Tema Principal: A
discussão central gira em torno da implementação, organização e desafios da
política "Cultura Viva" no Brasil, com foco nas "Teias
Estaduais" e no "Fórum Nacional" dos Pontos de Cultura, além de
questões relacionadas a financiamento, certificação e governança.
Pontos-Chave e Ideias Apresentadas:
- Contexto
Geral da Política Cultura Viva:
- A
realização das "Teias" (eventos preparatórios para o Fórum
Nacional) é competência do Governo Federal, enquanto o "Fórum
Nacional" é de responsabilidade da Comissão Nacional de Pontos de
Cultura (CNPDC).
- Houve
uma longa demora para a aprovação do regimento do Fórum Nacional.
- Os
estados de Goiás e Amapá já realizaram suas teias estaduais.
- O
Ministério da Cultura atualmente não possui orçamento próprio para
eventos e fomento direto, dependendo de recursos federais
descentralizados, como os da Lei Aldir Blanc.
- Desafios
de Financiamento e Organização das Teias:
- O
Ministério da Cultura (MinC) tem recursos apenas para receber e manter as
delegações na teia nacional (alimentação, hospedagem, infraestrutura
técnica).
- Os
estados são responsáveis por destinar uma porcentagem da Lei Aldir Blanc (até 10%
para Cultura Viva) para realizar as teias estaduais e custear o envio de
suas delegações para a teia nacional.
- A
maioria dos recursos da Lei Aldir Blanc ainda não foi repassada aos estados,
causando atrasos.
- O
prazo para a realização das teias estaduais foi prorrogado para 1º de
março de 2025 (inicialmente era 15 de dezembro). Isso pode levar a um
adiamento da teia nacional.
- As
teias municipais podem ocorrer, mas com caráter de mobilização e
preparação para os fóruns estaduais, sem ter delegações próprias para o
nível nacional (a representação é por estado).
- Certificação
de Pontos de Cultura e Participação em Teias/Fóruns:
- Um
ponto de cultura pode ser considerado certificado se for aprovado em
editais estaduais/municipais (com publicação em Diário Oficial e
atendendo aos critérios do edital), mesmo que ainda não apareça no mapa
oficial da Rede Cultura Viva do Ministério.
- A
plataforma digital da Cultura Viva apresenta inconsistências e não está
100% funcional.
- Para
participar dos fóruns estaduais, a comprovação de ser um ponto de cultura
pode ser feita pelo certificado do mapa da rede ou pela publicação
oficial do resultado de edital.
- Tipos
de Pontos de Cultura e Modalidades de Fomento:
- A Lei
Cultura Viva reconhece "pontos de cultura" (instituições sem
fins econômicos) e "coletivos". "Pontões" são pontos
de cultura que atuam em rede.
- A
distinção entre eles impacta o tipo de fomento que podem pleitear:
- TCC
(Termo de Compromisso Cultural):
Valores maiores, exigem que a instituição tenha CNPJ, inviabilizando
coletivos.
- Prêmios
para Coletivos: Valores menores, sem a
complexidade de prestação de contas de um TCC.
- Pontões:
Editais específicos para atuação em rede, com valores mais elevados.
- Crítica
à "Prestação de Contas Simplificada": É
considerada uma "fantasia" ou "latada" que induz ao
erro, pois, em caso de denúncia ou dúvida, a instituição precisará
apresentar prestação de contas completa, seguindo as normativas legais
(Leis 3018 e 3019 para convênios com o Poder Público).
- Estrutura
e Governança da Comissão Nacional de Pontos de Cultura (CNPDC):
- Os
GTs Estaduais (rede estadual de pontos de cultura) são autônomos e
escolhem seus próprios representantes para a Comissão Nacional.
- Os
GTs Temáticos Nacionais são criados e definidos no Fórum Nacional. Para
propor um novo GT Temático, são necessárias propostas de pelo menos três
fóruns estaduais diferentes.
- A
atual estrutura da Comissão Nacional, incluindo suas subcomissões, será
avaliada e pode ser alterada no próximo Fórum Nacional, com a
possibilidade de a comissão se transformar em uma instituição mais
formal.
- Representantes
de GTs Estaduais são delegados natos ao Fórum Nacional, mas
representantes de GTs Temáticos não são.
- Delegação
para o Fórum Nacional e Cotas:
- Cada
estado pode eleger até 30 delegados (se tiver no mínimo 30 pontos de
cultura certificados ou comprovados no fórum estadual).
- Existem
cotas obrigatórias para a composição da delegação (ex: 44% de mulheres, e
outras categorias como LGBTQIAPN+, pessoas negras, idosos, jovens). A
pessoa se autodeclara nas categorias aplicáveis.
- Desafios
e Perspectivas Futuras:
- Burocracia
e Editais: Crítica à política de
editais como elitista e excludente, que seleciona e cria concorrência
entre os próprios agentes culturais. Argumenta-se que os editais servem
para o governo "subcontratar" serviços que deveria fazer e
justificar investimentos, impondo exigências excessivas e desvirtuando o
propósito original.
- Necessidade
de Reconhecimento e Fomento Direto:
Defende-se a criação de leis de reconhecimento para categorias culturais
(mestres, quilombos) e fomento direto a elas, em vez de cotas em editais
genéricos.
- Organização
da Sociedade Civil: A importância da
articulação, formação e superação de individualismos para fortalecer a
luta por políticas culturais mais eficazes e representativas.
- Ação
Local: Apelo para a organização
de uma "Teia Aracaju" (mesmo que não oficial para seleção de
delegados) como espaço formativo, de articulação e visibilidade,
aproveitando o prazo estendido.
- Mapeamento
Civil: O interlocutor da CNPDC
menciona a criação de um cadastro civil de pontos, instituições e
movimentos culturais na Amazônia para fortalecer a rede e as lutas
regionais e nacionais.
Com base na transcrição, a organização e representação dos pontos de cultura nos fóruns estaduais e nacionais, e o papel das comissões estaduais, funcionam da seguinte forma:
Organização e Representação nos Fóruns:
Fórum Estadual: É de competência dos Pontos de Cultura estaduais, com cada Ponto de Cultura certificado no estado tendo direito a um representante.
Teia Estadual: É de competência do Governo Estadual (via recursos da Lei Aldir Blanc) para realizar a estrutura do evento e garantir a ida das delegações estaduais para a Teia Nacional. ([00:16:00])
Delegação ao Fórum Nacional: Cada estado pode escolher 30 delegados entre os pontos de certificados culturais ou aqueles que foram considerados pontos através de editais recentes (com comprovação oficial). Há cotas para esses delegados (ex: 44% mulheres). ([00:23:02], [01:38:12])
Critérios de Participação: Apenas pontos de certificados de cultura (via Mapa da Cultura Viva) ou aqueles que comprovem sua classificação como ponto no edital estadual/municipal publicado no Diário Oficial podem participar como delegados. ([00:23:02], [00:37:34])
Delegados Natos: O representante do GT estadual é um delegado nato da Comissão Nacional e não precisa ser eleito. ([01:38:46])
GTs Temáticos Nacionais: Não são delegados natos e não têm cotas específicas para os externos estaduais. Serão propostas e definidas no Fórum Nacional, exigindo propostas de pelo menos três fóruns estaduais para sua criação. ([01:38:59], [01:39:25], [00:57:16])
Papel das Comissões Estaduais:
Tem a função de monitorar (“vigiar”) e apresentar propostas de alterações e de aplicação de recursos para a Cultura Viva. ([00:33:09])
Devem atuar nas "escutatórias" (sessões de escuta) da Lei Aldir Blanc para influenciar os modelos de editais e sugestões de aplicação de recursos, garantindo que as necessidades locais sejam concedidas. ([00:34:32], [00:34:57])
Escolhem convidados para a Teia Estadual. ([00:02:01])
Com base na transcrição, os pontos de cultura enfrentam vários desafios na representação política dentro dos fóruns estaduais e nacionais:
Burocracia e Contratação/Fomento: A "prestação de contas simplificada" é vista como um engano, e as ONGs (pontos de cultura) acabam tendo as mesmas obrigações de uma Secretaria de Estado, tornando o processo de captação e gestão de recursos extremamente complexo e sujeito a erros. ([01:14:20], [01:16:41])
"Política de Editais": Os editais são criticados por serem "elitistas", "para excluir" e não para incluir. Muitas vezes, eles não chegam à base dos movimentos culturais, gerando competição entre os próprios pontos de cultura por recursos limitados (“nós contra nós mesmos”). ([01:11:50], [01:28:43], [01:42:30], [01:49:32])
Falta de reconhecimento e fomento direto: Há uma demanda por reconhecimento direto de categorias culturais (mestres, quilombos, terreiros) e fomento específico para elas, em vez de editais genéricos com cotas. As cotas são vistas como uma "fogueira das vaidades" que dá a impressão de atendimento sem resolver as necessidades reais. ([01:43:41], [01:46:41], [01:48:56])
Pouca representação legislativa: A cultura possui poucos representantes no Congresso, o que dificulta a criação de leis que realmente beneficiam e regulamentam as categorias culturais, ao invés de apenas criar o sistema do governo. ([01:33:18], [01:51:46])
Desorganização e Individualismo: A falta de uma "cultura de redes" e o individualismo entre os grupos de cultura enfraquecem a capacidade de articulação e a força política coletiva. ([01:52:57])
Problemas com plataformas de certificação: Inconsistências na plataforma "Cultura Viva" geram indeferimentos injustificados e burocracia adicional para os pontos de cultura que buscam a certificação. ([01:04:02])
Ocupação por "picaretas": O sistema de editais permite que oportunistas ("picaretas") driblem as regras, ocupando espaços e recursos que devem ser destinados a agentes culturais genuínos. ([01:34:20], [01:36:10])
Quais são os critérios específicos para que um ponto de cultura seja certificado e possa participar dos fóruns?
Certificação no Mapa da Rede do Ministério: O ponto de cultura deve estar oficialmente certificado no mapa da rede do Ministério da Cultura. ([00:23:02], [00:40:26])
Classificação em Edital Recente: Caso não fique no mapa, o ponto de cultura pode comprovar sua certificação se tiver sido classificado como "ponto de cultura" em um edital estadual ou municipal recente (mesmo que não tenha recebido um prêmio, mas atingiu a pontuação mínima útil). A comprovação deve ser feita com a publicação do resultado no Diário Oficial. ([00:23:02], [00:24:30], [00:37:34], [00:59:48])
Apenas os pontos que cumprem um desses dois requisitos (estar no mapa ou ter a comprovação por edital) podem ter um representante para participar do fórum estadual e serem eleitos delegados para o Fórum Nacional. ([00:23:02], [00:40:10])
Em suma, a conversa destaca um período de reorganização da política Cultura Viva no Brasil, enfrentando sérios desafios orçamentários, burocracia e a necessidade urgente de uma maior organização e articulação da sociedade civil para advogar por leis de reconhecimento e fomento mais justas e diretas, em contraste com a atual dependência de editais que são vistos como excludentes e inadequados.


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