RESISTIR É CRIAR, RESISTIR É TRANSFORMAR!
Precisamos estar mais a altura do lema do FSM. "Outro mundo é possível". A questão é esperarmos que isso venha de fora, venha dos outros, venha das cúpulas, mesmo que seja das organizações e movimentos sociais. Neste sentido, precisamos prestar mais atenção no que está pensando e fazendo pessoas e coletivos que não estão tão afim de participar de articulações e mobilizações todo o tempo, ou em tempo quase nenhum, com quem faz parte das organizações e movimentos tradicionais de esquerda.
Me refiro aqui ao movimento cultural e social das periferias, saraus incluso, ao movimento da permacultura e da agroecologia, ao movimento das ecovilas, ao movimento em favor do consumo consciente e etc.
O papa Francisco tem muito dessa novidade, paradoxalmente.
Zezito de Oliveira - Educador e Agente/Produtor Cultural.
FSM 2018. Quem tem boas práticas e novas ideias, que traga
para o debate
REVISTA IHU ON-LINE
"Tenho pra mim que um Fórum Social nunca será muito
melhor do que o momento dosmovimentos sociais mundiais permite. Ele sempre
será, de uma forma ou de outra, o espelho do estágio de lutas e de acúmulo de
forças do campo democrático e popular num determinado momento histórico",
escreve Mauri Cruz, advogado socioambiental, especialista em direitos humanos,
professor de pós graduação em direito à cidade, mobilidade urbana e gestão
pública e membro do Conselho Internacional do FSM representando a Abong, em
resposta ao artigo do jornalista uruguaio Aram Aharonian, intitulado Um Fórum
Social Mundial, esvaziado de ideias, povos e luta, muda-se para Salvador.
Eis o artigo.
Quanto surgem artigos ou reflexões criticando os processos
do FSM de pessoas que estão fora destes processos eu sempre fico num dilema:
ignorar a crítica de quem fala sem saber do que está falando ou dialogar com
ela para tentar mostrar as coisas pelo lado de quem está por dentro dos
processo. No entanto, no caso do artigo do jornalista uruguaio, Aram Aharonian,
dizendo que o FSM de Salvador carece de ideias e demovimentos sociais a
necessidade de resposta se impõe.
Primeiro porque, pelo desconhecimento, o autor faz
afirmações infundadas e inverídicas. É importante ressaltar que a iniciativa de
realização desta edição foi confirmada em reunião do Conselho Internacional no
bojo do Fórum Social das Resistênciasrealizado em Porto Alegre em janeiro de
2017, um evento que reuniu mais de 5 mil lideranças de movimentos sociais alternativos,
que não contou com nenhum apoio governamental de nenhuma espécie. Foi
idealizado, portanto, pela militância real, anti-sistêmica, que estava e está
nas ruas contra os golpes do sistema capitalista em nosso Continente e no
mundo.
Por isso, ignorar a existência de centenas de movimentos
sociais do Brasil, da Américae do Mundo que estão envolvidos no processo de
preparação e realização desta edição do Fórum Social Mundial é uma
irresponsabilidade política.
Estão mobilizados, realizando debates prévios e
organizando caravanas e atividades em Salvador, um leque amplo de movimentos
sociais que envolvem desde os povos indígenas, passando porpequenos
agricultores, trabalhadores sem-terra, quilombolas, povos de matriz africana,
pessoas com deficiência, intelectuais, população de rua,estudantes de vários
países, sindicalistas, movimentos de mulheres, juventudes urbana e rural,
catadores de resíduos, movimentos populares de todas as correntes de atuação,
segmentos ligados aos temas da democracia digital,mídia livres, juventudes
urbanas ligadas as culturas de resistências, migrantes e, sim, organizações da
sociedade civil do Brasil, América Latina, África e Europa ligados as causas
dos direitos humanos, da defesa da democracia, das diversidades, da educação popular,
das defesa das políticas públicas universais e gratuitas.
Ainda estarão no FSM de Salvador as redes de apoio e solidariedade a Cuba, a Venezuela, a Palestina, aos Curdos, aos Sarauís, e à todos os povos que lutam por sua autonomia e libertação.
É possível afirmar, sem medo de errar, que esta edição está mobilizando novos setores sociais que nem sempre estiveram no entorno dos FSM ou das agendas da esquerda tradicional.
Ainda estarão no FSM de Salvador as redes de apoio e solidariedade a Cuba, a Venezuela, a Palestina, aos Curdos, aos Sarauís, e à todos os povos que lutam por sua autonomia e libertação.
É possível afirmar, sem medo de errar, que esta edição está mobilizando novos setores sociais que nem sempre estiveram no entorno dos FSM ou das agendas da esquerda tradicional.
Da mesma forma, equivoca-se o jornalista ao afirma, sem ter
conhecimento do processo, de que o FSM de Salvador carece de ideias e que os
debates ficarão circunscritos entre os próprios participantes. Esta edição está
inovando em sua metodologia, buscando articular processos na preparação do
evento de forma a permitir que, pós FSM, tenhamos alguns processos coletivos
que sigam operando na luta popular antisistêmica, de forma autônoma e
autogestionada.
Destaco aqui, a realização da Assembleia Mundial de
Mulheres, que será realizada dia 16/03/2018, na parte da manhã, e será uma
atividade exclusiva e deverá reunir mais de 20 mil mulheres de todos os
continentes. Outra iniciativa, é a Assembleia dos Povos, Movimentos e
Territórios em Resistência que ocorrerá no dia 16/03/2018, na parte da tarde e
que será um momento de diálogo sobre estratégias e proposta comuns de
enfrentamento a onda conservadora e neoliberal em todo o mundo.
Finalmente, a
proposta da Ágora dos Futuros, que será realizada no dia 17/03/2018 pela manhã,
momento plural e autônomo, onde a diversidade das propostas e iniciativas pós-fórum
serão apresentadas, discutidas, assumidas coletivamente pelos presentes. Para
apoiar estes processos, o GT de Metodologia e Programação, com muito esforço
coletivo e sem recursos públicos, organiza uma dinâmica de sistematização que
deverá ter uma primeira síntese, ainda durante a realização do FSM que
alimentará estes momentos coletivos de debates.
É bom nos darmos conta que, o jornalista uruguaio acaba
reproduzindo, neste artigo sobre o FSM, sua antiga visão crítica em relação a
esquerda mundial, em especial, de que falta a esta esquerda, novas propostas e
novas práticas. Aliás, criticas que tem feito em vários outros artigos. Até
posso concordar em parte com estas criticas, só não posso concordar que elas se
apliquem ao FSM porque, há meu ver, este talvez seja o único espaço mundial,
plural, diverso e democrático no campo anticapitalista que esteja buscando
alternativas a esta “mesmice”, usando as palavras dele, que impera nas
esquerdas “domesticadas”.
Justamente por isso, diferente do que tenta fazer crer o
jornalista em seu artigo, estão presentes em Salvador inúmeras experiências que
representam o pensamento e as práticas holísticas, de pessoas e movimentos que
vivem um outro mundo possível, mudando o mundo sem tomar o poder. Estas
experiências, pelos mesmos motivos apresentado no artigo, não aparecem na mídia
corporativa. Mas seus protagonistas estão nas ruas, corredores, tendas e em
todo o território social mundial de Salvador.
Tenho prá mim que um Fórum Social nunca será muito melhor do
que o momento dos movimentos sociais mundiais permite. Ele sempre será, de uma
forma ou de outra, o espelho do estágio de lutas e de acúmulo de forças do
campo democrático e popular num determinado momento histórico. Por isso, se é
verdade o que afirma o jornalista de que “atualmente, os movimentos sociais
internacionais são incapazes de encontrar uma forma de conexão reticular que
lhes permita atuar mais conjuntamente e têm dificuldades para estabelecer
objetivos convergentes” não há como esperar que esta edição promova mudanças
radicais nesta desarticulação.
No entanto, as edições do FSM podem, como processo, ser um
laboratório para novas metodologias, práticas e, principalmente, contribuir
para a constituição de uma cultura política de esquerda verdadeiramente
horizontal e profundamente democrática. Onde as críticas, autocríticas e
divergências sejam tratadas em discussões e diálogos coletivos e plurais e onde
não haja o empoderamento apenas de algumas lideranças ou intelectuais. Uma
cultura política que esteja próxima do que se idealiza de um poder
popularenraizado nas comunidades e periferias de nossas sociedades. Neste
sentido, a ética política expressa na Carta de Princípios segue sendo um
poderoso farol para que as esquerdas e os democratas do mundo encontrem formas
de diálogo e de busca de defesa dos bens comuns e da construção de uma
sociedade igualitária e solidária.
Finalizo convidando o jornalista Aram Aharonian para que
venha a Salvador, participar conosco deste difícil desafio que é buscar alternativas
para a construção de um outro mundo possível, urgente e necessário, num momento
de crises tão profundas em nossas sociedades. Venha debater conosco. Caso
contrário, muita gente pode ficar pensando que seu artigo só pretendia jogar
água no moinho da direita internacional. Saudações Solidárias.
Leia mais
- Um Fórum Social Mundial, esvaziado de ideias, povos e luta, muda-se para Salvador
- Movimentos sociais. Perspectivas e desafios. Revista IHU On-Line, N° 325
- Movimentos sociais. Criminalização é um atentado à democracia. Revista IHU On-Line, Nº. 266
- Forum Social Mundial: Indagações de um novo mundo. Revista IHU On-Line, Nº. 129
- Os movimentos sociais na conjuntura social e política. Entrevista especial com Maria da Glória Gohn. Revista IHU On-Line, N° 325
- A força dos movimentos sociais na luta por direitos humanos e democracia no Brasil. Entrevista especial Solon Eduardo Annes Viola. Revista IHU On-line, N° 257
- FSM 2018. Uma adolescência questionadora
- Idealizadores do FSM em 2001 voltam a Porto Alegre em 2017
- Um FSM para sonhar o outro mundo necessário e reatualizar desafios
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