"Se em terra de cego quem tem um olho é rei
Imagine quem tem os dois". Zé Ramalho e Osvaldo Montenegro
Quando o Ministério da Cultura(MINC) foi atacado após o golpe judicial-midiático-parlamentar que depôs a presidente Dilma, os fazedores de cultura em nosso "rincão" já estavam feridos de morte em razão da indigente política cultural de longa data que vigorou nessas terras outrora do cacique Serigy e de outros bravos guerreiros, isso antes das atuais leis de fomento, Aldir Blanc I, Paulo Gustavo e Aldir Blanc II.
No caso de Sergipe, por conta de uma tímida instalação e limitada manutenção da rede estadual de Pontos de Cultura, de 2011 a 2016, a presença dos agentes culturais ligados aos Pontos de Cultura em Sergipe foi pouco notada nesse momento de luta contra o desmonte institucional.
E assim chegamos a 2025, com um imenso déficit de conhecimento no campo das politicas culturais, da gestão, da produção e da ação cultural, o que fez com que mesmo antes da extinção definitiva do MINC realizada pelo presidente Bolsonaro em 2018, a política cultural em nosso estado já estivesse ferida de morte, sem orçamento minimamente digno, sem discussão e encaminhamento de uma política cultural robusta e altiva, consequentemente irrelevante para a maioria dos fazedores de cultura e para a sociedade sergipana em geral , que nem reagiu quando a Secult foi extinta em 2 de janeiro de 2019.
E com isso chegamos a setembro de 2025, com inicio da tentativa em curso de retomada da Rede Sergipe de Pontos de Cultura, com alguns indicadores quantitativos que nos mostram o quanto faz sentido a pergunta que abre esse pequeno texto.
Sergipe foi um dos poucos estados a não conseguir criar um comitê estadual para compor o programa nacional dos comitês de cultura, e no caso do Cultura Viva, um dos poucos estados a não conseguir formar um Pontão de Cultura estadual no período da chamada pública realizada pelo MINC em 2023, assim como um dos poucos estados sem representação na comissão nacional dos Pontos de Cultura, desde 2016 até setembro de 2025
Mas parafraseando Drummond, foram/são muitas pedras e resistências encontradas neste caminho de retomada ou de reconstrução da Rede Estadual dos Pontos de Cultura, mesmo com fortes indicios que apontam para um mudança quantitativa e qualitativa dessa situação de atraso crônico a que ainda vivemos como fazedores de cultura em Sergipe Del Rey, como indicios que apontam nessa direção podemos citar, mas com não pouco desgaste: A realização até o momento de 17 reuniões, se incluirmos aqui , além das reuniões de âmbito estadual , as reuniões de âmbito municipal, no caso da rede de Pontos de Cultura de São Cristóvão e reuniões com a atual gestão da Secult. Reuniões de formação tecno-politica e de articulação. Inclusive contando com presenças de intelectuais orgânicos do movimento cultura viva de outros estados
O que não é fácil por conta de uma cultura de considerar esse tipo de reuniões formativas e de articulação como perda de tempo, desnecessárias, com poucos resultados, em geral da parte de quem colabora pouco, além da omissão de muitos. Desse modo repetimos a pergunta inicial , a quem interessa esse tipo de situação de ausência de um ambiente coletivo para conhecimento e implementação da política cultura viva em nosso estado?
Outra pedra ou barreira inicial foi a insistência, até com insolência, de uma reunião presencial como bastante o suficiente para dar conta de nossa crônica falta de informação e de articulação, como se os recursos de tecnologia que dispomos nos dias atuais não fossem capazes de garantir encontros recorrentes e continuados para facilitar a vida de pessoas que moram distantes umas das outras, limitados por razões de horário de trabalho e pelos custos financeiros do deslocamento, com mobilidade reduzida e etc., não pudessem ultrapassar tudo isso por meio de vídeo conferencia. Mas o tempo e a prática mostraram o acerto de quem apostou nessa direção.
Por último a criação de um Grupo de Trabalho Operacional, como substituto emergencial para a ausência de uma comissão estadual que só pode ser eleita em um novo Fórum Estadual a ser realizado em dezembro. Sendo a atual eleita em 2014 contando apenas com dois membros titulares remanescentes.
Uma tentativa que enfrenta dificuldades para a sua operação por se basear na negação de um dos mais importantes pilares políticos e pedagógicos do Cultura Viva, a autonomia, assim para que Grupo de Trabalho Operacional se podemos esperar ou deixar que a organização e condução da Teia e do Fórum seja realizada quase que integralmente pela Secretaria da Cultura? Como de fato aconteceu no Fórum de 2014
E dessa maneira, prosseguem as situações de barreiras e de resistências, mas com certeza na medida em que a maioria do grupo entender para onde estas podem nos querer levar, conseguiremos superá-las coletivamente visando a redução dos indicadores negativos que nos perseguem há décadas. Oxalá! Essa percepção não seja de uns poucos agentes culturais..
Para relembrar os três indicadores negativos recentes já citados anteriormente por mim. 1)A não participação de Sergipe no programa nacional dos comitês de cultura. 2) A não seleção de um Pontão de Cultura estadual através do edital de Pontos e Pontões de Cultura do MINC lançado em 2023, o que só foi possível no edital estadual da Lei Aldir Blanc no ano de 2024. 3) A ausência de representação de Sergipe na Comissão Nacional dos Pontos de Cultura. O que está sendo feito, mesmo com barreiras e resistências interpostas pelo fogo amigo, como se não bastasse a construção histórica negativa disso ao longo do tempo..
Zezito de Oliveira
O primeiro artigo abaixo de certa maneira complementa questões abordadas acima.

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