Este livo é ótimo para ser trabalhado em grupos de
jovens e pastorais ligadas a juventude.
Com uma leitura bastante convidativa, o livro primeiramente faz
comparações entre a juventude de ontem e hoje, seguida de uma análise
crítica, terminando com uma orientação pastoral. Nesse esquema seguem
todos os tópicos do livro, que trabalha os mais variados temas
discutidos, hoje, pela juventude, pais, educadores e pastores dentro de
comunidades.
Dentro de uma análise, considerando todos os livros que já li, que não
foram poucos, sobre jovens e juventude, este é o mais completo, porque
além de analisar a situação e problemas bastante atuais, apresenta
sugestões para que certas dificuldades no diálogo com o jovem possam ser
superadas.
Leia também: Página especial dedicada a JUVENTUDE no blog da Ação Cultural. AQUI
Adquira:
VIDEO JUVENTUDE E SEUS CAMINHOS
Juventudes e seus caminhos mostra os
diferentes rostos e as diversas expressões das juventudes brasileiras,
que se misturam à dor, à ousadia e à esperança. Produzido pelo Jornal
Mundo Jovem como subsídio para a Campanha "Fraternidade e Juventude", da
CNBB, este vídeo debate os temas que se relacionam com a vida dos
jovens: educação, trabalho, drogas, projeto de vida, escolhas, e muitos
outros. Um vídeo em que os próprios jovens revelam quem são, como vivem,
quais são seus sonhos, seus direitos e suas ações.
Saiba mais: http://www.mundojovem.com.br/produtos/juventudes-e-seus-caminhos
“JuventudeS” da produtora Verbo Filmes.
Tendo como eixo um debate entre jovens provenientes de diversas
áreas de estudo, este DVD apresenta um verdadeiro caleidoscópio da
juventude brasileira.
Temas como: religião, política, violência, família, internet e outros
são comentados a partir de diferentes pontos de vista, influenciados
seja pelo lugar social d@s entrevistad@s, seja pelas convicções que cada
protagonista construiu ao longo de sua vida.
Para facilitar o seu uso, o documentário está dividido em blocos
temáticos, encerrados sempre com algumas perguntas como sugestão para o
início de um bate papo.
Este DVD é um subsídio para a Campanha da Fraternidade de 2013:
FRATERNIDADE E JUVENTUDE. Servirá igualmente como um instrumento de
trabalho em preparação à Jornada Mundial da Juventude.
Compre AQUI
RESUMO DO LIVRO
Para onde vai a juventude?
Por J. B. Libanio, sj
O artigo apresenta uma leitura das tendências que
movem os jovens na pós-modernidade: no campo pessoal; na eduação
escolar/acadêmica; nas relações humanas; na cultura; trabalho; religião e
política. Compreender melhor essas tendências ajudará os que trabalham
com jovens a encontrar lucidez no próprio pensar e agir.
Estudar as tendências da juventude implica tríplice olhar. Num
primeiro momento, registra-se como ela se comportou em idos passados não
muito remotos para não se perder em considerações distantes. Num
segundo momento, observa-se como ela procede no presente. E, num
terceiro momento, deixa-se ao leitor jovem comprovar, em sua vida, a
verdade de tal análise e aos adultos a maneira como reagir positivamente
em face dela.
1. Tendências pessoais
A medicina, a psicologia, a pedagogia têm constado um deslocamento
significativo no desenvolvimento físico, psíquico e espiritual dos
jovens. Antes, o físico e o psíquico caminhavam a passo lento. Assim,
não se percebia nenhuma dissonância. À medida que cresciam fisicamente,
sentiam-se maduros para as tarefas que se lhes surgiam. Assumiam com
responsabilidade já na adolescência compromissos na família, na escola e
até mesmo no trabalho precoce.
Um conjunto de fatores, desde a melhor alimentação, maior cuidado
médico e fisioterapêutico com o corpo, ao lado de uma cultura que propõe
a juventude como fase de vida a ser prolongada o máximo possível,
tem-se observado, resultando em corpos vigorosos e fortes um psiquismo
frágil com menor capacidade de responsabilidade.
Tal defasagem tem-se manifestado de maneira explícita no campo
sexual. O desenvolvimento orgânico do corpo os faz varões ou mulheres
precoces quanto às pulsões sexuais, mas despreparados para lidar com os
desejos e as solicitações do ambiente. Antes, os jovens se preparavam
lentamente para o amor, com reserva em face do sexo. O amadurecimento do
corpo acompanhava o processo psicológico. Atualmente, os encontros
afetivo-sexuais se fazem intensos e descomprometidos. Não raro, já no
primeiro encontro, sem conhecimento entre si, sem nenhuma preparação
humana, eles “ficam” até a relação sexual, sem perspectiva de
continuidade.
A simples substituição da palavra namorar para “ficar” denota a
mudança. Namorar implica relações que se constroem lenta e
progressivamente. “Ficar” explode e termina logo. Daí a multiplicação
dessas experiências com diferentes pessoas sem real envolvimento entre
os parceiros.
A psicologia distingue na juventude dois dinamismos complementares em
sadia tensão. O dinamismo projetivo move o jovem a sonhar com o futuro.
Ele imagina situações, não raro idealizadas, a ser vividas amanhã. Elas
lhes oferecem energia para suportar as agruras do presente. Durante o
Governo Militar ditatorial no Brasil de 1964 a 1985, jovens arriscaram a
vida e a perderam em lutas idealistas por um país sem repressão, livre,
socialista (Betto, 1982; Gabeira, 1980; Syrkis, 1981; 1985). A dimensão
projetiva manifestou-se em grau maior.
O dinamismo explorativo volta-se para o presente. Busca exauri-lo ao
máximo. O futuro se esfuma. O idealismo cede lugar para a busca sôfrega
de experiências momentâneas. No momento atual, predomina nos jovens a
dimensão explorativa sobre a projetiva. Vivem mais do presente que do
futuro. Cansaram-se e se desiludiram de causas pelas quais se empenharam
ontem. As causas atuais gozam de menor força de atração. No campo
católico, o idealismo se direciona aos novos movimentos eclesiais. Ele
não primam por ofertas de transformação social, mas por vida moral e
religiosa de ações concretas e sem perspectiva de futuro.
O universo dos jovens situa-se diferentemente em face da tradição. A
geração anterior conheceu líderes importantes que lhes ditavam palavras
de ordem às quais davam adesão. Os mais velhos lhes serviam de
referência. A tendência presente vai na direção oposta. Importa a
própria experiência pessoal, autônoma até tocar as raias do narcisismo.
Por isso, preocupam-se antes com momentos felizes, fugazes, sem
preocupação com as consequências, em vez de ater-se à busca de
felicidade sólida, permanente e comprovada pela experiência dos maiores.
Por prenderem-se menos às tradições, despojam-se com maior facilidade
de preconceitos e tabus criados pelas gerações anteriores. Assim,
assumem atitude tolerante em face de comportamentos sexuais diferentes.
Não temem aventurar-se por experiências-limites no campo sexual e de
grupos de risco. Não poucos tentam incursões no mundo da droga e
práticas sexuais divergentes, mesmo que não pensem tornar-se dependentes
químicos ou praticantes de tal tipo de sexualidade. Veem tais
comportamentos com naturalidade.
Ainda nesse campo da sexualidade, a postura machista com forte acento
na distinção sexual e na supremacia do masculino cede lugar para o
esmaecimento das diferenças sexuais e para a crescente autoconsciência
da mulher.
No comportamento psicológico, há mudanças na transparência afetiva. A
geração anterior se comportava de maneira recatada na expressão da
própria intimidade, especialmente no que tocava à vida sexual. Não fazia
facilmente confidências. A cultura pós-moderna produz profunda
transformação. Torna facilmente públicos comportamentos estritamente
pessoais. O programa Big Brother, tão badalado, significa a sua
expressão escandalosa e extremada. Acrescente-se a entrada dos meios
virtuais em que, ora protegidos por pseudônimo, ora sem a inibição do
real, jovens expõem o corpo e as experiências de maneira provocante e
sem recato. Está aqui um ponto que merece atenção e cuidado por parte de
pais e educadores. Tal exposição despudorada tem gerado a banalização e
futilização do próprio corpo, do sexo, de relações, por natureza,
íntimas.
Esconde-se nesses comportamentos outra tendência forte nos tempos
pós-modernos. J. Cl. Guillebaud (1999) definiu-a como “tirania do
prazer”. Esquece-se a moderação necessária na vivência do prazer e
embarca-se em crescente intensificação pela via das drogas e pela
exacerbação de práticas sexuais. Considera-se tudo como algo normal,
fácil e sem medos, nem fantasmas.
A partir das movimentações da década de 60, os jovens tomaram a
palavra, na famosa expressão de M. de Certeau (1968). E agora não querem
abrir mão dela. Não aceitam ser como os jovens de antanho, que ouviam
muito e falavam pouco. Agora, pretendem ser ouvidos na família, na
Igreja, na sociedade. Buscam espaços para participar, falar, dizer o que
sentem e vivenciam. Sabem-se diferentes dos adultos. E não se intimidam
diante deles. Pelo contrário, batalham por seus valores, visão de
mundo, perspectivas existenciais. Agitam os espaços tranquilos.
2. Tendências na vida escolar e acadêmica
A Escola tradicional educava os alunos para aprender o que se
ensinava. Fazia-se nítido corte entre o ensinar e o aprender. Do lado do
professor, vinha o ensinar. Tocava aos estudantes aprender. Lentamente a
pedagogia iniciou um processo de encurtar tais distâncias, valorizando
cada vez mais a liberdade, a iniciativa, a criatividade dos alunos.
Adentra-se na tendência da modernidade de valorização da autonomia, da
subjetividade em contraste com a submissão à autoridade e às tradições
dos maiores.
Mais diretamente sobre a educação, surgem correntes que, de
diferentes pontos de vista, valorizam o sujeito. C. Rogers acentua as
abordagens centradas na pessoa de caráter não diretivo (Rogers, 1970a;
1970b; Rogers e Kinget, 1969). Aposta no sujeito, no núcleo básico de
cada pessoa humana. Entende o educador como quem, pela via da empatia,
pela compreensão, pela capacidade de perceber o outro nele mesmo e
amá-lo, por relação de mútua confiança, leva o aluno a encontrar o
próprio caminho, a resposta a seus problemas e a descobrir e atualizar o
seu potencial de crescimento.
No Brasil, a pedagogia conscientizadora e libertadora de Paulo Freire
reforça o valor do sujeito que extrojeta o dominador que o habita para
encontrar a si mesmo na sua dignidade e singularidade. Opõe-se à
educação bancária pelo processo de conscientização (Freire, 1975, 1982).
A pedagogia de J. Piaget colabora também nessa linha de mostrar os
estágios por que passam as crianças e de elas mesmas construírem a si
mesmas. Elas aprendem a partir do que são. Cabe aos professores
aperfeiçoarem o processo de descoberta dos alunos.
Enfim, a Escola Nova se foi implantando, gerando nova geração de
crianças, adolescentes e jovens (Wikipédia). Supera-se então a posição
do professor que dita e do aluno que copia e repete. Fala-se de
construção do conhecimento por parte do aluno, salientando a relação
dialética entre o sujeito e objeto. Nenhum dos lados sozinho constrói o
conhecimento. O construtivismo consagrou-se nesse campo (Nogueira,
Pilão, 1998).
Nesse horizonte cultural, vive uma juventude que deixa para trás a
pedagogia de aprender o ensinado para assumir posição crítica e cada vez
menos interessada no simples aprendizado. Adquire-se o valor da
autonomia, mas, sem dúvida, paga-se enorme preço de não assimilar
riquezas da tradição. Impõe-se, portanto, a criação de pedagogia crítica
dialética no sentido de olhar o ensinado sob o ângulo da positividade e
da negatividade. O fato de passar conhecimentos feitos reflete a
ambiguidade de todo ensino. Não valem eles pela força da autoridade e
por si mesmos. Nisso a tendência atual mostra-se positiva em opor-se à
educação bancária. No entanto, a tradição anterior comunica experiências
acumuladas de valor, cuja rejeição, pelo simples fato de ser
transmitida, se torna lastimável. A nova geração empobrece.
Nessa mesma direção, percebe-se a tendência de rejeitar toda
disciplina da Escola, anterior ao aval dos alunos. A experiência de
Summerhill quis visibilizar uma Escola em que os alunos decidissem
totalmente sobre o seu modo, ritmo, vida (Wikipédia b). Houve ganhos
nessa tentativa, mas pulularam os desvios e exageros. Sem dúvida,
caminha-se para maior participação dos alunos na configuração da vida
acadêmica, sem cair no extremo de eles serem o principal e até mesmo
único protagonista. O movimento vai mais na linha de aumentar o peso
decisório dos alunos.
Entre inúmeros fatores que marcam a mudança no campo da formação
intelectual, acadêmica, há deslocamento significativo referente ao tipo
de leitura e de escrita. Tem-se manuseado menos os livros e romances
clássicos das diversas literaturas, que outrora formavam a inteligência
dos estudantes, para a crescente curiosidade de manipular o universo da
informação. Vivemos afogados em excesso de dados fornecidos pelos
programas de busca que abundam na Internet.
Com isso, passa-se de uma cultura em que se aprendiam a escrita e a
fala estabelecidas para a nova escrita da Internet e modo juvenil de
falar. Nota-se sensível mudança na linguagem escrita e falada da atual
geração, influenciada pelos meios de comunicação. Trava-se discussão
entre os pedagogos e linguistas. Uns aceitam essas transformações sem
mais, apelando pela regra fundamental de uma língua ser viva e estar em
contínuas transformações. Outros batalham pela conservação de cânones
gramaticais. A realidade caminha na direção da gigantesca modificação
das regras do falar e escrever.
3. Tendências nas relações humanas
Na família
Ao entrar no universo das relações na família, desloca-se da família
estruturada em que os filhos se encontravam normalmente com os pais para
a em que apenas se relacionam. Pois ela sofre da ausência dos membros
em atitudes múltiplas e diversificadas, da fragmentação, da dissolução
dos laços familiares, de recasamentos, cujos filhos oscilam onde morar.
Nas famílias em que a relação familiar se mantém, a mudança acontece na
postura dos filhos em relação aos pais. Em lugar da antiga distância e
respeito reverencial, vivencia-se relacionamento mais próximo de
“amigão”. Assim, os papéis de pai e filhos, antes bem definidos, agora
se confundem.
O desejo de autonomia e independência dos filhos, manifestado no
deixar a casa paterna no início da maturidade, mantendo, porém, vínculos
de fato, cede lugar para uma vida autônoma, sem vínculos. No entanto,
eles prolongam a permanência física na casa dos pais, retardando
constituir família, sem por isso deixar de manter relações
afetivo-sexuais com um(a) companheiro(a).
Perdeu-se a concepção romântica do matrimônio para a compreensão
realista e pragmática. Cresce o número daqueles jovens que evitam filhos
para não se sentirem cerceados na liberdade para se dedicarem ao
estudo, à viagens e a experiências prazerosas.
Trabalho e colegas
Quanto ao futuro profissional, assiste-se à passagem tranquila e
normal de uma sociedade, escola e casa que asseguravam a disciplina e
que ofereciam inserção no mundo do trabalho para a sociedade anômala,
sem lugar para os jovens, a gerar incerteza do futuro e trabalho cada
vez mais problemático, mesmo para quem possui curso superior.
Antes predominava convivialidade ampla com os colegas e surge a busca
de grupos e tribos afins. Os encontros reais cedem espaço para o
crescimento das relações virtuais por meio da Internet, e-mail, blogs,
fotologs, Orkut, MSN, Skype, webcam, YouTube, Twitter, Facebook,
torpedos, celular etc. Convivem no mesmo espaço e tempo, em vez de única
idade cultural, companheiros de várias idades culturais sob o impacto
da globalização massificante.
4. Tendências no mundo cultural
Ainda mais significativas se mostram as tendências culturais. A
consciência ética, histórica e utópica das gerações da década de 60
esmaece em prol da acentuação extremada do presente. Os sonhos de futuro
se desfazem em nome do realismo de concentrar-se no prazer, cada vez
mais intenso, das aventuras do momento.
Tendência semelhante manifesta-se no campo da verdade. Influencia os
jovens o movimento atual de substituir a verdade pela beleza, pela
estética. O bonito vale mais do que o verdadeiro. Oculta-se facilmente a
verdade sob a aparência do belo. Com isso, também, as certezas perdem
importância com a relativização das verdades. Interessa mais ao jovem o
que ele acha de alguma coisa do que o que essa coisa é por ela mesma.
Em parte, tal nova maneira de pensar se origina de posturas que os
jovens adquirem em face das tradições, quer mantidas pelas instituições,
quer transmitidas pelos mais velhos. Relativizam-nas em nome da própria
maneira de vê-las, conhecê-las e senti-las. Afeta tal comportamento o
fato de a juventude de hoje, diferentemente da de antes, perder o
sentido de normatividade da natureza, substituindo-a pela tecnologia.
O mundo cultural atual tem produzido outras tendências nos jovens. Em
vez de se alimentarem da cultura tradicional ocidental, fortemente
marcada pela dualidade, predomina a busca de conciliação, unidade,
tolerância até certo monismo oriental. Isso não impede, porém, algo
paradoxal. A procura do pensamento unificante vindo do Oriente choca-se
com o pesado sentimento de fragmentação que os afeta em todos os campos.
Portanto, tendência quase contraditória do sonho de um Todo harmônico e
a experiência de uma realidade feita aos cacos.
Perde-se a estabilidade que os tempos antigos permitiam. Entra-se em
vida agitada a provocar aventuras esporádicas no tríplice campo do sexo,
da violência e da droga até as raias do crime.
Indo mais fundo na cultura, percebe-se a mudança na concepção de
tempo e de lazer, antes ligada à natureza, para crescente ocupação do
tempo especialmente pela presença das ofertas lúdicas da eletrônica. O
próprio esporte tem adquirido formas crescentemente competitivas.
Enfim, assistimos à substituição dos silêncios e dos sons da natureza
pela crescente e permanente presença de músicas barulhentas e ruidosas,
potencializadas pelos recursos eletrônicos.
5. Tendências no mundo religioso
Na experiência religiosa, a tendência se manifesta paradoxalmente no
processo de secularização com jovens cada vez mais alheios à esfera
religiosa ou em busca sôfrega de formas religiosas, gestadas no próprio
Brasil – Santo Daime, União do Vegetal e outras – ou vindas do Oriente,
sem falar do neopentecostalismo evangélico, das expressões carismáticas
católicas. Parece diminuir claramente o jovem tradicionalmente católico.
Assim, a religião institucional cede lugar para práticas religiosas
selecionadas conforme a necessidade e o gosto do momento.
Essa tendência repercute no gosto musical dos jovens. Afastam-se da
música tradicional religiosa para assumir novos ritmos. Tanto no espaço
católico como evangélico, toca-se e canta-se o Gospel, cuja raiz se
encontra na música cristã negra dos EUA. Por meio dela, se expressa a fé
individual e a comunitária.
Quer sob a forma secular ou neorreligiosa, a concepção tradicional de
Transcendência, percebida em sua consistência distinta de nós,
esfuma-se em insinuante imanentização. Perde-se na interioridade das
pessoas ou no cosmos a partir de mística ecológica panteísta.
Destarte, a espiritualidade vivida de maneira constante, sólida,
lenta e estruturada transforma-se em algo fulgurante, explosivo, breve,
de curto prazo, que prefere satisfazer a afetividade a oferecer alimento
para o crescimento na fé.
Tal deslocamento espiritual modifica a consciência de culpa, de
pecado. A juventude presente se sente cada vez menos marcada por ela.
Fala-se até mesmo de certa “nova inocência” que se manifesta em achar
tudo tão natural que a ideia de transgressão, de infração, desaparece.
Esbarra-se num “vale-tudo”.
Quanto à participação ativa e comprometida na Igreja, assistimos à
passagem da pastoral da juventude de Ação Católica, de grupos em estilo
de Cursilho, para a pastoral no interior dos novos movimentos religiosos
e de momentos quentes. A Igreja, que nos tempos de Ação Católica
oferecia aos jovens lugar próprio, sofre, no momento, certa hesitação e
indefinição, sem propostas para eles. Encara o desafio de responder à
atual pluralidade de expectativas.
6. Tendências na sociedade e política
No campo da política, desloca-se da sociedade rural e industrial com
horizontes mais ou menos estáveis para a sociedade do conhecimento
altamente móvel, flexível. Os jovens se surpreendem, de um lado,
provocados a assumir cada vez maiores compromissos e, de outro, percebem
que os canais de participação se lhes fecham.
A sociedade moderna está para ser profundamente questionada pela nova
geração. Em face dela, os adultos buscam frear-lhe o ímpeto
transformador que atingira ponto alto nas revoltas de 1968. Em certo
momento, usaram-se os recursos da repressão militar violenta. Hoje,
intentam envolvê-la em crescente aburguesamento pela força do consumismo
e da sutil penetração dos meios de comunicação social. Manipulando os
centros do poder, eles têm domesticado imperceptivelmente os jovens,
aprisionando-os na busca fácil do prazer, da festa, das aventuras sem
cunho político.
Então, tem-se visto que a juventude em grande parte tem remetido para
segundo plano a consciência crítica em face da realidade social e que
desposa os valores da competência, do sucesso no mercado de trabalho.
Assim, caminha-se de uma juventude consciente e fortemente politizada
para uma que assume compromissos esporádicos e, sobretudo, eventos
festivos. A maneira despreocupada com a aparência exterior,
especialmente dos rapazes, mas também de moças engajadas politicamente,
converte-se no cultivo do corpo e da beleza externa. A juventude
vinculada a ideais se faz pragmática com ausência de práxis e de
história.
Aquela juventude que viveu a glória dos EUA com a vitória da 2ª
Guerra Mundial e considerou-os Meca da democracia, desenvolveu, em dado
momento, antiamericanismo militante, com slogans como “Yankees, go
home!” (“Americanos, voltem para casa!”). Agora, porém, por razão da
poderosa influência americana pela mídia, os jovens assimilam cada vez
mais a cultura americana, o seu way of life.
Conclusão
Aqui apontamos algumas tendências da juventude nos dias de hoje.
Seguimos de perto o que tratamos no nosso livro citado acima. Além de
artigos, em três momentos, preocupei-me com a pastoral da juventude em
que estava parcialmente engajado. Num primeiro momento, tentei analisar
os Encontros de Jovens que surgiram por ocasião da hegemonia do
Movimento de Cursilhos (Libanio, 1983).
Já em tempos de pós-modernidade, detive-me em analisar a nova
situação da pastoral da juventude (ibid., 2004). As novidades da
situação dominante impunham repensamento da presença junto aos jovens.
Esse artigo visa diretamente a outro livro situado na mesma perspectiva
da pós-modernidade, mas com a intenção de perceber as tendências que
movem os jovens (ibid., 2012).
Toda análise vale à medida que ela ilumina a realidade escolhida.
Fica para o leitor, como escrevemos na introdução, a tarefa de verificar
até onde o estudo presente lhe ilumina a realidade da juventude de
hoje. A perspectiva escolhida situa-se dentro da pastoral, isto é, do
agir da Igreja em relação à juventude. Os outros conhecimentos das
ciências humanas contribuem para melhor entender o jovem de hoje, sem
nenhuma pretensão epistemológica própria de cada uma das ciências. Aqui
eles entram no espírito da interdisciplinaridade, sem ares de
especialização. As reflexões sobre “Para onde vai a Juventude” cumprem
sua finalidade, se elas ajudam os jovens e os que com eles trabalham a
encontrarem lucidez no próprio pensar e agir.
BIBLIOGRAFIA
BETTO, F. Batismo de sangue: Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
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J. B. Libanio, sj
* Doutor em Teologia pela
Universidade Gregoriana de Roma. Há mais de três décadas vem se
dedicando ao magistério e à pesquisa teológica. É vigário da Paróquia
Nossa Senhora de Lourdes em Vespaziano, na Grande Belo Horizonte-MG.
E-mail: jblibanio@faculdadejesuita.edu.br.