quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Como foi a reunião virtual da Rede Sergipe de Pontos de Cultura (retomada) com o Célio Turino em 10 de setembro?



Foi no mínimo boa....

As razões para isso, sob o ponto de vista quantitativo,  conseguirmos assegurar uma participação média de 10 pessoas, variando em alguns momentos com 14 e em outros momentos com 9.

Isso se deveu a situação de pessoas que estavam em trânsito ou em outra atividade presencial de caráter formativo e de articulação, como a nossa, mas  em outro estado. Houve também o caso de quem  estava trabalhando e que entrou por alguns minutos, saindo logo  depois ou que chegou depois, em razão desse motivo.

Conseguimos a participação de três participantes do Comitê Paulo Gustavo – Sergipe, inclusive da articuladora estadual e de um conselheiro municipal de cultura, respectivamente Tácita  Mykaelly e Teddy Fontes, sendo este conselheiro na cidade de Itabaianinha e a primeira residente em Simão Dias,  estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas - BICULT da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Baiano). E também contamos com a presença de Sandra Rodrigues, professora e produtora cultural residente em Boquim e inserida no apoio como assessora, voluntária na maioria das vezes, a mestres da cultura popular da matriz tradicional.

Dos Pontos de Cultura, participaram representantes que estão presentes desde a primeira reunião. A saber:

Ação Cultural – Com dois representantes, inclusive Maxivel Ferreira que participa pela primeira vez de uma reunião da Rede Sergipe.

Isabela Bispo– Do Pescando Memórias, juntamente com Givanildo Santana

Claudemir Curuminho – representando o barracão cultural Mãe Maria.

Luiza Kummer – representante do Ponto de Cultura Loucurart

Messias Cordeiro – representante do Pontão Albertina Brasil

José Alves – representante do Ponto de Cultura: UMBAÚBA CULTURA E ARTES UMA ALTERNATIVA ÀS DROGAS E À VIOLÊNCIA - UMBAÚBA

Luciano Acciole , representante do  Caatingart 

Danilo Duarte – representante do coletivo Inferninho

Lindolfo Amaral – representante do Imbuaça

Sob o ponto de vista qualitativo, a fala do Célio Turino representa verdadeiramente a voz de um griot da cultura viva, sendo esta sistema de pensamento racional e sensível como  uma das politicas culturais  mais democráticas e  inovadoras do Brasil e do mundo no final do século XX e que continua sendo, mesmo com os tantos obstáculo ou barreiras para  prosseguir assim...

Uma fala que traz elementos fundamentais da filosofia, da antropologia e da sociologia que subjaz a Politica Nacional  Cultura Viva (PNCV), isso a partir do chão da nossa realidade histórica e existencial.

O griot ou griô é a denominação  dada a membros de sociedades africanas que eram contadores de histórias, trovadores, mensageiros oficiais, guardiões de tradições milenares, entre outros ofícios.

A compreensão disso é crucial para garantir e ampliar o alcance da PNCV, considerando os ataques intensivos  já sofridos , assim como a cultura em geral, o que pode voltar e de maneira recrudescida, a depender dos governos eleitos, em que pese já não esteja fácil lidar com os atuais, alguns mais, e outros menos, mas dentro de um contexto  difícil, para dizer o minino.

Como me comprometi com Célio Turino e com os companheiros (as), publicaremos a transcrição da nossa roda de conversa em formato de entrevista, o que devo fazer em até sete dias,  a contar de hoje, 11/09/2025. (a promessa inteira ficará para um mês a frente, por ora fiquemos com um resumo da transcrição da reunião feito com IA, mais abaixo.)

Enquanto isso, sugiro a leitura dos livros e de um poema do Célio Turino republicado no blog da Ação Cultural e indicados na roda de conversa virtual, com links abaixo.

Quanto aos livros, algumas das questões  problematizadoras suscitadas a partir do que escrevi  a la Paulo Freire e das outras  intervenções dos companheiros da Rede Sergipe de  Pontos de Cultura e convidados do Comitê Paulo Gustavo, como Célio nos disse para aprofundamento recomenda-se  a leitura do último livro lançado. ,  “SEMENTEIRA”. 

As questões ao estilo freireano que propus na live.

1 - Uma questão que tem me  incomodado desde sempre, mesmo antes da criação da Rede Sergipe de Pontos de Cultura.

Trata-se da  dimensão cidadã  dos Pontos de  Cultura, a dimensão politica do Cultura Viva, e isso  acaba tendo impacto quando precisamos fazer a resistência e/ou enfrentamento ao arbitrio e ao autoritarismo, alimentado por um modus operandi de relacionamento com artistas e grupos culturais, marcado  pelo clientelismo, pela verticalização e elitismo, pela subordinação e mesmo pela subserviência. .

E assim,  a potência  emancipadora do  Cultura Viva muito bem expressa pelos conceitos de  autonomia e de protagonismo se perde no mundo da retórica das boas intenções.

A pergunta é a seguinte, o que já se avançou com relação a isso? Tanto no Brasil como na América Latina. E como fazer isso avançar mais? De baixo para  cima, especialmente.

2 - Mais uma questão ou pergunta problematizadora.

Ao ser entrevistado pelo jornalista Antônio Martins no canal Outras Palavras em  24 de maio de 2023 você tratou entre outros temas,  da questão dos editais,  criticando esse formato de fomento ou patrocinio da produção cultural, você chama de fetiche, critica o fato dos editais ter se tornado uma espécie de formato único, sem outras maneiras de realizar o financiamento das  iniciativas culturais.

A questão: Se já existe em poucas  cidades e estados brasileiros a saturação do formato edital, por outro lado, para a maioria das cidades foi somente a partir das leis Aldir Blanc 1, Paulo Gustavo (LPG) e PNAB,  que essa realidade começou a existir, considerando o fato da maioria nem ter  secretaria de cultura e nem fundação de cultura, antes da LPG e da PNAB, ficando a politica cultural a mercê das relações de poder, da influência e da amizade de alguns artistas e grupos culturais com os políticos locais. Uma “politica cultural”  que se realiza com a distribuição de migalhas a artistas locais e grupos culturais, de um lado, e por outro lado,  terceirizando a realização das festas da cidade para empresas de produção de eventos, como no exemplo recente do município de Itamaracá que convidou Lia para ser “homenageada” como titular da secretaria de cultura, mas sem poder real para  pensar e operar a politica cultural do município, o que de fato foi realizado  por meio da contratação de uma produtora de festas para a  cidade com programação a ser pensada pelo gabinete do prefeito em conjunto com uma empresa privada e operada por esta...Os detalhes desse fato está publicado no blog da cultura.

Concluindo, como pensar além dos editais considerando o contraste das duas situações colocadas acima, dos poucos estados e cidades que possuem fundos públicos de cultura e/ou lei de incentivo, mas que estão em estado de saturação com esse formato,  e os estados e cidades, principalmente estas últimas,  que nunca chegaram a operar cultura por meio de editais e que nem com estes encontram espaço para fazer escolhas via LPG e PNAB de forma republicana, basta ver as críticas de muitos agentes culturais dos municípios acerca da forma como, mesmo com os editais se repetem a escolha por meio de critérios menos técnicos e mais políticos.

Zezito de Oliveira

Num poema político, a história interrompida de um Brasil-vanguarda. Software livre, jovens hackers, pontos de cultura. Um dos semeadores desta época reconstitui a efervescência das redes – hoje “fio partido” que precisa ser reconstruído.

https://acaoculturalse.blogspot.com/2025/06/cultura-digital-o-que-foi-o-que-sera.html

CÉLIO TURINO - Ponto de Cultura_o Brasil de baixo para cima, 2ª Edição - São Paulo. Anita Garibaldi, 2010.

https://www.gov.br/culturaviva/pt-br/biblioteca-cultura-viva/documentos-e-publicacoes/livros-e-revistas/celio-turino-ponto-de-cultura_o-brasil-de-baixo-para-cima_2010.pdf/view

Célio Turino é o idealizador dos pontos de cultura, espaços que unem protagonismo cultural e autonomia comunitária. Como funcionário do MinC, entre 2004 e 2010, consolidou a proposta no programa Cultura Viva, que viabilizou pontos de cultura por todo o Brasil. O sucesso se espraiou para além das fronteiras nacionais, fazendo surgir a cultura viva comunitária em toda a América Latina. Em Por todos os caminhos, Turino realiza uma viagem por pontos de cultura latino-americanos – muitos deles espaços de cura social em regiões afetadas pela violência –, entretecendo experiências coletivas, valores ancestrais e histórias de vida singulares numa rede de fraternidade.

https://portal.sescsp.org.br/loja/11146_por+todos+os+caminhos+pontos+de+cultura+na+america+latina#/content=detalhes-do-produto

O que lazer e trabalho têm a ver com Macunaíma, personagem título de Mário de Andrade? É por meio dessa surpreendente trilha que Célio Turino nos leva a uma reflexão ampla sobre a importância do ócio para uma vida mais gratificante e inteligente. Trata-se de uma leitura prazerosa, uma contribuição significativa para enriquecer as discussões sobre as políticas públicas de lazer nas metrópoles. 

https://portal.sescsp.org.br/loja/11971_NA+TRILHA+DE+MACUNAIMA+3+EDICAO#/content=detalhes-do-produto

Sementeira: grãos para transformar radicalmente a sociedade via políticas culturais

https://acaoculturalse.blogspot.com/2025/02/sementeira-graos-para-transformar.html

dialoga bastante com a conversa que tivemos com o Célio Turino agora à noite.  Hospitalidade, autocrítica, solidariedade internacional e a proposta de destruir a pirâmide para viver em comum. O zapatismo completa 30 anos praticando aquilo que muitos só discutem. Leia a reportagem completa: AQUI

Resumo da reunião com a IA deepseek
O evento foi uma reunião da Rede Sergipe de Pontos de Cultura , uma articulação cultural de Sergipe que busca retomar suas atividades após um período de inatividade desde 2014. O principal objetivo é  reunir membros e convidados para discutir a trajetória e os desafios do programa Cultura Viva e dos Pontos de Cultura no Brasil, contando com a presença de Célio Turino, criador da iniciativa.
Contexto e Retomada da Rede Sergipe de Pontos de Cultura
 * Inatividade e Retomada: A Rede Segipe de Pontos de Cultura, com delegados eleitos em 2014,    perdeu força após a Teia de 2014 e eventos políticos subsequentes (golpe,    governo Bolsonaro), ficando inativa.
 * Inspiração: A retomada foi impulsionada por um encontro nacional do Pontão temático de Cultura digital em São Paulo (maio-2025), o qual contou com a participação de Zezito de Oliveira, delegado eleito para formar o núcleo organizador da Rede Sergipe, e um dos três remanescentes, junto com Messias Cordeiro e José Alves. Em São Paulo o diálogo com representantes da comissão nacional fez com que a proposta de retomada da Rede fosse colocada para representantes dos antigos e novos pontos, sendo a organização da Teia Estadual e eleição dos delegados para a Teia Nacional o evento catalisador.
   * Formato: A reunião começou com apresentações sucintas dos participantes, que    mencionaram seus nomes, pontos de cultura ou iniciativas culturais e    municípios de origem.
Principais Temas Abordados por Célio  Turino (Criador da Cultura Viva)o qual  expressou sua satisfação em participar, destacando sua admiração por Sergipe e a importância de resgatar a história e as relações humanas em um mundo cada vez mais "brutalizado" pela tecnologia e pels desinformação.

 1. Conceito de Cultura Viva:
        * Definição: Cultura Viva é um conceito biológico ("Cultura + Natureza =      Cultura Viva"), em oposição ao pensamento eurocêntrico que separa cultura       da natureza. O Brasil, com sua biodiversidade e diversidade humana, é o    país mais apto a compreender essa interação.
    
    * Filosofia e Programa: Mais do que um programa governamental (criado em       2004 no Ministério da Cultura, sob a gestão de Gilberto Gil), é uma       filosofia e uma forma de ser que promove a transformação através da       articulação em rede.
        * Expansão: O programa cresceu rapidamente, atingindo 3.500 Pontos de       Cultura até 2010. A ideia se espalhou por 18 países, com destaque para a       Argentina, onde o então arcebispo Jorge Bergoglio (Papa Francisco) se       interessou e posteriormente pediu a Turino para documentar a experiência em âmbito de América Latina, como Turino já tinha feito com relação ao Brasiil.
 2. Conceito de Ponto de Cultura:
        * Origem: Inspirado no pensamento matemático de Arquimedes ("Dá-me um ponto       de apoio e uma alavanca e moverei o mundo").
    
    * Essência: O Ponto de Cultura é um "ponto de potência" localizado nas
      comunidades. A cultura é feita pelas pessoas nas comunidades, não pelo       governo, Estado ou mercado. A iniciativa busca iluminar e apoiar quem,       apesar das dificuldades, continua produzindo cultura impulsionado por uma       "força vital".
 3. Legados e Impacto da Cultura Viva:
        * Griot: Termo que se popularizou no Brasil a partir da Cultura Viva,
      representando mestres e bibliotecas vivas da África, guardiões da história  e da confiança.
    
    * Cultura Digital: O Brasil foi referência mundial na cultura digital, com
      uma plataforma própria (similar a YouTube e Facebook) em 2006, oficinas de   software livre e formação de cineastas indígenas premiados.
    
    * Articulação em Rede (Teia): A Cultura Viva fomenta a colaboração entre       diferentes iniciativas (dança, memória, artes visuais), promovendo a troca       e o crescimento conjunto.

 4. Críticas às Políticas Culturais Atuais:
        * Financiamento Inadequado: O valor original de R$5.000 mensais (R$60.000      anuais) para um Ponto de Cultura em 2004 seria equivalente a R$150.000       anuais hoje. Sérgio considera os valores atuais "medíocres" e um       "desrespeito".
    
    * Tecnocracia e Desmonte: A partir de 2011 (Governo Dilma), houve um
      retrocesso significativo, com perseguição e desmonte das políticas
      inovadoras, substituídas por uma visão tecnocrática.
        * Editais e Meritocracia: A dependência exclusiva de editais padronizados e       "meritocráticos" (que podem ser preenchidos por IA) é criticada por   promover competição em vez de colaboração, desvirtuando a cultura e gerando projetos artificiais.
    
    * Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc: Embora sejam frutos da mobilização da       Cultura Viva, sua implementação atual é vista como "politiqueira",
      "neoliberal" e com pouca prioridade em seu propósito original, não
      atingindo as "pontas" e fomentando a exclusão em vez da universalidade do       acesso. Ele sugere alternativas como o financiamento de redes inteiras de       artesãos ou músicos, em vez de projetos individuais competitivos.
        * Estrutura versus Comitês Efêmeros: É crucial estruturar o Sistema Nacional       de Cultura com conselhos, planos e fundos permanentes, pois comitês e  iniciativas pontuais são efêmeros e perdem-se com as mudanças de governo.

 5. Alegrias e Tristezas:
        * Alegria: O contato com o povo brasileiro, o potencial de ações de Estado       que ganham escala e a capacidade de fazer a diferença rapidamente (ex:       aumento do orçamento da Cultura Viva em 6 meses). A experiência de viver       em comunidades indígenas e a inovação tecnológica (internet em aldeias há       20 anos).
        * Tristeza: O retrocesso cultural e político do país desde 2011, a       perseguição às políticas inovadoras, a visão tecnocrática e a mediocridade       das políticas atuais. O fracasso em erradicar o analfabetismo no Brasil.

 6. Cultura como Potência e Preservação da Humanidade:
        * Potência vs. Poder: Célio diferencia "potência" (feminino, complementar,       distributivo, colaborativo) de "poder" (masculino, concentrador, vertical,
      competitivo). A cultura deve ser pensada como potência.    
    * Desafio da IA: Em um cenário de avanço da inteligência artificial, que
      pode modificar a forma de pensar humana, a cultura é a única forma de       salvar a humanidade, ativando todas as inteligências e os sentidos para       perceber a realidade, promovendo uma "inteligência vital".
    
    * Apelo aos Municípios: O argumento para convencer os municípios a apoiar a       cultura é a necessidade de preservar a humanidade e construir um "mundo       bom, belo e justo" contra a vulgaridade e a busca egoísta por poder e
      dinheiro.

Livros Mencionados:
 * "O Ponto de Cultura, o Brasil de Baixo para Cima": História do Cultura Viva,
   disponível em PDF.
 * "Por Todos os Caminhos, Pontos de Cultura na América Latina": Relato das  experiências internacionais.
 * "Sementeira, Grãos para Transformar Radicalmente a Sociedade via Políticas    Públicas": Análise crítica de políticas, incluindo os editais.
 * "Na Trilha de Macunaíma": Análise da obra de Mário de Andrade, fonte de
   inspiração para a Cultura Viva, e discussão sobre a redução da jornada de
   trabalho.

Perguntas e Observações dos Participantes:

 * Certificação: Um participante explicou que a certificação de Ponto de Cultura    pode ser feita digitalmente através do Mapa Cultura Viva.
 * Engajamento Municipal: A questão de como convencer os municípios a destinar   recursos federais de forma mais eficaz para a base cultural e evitar o uso    eleitoreiro foi levantada por "Curumim".

 * Problemas em Sergipe: Tácita  apontou que em Sergipe, os editais recentes de    Pontos de Cultura beneficiaram majoritariamente uma única região, A  PNAB fica sendo a única forma de financiamento do plano de cultura estadual, em vez de recursos próprios do Estado.
A reunião foi encerrada com Célio Turino reforçando a importância da Cultura Viva e o otimismo de que uma mudança profunda ainda é possível para o Brasil.



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