amazônia são prejudiciais para o nosso país, mas benéficos para a exploração predatória promovida pelo capital nacional e internacional.
A ignorância é a causa de nossa tragédia em relação a este magnífico território. Todavia, é uma dádiva para aqueles que enxergam a Amazônia apenas como um meio para seus fins privados, visando somente ao lucro, em detrimento de toda a vida presente neste bioma.
Talvez seja por isto que o compositor se inquiete. Ele questiona: “eu olho o futuro e pergunto pra insônia: será que o Brasil nunca viu a Amazônia?” E conclui: “e vou dormir com isto: será que é tão difícil?”
Os rios de nossa aldeia
Eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa
A conclusão do compositor coincide com a minha. Ele observa: “olhando Belém, enquanto uma canoa desce um rio e o curumim assiste da canoa um Boeing riscando o vazio, eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa; os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa”.
Certamente, é possível viver bem, viver numa boa. Os nossos rios são os mais majestosos do mundo. E eles são muitos, uma miríade. São eles os principais responsáveis pela renovação da vida na Amazônia a cada ciclo. Vida no sentido amplo da palavra: vida da ictiofauna, vida botânica, vida vinda da agricultura, vida vinda da fé de cada homem, de cada mulher.
Uma nova vida é possível. Basta que tenhamos a capacidade e os investimentos necessários para o desenvolvimento de projetos endógenos, que levem em consideração as singularidades e especificidades biossocioculturais deste mosaico de “terras, florestas e águas”, para citar novamente o sociólogo Antônio Carlos Witkoski.
Conclusão
O Brasil pode não conhecer a Amazônia, mas nós que a conhecemos bem seremos os defensores dela. Nós, amazônidas, que vivemos nesta região, temos a missão de protegê-la de todas as formas possíveis.
Nós que navegamos em seus rios, que exploramos suas florestas e nos banhamos em suas cachoeiras e igarapés. Nós que cultivamos suas várzeas, que pescamos seus peixes, que apreciamos seus sabores, que celebramos as suas festas folclóricas e suas cores, seremos os fervorosos defensores de sua preservação e da busca incansável pelo seu desenvolvimento sustentável.
*Sociólogo
Amazônia
Nilson Chaves
Sim, eu tenho a cara do saci, o sabor do tucumã
Tenho as asas do curió, e namoro cunhatã
Tenho o cheiro do patchouli e o gosto do taperebá
Eu sou açaí e cobra grande
O curupira sim, saiu de mim, saiu de mim, saiu de mim
Sei cantar o tár do carimbó, do siriá e do lundú
O caboclo lá de Cametá e o índio do Xingu
Tenho a força do muiraquitã
Sou pipira das manhãs
Sou o boto, igarapé
Sou rio Negro e Tocantins
Samaúma da floresta, peixe-boi e jabuti
Mururé filho da selva
A boiúna está em mim
Sou curumim, sou Guajará ou Valdemar, o Marajó, cunhã
A pororoca sim, nasceu em mim, nasceu em mim, nasceu em mim
Sim
Eu tenho a cara do Pará, o calor do tarubá
Um uirapuru que sonha
Sou muito mais
Eu sou, Amazônia!
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL
QUERIDA AMAZONIA
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
AO POVO DE DEUS E A TODAS AS PESSOAS DE BOA VONTADE
1. A Amazónia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério. Deus concedeu-nos a graça de a termos presente de modo especial no Sínodo que se realizou em Roma de 6 a 27 de outubro de 2019, concluindo com o Documento Amazónia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral.
2. Ouvi as intervenções ao longo do Sínodo e li, com interesse, as contribuições dos Círculos Menores. Com esta Exortação, quero expressar as ressonâncias que provocou em mim este percurso de diálogo e discernimento. Aqui, não vou desenvolver todas as questões amplamente tratadas no Documento conclusivo; não pretendo substitui-lo nem repeti-lo. Desejo apenas oferecer um breve quadro de reflexão que encarne na realidade amazónica uma síntese de algumas grandes preocupações já manifestadas por mim em documentos anteriores, que ajude e oriente para uma receção harmoniosa, criativa e frutuosa de todo o caminho sinodal.
3. Ao mesmo tempo, quero apresentar de maneira oficial o citado Documento, que nos oferece as conclusões do Sínodo e no qual colaboraram muitas pessoas que conhecem melhor do que eu e do que a Cúria Romana a problemática da Amazónia, porque vivem lá, por ela sofrem e a amam apaixonadamente. Nesta Exortação, preferi não citar o Documento, convidando a lê-lo integralmente.
4. Deus queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho, que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis-leigos da Amazónia se empenhem na sua aplicação e que, de alguma forma, possa inspirar todas as pessoas de boa vontade.
5. A Amazónia é um todo plurinacional interligado, um grande bioma partilhado por nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Perú, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Todavia dirijo esta Exortação ao mundo inteiro. Faço-o, por um lado, para ajudar a despertar a estima e solicitude por esta terra, que também é «nossa», convidando-o a admirá-la e reconhecê-la como um mistério sagrado; e, por outro, porque a atenção da Igreja às problemáticas deste território obriga-nos a retomar brevemente algumas questões que não devemos esquecer e que podem servir de inspiração para outras regiões da terra enfrentarem os seus próprios desafios.
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