A entrada ao evento será gratuita, mas com uma condição solidária: será solicitada a doação mínima de 2 kg de alimentos não perecíveis para retirada dos ingressos.
Os ingressos poderão ser trocados no dia 1º de novembro, das 10h às 17h, no hall do teatro.
ALGUMAS NOTAS SOBRE “O AGENTE SECRETO”
Com Romero Venâncio (UFS)
26/10. Domingo. às 20h
NOTINHA DE NADA SOBRE UM GRANDE FILME
Recomendo demais esse “O agente secreto” do Kleber Mendonça Filho. Tem tudo para ser um grande filme e que marcará a história do cinema brasileiro. Do roteiro à fotografia; da direção à trama; dos personagens ao cenário de época…
Mas tem uma coisa que toca a todos que estão na condição de docente numa universidade e que deveria nos tocar todos e todas que temos ligação com o ensino público como projeto de país e de soberania…
Enquanto trabalhadores e trabalhadoras da educação pública, seremos tocados direta ou indiretamente: o personagem é um professor universitário comum, pesquisador e dedicado a vida acadêmica de pesquisa, mas tragado por uma situação que sempre será a desgraça do ensino público: a determinação do privado que tem o poder econômico…
Tem uma cena antológica e que muito nos fará pensar em dias atuais e poderemos ver nosso destino quando reside nas mãos dessa gente adoradora de PPP`s, mercado, empreendedorismo… Não direi mais nada do filme para não estragar a “surpresa”.
O filme deveria nos fazer pensar que tipo de professor/professora que temos (e somos) numa instituição pública (ainda), no governo e MEC que temos em dias atuais e suas relações com o mercado; que tipo de gestores/gestoras temos nas universidades públicas e quais seus reais compromissos com algum projeto de Nação e não apenas com jogadas marqueteiras, adorações de parcerias privadas e essa loucura do empreendedorismo coach que castiga o horizonte de nossa juventude e de quebra, “reforma” administrativa no horizonte próximo para nos destruir de vez…
No filme, um departamento inteiro e suas pesquisas foram destruídas por um “simples” burguês marginal dos mercados de plantão e que fala mais alto que uma estatal pública. Era uma ditadura naquela época (no contexto do filme). Hoje é diferente(?), estamos na democracia e num governo de esquerda. Certo?... No mais, vejamos o filme e não tenhamos vergonha do que praticamos!!!
Romero Venâncio (UFS)
Crítica | O Agente Secreto (2025)
Memória, identidade, medo e paranoia.
Em O Agente Secreto, Kleber Mendonça Filho subverte expectativas. O filme começa feito um thriller de espionagem, mas logo se transforma em algo maior: uma colagem de gêneros, ecos e memórias cinematográficas. Kleber faz o que sempre soube fazer — cria a partir das ruínas, mistura política, melancolia e invenção formal. Mais ou menos à maneira de Quentin Tarantino, ele recicla cults e clássicos: da Nouvelle Vague ao Cinema Novo, do cinema de retomada ao asiático, do europeu ao nordestino. O resultado é um mosaico em que o Brasil se revela por reflexos, lapsos e silêncios.
A história de Marcelo (Wagner Moura), fugitivo que desembarca no Recife de 1977, é apenas o fio condutor. Por trás dele, o que se esconde é o retrato de um país que apaga pessoas, lugares e lembranças — o mesmo Brasil de Aquarius, Bacurau e Retratos Fantasmas. A fotografia, de tons sépia e luz difusa, remete a um cinema antigo, quase analógico, em que cada plano parece resgatar uma lembrança. O São Luiz, o centro, a Praça do Sebo, o som abafado das fitas e dos projetores: tudo pulsa como um inventário da memória recifense.
Como em Recife Frio, seu curta-metragem mais provocador, Kleber volta à cidade como se fosse um personagem — viva, contraditória, ameaçadora. E é ali que a trama se expande para um território moral: um Brasil de arquivos censurados, polícias corruptas e identidades ocultas. Cada personagem parece ser um agente duplo de si mesmo, e o passado insiste em vazar pelos poros do presente.
Mas a verdadeira subversão de Mendonça Filho está na estrutura. Quando esperamos a catarse, o filme corta o tempo — num gesto à la irmãos Coen, como em Onde os Fracos Não Têm Vez ou Bravura Indômita. O que seria explosão vira silêncio; o que prometia vingança se dissolve em melancolia. É aí que o filme revela seu segredo: não é sobre espionagem, mas sobre esquecimento.
Com atuações intensas de Moura, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Tânia Maria (uma revelação aos 78 anos), O Agente Secreto é ao mesmo tempo um épico político e uma elegia à memória. Kleber transforma o cinema em espelho e em disfarce — um lugar onde o que é apagado continua a viver, teimosamente, na luz da tela.






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