quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

PONTOS DE CULTURA : uma tentativa de mapeamento do Estado de Sergipe


PONTOS DE CULTURA : uma tentativa de mapeamento do Estado de Sergipe
Manuela Ramos da Silvaa, Flávia Pacheco b, Augusto César Vieira dos Santos c, Mônica Barreto d, Maria Guadalupe Alves e
                                                                           b UFS/NSE, flavinhalp@hotmail.com
d UFS/NTU, monyka_2008@hotmail.com
e UFS/NTU, maria-guadalupe1988@hotmail.com
Resumo
Este artigo apresenta os principais resultados e os desafios de um projeto cujo objetivo foi mapear os pontos de cultura do estado de Sergipe. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório-descritivo com gestores e usuários de cinco dos Pontos de Cultura do Estado de Sergipe. Posteriormente, os dados foram analisados através do método de análise de conteúdo. Nas conclusões, observa-se que: a) os Pontos de Cultura estão funcionando ativamente, b) os pontos enfrentam problemas de gestão, devido a falta de capacitação técnica; c) os pontos de cultura consideram o Programa dos Pontos de Cultura do MinC insuficiente ou não atendem as demandas da comunidade envolvida; d) não há interação entre os pontos investigados, muito menos ações em rede; e) os usuários atendidos pelos pontos de cultura estão satisfeitos com o trabalho feito na comunidade, mas dizem que falta estrutura nos pontos; e f) os usuários atendidos pelos pontos acreditam que houve mudanças positivas na comunidade após o trabalho dos pontos.
Palavras-chaves: Pontos de Cultura; Políticas Públicas; Gestão; Organizações Culturais.


Falar em gestão cultural significa referir-se a um conjunto de ações de uma organização – pública ou privada - destinado a atingir determinados objetivos que foram planejados e – supõe-se - são desejados pela organização. Implica em implementar normas, planos e projetos, estabelecer estruturas, alocar recursos humanos, financeiros, físicos e  tecnológicos e, principalmente, empenhar criatividade e capacidade de inovação para  atingir esses objetivos da melhor forma possível. A especificidade cultural está dada pelo fato de se tratar da implementação de políticas culturais ou de lidar com instituições culturais. Ou, em outras palavras, de estar trabalhando com um intangível como é a cultura nas suas mais diversas manifestações.

Se nos referirmos à atividade do Estado, estaremos atuando no âmbito da política cultural. Ela, como toda política pública está integrada no conjunto das políticas governamentais e se constitui numa contribuição setorial à busca do bem-estar coletivo.

A política cultural abrange uma gama imensa de atividades que vão desde a preservação de monumentos históricos até o financiamento do cinema, passando pelas diversas atividades possíveis no campo das artes plásticas, do teatro, da música, etc. As  ações públicas em cada um desses setores se sujeitarão a prioridades determinadas, pela sua vez, por linhas políticas e ideológicas: a ampla discussão sobre cultura erudita, cultura popular e cultura de massas; a questão do nacional versus o cosmopolita; a ação das indústrias culturais, integram o conjunto de problemas a partir de cujas respostas serão feitas a alocação de recursos e as inversões.

 Acrescente-se o fato de que todas essas atividades são perpassadas pela necessidade de preservar a diversidade cultural e de assegurar, em primeiro lugar, o reconhecimento, respeito e garantia dos direitos culturais, isto é, o direito à própria cultura, o direito à produção cultural e o direito ao acesso à cultura.

Ressurge assim a preocupação com a cultura considerada um fim em si e não apenas um elemento acelerador – ou, muitas vezes, retardador - do desenvolvimento econômico. Se cultura é um sistema de pensamento, valores, hábitos e crenças próprios de um grupo humano, seu modo de conceber a vida e o mundo, os meios de expressão desse sistema e os produtos que dele decorrem, ela é a base essencial para a aplicação de qualquer critério de governança e governabilidade.

Vista assim, a cultura passa a ser um elemento fundamental da atividade governamental e um fator decisivo de progresso social. Acentua-se destarte a necessidade de melhorar o desempenho das instituições públicas e privadas diretamente relacionadas com a vida cultural.

O país vive hoje um processo contínuo de construção de projetos coletivos de gestão pública. A base dessa gestão deve ser o reconhecimento cultural dos distintos agentes sociais e a criação de canais de participação democrática. Um dos grandes desafios da gestão pública da cultura e da avaliação das ações implementadas diz respeito à relatividade de seus objetivos e à multiplicidade de efeitos buscados ou por ela alcançados. As ações públicas têm que ter fundamentos, uma coerência entre o que se diz buscar e o que se faz de concreto para tanto. No campo das políticas culturais, a relação causa e efeito não é direta. Os resultados dependem da apreciação de outros fatores, estranhos ao processo da ação cultural estrito senso.
Há que referir uma preocupação de natureza aplicada no que diz respeito às organizações do campo da cultura que, até há pouco tempo, não eram objeto de atenção da administração. Esse campo organizacional e suas peculiares organizações, nascidas no seio de comunidades homogêneas, representações simbólicas de grupos culturais, de identidades sociais, de origens geográficas e linguísticas entre outras, vive nos últimos anos, um processo de transformação gradual, mas acelerado, de seu caráter mais tradicional. Com a franca participação do Estado, essas organizações têm vindo a sofrer importantes transformações.
Este projeto pautou-se na importância do fenômeno organizacional paralelamente ao fenômeno cultural, dos Pontos de Cultura como aspecto fundamental para o desenvolvimento e sustentabilidade dos projetos e das ações dos pontos de cultura, de modo a formar agentes e gestores culturais autônomos e emancipados.
Os Pontos de Cultura são organizações culturais criadas a partir de um dos eixos do Programa Cultura Viva, lançado em 2004 pelo Ministério da Cultura, que busca constituir uma rede orgânica de criação e gestão cultural que agregue recursos e novas capacidades a iniciativas culturais já existentes, que atuam com legitimidade comunitária. A ideia é potencializar o que já existe, por meio de equipamentos que ampliem as possibilidades do fazer artístico e de recursos para uma ação contínua com as comunidades:
Este é um programa de acesso aos meios de formação, criação, difusão e fruição cultural, cujos parceiros imediatos são agentes culturais, artistas, professores e militantes sociais que percebem a cultura não somente como linguagens artísticas, mas também como direitos, comportamento e economia (BRASIL, 2012).
O Programa está estruturado em cinco principais ações: “Ponto de Cultura”, “Cultura Digital”, “Agente Cultura Viva”, “Escola Viva” e “Griô”.
Os pontos de cultura são assim formados por meio de projetos submetidos pela sociedade ao MinC, a partir de editais que estão sendo continuamente apresentados. Esses projetos são avaliados pelo MinC e devem contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento cultural de uma dada comunidade. Ao ser aprovado, o projeto passa a receber um financiamento do Ministério que espera, como contrapartida, que a própria sociedade, que desenvolveu o projeto, trabalhe no caminho de um Estado ampliado, aumentando a relação Estado-sociedade.
“Nossa idéia é a de que a troca, a instigação e o questionamento, elementos essenciais para o desenvolvimento da cultura, aconteçam num contato horizontal entre os Pontos, sem relação de hierarquia ou superioridade entre culturas. Um Ponto auxiliando outro Ponto” (BRASIL, 2012).
As ideias de protagonismo, encantamento e participação social permeiam todo o discurso na cartilha do Programa Cultura Viva. A proposta do projeto é fazer com que os pontos se articulem como uma rede, formando assim uma teia de relacionamentos que os torne capazes de andar com as próprias pernas, compartilhando informações e resolvendo problemas em conjunto.
Assim, surgiu a preocupação central dos pesquisadores, compreender as reais necessidades de gestão dos Pontos de Cultura que atuam no Estado de Sergipe e, ao mesmo tempo, capacitá-los e, por meio dessa capacitação, fazer com que estes pontos interagissem, compartilhassem experiências e, por fim, formassem uma rede de Pontos, capaz de se auto-organizar. O importante era, portanto, tornar mais efetiva a atuação dos gestores culturais, permitindo-lhes uma organização mental que lhes possibilitasse enfrentar os desafios cotidianos que sua atividade lhes apresenta, com a possibilidade de conhecer e poder usar a linguagem explícita e tácita da burocracia e, sobretudo, com a vantagem de terem aprendido a operacionalizar as próprias ideias.
Materiais e Métodos
A metodologia adotada em uma pesquisa deverá ter uma função de estruturação e orientação geral da investigação a ser realizada, a fim de apresentar um modelo de trabalho que facilite a coleta e análise de dados (BRYMAN, 1992).
Em todo o tipo de pesquisa científica, existe uma estrutura metodológica que irá dar seqüência lógica à ligação entre os dados empíricos e as questões de pesquisa iniciais e, por fim, suas conclusões. Pode-se dizer, portanto, que o desenho da pesquisa é um plano de ação que possibilita ao investigador sair da fase de questionamento inicial para a obtenção de algumas conclusões (respostas) sobre esses questionamentos (YIN, 1994).
Este projeto caracteriza-se como exploratório e descritivo, tendo como unidade de análise os Pontos de Cultura. Com a finalidade de aprofundar a descrição e análise da realidade pesquisada, esta pesquisa pode ser considerada dentro do método de estudo de caso e deverá se utilizar de estratégias que possibilitem combinar uma série de fontes de evidências como, documentos, artefatos, entrevistas e observações que revelem dados tanto qualitativos quanto quantitativos (YIN, 1994). Com isso, pretende-se apreender a totalidade da situação a qual se pretende pesquisar e, com isso, descrevê-la a partir da complexidade de um caso concreto (MARTINS e LITZ, 2000).
A primeira etapa consistiu na revisão da literatura, o que possibilitou um maior entendimento do tema objeto de investigação. Na verdade, esta ação se estendeu por toda a pesquisa.
A partir do objetivo inicial do projeto, que envolvia pesquisa e extensão, dado que os pesquisadores tinham o intuito de identificar os principais problemas relacionados ã gestão dos Pontos de Cultura do Estado de Sergipe e, posteriormente, realizar cursos de extensão, com o intuito de capacitar os gestores de tais organizações.
Contudo, uma das principais dificuldades foi contatar os Pontos de Cultura.  Uma lista inicial foi fornecida pela SECULT (Secretaria de Cultura do Estado de Sergipe), porém os dados estavam desatualizados, em sua maioria. Este contato era essencial para planejarmos conjuntamente a capacitação dos gestores.
Após levantados os dados na SeCult, tentou-se contato com todos os pontos de cultura presentes no Estado a fim de convidá-los a uma discussão inicial que fosse o primeiro passo para a realização das oficinas. Dentre os 30 Pontos de Cultura presentes na lista da Secretaria, apenas 6 se fizeram presentes. Nesta reunião, foi realizada uma pesquisa acerca dos principais problemas relacionados à gestão do mesmo e, ao mesmo tempo, apresentar-lhes a proposta do projeto, que seria capacitar os Pontos de Cultua do Estado de Sergipe nos aspectos levantados.
A partir da pouca procura e por meio das respostas obtidas pelos Pontos presentes, ficou clara a necessidade de reestruturação do projeto. Os gestores dos Pontos de Cultura foram enfáticos no sentido de que não possuíam tempo suficiente para realizar tais capacitações através de encontros presenciais e, também por esse motivo, não haviam ainda conseguido se organizar em rede. Dessa forma, esse levantamento inicial foi importante para dimensionarmos os passos seguintes deste projeto.
Sendo assim, decidiu-se concentrar as atividades e ações do projeto para o mapeamento  dos pontos de cultura. Além disso, criou-se uma nova meta: produção de documentário dos Pontos de Cultura de Sergipe, que forma a enriquecer as nossas idas ao campo e estimular aos gestores para a mobilização de constituição da Rede.
Com dados oriundos da fase inicial elaboraram-se dois questionários, que serviram de guia para as entrevistas. Tais entrevistas tiveram por finalidade mapear dos Pontos do Estado, realizadas com os gestores e usuários dos Pontos de Cultura.
Nessa fase, houve nova procura pelos contatos dos Pontos de Cultura do Estado, seja através por telefone, como por e-mail. Os endereços não foram passados pela SECULT. Mais uma vez o índice de Pontos contatados foi baixa, já que a maioria dos dados presentes na lista estavam desatualizados.
Dessa forma, foram entrevistados cinco gestores, sendo que uma das entrevistas foi respondida por e-mail. As entrevistas foram transcritas na íntegra e analisadas qualitativamente. As entrevistas com os gestores foram registradas em vídeo e, além disso, realizou-se também o registro de atividades e ações concretas dos Pontos, culminando na produção de um documentário, considerado como um produto da pesquisa.
Já na etapa de análise e tratamento dos dados, realizou-se a análise do conteúdo das entrevistas. Assim, podemos afirmar que nesta pesquisa se utilizou da técnica de triangulação de coleta de dados que, conforme Triviños (1995), tem o objetivo de descrever, explicar e compreender o foco do estudo em sua máxima amplitude.
Para Triviños (1995), as pesquisas qualitativas têm dois traços fundamentais, a saber: uma natureza desmistificadora dos fenômenos, do conhecimento e do ser; e a rejeição da neutralidade do saber científico. Afinal, segundo Triviños (1995) é exatamente nesta rejeição ao saber científico que pode estar a força principal desse tipo de análise, pois uma maior possibilidade de interpretação por parte do pesquisador, permitirá um maior questionamento acerca dos dados, buscando-se aproveitar a sua capacidade de percepção de aspectos obscuros ou escondidos dos fenômenos.
Resultados
O principal resultado deste Projeto foi a produção de documentário sobre os Pontos de Cultura do Estado de Sergipe, especificamente os Pontos: Luz do Sol-Arte, Cultura e Inclusão em Busca de Cidadania (Nossa Senhora da Gloria), Instituto Vida Ativa (Porto da Folha)  e Ação Cultural (Aracaju).
Os referidos Pontos foram escolhidos pelo critério de acessibilidade, disponibilidade e interesse os seus gestores, além do fato de ainda estarem em funcionamento. Tal pesquisa também possibilitou identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos Pontos na gestão, em participar, e da constituição da Rede, no geral.
Segundo os gestores, a principal motivação para a criação os pontos de cultura está relacionada a oferta de atividades para a comunidade em torno e pelo interesse  no desenvolvimento social. Segundo, um dos gestores foi “a oportunidade do município trabalhar a cultura da região e dar uma visibilidade maior na cultura do município”. (Gestor de Ponto de Cultura, em entrevista)
Os Pontos de Cultura estão funcionando ativamente, com exceção de Companhia de Teatro Cobras e Lagartos, que encerrou suas atividades em 2013 e resolveu não reenviar proposta ao Ministério da Cultura.
Destaca-se que todos os gestores declaram que o público-alvo são alunos da rede pública de ensino. Sendo que a Companhia de Teatro Cobras e Lagartos, Cultura e Inclusão em Busca de Cidadania, Instituto Vida Ativa atendem também pessoas da terceira idade. A renda média das pessoas atendidas pelos Pontos de Cultura  é de até dois salários mínimos e o grau de escolaridade desse público é, em sua maioria, do ensino fundamental.
No que se refere à infraestrutura, o prédio sede dos pontos são alugados, exceto o PC (Ponto de Cultura) Cobras e Lagartos, que é cedido pela prefeitura. Todos apresentam boa localização e condições estruturais para realização das atividades, porém o gestor do PC de Porto da Folha acredita que sua estrutura é insuficiente para realização de algumas práticas.
A prestação de conta foi citada por todos os pontos como o principal entrave da gestão. Além disso, existe o problema de repasse de recursos para estas organizações.

Além de falta de recursos financeiros, a falta de conhecimento da legislação para licitação foi citado como aspecto que traz alguns problemas à gestão. No entanto, é importante salientar que, em reunião feita entre o grupo de pesquisa e os pontos de cultura, os mesmos deixaram claro que as oficinas de gestão, propostas pelo grupo, seriam desnecessárias, já que os mesmos não tinham tempo ou necessidade de realizar tais oficinas relacionadas a gestão.
De maneira geral, os pontos enfrentam problemas de gestão, devido a falta de capacitação técnica para tal fim, conforme depoimento de um gestor “o nosso problema realmente é que nem todo mundo tem capacidade técnica e administrativa”.   Talvez o que possa explicar essa falta de capacidade técnica e administração do setor seja a maneira informal com as organizações iniciam as suas atividades. As organizações ligadas à arte e à cultura têm suas origens ligadas à formação de grupos informais, com o passar do tempo, vão se fortalecendo, até atingirem um ponto decisório: ou se tornam profissionais ou continuam amadores.
Além disso, deve-se levar em consideração a figura do gestor que se confunde com a imagem e a trajetória do próprio grupo. O gestor, a pessoa que coordena, que gera a organização, além de assumir questões administrativas, também lida diretamente com aspectos artísticos. Essa transição de papeis não ocorre facilmente.
Essa constatação é importante porque permite entender parte das dificuldades enfrentadas por essas pessoas e consequentemente pelas organizações que elas coordenam.
Além da própria prestação de contas em si, a elaboração dos balancetes de prestação de conta exige alguns conhecimentos específicos que não são passados através de oficinas promovidas pelo Ministério da Cultura (estas que quase nunca são realizadas), e quando são realizadas não são satisfatórias, de acordo com os gestores pesquisados. Durante a discussão desse grupo de pesquisa com os grupos, ficou claro que o interesse de capacitação dos pontos não está relacionado a conhecimentos contábeis, já que estes dizem pagar contadores para realizar tal trabalho, mas sim em compreender o passo a passo do processo de prestação de contas utilizado pelo MinC para os pontos de cultura.
De maneira geral, os pontos enfrentam problemas de gestão, devido à falta de capacitação técnica para tal fim, conforme depoimento de um gestor “o nosso problema realmente é que nem todo mundo tem capacidade técnica e administrativa”.  (Gestor de Ponto de Cultura, em entrevista). Apesar disso, pudemos verificar um esforço, dos pontos pesquisados, em realizar suas atividades de modo que as decisões fossem tomadas de maneira coletiva e participativa.
Além disso, existe o problema no atraso, por parte do MinC, no repasse de recursos para estas organizações que, em consequência, acabam atrasando o pagamento do aluguel da sede, a realização de atividades, as oficinas e a contratação de instrutores e educadores, causando prejuízo o andamento do projeto, como foi apontado por quase todos os gestores.
Saber captar os incentivos é outro ponto relevante, que passa por um processo de aprendizagem tanto da organização quanto do gestor, assumindo um lugar estratégico.
Quanto à contratação das pessoas para trabalharem nos pontos, os gestores declaram que o conhecimento, habilidades, experiência, formação acadêmica e comprometimento são critérios utilizados no recrutamento e seleção e, por isso, a maioria dos profissionais que atuam nos pontos as possuem. Tal constatação mostra-se contraditória diante das dificuldades de gestão declaradas pelos gestores do Pontos de Cultura.
 O voluntariado é a principal vínculo das pessoas com os PC, apenas os instrutores e educadores são remunerados durante a realização das oficinas.
Outra situação crítica apontada foi com relação à articulação entre os pontos. De acordo com os gestores, não há a efetiva articulação, pois existem grandes problemas na interação dos PC, principalmente pela falta de comunicação e distâncias entre eles.  “Não sinto inserção na rede, por falta de motivação do programa.” (Gestor de Ponto de Cultura, em entrevista). A partir desse comentário, pode-se perceber, por parte dos pontos, um certo ressentimento ou percepção de que cabe ao MinC, além de repassar os recursos, buscar facilitar o contato e articulação entre os pontos.
[Depoimento do Gestor do PC] programa não conhece a realidade e as dificuldades de cada ponto que muitas vezes são especificas [...] poderia ser mais realista com as nossas necessidades, por que eu acho que eles fazem um projeto para todos os municípios do Brasil [...].
[Depoimento do Gestor do PC] a minha dificuldade aqui não é a mesma em São Paulo é como se eles estabelecessem padrão para todos os lugares e não é assim, às vezes você tem um ponto de cultura que é totalmente digital e às vezes você tem um que é de artesanato que vai mexer com palhas e não é a mesma coisa na hora de prestar conta.
Diante do exposto, a padronização do programa é bastante questionada pelos gestores, assim como a etapa de prestação de contas do pouco dinheiro repassado para os PC.
A potencialização dos PC ocorre não apenas pelo convênio efetuado com o Governo Federal ou repasse regular de recursos financeiros, técnicos, materiais, mas também,e especialmente, pela interligação com outros Pontos, formando uma rede capaz de intensificar  um processo de desenvolvimento significativo.
No caso do Estado de Sergipe, não ocorre nem uma coisa nem outra, contraindo inclusive as diretrizes centrais do Programa.
Trata-se, pois, de um programa flexível, que se molda à realidade, em vez de moldar a realidade. Um programa que será não o que o governante pensa ser certo ou adequado, mas o que o cidadão deseja e consegue tocar adiante. Nada de grandioso, certamente. Mas sua multiplicação integrada, com banda larga e sítios, emissoras de TV e rádios comunitárias, programas na TV pública e jornais comunitários, deve produzir uma revolução silenciosa no País, invertendo o fluxo do processo histórico. Agora será da periferia à periferia: depois, ao centro (BRASIL, 2012)
Todavia, como se tratam de recursos públicos destinados ao desenvolvimento de ações por grupos de indivíduos ou de órgãos da administração pública, o Ministério não pode deixar de acompanhar o desenrolar do projeto e de exigir a prestação de contas. Por isso, uma ação cultural na esfera governamental sempre terá como limite as exigências burocráticas, que devem ser atendidas.
Percebe-se que a forte influência político-administrativa do ente público sob este setor, considerando principalmente a criação ou desativação de leis e normas.
O subsídio ou patrocínio aparece como outro fator importante para o sucesso da gestão e manutenção das atividades dos pontos de cultura do estado de Sergipe.
Quanto ao objetivo principal do PC, os gestores afirmam que ainda não foi atingido complemente.
[Depoimento do Gestor do PC]  “Não foi ainda, mais aos poucos está caminhado para serem atingidos”
[Depoimento do Gestor do PC] “Ainda não foi alcançado, mas está próximo.
 Entende-se com coerente esta declaração dos gestores quanto ao cumprimento dos objetivos, uma vez que um “Ponto de Cultura” se constitui em um espaço de organização da cultura em âmbito local e é a referência de uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas. Funciona como um mediador na relação entre Estado e sociedade, agregando agentes culturais que articulam e impulsionam um conjunto de ações em suas comunidades.
 Segundo o ex-Ministro da Cultura, Gilberto Gil, os “Pontos de Cultura” são “intervenções agudas nas profundezas do Brasil urbano e rural, para despertar, estimular e projetar o que há de singular e mais positivo nas comunidades, nas periferias, nos quilombos, nas aldeias: a cultura local”. (BRASIL, 2012)
Gestores também afirmam que ainda não avaliaram o impacto das ações dos PC junto à comunidade que atuam. No entanto, os usuários entrevistados pelo grupo de pesquisa apontaram a importância do Ponto de Cultura em sua comunidade e em suas vidas, pois além do aprendizado, percebem um maior interesse nos aspectos culturais. Porém, também revelam que a estrutura física e quantidade de pessoal é insuficiente para atender a comunidade de forma satisfatória, ou seja, mas ainda há muito o que ser melhorado e discutido com a sociedade e gestores dos pontos para que os objetivos sejam, de fato, alcançados.
Foi possível perceber ainda, que os pontos de cultura consideram o Programa dos Pontos de Cultura do MinC insuficiente ou não atendem as demandas da comunidade envolvida. 
Quanto ao objetivo principal do PC, os gestores afirmam que ainda não foi atingido complemente.  Gestores também afirmam que ainda não avaliaram o impacto das ações dos PC junto a comunidade que atuam.
Contudo, na visão dos usuários percebeu-se a importância dos projetos para a mudança na vida das comunidades envolvidas. Os usuários entrevistados estavam desenvolvendo atividades há mais de um ano nos pontos de cultura e a única crítica que apontaram foi relativa à estrutura física dos mesmos, já que os espaços se tornaram pequenos em comparação à demanda de alunos que aparecia.
Com relação a atendimento, os usuários também demonstram uma grande satisfação com o trabalho dos pontos e sugerem que os mesmos desenvolvam novos e maiores projetos para a comunidade. Além disso, a resposta mais marcante desses usuários diz respeito às mudanças que os mesmos geraram nas comunidades onde atuam.
Na comunidade as pessoas eram mentes, mais fechadas para a arte em si. Tudo era mais complicado, difícil. Depois do Ponto de Cultura a comunidade foi abrindo os olhos. (Usuária de Ponto de Cultura, em entrevista).
A comunidade aqui era desmotivada, agora percebemos que houve um maior interesse pela cultura. (Usuário de Ponto de Cultura, em entrevista)
Assim, levando-se em consideração o levantamento feito junto a gestores e usuários dos Pontos de Cultura do Estado de Sergipe, podemos dizer que tal ação é muito importante para o desenvolvimento cultural, social e educacional das comunidades onde atuam, mas ainda há muito o que ser melhorado e discutido com a sociedade e gestores dos pontos para que os objetivos sejam, de fato, alcançados.
Conclusões
Na verdade os objetivos iniciais do projeto foram redefinidos, após insucesso nos contatos iniciais e sensibilização dos Pontos de Cultura para participarem da capitação, conforme previsto por projeto inicial.
Partindo do pressuposto que de que as políticas culturais devem levar em conta as demandas e as necessidades da sociedade contemporânea e que, para isso, é fundamental contar com informações e indicadores culturais que possam contribuir para diagnosticar situações, desenhar políticas e planejar ações, como segunda etapa desta pesquisa.
 Considera-se que este trabalho inicial foi de grande relevância, contudo necessitaria de mais tempo para atingir os seus objetivos, uma vez que lida com pessoas, políticas públicas, programas de capacitação. Além disso, o tempo é também necessário para um diagnóstico de capacitação que vise atender a real necessidades apontadas pelos gestores dos pontos de cultura  do Estado de Sergipe.
Um dos aspectos que convém destacar é a dificuldade relatada pela maioria dos gestores entrevistados sobre as questões administrativas. Todavia, o reconhecimento dessa dificuldade é o primeiro passo para um esforço na tentativa de buscar novos conhecimentos, agregar novas aprendizagens e facilitar o dia-a-dia dos gestores.
Além disso, demonstra-se urgente a necessidade de estudo que vise a identificação e avaliação dos indicadores sociais e culturais ligados as ações dos Pontos de Cultura do Estado de Sergipe. Conforme ressalta Jannuzzi (2001), os indicadores sociais possibilitam o monitoramento das condições de vida e bem-estar da população por parte do poder público e da sociedade civil. Por isso, podem subsidiar as atividades de planejamento público e a formulação de políticas sociais nas diferentes esferas do governo, além de contribuir para o aprofundamento da investigação acadêmica sobre a mudança social e os determinantes dos diferentes fenômenos sociais. Da mesma forma, indicadores culturais também podem contribuir para a formulação de políticas culturais, além de subsidiar a investigação acadêmica sobre o processo cultural.
Desse modo, os indicadores podem ajudar os responsáveis pelas políticas a concentrarem sua atenção nas questões prioritárias e são utilizados cada vez mais por políticos, meios de comunicação e ativistas como ferramentas de debate político.
Agradecimentos
A equipe do Projeto agradece  A FAPITEC pelo apoio e financiamento a Pesquisa e  a todos Gestores dos Pontos de Cultura, na pessoa de Zezito de Oliveira.

Referências Bibliográficas
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