O ex-secretário de cidadania cultural do MinC fala do Cultura Viva e da ausência de continuidade de uma política de Estado
“A solução dos problemas do Brasil virá da escassez… e dos de baixo” Milton Santos
Por Laís Bellini
Célio Turino ocupou a cadeira da Secretaria de Cidadania Cultural
durante grande parte das gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira no
Ministério da Cultura durante o governo Lula e foi o responsável pela
criação e execução do Programa Cultura Viva que deu vida a mais de 3000
pontos beneficiados com o investimento público para que mantivessem suas
ações culturais nos mais diversos espaços, cidades e contextos. Célio
viajou o país todo, conhecendo de perto os projetos que estavam sendo
contemplados. Como cita em seu livro “Ponto de Cultura – o Brasil de
baixo para cima”, o Programa Cultura Viva “tem o caráter de uma politica
pública construtivista, fenomenológica. É simples, envolve observação
da vida; e é na simplicidade que busca a construção da consciência.”
O que há em comum entre todos os projetos contemplados é o centro
multimídia, espaço criado em suas sedes possibilitando o acesso à
internet e a compilação de conteúdo multimídia, espalhando o que há de
experiência cultural ali para todo o mundo. Além disso, o que vem
adiante é o criativo, a tradição, o local. “Com a tecnologia da
informação (…) o conhecimento (é) concentrado nos códigos fechados, no
software proprietário. A essência da cultura digital na rede dos Pontos
de Cultura é instigar os Pontos (e as pessoas) a exercitarem novas
formas de trabalho, colaboração e generosidade, por isso o software
livre.”
A aplicação do conceito de gestão compartilhada e transformadora para
os Pontos de Cultura tem por objetivo estabelecer novos parâmetros de
gestão e democracia entre Estado e sociedade. “Ao invés de entender a
cultura como produto, ela é reconhecida como processo.” Este novo
conceito se expressou com o edital de 2004, para seleção dos primeiros
Pontos de Cultura. “Invertemos a forma de abordagem dos grupos sociais e
o Ministério da Cultura disse quanto podia oferecer e os proponentes
definiam, a partir de seu ponto de vista e de suas necessidades, como
aplicariam os recursos.”
Os pontos são organizações culturais da sociedade que ganham força e
reconhecimento institucional ao estabelecer uma parceria, um pacto com
o Estado. “O ponto de cultura não pode ser para as pessoas, e sim das
pessoas. Seu foco não está na carência, na ausência de bens e serviços, e
sim na potência, na capacidade de agir de pessoas e grupos. Ponto de
Cultura é cultura em processo, desenvolvida com autonomia e protagonismo
social.”
Um ponto de questionamento diz respeito ao risco de esses movimentos
culturais irem se institucionalizando, perderem a espontaneidade ou até
mesmo serem cooptados. Diante desse contexto, Célio Turino afirma em seu
livro que “a cultura política e o elemento de emancipação surgem como
fundamentais para evitar esse processo de cooptação. Aqui entenda-se
cooptação a contaminação do “mundo da vida” (cultura, sociedade, pessoa)
pelo “mundo dos sistemas” (Estado, mercado). Em contraponto precisamos
encorajar uma ação que desenvolva e fortaleça competências do sujeito
(coletivo e individual), o reencontro com as pessoas e a sua capacidade
de agir enquanto agentes históricos”.
Para ele, o que sustenta a teoria dos Pontos de Cultura é a soma
Autonomia + Protagonismo que resulta em um contexto de rompimento de
relações de dependência ou de assistencialismo (comuns na aplicação de
políticas governamentais). Soma-se a esse resultado agregar a
articulação em rede. “Quanto mais redes houver, mais sustentável será o
processo de empoderamento social desencadeado pelo Ponto de Cultura”.
É nesse contexto que Célio Turino deixou seu cargo e viu o governo
Lula ser substituído pelo governo Dilma e os progressos do Ministério da
Cultura serem, de certa forma, interrompidos. Foi às vésperas da
substituição da então Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, para a
atual, Marta Suplicy (10/09/2012), que tivemos esta conversa que resume a
opinião de quem já sentou nas cadeiras do Ministério, lutou por
mudanças e viu seu esforço estagnar com um novo mandato.
Vídeo publicado em 08/10/2012
Entrevista com Célio Turino dada ao
Fluxos Culturais: O ex-secretário de cidadania cultural do MinC fala do
Cultura Viva e da ausência de continuidade de uma política de Estado
Entrevista e edição: Laís Bellini
Gravação e apoio: Taís Capellini
Entrevista e edição: Laís Bellini
Gravação e apoio: Taís Capellini
http://www.fluxosculturais.wordpress.com
http://www.facebook.com/fluxosculturais
Para acompanhar atualizações sobre os Pontos de Cultura:
http://pontosdecultura.org.br/noticias/oficios-cnpdc-07-e-082013/
Nenhum comentário:
Postar um comentário