sábado, 14 de maio de 2022

Que país do forró é este?


Esperança ou ilusão?
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
A coluna dá vez e voz a pertinente reflexão alinhavada pelo colega Thiago Paulino, autor de ‘Palcos de disputa e disputas pelo palco no País do Forró’, sob o pretexto de comentar a realização do Forró Caju. O leitor assíduo está ciente da luta inglória travada por esta página ao longo dos anos, a fim de abater o Golias dos grandes eventos de natureza comercial que dominam o calendário cultural da aldeia. Paulino, pobre coitado, defende posição parecida, com a ilusão e a esperança de ver um dia a situação mudar. O tempo dirá se o ceticismo do titular é páreo para o coração grande do articulista convidado. Daqui pra baixo é com ele.
Ausências notáveis
Thiago Paulino*
Teremos novamente o Forró Caju, uma notícia positiva, considerado o peso econômico e também cultural do evento. Só quem já trabalhou em algum cargo no poder público sabe como é difícil fazer com que um evento desse porte seja realizado.
Parabéns
ao esforço. A crítica construtiva não nega aos responsáveis pela festa os devidos méritos.
No entanto, como estamos no País do Forró, algumas observações se fazem necessárias. Temos muitos forrozeiros e pouco palco durante todo o ano, o que torna o Forró Caju insuficiente para cuidar do tesouro de grande potencial econômico que é o Forró Sergipano. Ou seja, há uma demanda reprimida de espaço. Mestrinho conquistou o palco Nacional e Europeu, mas temos muitos outros nomes, ainda desconhecidos do grande público. Nesse sentido uma comissão formada por representante do forró, especialista da sociedade civil e poder público, poderia minimizar o problema fazendo uma escolha mais justa, que não ficasse amarrada ao gosto do gestor ou do produtor responsável.
Essa comissão, talvez, evitaria a ausência dos sanfoneiros Robertinho e Correia na programação. Grandes instrumentistas, eles reinventam a tradição dos 08 Baixos, um instrumento dificílimo que tem Januário, justamente o pai do Gonzagão, como referência maior.
Uma boa política de programação junina do forró também pode e deve provocar shows. Imagine como seria, por exemplo, o Quinteto Sanfônico tocando a obra de Joza ou releituras de compositores como Edgar do Acordeon (que acumulou mais de 50 anos de forró). Ao contrário do que muitos pensam, o forró tradicional também se reinventa e é criativo. Correia fez uma releitura do hino da Sarandaia com um lindo arranjo da sanfona acompanhada por contra-baixo.
Outra ausência sentida foi da banda Balança Eu, que já conquistou o título de melhor composição no Festival de Itaúnas (ES), um dos mais importantes do cenário nacional.

Alberto Marcelino, o líder da banda, criou o Forró de Tototó, um movimento que dá palco para os forrozeiros o ano todo.
Infelizmente, a ausência de Marcelino na programação sugere que algo precisa ser esclarecido. Nas últimas 10 edições do Forró Caju, o Balança Eu sempre ofereceu ao público um repertório de músicas sergipanas de ótima qualidade. Ano passado, contudo, Alberto publicou um vídeo nas redes sociais com críticas à edição online do Forró Caju. O artista que saiu em defesa de outros forrozeiros desagradou os gestores à frente do evento.
Lembro do vídeo. Nele, Marcelino faz um crítica construtiva ao evento, pedindo atenção a um fato que estava de fato ocorrendo: artistas tocavam mais de uma vez no mesmo evento, tirando a oportunidade de outros forrozeiros. Pediu mais atenção aos critérios de escolha dos shows. Assisti ao vídeo na época e, pessoalmente, não achei ofensivo em relação a Funcaju. O entendimento da gestão não foi o mesmo, como demonstra um processo movido contra o artista.
A gestão de Edvaldo Nogueira mostra-se capaz de realizar novamente um grande evento, com 80 atrações locais e 12 nacionais. Mas a ausência do Balança Eu deixa no ar um cheiro desagradável de retaliação política, prática que, infelizmente, vigora muito no ciclo junino aqui do “País do Forró”.
Lembro também de um forrozeiro de renome nacional que foi proibido de tocar na Vila do Forró – à época, administrada pelo governador João Alves Filho (antigo PFL). O motivo é escandaloso: O artista aceitou tocar no Forró Caju, realizado pelo prefeito Marcelo Déda (PT), adversário do negão. Amorosa, uma de nossas maiores artistas, ficou de fora de várias edições do Forró Caju. Para felicidade do público, ela finalmente retorna à programação este ano.
Filiações partidárias são direito de qualquer cidadão, mas é necessário saber separar a atuação e talento do artista de suas inclinações políticas. E é inegável o que figuras como Alberto Marcelino e outros forrozeiros fazem para manter a sobrevivência do forró tradicional durante o ano todo.
Para além do Forró Caju
Recentemente o forró recebeu o título de patrimônio imaterial! Mas sempre foi uma música produzida pelo povo e deve retornar para o povo nos festejos financiados com verba pública. Seria muito bom pensar no forró sergipano como uma atividade econômica capaz de embalar sergipanos e turistas durante o ano todo. Por mais que lembremos do forró apenas nos meses do ciclo junino. “Forró é MPB”, como bem disse o compositor Sérgio Lucas. Quebrar essa sazonalidade faria bem ao forró como atividade econômica e social.
*Jornalista, pesquisador do forró sergipano.

Publicado no facebook do Thiago Paulino.


Boa tarde.
10 de Maio de 2022 A Casaca de Couro não está na programação do Forró Caju 2022, mas desejamos um excelente evento com nossos artistas.

Joaquim Antonio Ferreira no facebook

Opinião - Ainda é tempo para completar a programação do Forró Caju

[*] José Paulino da Silva

A programação do Forró Caju de 2022 divulgada pela Prefeitura de Aracaju deixou de fora vários artistas sergipanos que vem atuando como músicos do ciclo junino e colocou artistas nacionais que nada têm a ver com as comemorações deste período. Não é a primeira vez que esta aberração acontece.

No entanto, esse erro pode ser sanado. Não se trata de excluir quem já está dentro da programação, mas de ampliar o calendário das festividades até meados de julho. Ainda é tempo de a Prefeitura fazer justiça aos artistas sergipanos que ficaram de fora da atual programação.

Recursos, condições estruturais, tempo, existem. Se há poucos dias a Prefeitura e outros órgãos públicos deram todo apoio para a realização do Forrozão da FM Sergipe que foi um sucesso de público e de organização, por que não fazer o mesmo para o Forró Caju?

A parceria da Prefeitura com a Fecomércio é louvável. Mas o espaço da praça General Valadão é muito pequeno para a grandiosidade e o conforto que o público sergipano e os turistas merecem para celebrar as festividades do ciclo junino. Ampliar a programação junina deste ano é possível. A Praça do Mercado Municipal em todas as edições do Forró Caju sempre recebeu um grande público. Por que foi reduzida a programação deste ano naquele espaço?

Uma proposta para abrilhantar a Festa. Será um grande acontecimento artístico-cultural incluir nos palcos do evento uma noite especial dedicada aos tocadores da sanfona de oito baixos, este instrumento que é a matriz do forró pé de serra e teve em Sergipe o seu grande representante, que foi Gerson Filho. Para abrilhantar aquela  noite, além dos tocadores sergipanos deste instrumento, poder-se-ia trazer Luizinho Calixto e a Orquestra Sanfônica de Oito Baixos da cidade de Santa Cruz do Capibaribe, no Estado de  Pernambuco.

Portanto, uma programação complementar é viável e pode ser feita sem muita burocracia. A Associação dos Forrozeiros Sergipanos pode e deve participar da montagem desse processo, encaminhando, por exemplo, para a devida análise e decisão do prefeito uma planilha de programação com uma breve justificativa, incluindo data, horário, local (palco) nome do artista, cachê – total dos custos.

Isso seria uma forma democrática de incentivar o fortalecimento da classe dos forrozeiros. É bom que se  frise: que esta proposta complementar não é um favor que a Prefeitura fará aos músicos, mas um ato de justiça que engrandecerá quem o praticar. Tenho certeza de que o prefeito Edvaldo Nogueira não vai se negar a acolher esta proposta.

O Forró Caju, para a mídia nacional em anos anteriores, chegou a competir com os festejos da cidade de Caruaru, Pernambuco, e de Campina Grande, na Paraíba. Para os festejos deste ano, pelo que se sabe, a rede hoteleira daquelas cidades já está quase totalmente ocupada. Prefeito Edvaldo Nogueira, não pense pequeno! Feche com chave de ouro a sua gestão! Devolva ao povo sergipano e a esta bela cidade que você administra o Forró Caju com todo o brilho que esse evento merece!   

[*] É professor aposentado da UFS.

Debate sobre o texto acima no facebook. No mural do jornalista Thiago Paulino.

Zezito de Oliveira
Uma pena, até o pequeno espaço que se tinha foi perdido e de apequenamento em apequenamento fomos perdendo espaço até chegar a este ponto... Um apequenamento de mão dupla, daqui pra lá, de la pra cá... E por falar nisso, a prefeitura ainda patrocinará o forum do forró, e para que? Com a esquizofrenia cultural de um fórum que aponta em uma direção e a programação apontando para outra....Trabalhadores da cultura uni-vos... O velho Marx diria...

Thiago Paulino
Zezito de Oliveira ...amigo vc tocou em um ponto chave: o fortalecimento da classe. O artigo coloca que seria democrático a associação dos Forrozeiros ajudar na escolha dos shows.

Zezito de Oliveira
Thiago Paulino Sem dúvida, gostei do artigo. Mas espero que isso seja o começo de um soerguimento e de uma consciência de classe...Embora seja um processo dificil e lento... Sei la, será que o sofrimento pode ser pedagógico?

Zezito de Oliveira
Lembro da participação de Joquim Antônio na organização de uma associação de sanfoneiros ou forrozeiros, não lembro bem.. Se tivesse dado certo desde a época, esta situação de apequenamento não chegaria a tanto....Isso foi em 2009 quando estive diretor do Gonzagão...

Zezito de Oliveira
Sabe Paulino, sinto que uma época, um periodo se encerrou, há que ver como a organização e a consciência pode ajudar o segmento a se inserir nestas novas dinâmicas sociais, politicas e econômicas. Percebo o mesmo tipo de situação com as quadrilhas juninas... Há alguns anos participei de um seminário junto com o seu pai sobre as perspectivas de futuro para as quadrihas, em razão da visão apequenada da maioria dos quadriheiros, as coisas não evoluiram....

Adicionado no dia 20/05/2022



1 co

Nenhum comentário: