adicionado em 14/08
Eu concordo...
Marielle Ramires
Renato Rovai
O Marcus Faustini da Agência de Redes Para Juventude se posicionou sobre os debates sobre as novas lógicas:
"desconfio de qualquer pessoa que tenta demonizar a Fora do Eixo e
Pablo Capilé. Uma coisa é fazer crítica, outra é demonizar. Digo isso
deste lugar: nunca fui alinhado diretamente com a organizacão, mas
sempre tive grande admiração pela capacidade
de invenção de um novo lugar no imaginário da cultura desta garotada
boa. Já discordei, concordei, deixei claro minhas críticas e também fui
criticado por eles.Com outros parceiros que respeito muito, mais
críticos com a FDE, também já defendi aspectos da experiência e também
já fiz coro nas críticas.Entretanto, o que está acontecendo agora não é
crítica, é demonização.E não posso concordar com este caminho que, ao
infantilizar o debate, caminha para o autoritarismo.Sim, demonizar algum
grupo ou pessoa é um dos aspectos do autoritarismo, como surto de uma
multidão apavorada que pretende queimar um corpo para se livrar de algo
que os assombra por ser novo e ainda não captura-se.Quero chamar atenção
de todos que estão se aventurando nesta trama, que é preciso saber o
por que isto está acontecendo, o por que desse linchamento que junta
tanto atores sociais diferentes, independente das críticas.
1- a fde não vem do dna da intelectualidade estabelecida
2- a fde disputou um modo de producão da indústria musical no país.
3- a fde disputou a narrativa do imaginário da cultura nos últimos anos.
4- a fde incomodou aqueles que narravam as manifestações ao disparar o ninja
5- a fde disputa o campo de influência de políticos importantes
Esse é o motivo da demonização, o tamanho que a fde virou, a sua força,
a sua capacidade de realização. É a peça teatral Roda Viva, do Chico
Buarque, acontecendo na vida. E assim, devo alertar que massacrando-os,
nao estaremos melhorando como campo social.Voltemos as críticas ao fde,
as críticas apaixonadas pelas diferentes visões de sociedade, mas sem
demonização."
-----------------------------------------------------------------------------------------
(Com novidades, role o cursor ) atualizado em 12/08
08/08/2013 | Publicado por Renato Rovai em Geral
As plataformas de redes sociais amanheceram
quentes a partir de um relato escrito pela cineasta Beatriz Seigner
acerca de práticas do Fora do Eixo. Não é a primeira vez que o grupo é
questionado, mas devido à grande exposição a partir da bem sucedida ação
do Mídia Ninja, a polêmica ganhou contornos de grande notícia. Fórum
publica o texto crítico ao FdE e uma resposta recém publicada por Bruno
Torturra, que esteve no Roda Viva junto com Pablo Capilé. A revista
também está tentando organizar um debate para a próxima semana com o
objetivo de discutir formas de se organizar em novos modelos numa
sociedade de redes. A ideia não é alimentar o pequeno debate, mas
contribuir pra que essas divergências contribuam para o crescimento
coletivo de projetos culturais sustentáveis e horizontais.
Leia aqui: AQUI
adicionado em 14/08
Eu concordo...
Marielle Ramires
Renato Rovai
O Marcus Faustini da Agência de Redes Para Juventude se posicionou sobre os debates sobre as novas lógicas:
"desconfio de qualquer pessoa que tenta demonizar a Fora do Eixo e Pablo Capilé. Uma coisa é fazer crítica, outra é demonizar. Digo isso deste lugar: nunca fui alinhado diretamente com a organizacão, mas sempre tive grande admiração pela capacidade de invenção de um novo lugar no imaginário da cultura desta garotada boa. Já discordei, concordei, deixei claro minhas críticas e também fui criticado por eles.Com outros parceiros que respeito muito, mais críticos com a FDE, também já defendi aspectos da experiência e também já fiz coro nas críticas.Entretanto, o que está acontecendo agora não é crítica, é demonização.E não posso concordar com este caminho que, ao infantilizar o debate, caminha para o autoritarismo.Sim, demonizar algum grupo ou pessoa é um dos aspectos do autoritarismo, como surto de uma multidão apavorada que pretende queimar um corpo para se livrar de algo que os assombra por ser novo e ainda não captura-se.Quero chamar atenção de todos que estão se aventurando nesta trama, que é preciso saber o por que isto está acontecendo, o por que desse linchamento que junta tanto atores sociais diferentes, independente das críticas.
1- a fde não vem do dna da intelectualidade estabelecida
2- a fde disputou um modo de producão da indústria musical no país.
3- a fde disputou a narrativa do imaginário da cultura nos últimos anos.
4- a fde incomodou aqueles que narravam as manifestações ao disparar o ninja
5- a fde disputa o campo de influência de políticos importantes
Esse é o motivo da demonização, o tamanho que a fde virou, a sua força, a sua capacidade de realização. É a peça teatral Roda Viva, do Chico Buarque, acontecendo na vida. E assim, devo alertar que massacrando-os, nao estaremos melhorando como campo social.Voltemos as críticas ao fde, as críticas apaixonadas pelas diferentes visões de sociedade, mas sem demonização."
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(Com novidades, role o cursor ) atualizado em 12/08
08/08/2013 | Publicado por Renato Rovai em Geral
Leia aqui: AQUI
(Sobre o depoimento de Beatriz Saigner, contrapondo-se às declarações do grupo Mídia Ninja, no último Roda Viva).
Eu li o depoimento de Beatriz Seigner, que vem servindo de
contraditório às propostas do Mídia Ninja, colocadas em discussão no
último Roda Viva e que entrou em pauta nacional. O depoimento sobre o
Fora do Eixo me pareceu raivoso, personalístico e intencionalmente
prejudicante. É como se ela, no momento em que as experiências
alternativas do grupo começaram a ganhar notoriedade e a nos levar a
intuir formas menos capitalistas para a produção de arte e difusão de
notícias, ela, a cineasta Beatriz Seigne, decidisse jogar areia no
brinquedo, por pura pinima. Prefiro aguardar novas opiniões e me
informar melhor sobre o tema.
Por enquanto, acho as propostas
do Fora do Eixo psicodélicas demais, uma reedição da Sociedade
Alternativa dos anos 60, só que mais articulada economicamente, se bem
que se apresente como desmonetarizada, trabalhando por escambo, o que, evidentemente, não pode ser bem assim.
Como profissional do jornalismo temo o descarte do jornalista formado
pela Academia, com seus conhecimentos consagrados e deveres éticos
inerentes à profissão. Qual será o papel do profissional jornalista,
fotógrafo, editor, no quadro proposto? Como serão definidas as relações
trabalhistas? Haverá filtro ou tudo será notícia, numa sofreguidão
midiática como a que acontece, hoje, com o avalanche de achaques
pessoais e idiotices inúteis de certos internautas nas redes sociais?
Mas o que os meninos da Mídia Ninja propõem é uma discussão oportuna e
essencial à prática da comunicação nestes tempos de novas mídias, e da
necessária desmonopolização dos veículos de comunicação. Ou estamos
satisfeitos que quatro ou cinco famílias detenham o exclusivo poder na
mídia brasileira, impondo-nos, descaradamente, os seus interesses
políticos, econômicos e culturais? Temos que encontrar soluções e as
propostas apresentadas pelo Mídia Ninja devem ser consideradas.
É muito cedo para conclusões.
Amaral Cavalcante
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Sobre o FdE: “Eu prefiro o viés que disputa essas novas organizações pela esquerda”
11/08/2013 | Publicado por Renato Rovai em Geral - (9 comentários)
Li muitos textos nos últimos dias sobre o Fora do Eixo,
principalmente porque tenho há uns dois anos relação próxima com o grupo
e queria tentar entender melhor por que o texto de Beatriz Seigner
desencadeou uma enxurrada de críticas ao FdE, algumas repletas de mágoa.
Outras de ódio. E, claro, também muitas de defesa quase apaixonada. Ou
de parceiros solidários, como a da UJS, cujo título é Somos Todos Fora
do Eixo.
É com base nessas leituras que vou fazer a entrevista de hoje, às
20h, com o Pablo Capilé. Seremos eu eu o Antônio Martins, do Outras
Palavras. Entre todas essas leituras, destaco dois textos. O primeiro
está publicado aqui.
É um estudo feito pelo pesquisador André Azevedo da Fonseca, da
Universidade de Londrina (UEL). Ele faz uma análise que destaca como
“uma visão crítica sem rancores ou deslumbres da rede de coletivos”.
Outro é o de Atílio Alencar, ex-integrante do FdE, e a quem conheci
pessoalmente, e que segue abaixo. Gosto do texto porque ele tem a
capacidade de debater o FdE sem entrar no que chama de Fla x Flu. E
debate modelos culturais, que é a discussão que mais me interessa nesta
polêmica toda.
A quem possa interessar: sobre a polêmica da vez, o Fora do Eixo
por Atílio Alencar
Antes de mais nada: se alguém espera ler aqui uma fábula de terror
psicológico pontuada por requintes de crueldade ou um conto de fadas
sobre dedicação e superação, esqueça. Não tenho a mínima intenção de
engrossar o caldo dos relatos passionais contra ou à favor do Fora do
Eixo. Aliás, acho lamentável que tanto quem ataca quanto quem defende,
tem optado por adotar uma linha de exacerbação dos aspectos pontuais que
ora geram a ideia de uma rede análoga a um pesadelo com grades de
ferro, ora pintam em cor de rosa a experiência da vida em coletivo.
Prefiro pensar que em algum ponto entre esses extremos, podemos tratar
do fenômeno da organização em si, do que ela significa, e não do
conjunto de seus dramas individuais.
Pois bem. Minha história junto ao FdE faz mais sentido se contada do
final – porque o início não difere muito de mil outras histórias: apenas
um rapaz latino-americano querendo viver o mundo da produção cultural
para além do caráter estrito do mercado, lá pelos idos de 2009. Foi em
dezembro do ano passado que, depois de um processo de longos meses de
reflexão, tomei a decisão de comunicar meu afastamento da rede – e mais
precisamente, da casa que eu compartilhava com outras cinco pessoas em
Porto Alegre. O procedimento para comunicar meu desligamento de uma
rotina de muito trabalho, viagens e reuniões inacabáveis (sim, no FdE,
boa parte do seu tempo desperto é, ou ao menos era, ocupado por reuniões
on line e off line) foi razoavelmente simples, muito embora doloroso
por motivos pessoais. Sentamos na sala da casa de onde não faria sentido
eu evaporar sem conversar com as pessoas; expus meus motivos, ouvi
questionamentos, respondi os que me eram possíveis, me reservei o
direito de silenciar sobre motivações de caráter íntimo. Ouvi votos de
felicidade, senti o desapontamento de alguns no olhar, trocamos abraços
sinceros e vim-me embora para Santa Maria, cidade de onde havia saído
cerca de um ano e meio antes para encarar a empreitada de trabalhar e
viver em Poa. Nunca fiz questão de alardear minha saída publicamente,
justamente para evitar especulações ou figurar nas intrigas que
naturalmente viriam a surgir, dado a curiosidade doentia sobre a vida
alheia que vez ou outra pauta as rodas e redes sociais. Contei para os
mais chegados, não menti quando alguém me perguntou; mas alarde, não vi
motivo pra fazer. E da confusão e fragilidade emocionais comuns aos
tempos de transição, fui aos poucos me reorganizando, reencontrando
velhos hábitos e amigos, constituindo um novo – ou velho – modo de vida.
Mesmo das atividades que precediam minha adesão ao FdE, me vi
repentinamente deslocado. Já não fazia sentido, por exemplo, seguir
associado ao Macondo Lugar, casa noturna que ajudei a fundar oito anos
atrás. Uma vez que a gestão da casa havia passado por um processo de
coletivização, e a mim já não interessava estar imerso em um estilo de
vida coletiva, o rompimento se fez a atitude mais coerente a ser tomada.
E assim procedemos, formalizando meu afastamento definitivo do quadro
de sócios do Macondo, mediante aquisição das minhas cotas-proprietárias
pelos demais administradores.
Dessa passagem da minha vida, o que poderia interessar ou contribuir
para as discussões atuais? Acho que alguns pontos merecem ser
sublinhados: desde que saí do FdE, rompi contato com praticamente todo
mundo da rede, salvo raras e brevíssimas excessões. Não me tornei, no
entanto, nenhum recluso, muito menos nos ambientes virtuais. Falo muito,
opino muito, teço críticas e elogios no campo da política, da
comunicação e da arte, me envolvo em campanhas orientado única e
exclusivamente por minha vontade individual de participar dos debates
contemporâneos. Nunca recebi mensagem dos gestores do FdE, entretanto,
recomendando cautela ao assumir posições políticas em função da natural
confusão que minha saída não divulgada poderia causar – e de fato
causou. Critiquei abertamente interlocutores do FdE, fiz críticas que
poderiam muito bem ser endereçadas a eles, e assim como não sofri
assédio na ocasião de meu afastamento, também não o senti ao optar pelo
dissenso. Se aconteceu com outros, como está sugerido em alguns relatos
recentes, e isso não se tornou um debate aberto, me pergunto quais
teriam sido os motivos do silêncio. Não há registro de “queima de
arquivos” por parte do FdE, e a condição franzina da maioria dos meninos
da rede não chega a inspirar receios quanto à violência física. Se a
mim fosse recomendado o silêncio, eu teria respondido fazendo uso da
minha liberdade de expressão – e não teria esperado nenhum segundo
sequer para isso. Estranho que a enxurrada de depoimentos das supostas
“vítimas” coincida com o momento de visibilidade global da Mídia Ninja
(iniciativa que tem origem junto aos midialivristas do FdE); se isso não
invalida o debate, como de fato não o faz, ao menos suscita
questionamentos sérios sobre integridade e oportunismo por parte de quem
efetua os ataques. Não há discurso descomprometido, e me intriga a
motivação tardia dos que resolveram só agora falar.
Mas isso é só desconfiança minha, e portanto, vazia de valor porque
carente de fundamentação. Melhor seria, talvez, aproveitar o gancho de
algumas denúncias para ampliar o debate.
Sobre a Beatriz Seigner e sua malfadada experiência com o FdE: não a
conheci pessoalmente, assim como não estive diretamente envolvido em
nenhuma conversação com ela. Mas lembro de uma troca de e-mails que
acompanhei como observador, que registrava sua indignação com o que ela
classificava de “descaso” com a arte por parte dos integrantes do FdE.
Segundo Beatriz, o fato de as pessoas ligadas à rede não consumirem bens
culturais na mesma medida em que se envolviam com produção ou discussão
sobre políticas públicas seria um atestado de miséria estética e
intelectual, uma falha imperdoável na formação individual, uma opção
intencional pela pobreza de espírito. Isso, essa leitura dela, dá margem
para uma discussão pertinente, mas que não traz em si nenhuma novidade.
A relação entre militância e fruição remonta, quem sabe, ao início do
século passado, ou antes. Mas tem outros elementos a serem levados em
conta. Particularmente, pertencendo à geração que pertenço (não sou um
nativo da era digital; a maior parte das minhas leituras não se realiza
na tela de um monitor), me causa estranhamento a rapidez vertiginosa com
que se acessa hoje (via downloads de arquivos compartilhados ou
streamings que não geram remuneração para o autor) vastas discotecas que
são tão facilmente acumuláveis quando descartáveis. Sou mais habituado
ao tempo dos discos de vinil e laser, seus rituais de eleição e sua
atmosfera, seu tempo fora do tempo funcional. As trilhas sonoras da
minha vida, elas não me arrebataram enquanto eu manipulava uma planilha
no Google Docs, nem cabem na urgência do formato mp3. Mas isso não
significa que eu ache plausível pautar a discussão sobre Cultura Digital
à partir das minhas preferências ou caprichos. Quando o FdE faz a opção
aparentemente etapista de primeiro fazer e depois aproveitar, eu não
estou de pleno acordo. Mas consigo entender a provocação contida na
frase “ler é perda de tempo”. Já ouvi, aliás, consideração semelhante
por parte de intelectuais engajados em relação à ficção e poesia. Fiquei
surpreso, mas entendi a opção como um gesto radical que descarta a
leitura recreativa em nome do domínio das ferramentas conceituais de
luta. Além disso, com os jovens do FdE provavelmente ocorra o que ocorre
com uma geração inteira: sua forma de assimilar é outra, a
simultaneidade se apresenta como o modo óbvio de lidar com os diversos
campos de conhecimento, os suportes passivos (como livros e discos)
estão desgastados perto do grau intenso de interação virtual, e sua
atenção é difusa demais para ser suportada em uma página de cada vez,
como exige a leitura tradicional. Se isso é bom ou ruim? Nem acho que
possa ser avaliado em tais termos. Mas é diferente, intrigante. Abre
novas possibilidades de formação, com os quais a educação formal não
sabe ainda como lidar. Daí a dizer que é mais pobre, eu não diria; muito
menos desautorizaria essas pessoas a debater cultura dessa nova
perspectiva. Assim, no campo simbólico, eu prefiro ler na reclamação da
Beatriz mais um desconforto dela frente ao modo irreverente com que as
novas gerações se colocam frente à ideia de cultura, do que propriamente
uma denúncia de “traição à arte”. Porque se sua equação for simplista a
ponto de dividir o mundo entre analfabetos e ilustrados culturais,
entre alta e baixa cultura, estaríamos falando de uma artista nos moldes
aristocráticos, indissociável dos milhares de pedantes que ainda tratam
de arte como tema para espacialistas. E imagino que a Beatriz, sendo a
artista-pesquisadora que é, não deve querer ser considerada um deles.
Ainda quanto às expectativas frustradas expressas pela Beatriz em sua
carta, percebo ali o descontentamento habitual de quem produz cinema,
contando com parcos recursos e boas ideias, e sofre com o constante
risco do vácuo, do produto visto por poucos e logo engavetado, ou
perdido em meio aos ruidosos canais virtuais, onde a tarefa de se
separar o joio do trigo é sensivelmente mais desafiadora. Mas é um
discurso de autoralidade, por si só discutível, como tudo o é, nesses
tempos de ressignificação. Ela viu no FdE a oportunidade de fazer
decolar seu filme. Quem sabe uma fala mais apaixonada tenha despertado
nela o vislumbre de uma fórmula alternativa e supostamente infalível de
sucesso; mas o projeto, seja pelo motivo que for, não foi levado
adiante. Imagino o tamanho da decepção, mas não consigo, sinceramente,
ver nesse naufrágio nenhum indício de crime capital. Produtoras
convencionais concebem e engavetam projetos com a mesma naturalidade com
que trocamos de roupa. Porque seria diferente com coletivos que
dependem diretamente da mobilização de pequenas células e da incerteza
orçamentária para viabilizar suas ideias? O que não entendo – e isso não
passa por deslegitimar a Beatriz como uma interlocutora importante em
momento algum – é como e porque, à partir de uma insatisfação pontual de
um autor em relação ao projeto que envolvia o seu filme, se constroi
misteriosamente uma convergência entre colunistas da imprensa
corporativa, articulistas partidários, teóricos radicais do “comum” e
militantes ocasionais. Vocês conseguem perceber a contradição gritante
implicada em, por exemplo, em defender o copyleft e reconhecer e exaltar
o pixo e o remix como linguagens artísticas autênticas, e ao mesmo
tempo, aderir e tomar como sua uma campanha essencialmente orientada
pela noção de propriedade intelectual? Pois eu tenho lido arroubos de
irracionalidade muito intrigantes, nesse sentido. Coisa típica de uma
caça às bruxas, na qual o consenso sobre o acusado é mais importante que
os diversos discursos que, mesmo contraditoriamente, o sentenciam.
Agora, se o que a Beatriz cobra no seu texto for verdade, sobre
compromissos financeiros supostamente assumidos e não cumpridos, imagino
eu que a solução é simples: que seja calculado e pago o que o Fora do
Eixo deve à ela. Simples. Se em nenhum momento houve acordo quanto a um
cachê desmonetarizado, se ela não se sentiu contemplada por trocas de
serviço, se houve qualquer espécie de engodo ou calote, a dívida é
vigente e tem que ser sanada. Se, no entanto, ela mudou de ideia somente
um ano depois sobre o acordo firmado, fica como uma experiência de
resultados aquém dos projetados, mas não distorcidos nem criminosos.
Aliás, quanto ao filme da Beatriz, que não deveria ser eclipsado no
debate aberto por ela: lembro que assisti quando houve a exibição em
Porto Alegre e gostei bastante; se não me engano, aqui em Santa Maria,
segundo o relato das pessoas que o projetaram, a exibição reuniu cerca
de 100 pessoas, o que é um número considerável para qualquer um que
conheça a realidade dos cineclubes. Ou seja, não me parece que tenha
sido uma parceria totalmente infrutífera.
Já quanto ao texto da Laís, que importa no que diz respeito à
organização interna do FdE e no modo de convívio entre os integrantes
dos coletivos, vou buscar dar um relato que abrange apenas parcialmente a
experiência da rede, mas que considero um ponto de vista importante,
dado que fui morador da segunda Casa Fora do Eixo criada no país. Dividi
o espaço com cinco outros moradores fixos e vários viventes ou hóspedes
que passaram pela casa. Vi gente deslumbrada num primeiro momento que
simplesmente percebeu que a vida coletiva não era o que esperava, ao
menos ali, depois de poucos dias. Vi gente chegando desiludida com a
vida universitária e aos poucos se aprimorando em linguagens como
fotografia, edição, design gráfico. Vi gente se divertindo ao
compartilhar as tarefas domésticas mais prosaicas, e brigando por
motivos ordinário (embora isso não fosse regra). Vi gente satisfeita
quando as coisas davam certo e desestimuladas quando davam errado;
alguns, como eu, buscavam os velhos amigos ou a família quando achavam
que o convívio estava saturado, viciado, ou se encontravam numa fase
depressiva. Assim como seres humanos normais, entendem? Cheios de
convicções e dúvidas, oscilações, companheirismo, divergências, mas
nunca desprovidos do direito primordial de optar pela porta da rua.
Sobre quase tudo, se conversava abertamente, numa tentativa de
desmistificar tabus e crises pessoais. Se isso é escravidão, não saberia
como definir qualquer outro ambiente de trabalho ou estudo. As opções,
quando se está num coletivo, para mim seguem parecidas com as de outras
situações da vida social, e por maior que seja o grau de autonomia, não
há garantias dentro nem fora. Tudo depende da soma da sua disposição,
sensibilidade e diversos outros fatores externos que não são
determinados por uma simples escolha. Não fosse assim, estaríamos
vivendo numa sociedade livre. E não é o caso do sistema capitalista,
pelo que me parece.
Há casos de machismo no Fora do Eixo? Eu não diria que há casos,
porque isso levaria a supor que existe algum ambiente social imune à
essa tradição, onde já tivéssemos superado os séculos de patriarcado em
nome de uma igualdade de condições, em que o machismo fosse tão somente
um “tropeço”. Havia incidência e discussão. Havia, como deve haver
ainda, laboratórios, oposições, falas e silêncios. No tempo em que morei
na Casa Fora do Eixo em Poa, executei tarefas como a limpeza dos
banheiros, ao mesmo tempo em que achei normal que as mulheres
predominassem no revezamento na cozinha. Por preconceito ou costume (o
que dá no mesmo, nesse caso), mas com a diferença que ali isso não
estava naturalizado, não era uma prática blindada. Fui tão machista
vivendo lá como tento não ser em qualquer outro lugar. Se agi,
eventualmente, como se nós homens tivéssemos alguma atribuição
exclusiva, e as mulheres idem, isso não foi tema proibido em reuniões de
avaliação. Minha proposta de desconstruir o machismo em mim não é
nenhuma garantia de “cura”; imagino que deve ser assim como todo homem
que se propõe a encarar um processo parecido. O desafio de romper com os
paradigmas sociais de opressão começa na escala das micro-relações,
geralmente as menos perceptíveis. Assim, se até mesmo a Laís foi
perceber, segundo ela mesma, que várias vezes protagonizou disputas
movidas pelo egocentrismo, ela pode bem imaginar que o restante dos
moradores não estaria livre desse tipo de atitude. Talvez eu encarasse o
relato de forma distinta se nunca houvesse saído do ambiente familiar
para viver em repúblicas estudantis, se não tivesse enfrentado o
cotidiano de truncada administração que muitas vezes torna a lavagem da
louça uma crise em potencial, ou a negociação dos quartos uma questão
essencial para a privacidade. Mas tudo isso eu vivi antes do FdE, e não
me causa estranhamento que um coletivo com organização interna eleve
essas questões a um nível mais rigoroso, estabelecendo regras de
convívio. Regras são discutíveis, claro. Mas não posso concordar, porque
não testemunhei nada parecido, que a carga de trabalho das mulheres no
FdE as coibisse do convívio social, ou que as relegasse a postos
subterrâneos. Na casa onde morei, inclusive, as gestoras eram
praticamente todas mulheres, com idêntico ou maior espaço de fala que os
homens. Pelo que percebo em publicações nas redes sociais, segue sendo
assim. E não foram poucas as vezes em as meninas, tanto quanto os
meninos, largavam o que estavam fazendo para desestressar numa mesa de
boteco.
Que o choque de uma vivência assim seja negativo para alguns, não
tenho porque duvidar. Que tenha perturbado o equilíbrio psicológico da
Laís, acredito também. Afinal, do pouco que conheço dela, através dos
relatos que ela mesmo fez, percebo que se propôs a uma reviravolta
grande na vida. Mas o exercício do livre-arbítrio está aí para garantir a
nossa saúde, em caso do meio ser encarado como opressor. Foi o que ela
fez, o que me parece uma atitude coerente com suas aflições. Só não
entendo exatamente porque a insistência no tom proscritivo, como se
nossos fracassos pessoais fossem indexadores das experiências alheias.
Mas enfim, me demorei mais do que gostaria na análise dos relatos que
vieram à tona recentemente. Acho que movido pelo tom sensacionalista
com que foram divulgados e até festejados, de maneira eufórica pelos
mais obcecados, eu posso ter me contaminado pelo clima de “Fla x Flu”.
Não acho que seja o caso de cair na cilada da polarização “bem versus
mal”. Nem acho que o FdE, por ter sido a organização na qual militei num
passado recente, esteja acima dos debates necessários. Mas desconfio
muito de todo linchamento público cuja justificativa seja a
“moralização”. Nisso, com todos os erros – coletivos ou individuais –
que possam estar contidos na atuação do FdE, eu acho que há uma pressa
estranha em classificar o coletivo como a “maçã podre” das organizações
contemporâneas. Quando oriundas da direita, a vulgaridade das críticas
não me surpreende: “máfia”, “cartel vermelho” e “petralhas” são infâmias
recorrentes nas bocas de parte da grande imprensa; já algumas críticas
que se pretendem à esquerda, surpreendem pela incongruência entre o que
exigem e o que de fato praticam enquanto coletivos. Grupos de
intelectuais formados por carreiristas acadêmicos e empresários
convencionais, repentinamente, convertem-se em juízes de qualquer
concessão, como se o lugar de sua fala fosse isento das contradições que
condenam com tanta veemência.
A isso, ao espetáculo da carnificina que iguala humores antagônicos,
eu prefiro o viés que disputa essas novas organizações pela esquerda,
mas sem a paixão pela derrota. Antes de qualquer condenação sumária, eu
quero é apostar que o Fora do Eixo vai assumir a responsabilidade
histórica de estabelecer uma ética radical de transparência, criando
canais de debate ainda mais densos sobre a relação financiamento e
autonomia no Brasil. Eu quero mais é que as camadas retóricas que
porventura possam obscurecer o funcionamento das moedas solidárias sejam
amplamente aprofundadas, gerando materiais didáticos legíveis, de fácil
replicação e adequação por parte de empreendimentos periféricos e
colaborativos. Se o feminismo no FdE é incipiente, eu desejo mesmo é que
a organização seja provocada a debater com as feministas clássicas e
com as vadias contemporâneas os projetos de luta e emancipação feminina.
Que o papel de uma rede como o FdE enquanto entidade de interesse
público seja de fato hackeável, que toda tecnologia gerada pela rede
seja posta a serviço dos movimentos sociais sem ônus nem acúmulo
material ou simbólico para nenhum dos envolvidos. Que movimentos ainda
precarizados tecnologicamente se apropriem e potencializem sua atuação à
partir do compartilhamento de saberes. Que a Mídia Ninja seja lida como
mais uma das experiências interessantes, e que seja canibalizada por
outras mídias, menores, invisíveis, autônomas, para que no caso dos
ninjas sucumbirem ao mercantilsmo da informação, outros tantos
tentáculos sigam fazendo o contraponto nas ruas. Que uma liderança como
Pablo Capilé (porque sim, Pablo é uma liderança e das mais instigantes)
seja constantemente intimado a renunciar à tentação do poder
cristalizado em nome de estar junto, mas nunca acima dos movimentos
sociais.
Pra mim, se não for isso, é recuar pela direita; é como se
decidíssimos nos retirar das ruas com medo das marchas serem cooptadas
pelo inimigo, ao invés de disputá-las.
Basicamente, é isso que eu tinha pra dizer.
*Ah, sim, só mais um detalhe: você que se declarou chocado com as
supostas “terríveis violações de direitos humanos” praticadas por
integrantes do Fora do Eixo, mas adora fazer uma piada com a deformidade
labial do Capilé, saiba que o inferno é mesmo cheio de contradições.
Piadas são um tipo de discurso que naturalizam preconceitos; mulheres,
negros e gays que o digam.
----------------------------------------------------------------
Leia também:
"Nos
últimos dias, manifestações isoladas, surgidas de experiências
negativas com o consórcio de produtores culturais denominado Fora do
Eixo, começam a se transformar num esquema organizado com o objetivo de
demonizar a Mídia Ninja, a partir de problemas com a rede de ativismo
cultural do qual nasceu a experiência da “massa de mídias”.
Nesta semana, o assunto chegou à revista Veja, com o tratamento rasteiro
e preconceituoso que há alguns anos caracteriza a publicação semanal
brasileira de maior circulação. A partir daí, como acontece com os temas
onde é inoculado o veneno do antijornalismo de Veja, o debate se
transformou em bate-boca."
Leia artigo no Observatório da Imprensa: http:// www.observatoriodaimprensa.com. br/news/view/ uma_ruptura_na_industria_cultur al
-------------------------------------------
Mais: De Partido Pirata do Brasil - Via Face - AQUI
A grande repercussão nas redes sociais sobre o Fora do Eixo (FdE) faz surgir o #FdELeaks.
Segundo consta no site, "é uma plataforma anônima de captação e
publicação de denuncias que revelem funcionamentos obscursos deste
Coletivo."
O que vocês pensam sobre isso?
http://www.foradoeixo.sx/
--------------------------------------
Mídia Ninja. ‘A disputa pelo poder midiático’. Entrevista com Fábio Malini
"A cultura
nativa da rede acaba entrando em conflito com a cultura secular do jornalismo
na medida em que há, na rua, uma disputa, um confronto com a estrutura de poder
existente”, aponta o pesquisador.
AQUI
Leia o que foi publicado no blog da Ação Cultural sobre o Fora do Eixo. AQUI
----------------------------------------
Para esquentar o debate:
Alexandre Barreto
Este
livro é uma grande contribuição para as pessoas que tem dificuldade de
pensar que existe uma dimensão econômica nas atividades culturais. A
primeira vez que tive contato foi através de recomendação do professor e
pesquisador José Carlos Durand da Unicamp.
Quem insiste em
discutir que produção cultural para ser produção cultural não pode ter
qualquer relação com a economia (tem muito graduado, mestre e doutor que
pensa isso) irá contribuir mais com a produção cultural se ler este
livro.
Entender as relações econômicas existentes no trabalho
gerado pelas atividades culturais preveni que as pessoas acreditem em
coletivos e redes cujos líderes (que ainda se autodenominam produtores
culturais), que tem relação direta com financiamento de partidos
políticos, se aproveitam da boa fé de quem quer fazer acontecer a
cultura, propondo trabalho sem remuneração, para depois criar um bom
release, divulgar nas redes sociais e mentir que movimentam moedas
sociais, trabalham em regime de economia solidária e que são
transformadores sociais.
Excelente leitura, de verdade.
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Existe consenso em SP? Reflexões sobre a questão da cultura (1ª parte). AQUI
São Paulo: Diferentemente da
antiga indústria cultural, ao vincular a sua imagem a elementos
simbólicos produzidos colaborativamente, o novo empresariado da cultura
aproveita-se dessa riqueza enquanto capital simbólico coletivo, que ao
final do processo haverá de ser revertido em dinheiro. Por Passa Palavra
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9 de agosto
Fonte: http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2013/08/09/algumas-perguntas-para-pablo-capile-o-fora-do-eixo-e-a-midia-ninja/
Algumas perguntas para Pablo Capilé, o Fora do Eixo e a Mídia Ninja - Andre Forastieri
A semana foi uma montanha-russa para a rede Fora do Eixo, e um
de seus braços midiáticos, a Mídia Ninja. Pablo Capilé, gestor do Fora
do Eixo, e Bruno Torturra, coordenador de comunicação do FDE, e face da
Mídia Ninja, começaram dando baile em baluartes da imprensa no programa Roda Viva,
na segunda (5). E chegaram à quinta sob ataque cerrado, enfrentando
denúncias, e principalmente depoimentos impactantes de ex-integrantes do
Fora do Eixo.
Eu já tinha publicado uma entrevista com Bruno. Na terça (9), comentei o Roda Viva.
Na quarta (10), convidei Pablo para uma entrevista aqui no blog, e ele
aceitou. Na quinta, enviei as perguntas abaixo. No mesmo dia, Capilé as
publicou em seu perfil no Facebook.
Eu não pretendia publicar as perguntas sem resposta. Mas já que ele
tomou a iniciativa, e disse que vai respondê-las nos próximos dias,
deixo aqui registradas também.
O "algumas" do título é brincadeira. São um monte. E muitas outras
não incluí. O Fora do Eixo é complexo. Não foi nenhum grande esforço de
reportagem. Minha pesquisa levou algumas horas, três telefonemas, e
tive a sorte de contar com algumas fontes muito bem informadas.
O mais estranho não é que eu tenha elaborado tantas perguntas. O mais
estranho é que eu, que tenho um simples blog, e outro emprego, tenha
feito isso tão fácil e tão rápido. E a imprensa - tradicional ou
independente - jamais tenha se dado ao trabalho.
Abaixo, a íntegra do email que mandei para Pablo Capilé e Bruno Torturra.
Oi Pablo,
aí está. Um questionário e tanto!
E olha que ainda cortei muitas perguntas.
Como você sabe, o Fora do Eixo tem muitos críticos.
E todo mundo resolveu me procurar, quando anunciei que preparava uma entrevista contigo...
Dei uma boa peneirada. Mesmo assim sobrou um tanto de perguntas provocativas.
E outras que são bem pragmáticas mesmo.
As regras são as mesmas da entrevista que fiz com o Bruno Torturra: as
suas respostas serão publicadas na íntegra e nesta mesma ordem. Só
editarei se for realmente necessário, e somente por questões de espaço e
de padronização de texto do R7.
Confirma se recebeu, OK?
Obrigado, abraço
André
título: Uma entrevista com Pablo Capilé, gestor do Fora do Eixo
Quantas organizações compõem a rede Fora do Eixo?
O que elas são - empresas, ONGs Oscips?
Quantos CNPJs?
Cada uma tem autonomia para captar recursos e participar de editais independentemente, ou há uma coordenação nacional?
Existe um caixa único?
O que é o Banco Fora do Eixo?
Existe uma prestação de contas unificada, ou cada organização presta contas separadamente?
Qual é o total de recursos que a rede Fora do Eixo recebeu em 2012?
Quanto destes recursos veio de editais, quando de patrocínios e apoios, quanto de festivais, e quanto de outras fontes?
Quanto veio de recursos públicos, seja via editais, patrocínios, publicidade ou qualquer outra modalidade de apoio?
O Fora do Eixo defende a transparência e afirma que suas contas e
planilhas estão à disposição de quem quiser. Onde estão disponíveis
planilhas que dêem conta de todas as movimentações do FDE?
A área de "empreendimentos" do site do FDE está em manutenção pelo menos desde fevereiro passado. Por quê?
Esta planilha de prestação de contas é difícil de analisar. Às vezes os valores aparecem em número, às vezes por extenso, o que dificulta a soma direta. Por quê?
A cada ano, nesta planilha, há projetos que não incluem resultados. A
gente sabe que às vezes fica para outro ano. De todos os projetos
apresentados pelo FdE, qual a proporção que é aprovada e qual a
proporção rejeitada?
O FDE já afirmou que 7% do total de seu orçamento vem de dinheiro
público. No Roda Viva, você falou em 5%. Isso indica que o FDE tem um
orçamento consolidado. Tem ou não tem? Se tem, você pode divulgar?
E onde estão as informações sobre os investimentos de empresas privadas e receitas de outras atividades, que somam esses 95%? Esta planilha divulgada pelo FDE não contém valores nesse montante.
O que é a Universidade Fora do Eixo?
Quantos estudantes e quantos professores estão na Universidade Fora do Eixo?
Os estudantes pagam? Quanto?
O site da Universidade Fora do Eixo lista dezenas de docentes. Eles recebem? Quanto?
Alguém já se formou nessa Universidade?
Qual é o orçamento da Universidade FDE, e quem gere este orçamento?
No site da Universidade Fora do Eixo, há um crédito: "Realização:
Ministério da Cultura, Petrobras, Fora do Eixo", com os logotipos. Qual a
participação, e o investimento financeiro, do Ministerio da Cultura e
da Petrobras na Universidade Fora do Eixo?
A Petrobras vem sendo um grande apoiador das iniciativas do Fora do
Eixo. O FDE já indicou alguém para participar das instâncias que decidem
os patrocínios da Petrobras?
O Fora do Eixo já apoiou candidatos a cargos públicos? Quem?
O Fora do Eixo já indicou alguém para participar de governos? Quem?
Embora o FDE tenha entrado de cabeça no movimento Existe Amor em SP,
contra Russomano e pró-Haddad, a secretaria de cultura de São Paulo está
com Juca Ferreira, e com o chefe de gabinete Rodrigo Savazoni. Savazoni
é da Casa de Cultura Digital e independente do Fora do Eixo. Você acha
que o FDE mereceria mais espaço na gestão Haddad?
Quantas pessoas trabalham em período integral na rede Fora do Eixo?
É obrigatório para quem trabalha em período integral no FDE morar nas Casas Fora do Eixo?
Qual é a faixa etária dessas pessoas?
Três pessoas diferentes me disseram que os integrantes do Fora do
Eixo são pressionados a se relacionar amorosamente somente com outros
integrantes do FDE. Quem quiser namorar com alguém de fora é convidado a
sair do FDE. É verdade ou mentira?
Há relatos de que uma criança mora em uma Casa Fora do Eixo,
apelidada "Bebê 2.0". Seria filho de dois militantes do FDE, mas seria
criada coletivamente, por vários "pais" e "mães". O pai e mãe biológicos
não teriam poder paterno sobre a criança. É verdade?
O Fora do Eixo criou diversas moedas virtuais: Cubo Card, Goma Card,
Marcianos, Lumoeda, Palafita Card e Patativa. Como elas são utilizadas?
Por quê criar diversas moedas, e não uma só?
Essas moedas virtuais podem ser trocadas por reais? Se sim, qual o câmbio? Se não, por quê não?
Quem trabalha para o Fora do Eixo recebe em moedas virtuais. Se sair do FDE, o que vai fazer com suas moedas virtuais?
No site da Casa Fora do Eixo, há, em destaque, um logotipo da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Qual o valor do apoio da
Secretaria à Casa Fora do Eixo?
O Estado de São Paulo é governado pelo PSDB. O Fora do Eixo aceita apoio de governos de qualquer partido?
O governador Geraldo Alckmin foi o principal alvo das manifestações
em São Paulo. Você vê alguma contradição em receber apoio de um governo e
militar contra ele?
A homepage do Portal Fora do Eixo traz três patrocínios federais:
Ministério da Cultura, programa Cultura Viva e Programa Mais Cultura.
Isso não provoca no leitor uma ideia imediata de vinculação entre o FDE e
o governo federal?
O que é o Partido da Cultura? É ligado ao Fora do Eixo?
No site do Partido da Cultura, o último post é de janeiro de 2012. No
twitter, de março de 2012. Ele está ativo? Pretende se constituir como
partido regular e disputar eleições?
O FDE vem se aproximando de Marina Silva e seu projeto de partido, a
Rede, inclusive colaborando na campanha de assinaturas. Há alguém
indicado pelo FDE na executiva da Rede?
Se Marina Silva vencer a eleição para presidente, o FDE pretende indicar o ministro da cultura?
O Fora do Eixo costumava proclamar a política do "pós-rancor". O
termo "pós-rancor" é criação de Claudio Prado, chefe do programas de
cultura digital do Ministério da Cultura na época de Gilberto Gil e Juca
Ferreira. Segundo a teoria do pós-rancor, as tensões entre capital e
trabalho estão superadas, o conflito agora é entre quem tem informações e
quem não tem. Cláudio Prazo é muito próximo do FDE, tem até programa na
Pós TV. Mas nas manifestações de rua, o que não falta é rancor e
polarização, ainda mais nos últimos protestos. O "pós-rancor" morreu?
Uma fonte me disse que o Fora do Eixo costuma apoiar determinados
candidatos em eleições municipais e estaduais, com os militantes
trabalhando diretamente nas campanhas. Se o candidato vence, o Fora do
Eixo indica gente para a secretaria de cultura, geralmente pessoas que
não são do FDE, mas próximas. Seriam mais de dez secretários da cultura
no Brasil. É verdade?
A Mídia Ninja, como a Pós-TV, é do Fora do Eixo. O FDE recebe verbas
de grandes corporações, como Vale e Petrobras. O Fora do Eixo financia a
Mídia Ninja, que critica o grande capital, e principalmente a grande
mídia. Afinal, FDE e a Mídia Ninja são contra o grande capital ou a
favor?
Diversos apoiadores do FDE trabalham ou trabalharam na grande
imprensa. A principal figura da Mídia Ninja, Bruno Torturra, trabalhou
anos na Editora Trip, chegando a diretor de Redação. Contratou, demitiu,
controlou orçamentos. Além da Trip, a editora faz revistas pra grandes
corporações, como Gol, Pão de Açúcar e Audi. Seu emprego mais recente
foi na TV Globo, como redator do programa Esquenta, com Hermano Vianna e
Regina Casé. Você vê alguma contradição nisso?
Você acha que quem participa dos protestos tem consciência de que a
Mídia Ninja e o FDE recebem apoio financeiro de grandes empresas, e
governos de diversos partidos?
O Fora do Eixo costumava ser muito ativo nas redes sociais. Mas no
auge das manifestações em S. Paulo, você abandonou o Twitter. Entre 11 e
18 de junho, não publicou nada, sendo que a manifestação em que a
repórter da Folha foi ferida no olho aconteceu no dia 13.
Coincidentemente, o twitter do Fora do Eixo tb não publicou nada entre
13 e 22 de junho. Vc só voltou ao twitter pra divulgar as transmissões
da Mídia Ninja e pra anunciar que o prefeito Haddad ia baixar as
tarifas. Por quê?
No começo deste ano, o Fora do Eixo publicou na internet o glossário
do FDE: termos que devem ser conhecidos e usados por todos os
militantes. Outros coletivos fizeram críticas, o FdE tirou o texto do
ar, depois republicou, mas com alterações. A principal: eliminou o
verbete "choque pesadelo". O verbete era assim: "Choque pesadelo:
Embate conveniente direcionado a alguém que vem conflitando ideias
através de críticas não propositivas que desestimulem uma pessoa, ou
grupo. O choque pesadelo serve como uma fala direcionada que busca
esclarecer situações através do "papo reto". Ex. Tivemos uma conversa
franca que serviu como choque pesadelo para ele. Ler também "papo reto".
Pode explicar?
Muitos críticos do FDE dizem que o Fora do Eixo é uma seita, com
regras rígidas para todas as ocasiões. O fato de existir um glossário
tão detalhado não dá razão aos que criticam o FDE por ser uma espécie de
seita?
O que é "catar e cooptar?"
Embora o FDE se apresente como uma rede, ex-integrantes do FDE dizem
que a estrutura é totalmente verticalizada, e que você é como um guru na
organização - jamais é questionado por ninguém. Quais outros
integrantes do FDE têm influência próxima à sua?
Muitos coletivos de esquerda e movimentos populares não se dão com o
Fora do Eixo. É o caso do Movimento Passe Livre, do MST, Movimento Hip
Hop, Ocupa São Paulo e vários outros. A que você atribui essa rejeição?
Um conhecido jornalista de esquerda, José Arbex, escreveu um texto
com críticas pesadas ao Fora do Eixo, em 2011, na revista Caros Amigos:
"Lulismo Fora do Eixo". Ele conta que durante a preparação da Marcha
pela Liberdade, em maio de 2011, você mencionou a possibilidade de a
Coca-Cola patrocinar a marcha, e que a Coca nem fazia questão de sua
marca aparecer --era só pra ficar bem com os movimetos progressistas.
Outros coletivos rejeitaram o patrocínio. Várias pessoas contaram a
mesma versão dessa história. Isso é verdade? Se não é, exatamente o que
você disse nessa reunião? Se isso não é verdade, o que foi que você
disse nessa reunião?
O coletivo de esquerda chamado Passa Palavra se destaca nas críticas
ao Fora do Eixo. Em um texto muito alentado, de 2011, eles afirmam que:
a) o Fora do Eixo tem 57 CNPJs diferentes; b) o FDE é uma máquina de
ganhar editais, que floresceu nas gestões de Gilberto Gil e Juca
Ferreira no MinC, por meio do programa Cultura Viva, dirigido pro
Claudio Prado. Segundo o Passa Palavra, o FDE participava da elaboração
de editais da área digital do Minc, editais esses que eram vencidos pelo
próprio FDE. Como você responde a essas acusações?
O Fora do Eixo começou em Cuiabá, com o Festival Calango. Esse festival não existe mais, apesar do crescimento do FDE. Por quê?
Você já disse defendeu várias vezes de que os artistas que tocam em festivais não deveriam receber cachês. Por quê?
Se os artistas não ganham para tocar, não ganham para divulgar música na internet, e o mercado de discos está em baixa, do que os artistas devem viver?
O FDE agencia shows? De que artistas? Como o FDE é remunerado por agenciar shows?
Os festivais independentes de rock brasileiros eram reunidos, desde
2005, numa entidade chamada Abrafin. Qual a relação atual entre a
Abrafin e o Fora do Eixo?
Em 2011, treze festivais independentes, incluindo alguns dos mais
importantes do Brasil, como o Goiânia Noise e o Abril Pro Rock (de
Recife), abandonaram a Abrafin. Alegaram que o FDE tentava impor um
paradigma único a todos os festivais. E que os festivais se viam
obrigados a chamar sempre os mesmo artistas ligado ao FdE. O que
aconteceu de fato na Abrafin?
Você tem a informação de que festivais que abandonaram a Abrafin passaram a receber menos patrocínios? A que atribui isso?
Vários artistas - o cantor China, o Daniel Peixoto (do Montage) e o
Márvio dos Anjos (do Cabaret), entre muitos outros - relatam que os
festivais do Fora do Eixo têm como características a infraestrutura
muito simples e o não-pagamento de cachê, exceto em casos muito
excepcionais. Se a infraestrutura é básica, não tem cachê, e os
festivais são feitos com dinheiro de editais, para onde vai o dinheiro
que sobra? Ou não sobra?
A cineasta Beatriz Seigner divulgou ontem um longo depoimento no
Facebook. Cita um jantar na casa da diretora de marketing da Vale, onde
ela e você estavam. Segundo o texto dela, você disse que "era contra
pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos
mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a
serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele
queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os
canos por onde passam o esgoto”. Esse diálogo aconteceu?
Beatriz também diz que seu filme Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano
foi exibido em sessões que contavam com patrocinadores, mas que o
dinheiro ficou sempre com o Fora do Eixo; ela não recebeu nada pela
exibição durante os festivais Grito do Rock, e só conseguiu receber o
dinheiro do SESC depois de muito insistir com o FDE. Isso é verdade?
Diz que lhe foi pedido que seu filme tivesse o crédito "Realização
Fora do Eixo", embora o filme não tenha sido produzido pelo FDE. Isso é
uma prática comum? Você considera isso um pedido normal?
Todo o depoimento de Beatriz é muito crítico ao FDE e a você pessoalmente. Como você responde a ele?
"Fora do Eixo" é marca registrada. O registro no INPI é da Globo
Comunicação e Participações. Pode explicar? Aqui está o registro:
NCL(8) 3582861623009/08/2006FORA DO EIXORegistroGLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S.A.NCL(8) 41
O Fora do Eixo vem recebendo mais e mais críticas. Agora, também de
ex-integrantes do FDE. Alguns preparam publicações de novos depoimentos
contra o FDE. Certamente, a imprensa vai investigar ainda mais.
Com tanta publicidade negativa, dificilmente o FDE continuará
recebendo apoios e patrocínios na mesma escala - afinal, empresas não
querem risco na hora de escolher quem patrocinam. E necessariamente
todas as contas do FDE serão examinadas com cada vez mais rigor. O Fora
do Eixo - e portanto Mídia Ninja, Abrafin, Pós TV, Casas FDE,
Universidade FDE etc. - está em risco de desmoronar de repente?
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Perguntas e respostas: FORA DO EIXO
Tire suas dúvidas segue o texto,
Somos Fora do Eixo: Rede de coletivos abertos a sempre refletir e aprofundar nossas práticas
https://www.facebook.com/ foradoeixo/posts/ 566547870070279
Somos Fora do Eixo: Rede de coletivos abertos a sempre refletir e aprofundar nossas práticas
Nos últimos dias, a partir da entrevista concedida por Pablo Capilé e
Bruno Torturra ao Roda Viva, o Fora do Eixo e a Mídia NINJA passaram a
ser o epicentro de um debate nacional. Nossa existência e nossas ações,
que já somam quase uma década de atuação no Brasil e na América Latina, foram questionadas e defendidas, principalmente nas redes sociais.
A partir dos relatos da cineasta Beatriz Seigner e da jornalista Laís
Bellini, que apresentaram suas experiências de trabalho com a Rede, a
revista Veja iniciou uma série de matérias que visam a nos atingir: só
na última sexta-feira, dia 9, foram publicadas oito matérias através de
seu veículo online e no sábado mais uma matéria a partir de seu veículo
impresso.
Entendemos que aquilo que Beatriz e Laís relatam
precisa de resposta. Ainda mais considerando o grande número de pessoas
que compartilharam essas análises parciais de nossa experiência. Há
outros lados nesse processo. Para que isso fique claro, apostamos no
diálogo franco e transparente de posições e idéias. Sempre foi essa a
nossa atitude.
Os integrantes dos coletivos que compõem a
nossa rede se entregaram a uma ampla reflexão e auto crítica sobre os
acontecimentos. A partir disso, produzimos, a muitas mãos, a carta a
seguir:
1 - Sobre autoritarismo e seita religiosa
As
diversas acusações sobre a presença de uma liderança autoritária são uma
tentativa de caricaturizar, desqualificar e neutralizar um processo
político. A Rede Fora do Eixo, como outros coletivos e organizações, é
baseada tanto em dinâmicas horizontais quanto na valorização de
diversas lideranças. Pablo Capilé é um dos fundadores e conceituadores
do Fora do Eixo, que por sua vez é uma rede que possui lideranças em
todos os seus coletivos.
As acusações nesse campo desqualificam os demais integrantes dos coletivos da rede e sua autonomia e dinâmicas próprias.
Causa estranhamento o fato da revista Veja cobrar da rede Fora do Eixo
uma horizontalidade maior de sua organização, sendo que nem ela, nem a
mídia tradicional brasileira, possuem um histórico de apoio a este tipo
de articulação coletiva, descentralizada e horizontal, tampouco se
enquadram nessas características.
Repudiamos também a tentativa
de classificar as experiências das Casas como seitas religiosas, numa
busca explícita de difamar o projeto. A criminalização de experiências
dos coletivos e redes com princípios comunitaristas, prejudicam não só o
Fora do Eixo mas todos que buscam alternativas concretas de colaboração
fora dos padrões convencionais do mercado.
2 - Trabalho Escravo
Nenhum morador, colaborador, parceiro ou qualquer pessoa relacionada
aos coletivos da rede jamais foi submetido a trabalho escravo. A adesão a
qualquer atividade e/ou projeto da rede se dá de forma livre,
consciente e esclarecida.
A formação cultural e as expertises
desenvolvidas durante os trabalhos constituem capital simbólico que
inclui contatos, redes de relação, conhecimento de territórios e novas
ferramentas no campo das tecnologias sociais.
Qualquer um desses
artistas, produtores ou gestores, ao saírem da dinâmica do Fora do Eixo,
estão aptos a exercerem suas habilidades e vocações em uma carreira
individual ou em outros coletivos, se assim desejarem.
É
notório que, mesmo após uma semana de denúncias públicas e grande
repercussão nas redes sociais e na imprensa, nenhum membro ativo,
colaborador ou vivente decidiu se retirar da rede sob nenhuma
prerrogativa.
3 - Sobre o Fora do Eixo Card
O Fora do
Eixo Card é uma moeda complementar e não uma forma exclusiva de
pagamento de salário ou remuneração. O Card é uma possibilidade de
viabilizar as necessidades dos coletivos e seus integrantes a partir de
trocas de serviços que não aconteceriam se dependessem exclusivamente de
recursos em moeda corrente.
A moeda social, como é conhecida
essa tecnologia, se norteia pelos princípios da Economia Solidária. Os
empreendimentos envolvidos nesse tipo de relação podem fazer o uso
dessas moedas para garantir seu sustento e desenvolvimento. O Fora do
Eixo é composto de empreendimentos solidários que criaram suas próprias
moedas sociais e são hoje conectadas pelo Card. O sistema considera o
próprio trabalho e os produtos resultantes da sistematização dele na
rede como fonte de renda e não de lucro.
O pagamento de alguns
cachês tidos como “simbólicos" em Reais, ganham corpo considerável
quando somados aos pagamentos em Card, ou seja, em serviços prestados,
como divulgação, hospedagens, alimentação, transporte, internet,
bebidas, produtos, assessorias, ensaios, produção, aluguel de
equipamentos e tudo que é de fruição e uso do artista, produtor e
empreendores da cultura em geral. O Card é uma solução para compensar a
lacuna da remuneração escassa em Reais vivida no cenário cultural
independente brasileiro. Muitos shows foram e serão pagos em Reais, não
só provenientes de recursos públicos como de recursos privados.
O Card é uma possibilidade oferecida, sem qualquer obrigação de ser
aceito. Todas as negociações em Card são acompanhadas e reportadas
através do e-mail card@foradoeixo.org.br
4 - Relação com partidos políticos e campanhas eleitorais
A rede Fora do Eixo não possui filiação nem alinhamento compulsório a
qualquer partido político. Nossa posição se constitui na cultura de
criação de espaços de diálogos abertos e transparentes, divulgados em
redes sociais e transmitidos ao vivo sempre que possível.
Cada
integrante de coletivo ou morador de Casa Fora do Eixo tem liberdade
completa de fazer suas próprias escolhas partidárias, tanto em processos
eleitorais, quanto no dia a dia. Neste sentido, as confluências com
partidos e movimentos se dão a partir das pautas e lutas que a rede pode
aderir.
Respeitamos o processo democrático e não apoiamos
nenhuma tentativa de criminalizar o fazer político, assim como
repudiamos a inibição de militantes partidários em sua livre
manifestação pública.
5 - Sobre recursos públicos
O
Fora do Eixo acessa recursos públicos disponíveis através de editais e
concursos, nunca executamos nenhum convênio ou termo de parceria direto
com o governo federal. Todo o recurso captado junto ao poder público é
apresentado aos órgãos financiadores através de relatórios regulares e
prestações de contas tal como demanda a Lei.
Desde os
primórdios da Rede Fora do Eixo defendemos e acreditamos que Políticas
Públicas para a Cultura, Comunicação, Juventude, Meio ambiente e
Direitos Humanos são fundamentais para um processo mais justo de
desenvolvimento do país. O atual debate, criminaliza o uso de recurso
público, prejudicando o avanço do empoderamento da sociedade civil em
sua atuação nesses campos.
Estamos lançando o portal de
transparência da Rede Fora do Eixo, dando início às publicações de
documentos comprobatórios referentes à utilização de recursos públicos,
privados e solidários pela rede.
6 - O Caso Beatriz Seigner I
A Rede Fora do Eixo é um ambiente de produção colaborativa e
compartilhada. Não é uma empresa e por isso não se baseia numa prestação
de serviço comercial de distribuição. Construímos uma dinâmica de
compartilhamento e troca e estimulamos a circulação de produtos
culturais a partir das pessoas e espaços conectados à rede.
O
diálogo com a cineasta Beatriz Seigner tinha como objetivo estabelecer
uma relação em que a Rede Fora do Eixo ativaria suas conexões para
divulgar e exibir seu filme em espaços alternativos.
Realizamos as tarefas e serviços necessários para a promoção e
distribuição do filme nos pontos de exibição. Telefonemas, produção
local para exibição, articulação com cineastas, assessoria de imprensa,
produção de peças publicitárias, divulgação das exibições e traslados
foram algumas das tarefas executadas para cumprir o compromisso com
Beatriz Seigner.
Esses serviços, que seriam normalmente
computados em Reais no mercado tradicional, são sistematizados no Fora
do Eixo como cards, e fazem parte da troca negociada com a cineasta no
primeiro momento. Nunca foi prometido a Beatriz que os cards seriam
entregues como pagamento ou cachê. Como já foi dito os cards
correspondem aos serviços que foram prestados e investidos pela rede
para fazer o filme circular.
O investimento realizado pelo
Fora do Eixo na difusão do filme “Bollywood Dreams” teria custo
superior a R$100.000,00 se fosse calculado e cobrado por uma empresa
comum. A proposta de aplicar a marca do Fora do Eixo em seu filme se deu
a partir de nossa compreensão dessa troca. Beatriz não aceitou,
cobrando da rede sua cota mínima de patrocínio de R$50.000,00 em moeda
corrente. Mesmo com sua recusa, entendemos que era importante realizar o
investimento para fortalecer nossa parceria e fomentar o audiovisual
independente.
A Revista Veja fala em "estelionato" - obtenção
de vantagem, causando prejuízo a outrem; utilizando um ardil, induzindo
alguém a erro - quando o fato é que se tratou de um acordo baseado em
trocas de serviço.
O filme de Beatriz circulou, através do Fora
do Eixo, em 35 cidades, com 40 exibições computadas, alcançando o
público de 1463 pessoas.
No link abaixo está disponível o
balanço financeiro e outras informações sobre a circulação do
longa-metragem Bolywood Dreams no projeto Compacto.Cine:
http://bit.ly/14Hl9Vp
7. Caso Beatriz II - SESC
As duas sessões realizadas em unidades do Sesc, que contavam com
pagamento de cachê para o realizador, estavam inseridas dentro de um
circuito de 11 exibições que aconteceram com a presença da diretora, que
viajou em uma turnê, dentre todas as datas, essas eram as únicas com
remuneração direta.
Todo o valor dos cachês foram gastos com os
custos da própria circulação e alimentação da cineasta, garantindo que
Beatriz Seigner exibiria presencialmente o filme em 11 cidades sem
nenhum custo. Esse era o nosso único acordo inicial e foi devidamente
cumprido.
8. Caso Beatriz III - "O Desrepeito à arte e aos artistas."
O Fora do Eixo valoriza os artistas e defende sua remuneração quando
trabalham dentro da lógica de mercado. A rede, no entanto, se baseia por
uma outra lógica: a construção de redes e circuitos alternativos com
base na economia das trocas, moedas complementares e troca de serviços.
As críticas de Beatriz Seigner vão na direção oposta ao modo como as
novas gerações e os grupos alternativos se colocam frente à ideia de
cultura, valorizando seu aspecto informal e cotidiano, não como produto
simplesmente, mas como modo de ver e estar no mundo. Assim como acontece
em diversos grupos e redes como os Pontos de Cultura, Povos Indígenas,
Povos de Terreiros, Griôs, etc.
As criticas de Beatriz Seigner
podem dar a interpretar a existência de um mundo dividido entre alta e
baixa cultura, que trata a arte como tema exclusivo para especialistas.
Não são esses os princípios da cultura de rede e de nosso entendimento.
Compreendemos que a formação cultural se dá também no cotidiano das
casas, com exibição de filmes, debates, vivências, leitura individual e
coletiva de textos e livros, filmes e músicas baixados e vistos
diretamente pela internet.
Quando questiona o fato dos
participantes do Fora do Eixo não assinarem suas produções e realizações
artísticas reduz o entendimento de criação a uma ideia individualista
de autoria. O Fora do Eixo não trabalha com esses parâmetros e toda sua
produção é assinada coletivamente, como acontece com diversos outros
coletivos de arte e cultura. Trata-se de uma compreensão comunitarista,
que estimula a valoração do trabalho e esforço coletivos na produção de
obras e produtos culturais.
Nunca negamos a condição de
artista a nenhum participante do Fora do Eixo e nunca houve nenhuma
espécie de política da rede no sentido de coibir práticas do campo
artístico. Pelo contrário, nos últimos anos diversos talentos emergiram
das estruturas da rede de forma espontânea e conectada com nossas ações e
lutas. Fotógrafos, videomakers, designers, ilustradores, músicos, Djs,
iluminadores, rappers e dançarinos moram em Casas Fora do Eixo e incidem
diretamente em nossas atividades.
O Fora do Eixo atua como
alternativa à deficiência estrutural nos sistemas de distribuição da
cultura brasileira, que não permite a circulação e fruição dos processos
e produtos de maneira igualitária.
Entendemos, como rede, que
é preciso fortalecer os canais de distribuição dos bens culturais nas
pontas e circular suas produções, ou seja, que se torne possível aos
coletivos e organizações das pequenas cidades usufruir do que é
produzido no país, assim como criar e produzir novas experiências que
possam também circular nos diversos territórios. Valorizamos a
experimentação nas artes e na cultura e estimulamos a ampliação de
repertórios e formação artística e cultural.
9 - Sobre o caso Laís Belini
É importante esclarecer que a experiência da Laís Bellini como moradora
da Casa Fora do Eixo São Paulo foi de cerca de 3 meses e não de 9
meses, conforme noticiado pela Revista Veja. O restante do tempo se
passou no coletivo Enxame, de Bauru, ao qual ela não dirige nenhuma de
suas acusações. É comum que alguns jovens - a partir de expectativas
conceituais - tenham dificuldades de se adaptar ao ambiente coletivo e
fiquem desiludidos com a convivência na prática.
A
informalidade e as conversas francas podem ter contribuído para que
eventuais situações e comportamentos individuais, num ambiente livre e
aberto, sejam lidos de forma equivocada como regra ou comportamento do
grupo.
Lamentamos a experiência de Laís e a de qualquer outra
pessoa que tenha vivido algo semelhante em nossa rede. Ao refletirmos e
exercitarmos a autocrítica, entendemos a importância de aperfeiçoar os
mecanismos de vivência e de afastamento do Fora do Eixo.
Trabalhamos diáriamente para que situações como a dela não ocorram, o
protagonismo de cada indivíduo sempre foi um farol a guiar nossas ações.
10 - Relações afetivas
Os integrantes dos coletivos da rede Fora do Eixo não fazem uso de
nenhum tipo de manipulação sexual a qualquer pessoa. Não há qualquer
tipo de restrição às diversas formas de relações, independente de
gêneros, que as pessoas estabelecem dentro ou fora da rede. Existe amor
livre, monogâmico, entre gays, héteros e bissexuais, ou seja, são
múltiplas visões sobre o tema dentro dos coletivos. Não há posições
institucionais sobre isso.
Lamentamos se no decorrer de nossa
trajetória e construções possamos ter soado frios ou menos humanos de
qualquer maneira. Nosso vigor e capacidade produtiva se baseiam em um
profundo sentimento de amor e de transformação da realidade,
transcendendo algumas vezes as relações pessoais em prol de uma visão
mais ampla da sociedade. Não nos interessa aqui justificar qualquer ação
relatada, mas nos expor enquanto indivíduos e coletivos abertos a
sempre refletir e aprofundar nossas práticas através do debate e da
absorção das críticas do maior número de pessoas possíveis.
11 - Considerações Finais
Essa carta foi escrita durante dias, a partir de uma ampla discussão e
reflexão sobre os mais variados temas, com ampla participação de
integrantes dos coletivos. Estamos abertos a quaisquer outras perguntas,
dúvidas, críticas e sugestões.
Nesse tempo diversos
depoimentos de participantes do Fora do Eixo foram lançados na rede,
participamos de entrevistas e estamos lançando o portal de transparência
da rede.
Temos consciência que o debate sempre marcou nossas
relações na busca pela coerência entre o discurso e a prática. Buscamos
encarar as críticas como combustível para nossas reflexões e incentivo à
reinvenção diária à que nos dispomos. Estamos em processo e temos
consciência das dores e das delícias à que estamos expostos.
Consensuamos também que se a engenharia de informações da rede estivesse
melhor arquitetada, parte das dúvidas já estariam sanadas.
Esperamos que esses episódios possam contribuir para a inteligência
coletiva social, tão cara num país ainda tão profundamente marcado por
desigualdades, preconceitos e medo.
Estamos à disposição para
dar continuidade aos debates e outros esclarecimentos necessários. As
Casas Fora do Eixo e coletivos estão abertos para pesquisa, vivência,
ouvidorias, ou o que mais for desejado.
Para outras informações: contato@foradoeixo.org.br
Assista à entrevista com Pablo Capilé do Fora do Eixo
Diversos textos com críticas à rede de
coletivos Fora do Eixo começaram a circular nas redes sociais na última
semana. O primeiro deles foi da cineasta Beatriz Seigner, que divulgou
em sua página no Facebook, um artigo onde questiona as práticas do grupo. O texto foi até republicado pela revista Veja.
Pablo Capilé é do Fora do Eixo e esteve
no programa Roda Viva na segunda-feira (5/8), junto com Bruno Torturra,
onde foram entrevistados sobre o projeto Mídia Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. O Ninja ganhou notoriedade com suas transmissões em tempo real dos protestos que se espalharam pelo País.
Tags: Fora do Eixo, Outras Palavras, Pablo Capilé, revista Fórum
http://revistaforum.com.br/blog/2013/08/revista-forum-e-outras-palavras-entrevistam-pablo-capile-do-fora-do-eixo/
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Pablo Capilé: “Estamos fazendo uma autocrítica”
Em entrevista à
revista Fórum e ao Outras Palavras, o fundador do FdE se defende de
críticas e acusações recebidas na semana passada
Por Redação
A revista Fórum e o Outras Palavras
receberam Pablo Capilé, fundador do Fora do Eixo (FdE), para uma
entrevista que durou duas horas e meia, no último domingo (11). O
produtor cultural foi entrevistado por Renato Rovai e Antônio Martins e
falou a respeito das críticas que o coletivo têm recebido na última
semana.
Desde a participação de Bruno Torturra e Capilé no programa Roda Viva,
da TV Cultura, no último dia 5 de agosto, para falar da experiência
com o Mídia Ninja, o FdE passou a ser alvo de ataques de alguns
ex-integrantes e de artistas ligados aos eventos do grupo. Capilé
explicou que, apesar de ter dez anos de existência, o Fora do Eixo segue
em processo de conhecimento e evolução e lembrou que o coletivo “é um
dos projetos mais debatidos nos últimos quatro anos [no Brasil]”.
O fundador da rede
afirmou que apontamentos feitos sobre as relações sociais e de trabalho
dentro das casas que servem como sedes do FdE já são debatidos
internamente. “Algumas delas nós já fazemos há algum tempo, nós vamos
sacando, por exemplo, esse viver coletivamente, que vai se
aperfeiçoando.”
O fundador do
coletivo justificou que a alta demanda de trabalho, reclamada por
ex-integrantes e críticos do grupo, ocorre porque o FdE atua em diversos
projetos e que isso já está sendo repensado. “A gente abre um monte de
portas e precisa trabalhar para dar conta dessas portas. É uma avaliação
crítica pensar com quantos parceiros nós vamos trabalhar, com a
distribuição dos trabalhos, estamos fazendo essa avaliação.”
A cineasta Beatriz
Seigner reclamou publicamente de uma dívida de R$ 900 que a FdE teria
com ela. Capilé confirmou o débito e disse que o passivo com os artistas
que prestam serviços ao coletivo “não passa de R$ 10 mil, R$ 15 mil.”
Ainda sobre cachês artísticos, afirmou que o suposto não pagamento por
parte do FdE seria um “meme”, embora reconheça que existem dificuldades
comuns para boa parte dos organizadores de festivais de música.“Não dá
para pagar o que a rede Sesc paga para um artista.”
O fundador do Fora do Eixo também afirmou que muitas das críticas
feitas ao grupo foram “capturadas por uma direita raivosa” que “tenta
desqualificar o sistema de proteção que nós criamos”, fazendo referência
a textos publicados na internet e na edição impressa da revista Veja.
Veja entrevista completa:
AQUI
(Sobre o depoimento de Beatriz Saigner, contrapondo-se às declarações do grupo Mídia Ninja, no último Roda Viva).
Eu li o depoimento de Beatriz Seigner, que vem servindo de contraditório às propostas do Mídia Ninja, colocadas em discussão no último Roda Viva e que entrou em pauta nacional. O depoimento sobre o Fora do Eixo me pareceu raivoso, personalístico e intencionalmente prejudicante. É como se ela, no momento em que as experiências alternativas do grupo começaram a ganhar notoriedade e a nos levar a intuir formas menos capitalistas para a produção de arte e difusão de notícias, ela, a cineasta Beatriz Seigne, decidisse jogar areia no brinquedo, por pura pinima. Prefiro aguardar novas opiniões e me informar melhor sobre o tema.
Por enquanto, acho as propostas do Fora do Eixo psicodélicas demais, uma reedição da Sociedade Alternativa dos anos 60, só que mais articulada economicamente, se bem que se apresente como desmonetarizada, trabalhando por escambo, o que, evidentemente, não pode ser bem assim.
Como profissional do jornalismo temo o descarte do jornalista formado pela Academia, com seus conhecimentos consagrados e deveres éticos inerentes à profissão. Qual será o papel do profissional jornalista, fotógrafo, editor, no quadro proposto? Como serão definidas as relações trabalhistas? Haverá filtro ou tudo será notícia, numa sofreguidão midiática como a que acontece, hoje, com o avalanche de achaques pessoais e idiotices inúteis de certos internautas nas redes sociais?
Mas o que os meninos da Mídia Ninja propõem é uma discussão oportuna e essencial à prática da comunicação nestes tempos de novas mídias, e da necessária desmonopolização dos veículos de comunicação. Ou estamos satisfeitos que quatro ou cinco famílias detenham o exclusivo poder na mídia brasileira, impondo-nos, descaradamente, os seus interesses políticos, econômicos e culturais? Temos que encontrar soluções e as propostas apresentadas pelo Mídia Ninja devem ser consideradas.
É muito cedo para conclusões.
Amaral Cavalcante
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Li muitos textos nos últimos dias sobre o Fora do Eixo, principalmente porque tenho há uns dois anos relação próxima com o grupo e queria tentar entender melhor por que o texto de Beatriz Seigner desencadeou uma enxurrada de críticas ao FdE, algumas repletas de mágoa. Outras de ódio. E, claro, também muitas de defesa quase apaixonada. Ou de parceiros solidários, como a da UJS, cujo título é Somos Todos Fora do Eixo.
É com base nessas leituras que vou fazer a entrevista de hoje, às 20h, com o Pablo Capilé. Seremos eu eu o Antônio Martins, do Outras Palavras. Entre todas essas leituras, destaco dois textos. O primeiro está publicado aqui. É um estudo feito pelo pesquisador André Azevedo da Fonseca, da Universidade de Londrina (UEL). Ele faz uma análise que destaca como “uma visão crítica sem rancores ou deslumbres da rede de coletivos”. Outro é o de Atílio Alencar, ex-integrante do FdE, e a quem conheci pessoalmente, e que segue abaixo. Gosto do texto porque ele tem a capacidade de debater o FdE sem entrar no que chama de Fla x Flu. E debate modelos culturais, que é a discussão que mais me interessa nesta polêmica toda.
A quem possa interessar: sobre a polêmica da vez, o Fora do Eixo
por Atílio Alencar
Antes de mais nada: se alguém espera ler aqui uma fábula de terror psicológico pontuada por requintes de crueldade ou um conto de fadas sobre dedicação e superação, esqueça. Não tenho a mínima intenção de engrossar o caldo dos relatos passionais contra ou à favor do Fora do Eixo. Aliás, acho lamentável que tanto quem ataca quanto quem defende, tem optado por adotar uma linha de exacerbação dos aspectos pontuais que ora geram a ideia de uma rede análoga a um pesadelo com grades de ferro, ora pintam em cor de rosa a experiência da vida em coletivo. Prefiro pensar que em algum ponto entre esses extremos, podemos tratar do fenômeno da organização em si, do que ela significa, e não do conjunto de seus dramas individuais.
Pois bem. Minha história junto ao FdE faz mais sentido se contada do final – porque o início não difere muito de mil outras histórias: apenas um rapaz latino-americano querendo viver o mundo da produção cultural para além do caráter estrito do mercado, lá pelos idos de 2009. Foi em dezembro do ano passado que, depois de um processo de longos meses de reflexão, tomei a decisão de comunicar meu afastamento da rede – e mais precisamente, da casa que eu compartilhava com outras cinco pessoas em Porto Alegre. O procedimento para comunicar meu desligamento de uma rotina de muito trabalho, viagens e reuniões inacabáveis (sim, no FdE, boa parte do seu tempo desperto é, ou ao menos era, ocupado por reuniões on line e off line) foi razoavelmente simples, muito embora doloroso por motivos pessoais. Sentamos na sala da casa de onde não faria sentido eu evaporar sem conversar com as pessoas; expus meus motivos, ouvi questionamentos, respondi os que me eram possíveis, me reservei o direito de silenciar sobre motivações de caráter íntimo. Ouvi votos de felicidade, senti o desapontamento de alguns no olhar, trocamos abraços sinceros e vim-me embora para Santa Maria, cidade de onde havia saído cerca de um ano e meio antes para encarar a empreitada de trabalhar e viver em Poa. Nunca fiz questão de alardear minha saída publicamente, justamente para evitar especulações ou figurar nas intrigas que naturalmente viriam a surgir, dado a curiosidade doentia sobre a vida alheia que vez ou outra pauta as rodas e redes sociais. Contei para os mais chegados, não menti quando alguém me perguntou; mas alarde, não vi motivo pra fazer. E da confusão e fragilidade emocionais comuns aos tempos de transição, fui aos poucos me reorganizando, reencontrando velhos hábitos e amigos, constituindo um novo – ou velho – modo de vida. Mesmo das atividades que precediam minha adesão ao FdE, me vi repentinamente deslocado. Já não fazia sentido, por exemplo, seguir associado ao Macondo Lugar, casa noturna que ajudei a fundar oito anos atrás. Uma vez que a gestão da casa havia passado por um processo de coletivização, e a mim já não interessava estar imerso em um estilo de vida coletiva, o rompimento se fez a atitude mais coerente a ser tomada. E assim procedemos, formalizando meu afastamento definitivo do quadro de sócios do Macondo, mediante aquisição das minhas cotas-proprietárias pelos demais administradores.
Dessa passagem da minha vida, o que poderia interessar ou contribuir para as discussões atuais? Acho que alguns pontos merecem ser sublinhados: desde que saí do FdE, rompi contato com praticamente todo mundo da rede, salvo raras e brevíssimas excessões. Não me tornei, no entanto, nenhum recluso, muito menos nos ambientes virtuais. Falo muito, opino muito, teço críticas e elogios no campo da política, da comunicação e da arte, me envolvo em campanhas orientado única e exclusivamente por minha vontade individual de participar dos debates contemporâneos. Nunca recebi mensagem dos gestores do FdE, entretanto, recomendando cautela ao assumir posições políticas em função da natural confusão que minha saída não divulgada poderia causar – e de fato causou. Critiquei abertamente interlocutores do FdE, fiz críticas que poderiam muito bem ser endereçadas a eles, e assim como não sofri assédio na ocasião de meu afastamento, também não o senti ao optar pelo dissenso. Se aconteceu com outros, como está sugerido em alguns relatos recentes, e isso não se tornou um debate aberto, me pergunto quais teriam sido os motivos do silêncio. Não há registro de “queima de arquivos” por parte do FdE, e a condição franzina da maioria dos meninos da rede não chega a inspirar receios quanto à violência física. Se a mim fosse recomendado o silêncio, eu teria respondido fazendo uso da minha liberdade de expressão – e não teria esperado nenhum segundo sequer para isso. Estranho que a enxurrada de depoimentos das supostas “vítimas” coincida com o momento de visibilidade global da Mídia Ninja (iniciativa que tem origem junto aos midialivristas do FdE); se isso não invalida o debate, como de fato não o faz, ao menos suscita questionamentos sérios sobre integridade e oportunismo por parte de quem efetua os ataques. Não há discurso descomprometido, e me intriga a motivação tardia dos que resolveram só agora falar.
Mas isso é só desconfiança minha, e portanto, vazia de valor porque carente de fundamentação. Melhor seria, talvez, aproveitar o gancho de algumas denúncias para ampliar o debate.
Sobre a Beatriz Seigner e sua malfadada experiência com o FdE: não a conheci pessoalmente, assim como não estive diretamente envolvido em nenhuma conversação com ela. Mas lembro de uma troca de e-mails que acompanhei como observador, que registrava sua indignação com o que ela classificava de “descaso” com a arte por parte dos integrantes do FdE. Segundo Beatriz, o fato de as pessoas ligadas à rede não consumirem bens culturais na mesma medida em que se envolviam com produção ou discussão sobre políticas públicas seria um atestado de miséria estética e intelectual, uma falha imperdoável na formação individual, uma opção intencional pela pobreza de espírito. Isso, essa leitura dela, dá margem para uma discussão pertinente, mas que não traz em si nenhuma novidade. A relação entre militância e fruição remonta, quem sabe, ao início do século passado, ou antes. Mas tem outros elementos a serem levados em conta. Particularmente, pertencendo à geração que pertenço (não sou um nativo da era digital; a maior parte das minhas leituras não se realiza na tela de um monitor), me causa estranhamento a rapidez vertiginosa com que se acessa hoje (via downloads de arquivos compartilhados ou streamings que não geram remuneração para o autor) vastas discotecas que são tão facilmente acumuláveis quando descartáveis. Sou mais habituado ao tempo dos discos de vinil e laser, seus rituais de eleição e sua atmosfera, seu tempo fora do tempo funcional. As trilhas sonoras da minha vida, elas não me arrebataram enquanto eu manipulava uma planilha no Google Docs, nem cabem na urgência do formato mp3. Mas isso não significa que eu ache plausível pautar a discussão sobre Cultura Digital à partir das minhas preferências ou caprichos. Quando o FdE faz a opção aparentemente etapista de primeiro fazer e depois aproveitar, eu não estou de pleno acordo. Mas consigo entender a provocação contida na frase “ler é perda de tempo”. Já ouvi, aliás, consideração semelhante por parte de intelectuais engajados em relação à ficção e poesia. Fiquei surpreso, mas entendi a opção como um gesto radical que descarta a leitura recreativa em nome do domínio das ferramentas conceituais de luta. Além disso, com os jovens do FdE provavelmente ocorra o que ocorre com uma geração inteira: sua forma de assimilar é outra, a simultaneidade se apresenta como o modo óbvio de lidar com os diversos campos de conhecimento, os suportes passivos (como livros e discos) estão desgastados perto do grau intenso de interação virtual, e sua atenção é difusa demais para ser suportada em uma página de cada vez, como exige a leitura tradicional. Se isso é bom ou ruim? Nem acho que possa ser avaliado em tais termos. Mas é diferente, intrigante. Abre novas possibilidades de formação, com os quais a educação formal não sabe ainda como lidar. Daí a dizer que é mais pobre, eu não diria; muito menos desautorizaria essas pessoas a debater cultura dessa nova perspectiva. Assim, no campo simbólico, eu prefiro ler na reclamação da Beatriz mais um desconforto dela frente ao modo irreverente com que as novas gerações se colocam frente à ideia de cultura, do que propriamente uma denúncia de “traição à arte”. Porque se sua equação for simplista a ponto de dividir o mundo entre analfabetos e ilustrados culturais, entre alta e baixa cultura, estaríamos falando de uma artista nos moldes aristocráticos, indissociável dos milhares de pedantes que ainda tratam de arte como tema para espacialistas. E imagino que a Beatriz, sendo a artista-pesquisadora que é, não deve querer ser considerada um deles.
Ainda quanto às expectativas frustradas expressas pela Beatriz em sua carta, percebo ali o descontentamento habitual de quem produz cinema, contando com parcos recursos e boas ideias, e sofre com o constante risco do vácuo, do produto visto por poucos e logo engavetado, ou perdido em meio aos ruidosos canais virtuais, onde a tarefa de se separar o joio do trigo é sensivelmente mais desafiadora. Mas é um discurso de autoralidade, por si só discutível, como tudo o é, nesses tempos de ressignificação. Ela viu no FdE a oportunidade de fazer decolar seu filme. Quem sabe uma fala mais apaixonada tenha despertado nela o vislumbre de uma fórmula alternativa e supostamente infalível de sucesso; mas o projeto, seja pelo motivo que for, não foi levado adiante. Imagino o tamanho da decepção, mas não consigo, sinceramente, ver nesse naufrágio nenhum indício de crime capital. Produtoras convencionais concebem e engavetam projetos com a mesma naturalidade com que trocamos de roupa. Porque seria diferente com coletivos que dependem diretamente da mobilização de pequenas células e da incerteza orçamentária para viabilizar suas ideias? O que não entendo – e isso não passa por deslegitimar a Beatriz como uma interlocutora importante em momento algum – é como e porque, à partir de uma insatisfação pontual de um autor em relação ao projeto que envolvia o seu filme, se constroi misteriosamente uma convergência entre colunistas da imprensa corporativa, articulistas partidários, teóricos radicais do “comum” e militantes ocasionais. Vocês conseguem perceber a contradição gritante implicada em, por exemplo, em defender o copyleft e reconhecer e exaltar o pixo e o remix como linguagens artísticas autênticas, e ao mesmo tempo, aderir e tomar como sua uma campanha essencialmente orientada pela noção de propriedade intelectual? Pois eu tenho lido arroubos de irracionalidade muito intrigantes, nesse sentido. Coisa típica de uma caça às bruxas, na qual o consenso sobre o acusado é mais importante que os diversos discursos que, mesmo contraditoriamente, o sentenciam.
Agora, se o que a Beatriz cobra no seu texto for verdade, sobre compromissos financeiros supostamente assumidos e não cumpridos, imagino eu que a solução é simples: que seja calculado e pago o que o Fora do Eixo deve à ela. Simples. Se em nenhum momento houve acordo quanto a um cachê desmonetarizado, se ela não se sentiu contemplada por trocas de serviço, se houve qualquer espécie de engodo ou calote, a dívida é vigente e tem que ser sanada. Se, no entanto, ela mudou de ideia somente um ano depois sobre o acordo firmado, fica como uma experiência de resultados aquém dos projetados, mas não distorcidos nem criminosos. Aliás, quanto ao filme da Beatriz, que não deveria ser eclipsado no debate aberto por ela: lembro que assisti quando houve a exibição em Porto Alegre e gostei bastante; se não me engano, aqui em Santa Maria, segundo o relato das pessoas que o projetaram, a exibição reuniu cerca de 100 pessoas, o que é um número considerável para qualquer um que conheça a realidade dos cineclubes. Ou seja, não me parece que tenha sido uma parceria totalmente infrutífera.
Já quanto ao texto da Laís, que importa no que diz respeito à organização interna do FdE e no modo de convívio entre os integrantes dos coletivos, vou buscar dar um relato que abrange apenas parcialmente a experiência da rede, mas que considero um ponto de vista importante, dado que fui morador da segunda Casa Fora do Eixo criada no país. Dividi o espaço com cinco outros moradores fixos e vários viventes ou hóspedes que passaram pela casa. Vi gente deslumbrada num primeiro momento que simplesmente percebeu que a vida coletiva não era o que esperava, ao menos ali, depois de poucos dias. Vi gente chegando desiludida com a vida universitária e aos poucos se aprimorando em linguagens como fotografia, edição, design gráfico. Vi gente se divertindo ao compartilhar as tarefas domésticas mais prosaicas, e brigando por motivos ordinário (embora isso não fosse regra). Vi gente satisfeita quando as coisas davam certo e desestimuladas quando davam errado; alguns, como eu, buscavam os velhos amigos ou a família quando achavam que o convívio estava saturado, viciado, ou se encontravam numa fase depressiva. Assim como seres humanos normais, entendem? Cheios de convicções e dúvidas, oscilações, companheirismo, divergências, mas nunca desprovidos do direito primordial de optar pela porta da rua. Sobre quase tudo, se conversava abertamente, numa tentativa de desmistificar tabus e crises pessoais. Se isso é escravidão, não saberia como definir qualquer outro ambiente de trabalho ou estudo. As opções, quando se está num coletivo, para mim seguem parecidas com as de outras situações da vida social, e por maior que seja o grau de autonomia, não há garantias dentro nem fora. Tudo depende da soma da sua disposição, sensibilidade e diversos outros fatores externos que não são determinados por uma simples escolha. Não fosse assim, estaríamos vivendo numa sociedade livre. E não é o caso do sistema capitalista, pelo que me parece.
Há casos de machismo no Fora do Eixo? Eu não diria que há casos, porque isso levaria a supor que existe algum ambiente social imune à essa tradição, onde já tivéssemos superado os séculos de patriarcado em nome de uma igualdade de condições, em que o machismo fosse tão somente um “tropeço”. Havia incidência e discussão. Havia, como deve haver ainda, laboratórios, oposições, falas e silêncios. No tempo em que morei na Casa Fora do Eixo em Poa, executei tarefas como a limpeza dos banheiros, ao mesmo tempo em que achei normal que as mulheres predominassem no revezamento na cozinha. Por preconceito ou costume (o que dá no mesmo, nesse caso), mas com a diferença que ali isso não estava naturalizado, não era uma prática blindada. Fui tão machista vivendo lá como tento não ser em qualquer outro lugar. Se agi, eventualmente, como se nós homens tivéssemos alguma atribuição exclusiva, e as mulheres idem, isso não foi tema proibido em reuniões de avaliação. Minha proposta de desconstruir o machismo em mim não é nenhuma garantia de “cura”; imagino que deve ser assim como todo homem que se propõe a encarar um processo parecido. O desafio de romper com os paradigmas sociais de opressão começa na escala das micro-relações, geralmente as menos perceptíveis. Assim, se até mesmo a Laís foi perceber, segundo ela mesma, que várias vezes protagonizou disputas movidas pelo egocentrismo, ela pode bem imaginar que o restante dos moradores não estaria livre desse tipo de atitude. Talvez eu encarasse o relato de forma distinta se nunca houvesse saído do ambiente familiar para viver em repúblicas estudantis, se não tivesse enfrentado o cotidiano de truncada administração que muitas vezes torna a lavagem da louça uma crise em potencial, ou a negociação dos quartos uma questão essencial para a privacidade. Mas tudo isso eu vivi antes do FdE, e não me causa estranhamento que um coletivo com organização interna eleve essas questões a um nível mais rigoroso, estabelecendo regras de convívio. Regras são discutíveis, claro. Mas não posso concordar, porque não testemunhei nada parecido, que a carga de trabalho das mulheres no FdE as coibisse do convívio social, ou que as relegasse a postos subterrâneos. Na casa onde morei, inclusive, as gestoras eram praticamente todas mulheres, com idêntico ou maior espaço de fala que os homens. Pelo que percebo em publicações nas redes sociais, segue sendo assim. E não foram poucas as vezes em as meninas, tanto quanto os meninos, largavam o que estavam fazendo para desestressar numa mesa de boteco.
Que o choque de uma vivência assim seja negativo para alguns, não tenho porque duvidar. Que tenha perturbado o equilíbrio psicológico da Laís, acredito também. Afinal, do pouco que conheço dela, através dos relatos que ela mesmo fez, percebo que se propôs a uma reviravolta grande na vida. Mas o exercício do livre-arbítrio está aí para garantir a nossa saúde, em caso do meio ser encarado como opressor. Foi o que ela fez, o que me parece uma atitude coerente com suas aflições. Só não entendo exatamente porque a insistência no tom proscritivo, como se nossos fracassos pessoais fossem indexadores das experiências alheias.
Mas enfim, me demorei mais do que gostaria na análise dos relatos que vieram à tona recentemente. Acho que movido pelo tom sensacionalista com que foram divulgados e até festejados, de maneira eufórica pelos mais obcecados, eu posso ter me contaminado pelo clima de “Fla x Flu”. Não acho que seja o caso de cair na cilada da polarização “bem versus mal”. Nem acho que o FdE, por ter sido a organização na qual militei num passado recente, esteja acima dos debates necessários. Mas desconfio muito de todo linchamento público cuja justificativa seja a “moralização”. Nisso, com todos os erros – coletivos ou individuais – que possam estar contidos na atuação do FdE, eu acho que há uma pressa estranha em classificar o coletivo como a “maçã podre” das organizações contemporâneas. Quando oriundas da direita, a vulgaridade das críticas não me surpreende: “máfia”, “cartel vermelho” e “petralhas” são infâmias recorrentes nas bocas de parte da grande imprensa; já algumas críticas que se pretendem à esquerda, surpreendem pela incongruência entre o que exigem e o que de fato praticam enquanto coletivos. Grupos de intelectuais formados por carreiristas acadêmicos e empresários convencionais, repentinamente, convertem-se em juízes de qualquer concessão, como se o lugar de sua fala fosse isento das contradições que condenam com tanta veemência.
A isso, ao espetáculo da carnificina que iguala humores antagônicos, eu prefiro o viés que disputa essas novas organizações pela esquerda, mas sem a paixão pela derrota. Antes de qualquer condenação sumária, eu quero é apostar que o Fora do Eixo vai assumir a responsabilidade histórica de estabelecer uma ética radical de transparência, criando canais de debate ainda mais densos sobre a relação financiamento e autonomia no Brasil. Eu quero mais é que as camadas retóricas que porventura possam obscurecer o funcionamento das moedas solidárias sejam amplamente aprofundadas, gerando materiais didáticos legíveis, de fácil replicação e adequação por parte de empreendimentos periféricos e colaborativos. Se o feminismo no FdE é incipiente, eu desejo mesmo é que a organização seja provocada a debater com as feministas clássicas e com as vadias contemporâneas os projetos de luta e emancipação feminina. Que o papel de uma rede como o FdE enquanto entidade de interesse público seja de fato hackeável, que toda tecnologia gerada pela rede seja posta a serviço dos movimentos sociais sem ônus nem acúmulo material ou simbólico para nenhum dos envolvidos. Que movimentos ainda precarizados tecnologicamente se apropriem e potencializem sua atuação à partir do compartilhamento de saberes. Que a Mídia Ninja seja lida como mais uma das experiências interessantes, e que seja canibalizada por outras mídias, menores, invisíveis, autônomas, para que no caso dos ninjas sucumbirem ao mercantilsmo da informação, outros tantos tentáculos sigam fazendo o contraponto nas ruas. Que uma liderança como Pablo Capilé (porque sim, Pablo é uma liderança e das mais instigantes) seja constantemente intimado a renunciar à tentação do poder cristalizado em nome de estar junto, mas nunca acima dos movimentos sociais.
Pra mim, se não for isso, é recuar pela direita; é como se decidíssimos nos retirar das ruas com medo das marchas serem cooptadas pelo inimigo, ao invés de disputá-las.
Basicamente, é isso que eu tinha pra dizer.
*Ah, sim, só mais um detalhe: você que se declarou chocado com as supostas “terríveis violações de direitos humanos” praticadas por integrantes do Fora do Eixo, mas adora fazer uma piada com a deformidade labial do Capilé, saiba que o inferno é mesmo cheio de contradições. Piadas são um tipo de discurso que naturalizam preconceitos; mulheres, negros e gays que o digam.
Leia também:
"Nos últimos dias, manifestações isoladas, surgidas de experiências negativas com o consórcio de produtores culturais denominado Fora do Eixo, começam a se transformar num esquema organizado com o objetivo de demonizar a Mídia Ninja, a partir de problemas com a rede de ativismo cultural do qual nasceu a experiência da “massa de mídias”.
Nesta semana, o assunto chegou à revista Veja, com o tratamento rasteiro e preconceituoso que há alguns anos caracteriza a publicação semanal brasileira de maior circulação. A partir daí, como acontece com os temas onde é inoculado o veneno do antijornalismo de Veja, o debate se transformou em bate-boca."
A grande repercussão nas redes sociais sobre o Fora do Eixo (FdE) faz surgir o #FdELeaks. Segundo consta no site, "é uma plataforma anônima de captação e publicação de denuncias que revelem funcionamentos obscursos deste Coletivo."
O que vocês pensam sobre isso?
http://www.foradoeixo.sx/
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Mídia Ninja. ‘A disputa pelo poder midiático’. Entrevista com Fábio Malini
"A cultura nativa da rede acaba entrando em conflito com a cultura secular do jornalismo na medida em que há, na rua, uma disputa, um confronto com a estrutura de poder existente”, aponta o pesquisador.
AQUI
Leia o que foi publicado no blog da Ação Cultural sobre o Fora do Eixo. AQUI
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Para esquentar o debate:
Alexandre Barreto
Este
livro é uma grande contribuição para as pessoas que tem dificuldade de
pensar que existe uma dimensão econômica nas atividades culturais. A
primeira vez que tive contato foi através de recomendação do professor e
pesquisador José Carlos Durand da Unicamp.
Eu li o depoimento de Beatriz Seigner, que vem servindo de contraditório às propostas do Mídia Ninja, colocadas em discussão no último Roda Viva e que entrou em pauta nacional. O depoimento sobre o Fora do Eixo me pareceu raivoso, personalístico e intencionalmente prejudicante. É como se ela, no momento em que as experiências alternativas do grupo começaram a ganhar notoriedade e a nos levar a intuir formas menos capitalistas para a produção de arte e difusão de notícias, ela, a cineasta Beatriz Seigne, decidisse jogar areia no brinquedo, por pura pinima. Prefiro aguardar novas opiniões e me informar melhor sobre o tema.
Por enquanto, acho as propostas do Fora do Eixo psicodélicas demais, uma reedição da Sociedade Alternativa dos anos 60, só que mais articulada economicamente, se bem que se apresente como desmonetarizada, trabalhando por escambo, o que, evidentemente, não pode ser bem assim.
Como profissional do jornalismo temo o descarte do jornalista formado pela Academia, com seus conhecimentos consagrados e deveres éticos inerentes à profissão. Qual será o papel do profissional jornalista, fotógrafo, editor, no quadro proposto? Como serão definidas as relações trabalhistas? Haverá filtro ou tudo será notícia, numa sofreguidão midiática como a que acontece, hoje, com o avalanche de achaques pessoais e idiotices inúteis de certos internautas nas redes sociais?
Mas o que os meninos da Mídia Ninja propõem é uma discussão oportuna e essencial à prática da comunicação nestes tempos de novas mídias, e da necessária desmonopolização dos veículos de comunicação. Ou estamos satisfeitos que quatro ou cinco famílias detenham o exclusivo poder na mídia brasileira, impondo-nos, descaradamente, os seus interesses políticos, econômicos e culturais? Temos que encontrar soluções e as propostas apresentadas pelo Mídia Ninja devem ser consideradas.
É muito cedo para conclusões.
Amaral Cavalcante
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Sobre o FdE: “Eu prefiro o viés que disputa essas novas organizações pela esquerda”
11/08/2013 | Publicado por Renato Rovai em Geral - (9 comentários)Li muitos textos nos últimos dias sobre o Fora do Eixo, principalmente porque tenho há uns dois anos relação próxima com o grupo e queria tentar entender melhor por que o texto de Beatriz Seigner desencadeou uma enxurrada de críticas ao FdE, algumas repletas de mágoa. Outras de ódio. E, claro, também muitas de defesa quase apaixonada. Ou de parceiros solidários, como a da UJS, cujo título é Somos Todos Fora do Eixo.
É com base nessas leituras que vou fazer a entrevista de hoje, às 20h, com o Pablo Capilé. Seremos eu eu o Antônio Martins, do Outras Palavras. Entre todas essas leituras, destaco dois textos. O primeiro está publicado aqui. É um estudo feito pelo pesquisador André Azevedo da Fonseca, da Universidade de Londrina (UEL). Ele faz uma análise que destaca como “uma visão crítica sem rancores ou deslumbres da rede de coletivos”. Outro é o de Atílio Alencar, ex-integrante do FdE, e a quem conheci pessoalmente, e que segue abaixo. Gosto do texto porque ele tem a capacidade de debater o FdE sem entrar no que chama de Fla x Flu. E debate modelos culturais, que é a discussão que mais me interessa nesta polêmica toda.
A quem possa interessar: sobre a polêmica da vez, o Fora do Eixo
por Atílio Alencar
Antes de mais nada: se alguém espera ler aqui uma fábula de terror psicológico pontuada por requintes de crueldade ou um conto de fadas sobre dedicação e superação, esqueça. Não tenho a mínima intenção de engrossar o caldo dos relatos passionais contra ou à favor do Fora do Eixo. Aliás, acho lamentável que tanto quem ataca quanto quem defende, tem optado por adotar uma linha de exacerbação dos aspectos pontuais que ora geram a ideia de uma rede análoga a um pesadelo com grades de ferro, ora pintam em cor de rosa a experiência da vida em coletivo. Prefiro pensar que em algum ponto entre esses extremos, podemos tratar do fenômeno da organização em si, do que ela significa, e não do conjunto de seus dramas individuais.
Pois bem. Minha história junto ao FdE faz mais sentido se contada do final – porque o início não difere muito de mil outras histórias: apenas um rapaz latino-americano querendo viver o mundo da produção cultural para além do caráter estrito do mercado, lá pelos idos de 2009. Foi em dezembro do ano passado que, depois de um processo de longos meses de reflexão, tomei a decisão de comunicar meu afastamento da rede – e mais precisamente, da casa que eu compartilhava com outras cinco pessoas em Porto Alegre. O procedimento para comunicar meu desligamento de uma rotina de muito trabalho, viagens e reuniões inacabáveis (sim, no FdE, boa parte do seu tempo desperto é, ou ao menos era, ocupado por reuniões on line e off line) foi razoavelmente simples, muito embora doloroso por motivos pessoais. Sentamos na sala da casa de onde não faria sentido eu evaporar sem conversar com as pessoas; expus meus motivos, ouvi questionamentos, respondi os que me eram possíveis, me reservei o direito de silenciar sobre motivações de caráter íntimo. Ouvi votos de felicidade, senti o desapontamento de alguns no olhar, trocamos abraços sinceros e vim-me embora para Santa Maria, cidade de onde havia saído cerca de um ano e meio antes para encarar a empreitada de trabalhar e viver em Poa. Nunca fiz questão de alardear minha saída publicamente, justamente para evitar especulações ou figurar nas intrigas que naturalmente viriam a surgir, dado a curiosidade doentia sobre a vida alheia que vez ou outra pauta as rodas e redes sociais. Contei para os mais chegados, não menti quando alguém me perguntou; mas alarde, não vi motivo pra fazer. E da confusão e fragilidade emocionais comuns aos tempos de transição, fui aos poucos me reorganizando, reencontrando velhos hábitos e amigos, constituindo um novo – ou velho – modo de vida. Mesmo das atividades que precediam minha adesão ao FdE, me vi repentinamente deslocado. Já não fazia sentido, por exemplo, seguir associado ao Macondo Lugar, casa noturna que ajudei a fundar oito anos atrás. Uma vez que a gestão da casa havia passado por um processo de coletivização, e a mim já não interessava estar imerso em um estilo de vida coletiva, o rompimento se fez a atitude mais coerente a ser tomada. E assim procedemos, formalizando meu afastamento definitivo do quadro de sócios do Macondo, mediante aquisição das minhas cotas-proprietárias pelos demais administradores.
Dessa passagem da minha vida, o que poderia interessar ou contribuir para as discussões atuais? Acho que alguns pontos merecem ser sublinhados: desde que saí do FdE, rompi contato com praticamente todo mundo da rede, salvo raras e brevíssimas excessões. Não me tornei, no entanto, nenhum recluso, muito menos nos ambientes virtuais. Falo muito, opino muito, teço críticas e elogios no campo da política, da comunicação e da arte, me envolvo em campanhas orientado única e exclusivamente por minha vontade individual de participar dos debates contemporâneos. Nunca recebi mensagem dos gestores do FdE, entretanto, recomendando cautela ao assumir posições políticas em função da natural confusão que minha saída não divulgada poderia causar – e de fato causou. Critiquei abertamente interlocutores do FdE, fiz críticas que poderiam muito bem ser endereçadas a eles, e assim como não sofri assédio na ocasião de meu afastamento, também não o senti ao optar pelo dissenso. Se aconteceu com outros, como está sugerido em alguns relatos recentes, e isso não se tornou um debate aberto, me pergunto quais teriam sido os motivos do silêncio. Não há registro de “queima de arquivos” por parte do FdE, e a condição franzina da maioria dos meninos da rede não chega a inspirar receios quanto à violência física. Se a mim fosse recomendado o silêncio, eu teria respondido fazendo uso da minha liberdade de expressão – e não teria esperado nenhum segundo sequer para isso. Estranho que a enxurrada de depoimentos das supostas “vítimas” coincida com o momento de visibilidade global da Mídia Ninja (iniciativa que tem origem junto aos midialivristas do FdE); se isso não invalida o debate, como de fato não o faz, ao menos suscita questionamentos sérios sobre integridade e oportunismo por parte de quem efetua os ataques. Não há discurso descomprometido, e me intriga a motivação tardia dos que resolveram só agora falar.
Mas isso é só desconfiança minha, e portanto, vazia de valor porque carente de fundamentação. Melhor seria, talvez, aproveitar o gancho de algumas denúncias para ampliar o debate.
Sobre a Beatriz Seigner e sua malfadada experiência com o FdE: não a conheci pessoalmente, assim como não estive diretamente envolvido em nenhuma conversação com ela. Mas lembro de uma troca de e-mails que acompanhei como observador, que registrava sua indignação com o que ela classificava de “descaso” com a arte por parte dos integrantes do FdE. Segundo Beatriz, o fato de as pessoas ligadas à rede não consumirem bens culturais na mesma medida em que se envolviam com produção ou discussão sobre políticas públicas seria um atestado de miséria estética e intelectual, uma falha imperdoável na formação individual, uma opção intencional pela pobreza de espírito. Isso, essa leitura dela, dá margem para uma discussão pertinente, mas que não traz em si nenhuma novidade. A relação entre militância e fruição remonta, quem sabe, ao início do século passado, ou antes. Mas tem outros elementos a serem levados em conta. Particularmente, pertencendo à geração que pertenço (não sou um nativo da era digital; a maior parte das minhas leituras não se realiza na tela de um monitor), me causa estranhamento a rapidez vertiginosa com que se acessa hoje (via downloads de arquivos compartilhados ou streamings que não geram remuneração para o autor) vastas discotecas que são tão facilmente acumuláveis quando descartáveis. Sou mais habituado ao tempo dos discos de vinil e laser, seus rituais de eleição e sua atmosfera, seu tempo fora do tempo funcional. As trilhas sonoras da minha vida, elas não me arrebataram enquanto eu manipulava uma planilha no Google Docs, nem cabem na urgência do formato mp3. Mas isso não significa que eu ache plausível pautar a discussão sobre Cultura Digital à partir das minhas preferências ou caprichos. Quando o FdE faz a opção aparentemente etapista de primeiro fazer e depois aproveitar, eu não estou de pleno acordo. Mas consigo entender a provocação contida na frase “ler é perda de tempo”. Já ouvi, aliás, consideração semelhante por parte de intelectuais engajados em relação à ficção e poesia. Fiquei surpreso, mas entendi a opção como um gesto radical que descarta a leitura recreativa em nome do domínio das ferramentas conceituais de luta. Além disso, com os jovens do FdE provavelmente ocorra o que ocorre com uma geração inteira: sua forma de assimilar é outra, a simultaneidade se apresenta como o modo óbvio de lidar com os diversos campos de conhecimento, os suportes passivos (como livros e discos) estão desgastados perto do grau intenso de interação virtual, e sua atenção é difusa demais para ser suportada em uma página de cada vez, como exige a leitura tradicional. Se isso é bom ou ruim? Nem acho que possa ser avaliado em tais termos. Mas é diferente, intrigante. Abre novas possibilidades de formação, com os quais a educação formal não sabe ainda como lidar. Daí a dizer que é mais pobre, eu não diria; muito menos desautorizaria essas pessoas a debater cultura dessa nova perspectiva. Assim, no campo simbólico, eu prefiro ler na reclamação da Beatriz mais um desconforto dela frente ao modo irreverente com que as novas gerações se colocam frente à ideia de cultura, do que propriamente uma denúncia de “traição à arte”. Porque se sua equação for simplista a ponto de dividir o mundo entre analfabetos e ilustrados culturais, entre alta e baixa cultura, estaríamos falando de uma artista nos moldes aristocráticos, indissociável dos milhares de pedantes que ainda tratam de arte como tema para espacialistas. E imagino que a Beatriz, sendo a artista-pesquisadora que é, não deve querer ser considerada um deles.
Ainda quanto às expectativas frustradas expressas pela Beatriz em sua carta, percebo ali o descontentamento habitual de quem produz cinema, contando com parcos recursos e boas ideias, e sofre com o constante risco do vácuo, do produto visto por poucos e logo engavetado, ou perdido em meio aos ruidosos canais virtuais, onde a tarefa de se separar o joio do trigo é sensivelmente mais desafiadora. Mas é um discurso de autoralidade, por si só discutível, como tudo o é, nesses tempos de ressignificação. Ela viu no FdE a oportunidade de fazer decolar seu filme. Quem sabe uma fala mais apaixonada tenha despertado nela o vislumbre de uma fórmula alternativa e supostamente infalível de sucesso; mas o projeto, seja pelo motivo que for, não foi levado adiante. Imagino o tamanho da decepção, mas não consigo, sinceramente, ver nesse naufrágio nenhum indício de crime capital. Produtoras convencionais concebem e engavetam projetos com a mesma naturalidade com que trocamos de roupa. Porque seria diferente com coletivos que dependem diretamente da mobilização de pequenas células e da incerteza orçamentária para viabilizar suas ideias? O que não entendo – e isso não passa por deslegitimar a Beatriz como uma interlocutora importante em momento algum – é como e porque, à partir de uma insatisfação pontual de um autor em relação ao projeto que envolvia o seu filme, se constroi misteriosamente uma convergência entre colunistas da imprensa corporativa, articulistas partidários, teóricos radicais do “comum” e militantes ocasionais. Vocês conseguem perceber a contradição gritante implicada em, por exemplo, em defender o copyleft e reconhecer e exaltar o pixo e o remix como linguagens artísticas autênticas, e ao mesmo tempo, aderir e tomar como sua uma campanha essencialmente orientada pela noção de propriedade intelectual? Pois eu tenho lido arroubos de irracionalidade muito intrigantes, nesse sentido. Coisa típica de uma caça às bruxas, na qual o consenso sobre o acusado é mais importante que os diversos discursos que, mesmo contraditoriamente, o sentenciam.
Agora, se o que a Beatriz cobra no seu texto for verdade, sobre compromissos financeiros supostamente assumidos e não cumpridos, imagino eu que a solução é simples: que seja calculado e pago o que o Fora do Eixo deve à ela. Simples. Se em nenhum momento houve acordo quanto a um cachê desmonetarizado, se ela não se sentiu contemplada por trocas de serviço, se houve qualquer espécie de engodo ou calote, a dívida é vigente e tem que ser sanada. Se, no entanto, ela mudou de ideia somente um ano depois sobre o acordo firmado, fica como uma experiência de resultados aquém dos projetados, mas não distorcidos nem criminosos. Aliás, quanto ao filme da Beatriz, que não deveria ser eclipsado no debate aberto por ela: lembro que assisti quando houve a exibição em Porto Alegre e gostei bastante; se não me engano, aqui em Santa Maria, segundo o relato das pessoas que o projetaram, a exibição reuniu cerca de 100 pessoas, o que é um número considerável para qualquer um que conheça a realidade dos cineclubes. Ou seja, não me parece que tenha sido uma parceria totalmente infrutífera.
Já quanto ao texto da Laís, que importa no que diz respeito à organização interna do FdE e no modo de convívio entre os integrantes dos coletivos, vou buscar dar um relato que abrange apenas parcialmente a experiência da rede, mas que considero um ponto de vista importante, dado que fui morador da segunda Casa Fora do Eixo criada no país. Dividi o espaço com cinco outros moradores fixos e vários viventes ou hóspedes que passaram pela casa. Vi gente deslumbrada num primeiro momento que simplesmente percebeu que a vida coletiva não era o que esperava, ao menos ali, depois de poucos dias. Vi gente chegando desiludida com a vida universitária e aos poucos se aprimorando em linguagens como fotografia, edição, design gráfico. Vi gente se divertindo ao compartilhar as tarefas domésticas mais prosaicas, e brigando por motivos ordinário (embora isso não fosse regra). Vi gente satisfeita quando as coisas davam certo e desestimuladas quando davam errado; alguns, como eu, buscavam os velhos amigos ou a família quando achavam que o convívio estava saturado, viciado, ou se encontravam numa fase depressiva. Assim como seres humanos normais, entendem? Cheios de convicções e dúvidas, oscilações, companheirismo, divergências, mas nunca desprovidos do direito primordial de optar pela porta da rua. Sobre quase tudo, se conversava abertamente, numa tentativa de desmistificar tabus e crises pessoais. Se isso é escravidão, não saberia como definir qualquer outro ambiente de trabalho ou estudo. As opções, quando se está num coletivo, para mim seguem parecidas com as de outras situações da vida social, e por maior que seja o grau de autonomia, não há garantias dentro nem fora. Tudo depende da soma da sua disposição, sensibilidade e diversos outros fatores externos que não são determinados por uma simples escolha. Não fosse assim, estaríamos vivendo numa sociedade livre. E não é o caso do sistema capitalista, pelo que me parece.
Há casos de machismo no Fora do Eixo? Eu não diria que há casos, porque isso levaria a supor que existe algum ambiente social imune à essa tradição, onde já tivéssemos superado os séculos de patriarcado em nome de uma igualdade de condições, em que o machismo fosse tão somente um “tropeço”. Havia incidência e discussão. Havia, como deve haver ainda, laboratórios, oposições, falas e silêncios. No tempo em que morei na Casa Fora do Eixo em Poa, executei tarefas como a limpeza dos banheiros, ao mesmo tempo em que achei normal que as mulheres predominassem no revezamento na cozinha. Por preconceito ou costume (o que dá no mesmo, nesse caso), mas com a diferença que ali isso não estava naturalizado, não era uma prática blindada. Fui tão machista vivendo lá como tento não ser em qualquer outro lugar. Se agi, eventualmente, como se nós homens tivéssemos alguma atribuição exclusiva, e as mulheres idem, isso não foi tema proibido em reuniões de avaliação. Minha proposta de desconstruir o machismo em mim não é nenhuma garantia de “cura”; imagino que deve ser assim como todo homem que se propõe a encarar um processo parecido. O desafio de romper com os paradigmas sociais de opressão começa na escala das micro-relações, geralmente as menos perceptíveis. Assim, se até mesmo a Laís foi perceber, segundo ela mesma, que várias vezes protagonizou disputas movidas pelo egocentrismo, ela pode bem imaginar que o restante dos moradores não estaria livre desse tipo de atitude. Talvez eu encarasse o relato de forma distinta se nunca houvesse saído do ambiente familiar para viver em repúblicas estudantis, se não tivesse enfrentado o cotidiano de truncada administração que muitas vezes torna a lavagem da louça uma crise em potencial, ou a negociação dos quartos uma questão essencial para a privacidade. Mas tudo isso eu vivi antes do FdE, e não me causa estranhamento que um coletivo com organização interna eleve essas questões a um nível mais rigoroso, estabelecendo regras de convívio. Regras são discutíveis, claro. Mas não posso concordar, porque não testemunhei nada parecido, que a carga de trabalho das mulheres no FdE as coibisse do convívio social, ou que as relegasse a postos subterrâneos. Na casa onde morei, inclusive, as gestoras eram praticamente todas mulheres, com idêntico ou maior espaço de fala que os homens. Pelo que percebo em publicações nas redes sociais, segue sendo assim. E não foram poucas as vezes em as meninas, tanto quanto os meninos, largavam o que estavam fazendo para desestressar numa mesa de boteco.
Que o choque de uma vivência assim seja negativo para alguns, não tenho porque duvidar. Que tenha perturbado o equilíbrio psicológico da Laís, acredito também. Afinal, do pouco que conheço dela, através dos relatos que ela mesmo fez, percebo que se propôs a uma reviravolta grande na vida. Mas o exercício do livre-arbítrio está aí para garantir a nossa saúde, em caso do meio ser encarado como opressor. Foi o que ela fez, o que me parece uma atitude coerente com suas aflições. Só não entendo exatamente porque a insistência no tom proscritivo, como se nossos fracassos pessoais fossem indexadores das experiências alheias.
Mas enfim, me demorei mais do que gostaria na análise dos relatos que vieram à tona recentemente. Acho que movido pelo tom sensacionalista com que foram divulgados e até festejados, de maneira eufórica pelos mais obcecados, eu posso ter me contaminado pelo clima de “Fla x Flu”. Não acho que seja o caso de cair na cilada da polarização “bem versus mal”. Nem acho que o FdE, por ter sido a organização na qual militei num passado recente, esteja acima dos debates necessários. Mas desconfio muito de todo linchamento público cuja justificativa seja a “moralização”. Nisso, com todos os erros – coletivos ou individuais – que possam estar contidos na atuação do FdE, eu acho que há uma pressa estranha em classificar o coletivo como a “maçã podre” das organizações contemporâneas. Quando oriundas da direita, a vulgaridade das críticas não me surpreende: “máfia”, “cartel vermelho” e “petralhas” são infâmias recorrentes nas bocas de parte da grande imprensa; já algumas críticas que se pretendem à esquerda, surpreendem pela incongruência entre o que exigem e o que de fato praticam enquanto coletivos. Grupos de intelectuais formados por carreiristas acadêmicos e empresários convencionais, repentinamente, convertem-se em juízes de qualquer concessão, como se o lugar de sua fala fosse isento das contradições que condenam com tanta veemência.
A isso, ao espetáculo da carnificina que iguala humores antagônicos, eu prefiro o viés que disputa essas novas organizações pela esquerda, mas sem a paixão pela derrota. Antes de qualquer condenação sumária, eu quero é apostar que o Fora do Eixo vai assumir a responsabilidade histórica de estabelecer uma ética radical de transparência, criando canais de debate ainda mais densos sobre a relação financiamento e autonomia no Brasil. Eu quero mais é que as camadas retóricas que porventura possam obscurecer o funcionamento das moedas solidárias sejam amplamente aprofundadas, gerando materiais didáticos legíveis, de fácil replicação e adequação por parte de empreendimentos periféricos e colaborativos. Se o feminismo no FdE é incipiente, eu desejo mesmo é que a organização seja provocada a debater com as feministas clássicas e com as vadias contemporâneas os projetos de luta e emancipação feminina. Que o papel de uma rede como o FdE enquanto entidade de interesse público seja de fato hackeável, que toda tecnologia gerada pela rede seja posta a serviço dos movimentos sociais sem ônus nem acúmulo material ou simbólico para nenhum dos envolvidos. Que movimentos ainda precarizados tecnologicamente se apropriem e potencializem sua atuação à partir do compartilhamento de saberes. Que a Mídia Ninja seja lida como mais uma das experiências interessantes, e que seja canibalizada por outras mídias, menores, invisíveis, autônomas, para que no caso dos ninjas sucumbirem ao mercantilsmo da informação, outros tantos tentáculos sigam fazendo o contraponto nas ruas. Que uma liderança como Pablo Capilé (porque sim, Pablo é uma liderança e das mais instigantes) seja constantemente intimado a renunciar à tentação do poder cristalizado em nome de estar junto, mas nunca acima dos movimentos sociais.
Pra mim, se não for isso, é recuar pela direita; é como se decidíssimos nos retirar das ruas com medo das marchas serem cooptadas pelo inimigo, ao invés de disputá-las.
Basicamente, é isso que eu tinha pra dizer.
*Ah, sim, só mais um detalhe: você que se declarou chocado com as supostas “terríveis violações de direitos humanos” praticadas por integrantes do Fora do Eixo, mas adora fazer uma piada com a deformidade labial do Capilé, saiba que o inferno é mesmo cheio de contradições. Piadas são um tipo de discurso que naturalizam preconceitos; mulheres, negros e gays que o digam.
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"Nos últimos dias, manifestações isoladas, surgidas de experiências negativas com o consórcio de produtores culturais denominado Fora do Eixo, começam a se transformar num esquema organizado com o objetivo de demonizar a Mídia Ninja, a partir de problemas com a rede de ativismo cultural do qual nasceu a experiência da “massa de mídias”.
Nesta semana, o assunto chegou à revista Veja, com o tratamento rasteiro e preconceituoso que há alguns anos caracteriza a publicação semanal brasileira de maior circulação. A partir daí, como acontece com os temas onde é inoculado o veneno do antijornalismo de Veja, o debate se transformou em bate-boca."
Leia artigo no Observatório da Imprensa: http:// www.observatoriodaimprensa.com. br/news/view/ uma_ruptura_na_industria_cultur al
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Mais: De Partido Pirata do Brasil - Via Face - AQUIA grande repercussão nas redes sociais sobre o Fora do Eixo (FdE) faz surgir o #FdELeaks. Segundo consta no site, "é uma plataforma anônima de captação e publicação de denuncias que revelem funcionamentos obscursos deste Coletivo."
O que vocês pensam sobre isso?
http://www.foradoeixo.sx/
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Mídia Ninja. ‘A disputa pelo poder midiático’. Entrevista com Fábio Malini
"A cultura nativa da rede acaba entrando em conflito com a cultura secular do jornalismo na medida em que há, na rua, uma disputa, um confronto com a estrutura de poder existente”, aponta o pesquisador.
AQUI
Leia o que foi publicado no blog da Ação Cultural sobre o Fora do Eixo. AQUI
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Para esquentar o debate:
Alexandre Barreto
Este
livro é uma grande contribuição para as pessoas que tem dificuldade de
pensar que existe uma dimensão econômica nas atividades culturais. A
primeira vez que tive contato foi através de recomendação do professor e
pesquisador José Carlos Durand da Unicamp.
Quem insiste em
discutir que produção cultural para ser produção cultural não pode ter
qualquer relação com a economia (tem muito graduado, mestre e doutor que
pensa isso) irá contribuir mais com a produção cultural se ler este
livro.
Entender as relações econômicas existentes no trabalho
gerado pelas atividades culturais preveni que as pessoas acreditem em
coletivos e redes cujos líderes (que ainda se autodenominam produtores
culturais), que tem relação direta com financiamento de partidos
políticos, se aproveitam da boa fé de quem quer fazer acontecer a
cultura, propondo trabalho sem remuneração, para depois criar um bom
release, divulgar nas redes sociais e mentir que movimentam moedas
sociais, trabalham em regime de economia solidária e que são
transformadores sociais.
Excelente leitura, de verdade.
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9 de agosto
A semana foi uma montanha-russa para a rede Fora do Eixo, e um
de seus braços midiáticos, a Mídia Ninja. Pablo Capilé, gestor do Fora
do Eixo, e Bruno Torturra, coordenador de comunicação do FDE, e face da
Mídia Ninja, começaram dando baile em baluartes da imprensa no programa Roda Viva,
na segunda (5). E chegaram à quinta sob ataque cerrado, enfrentando
denúncias, e principalmente depoimentos impactantes de ex-integrantes do
Fora do Eixo.
Eu já tinha publicado uma entrevista com Bruno. Na terça (9), comentei o Roda Viva. Na quarta (10), convidei Pablo para uma entrevista aqui no blog, e ele aceitou. Na quinta, enviei as perguntas abaixo. No mesmo dia, Capilé as publicou em seu perfil no Facebook.
Eu não pretendia publicar as perguntas sem resposta. Mas já que ele tomou a iniciativa, e disse que vai respondê-las nos próximos dias, deixo aqui registradas também.
O "algumas" do título é brincadeira. São um monte. E muitas outras não incluí. O Fora do Eixo é complexo. Não foi nenhum grande esforço de reportagem. Minha pesquisa levou algumas horas, três telefonemas, e
tive a sorte de contar com algumas fontes muito bem informadas.
O mais estranho não é que eu tenha elaborado tantas perguntas. O mais estranho é que eu, que tenho um simples blog, e outro emprego, tenha feito isso tão fácil e tão rápido. E a imprensa - tradicional ou independente - jamais tenha se dado ao trabalho.
Abaixo, a íntegra do email que mandei para Pablo Capilé e Bruno Torturra.
Oi Pablo,
aí está. Um questionário e tanto!
E olha que ainda cortei muitas perguntas.
Como você sabe, o Fora do Eixo tem muitos críticos.
E todo mundo resolveu me procurar, quando anunciei que preparava uma entrevista contigo...
Dei uma boa peneirada. Mesmo assim sobrou um tanto de perguntas provocativas.
E outras que são bem pragmáticas mesmo.
As regras são as mesmas da entrevista que fiz com o Bruno Torturra: as suas respostas serão publicadas na íntegra e nesta mesma ordem. Só editarei se for realmente necessário, e somente por questões de espaço e de padronização de texto do R7.
Confirma se recebeu, OK?
Obrigado, abraço
André
título: Uma entrevista com Pablo Capilé, gestor do Fora do Eixo
Quantas organizações compõem a rede Fora do Eixo?
O que elas são - empresas, ONGs Oscips?
Quantos CNPJs?
Cada uma tem autonomia para captar recursos e participar de editais independentemente, ou há uma coordenação nacional?
Existe um caixa único?
O que é o Banco Fora do Eixo?
Existe uma prestação de contas unificada, ou cada organização presta contas separadamente?
Qual é o total de recursos que a rede Fora do Eixo recebeu em 2012?
Quanto destes recursos veio de editais, quando de patrocínios e apoios, quanto de festivais, e quanto de outras fontes?
Quanto veio de recursos públicos, seja via editais, patrocínios, publicidade ou qualquer outra modalidade de apoio?
O Fora do Eixo defende a transparência e afirma que suas contas e planilhas estão à disposição de quem quiser. Onde estão disponíveis planilhas que dêem conta de todas as movimentações do FDE?
A área de "empreendimentos" do site do FDE está em manutenção pelo menos desde fevereiro passado. Por quê?
Esta planilha de prestação de contas é difícil de analisar. Às vezes os valores aparecem em número, às vezes por extenso, o que dificulta a soma direta. Por quê?
A cada ano, nesta planilha, há projetos que não incluem resultados. A gente sabe que às vezes fica para outro ano. De todos os projetos apresentados pelo FdE, qual a proporção que é aprovada e qual a proporção rejeitada?
O FDE já afirmou que 7% do total de seu orçamento vem de dinheiro público. No Roda Viva, você falou em 5%. Isso indica que o FDE tem um orçamento consolidado. Tem ou não tem? Se tem, você pode divulgar?
E onde estão as informações sobre os investimentos de empresas privadas e receitas de outras atividades, que somam esses 95%? Esta planilha divulgada pelo FDE não contém valores nesse montante.
O que é a Universidade Fora do Eixo?
Quantos estudantes e quantos professores estão na Universidade Fora do Eixo?
Os estudantes pagam? Quanto?
O site da Universidade Fora do Eixo lista dezenas de docentes. Eles recebem? Quanto?
Alguém já se formou nessa Universidade?
Qual é o orçamento da Universidade FDE, e quem gere este orçamento?
No site da Universidade Fora do Eixo, há um crédito: "Realização: Ministério da Cultura, Petrobras, Fora do Eixo", com os logotipos. Qual a participação, e o investimento financeiro, do Ministerio da Cultura e da Petrobras na Universidade Fora do Eixo?
A Petrobras vem sendo um grande apoiador das iniciativas do Fora do Eixo. O FDE já indicou alguém para participar das instâncias que decidem os patrocínios da Petrobras?
O Fora do Eixo já apoiou candidatos a cargos públicos? Quem?
O Fora do Eixo já indicou alguém para participar de governos? Quem?
Embora o FDE tenha entrado de cabeça no movimento Existe Amor em SP, contra Russomano e pró-Haddad, a secretaria de cultura de São Paulo está com Juca Ferreira, e com o chefe de gabinete Rodrigo Savazoni. Savazoni é da Casa de Cultura Digital e independente do Fora do Eixo. Você acha que o FDE mereceria mais espaço na gestão Haddad?
Quantas pessoas trabalham em período integral na rede Fora do Eixo?
É obrigatório para quem trabalha em período integral no FDE morar nas Casas Fora do Eixo?
Qual é a faixa etária dessas pessoas?
Três pessoas diferentes me disseram que os integrantes do Fora do Eixo são pressionados a se relacionar amorosamente somente com outros integrantes do FDE. Quem quiser namorar com alguém de fora é convidado a sair do FDE. É verdade ou mentira?
Há relatos de que uma criança mora em uma Casa Fora do Eixo, apelidada "Bebê 2.0". Seria filho de dois militantes do FDE, mas seria criada coletivamente, por vários "pais" e "mães". O pai e mãe biológicos não teriam poder paterno sobre a criança. É verdade?
O Fora do Eixo criou diversas moedas virtuais: Cubo Card, Goma Card, Marcianos, Lumoeda, Palafita Card e Patativa. Como elas são utilizadas?
Por quê criar diversas moedas, e não uma só?
Essas moedas virtuais podem ser trocadas por reais? Se sim, qual o câmbio? Se não, por quê não?
Quem trabalha para o Fora do Eixo recebe em moedas virtuais. Se sair do FDE, o que vai fazer com suas moedas virtuais?
No site da Casa Fora do Eixo, há, em destaque, um logotipo da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Qual o valor do apoio da Secretaria à Casa Fora do Eixo?
O Estado de São Paulo é governado pelo PSDB. O Fora do Eixo aceita apoio de governos de qualquer partido?
O governador Geraldo Alckmin foi o principal alvo das manifestações em São Paulo. Você vê alguma contradição em receber apoio de um governo e militar contra ele?
A homepage do Portal Fora do Eixo traz três patrocínios federais: Ministério da Cultura, programa Cultura Viva e Programa Mais Cultura. Isso não provoca no leitor uma ideia imediata de vinculação entre o FDE e o governo federal?
O que é o Partido da Cultura? É ligado ao Fora do Eixo?
No site do Partido da Cultura, o último post é de janeiro de 2012. No twitter, de março de 2012. Ele está ativo? Pretende se constituir como partido regular e disputar eleições?
O FDE vem se aproximando de Marina Silva e seu projeto de partido, a Rede, inclusive colaborando na campanha de assinaturas. Há alguém indicado pelo FDE na executiva da Rede?
Se Marina Silva vencer a eleição para presidente, o FDE pretende indicar o ministro da cultura?
O Fora do Eixo costumava proclamar a política do "pós-rancor". O termo "pós-rancor" é criação de Claudio Prado, chefe do programas de cultura digital do Ministério da Cultura na época de Gilberto Gil e Juca Ferreira. Segundo a teoria do pós-rancor, as tensões entre capital e trabalho estão superadas, o conflito agora é entre quem tem informações e quem não tem. Cláudio Prazo é muito próximo do FDE, tem até programa na Pós TV. Mas nas manifestações de rua, o que não falta é rancor e polarização, ainda mais nos últimos protestos. O "pós-rancor" morreu?
Uma fonte me disse que o Fora do Eixo costuma apoiar determinados candidatos em eleições municipais e estaduais, com os militantes trabalhando diretamente nas campanhas. Se o candidato vence, o Fora do Eixo indica gente para a secretaria de cultura, geralmente pessoas que não são do FDE, mas próximas. Seriam mais de dez secretários da cultura no Brasil. É verdade?
A Mídia Ninja, como a Pós-TV, é do Fora do Eixo. O FDE recebe verbas de grandes corporações, como Vale e Petrobras. O Fora do Eixo financia a Mídia Ninja, que critica o grande capital, e principalmente a grande mídia. Afinal, FDE e a Mídia Ninja são contra o grande capital ou a favor?
Diversos apoiadores do FDE trabalham ou trabalharam na grande imprensa. A principal figura da Mídia Ninja, Bruno Torturra, trabalhou anos na Editora Trip, chegando a diretor de Redação. Contratou, demitiu, controlou orçamentos. Além da Trip, a editora faz revistas pra grandes corporações, como Gol, Pão de Açúcar e Audi. Seu emprego mais recente foi na TV Globo, como redator do programa Esquenta, com Hermano Vianna e Regina Casé. Você vê alguma contradição nisso?
Você acha que quem participa dos protestos tem consciência de que a Mídia Ninja e o FDE recebem apoio financeiro de grandes empresas, e governos de diversos partidos?
O Fora do Eixo costumava ser muito ativo nas redes sociais. Mas no auge das manifestações em S. Paulo, você abandonou o Twitter. Entre 11 e 18 de junho, não publicou nada, sendo que a manifestação em que a repórter da Folha foi ferida no olho aconteceu no dia 13. Coincidentemente, o twitter do Fora do Eixo tb não publicou nada entre 13 e 22 de junho. Vc só voltou ao twitter pra divulgar as transmissões da Mídia Ninja e pra anunciar que o prefeito Haddad ia baixar as tarifas. Por quê?
No começo deste ano, o Fora do Eixo publicou na internet o glossário do FDE: termos que devem ser conhecidos e usados por todos os militantes. Outros coletivos fizeram críticas, o FdE tirou o texto do ar, depois republicou, mas com alterações. A principal: eliminou o verbete "choque pesadelo". O verbete era assim: "Choque pesadelo: Embate conveniente direcionado a alguém que vem conflitando ideias através de críticas não propositivas que desestimulem uma pessoa, ou grupo. O choque pesadelo serve como uma fala direcionada que busca esclarecer situações através do "papo reto". Ex. Tivemos uma conversa franca que serviu como choque pesadelo para ele. Ler também "papo reto". Pode explicar?
Muitos críticos do FDE dizem que o Fora do Eixo é uma seita, com regras rígidas para todas as ocasiões. O fato de existir um glossário tão detalhado não dá razão aos que criticam o FDE por ser uma espécie de seita?
O que é "catar e cooptar?"
Embora o FDE se apresente como uma rede, ex-integrantes do FDE dizem que a estrutura é totalmente verticalizada, e que você é como um guru na organização - jamais é questionado por ninguém. Quais outros integrantes do FDE têm influência próxima à sua?
Muitos coletivos de esquerda e movimentos populares não se dão com o Fora do Eixo. É o caso do Movimento Passe Livre, do MST, Movimento Hip Hop, Ocupa São Paulo e vários outros. A que você atribui essa rejeição?
Um conhecido jornalista de esquerda, José Arbex, escreveu um texto com críticas pesadas ao Fora do Eixo, em 2011, na revista Caros Amigos: "Lulismo Fora do Eixo". Ele conta que durante a preparação da Marcha pela Liberdade, em maio de 2011, você mencionou a possibilidade de a Coca-Cola patrocinar a marcha, e que a Coca nem fazia questão de sua marca aparecer --era só pra ficar bem com os movimetos progressistas. Outros coletivos rejeitaram o patrocínio. Várias pessoas contaram a mesma versão dessa história. Isso é verdade? Se não é, exatamente o que você disse nessa reunião? Se isso não é verdade, o que foi que você disse nessa reunião?
O coletivo de esquerda chamado Passa Palavra se destaca nas críticas ao Fora do Eixo. Em um texto muito alentado, de 2011, eles afirmam que: a) o Fora do Eixo tem 57 CNPJs diferentes; b) o FDE é uma máquina de ganhar editais, que floresceu nas gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira no MinC, por meio do programa Cultura Viva, dirigido pro Claudio Prado. Segundo o Passa Palavra, o FDE participava da elaboração de editais da área digital do Minc, editais esses que eram vencidos pelo próprio FDE. Como você responde a essas acusações?
O Fora do Eixo começou em Cuiabá, com o Festival Calango. Esse festival não existe mais, apesar do crescimento do FDE. Por quê?
Você já disse defendeu várias vezes de que os artistas que tocam em festivais não deveriam receber cachês. Por quê?
Se os artistas não ganham para tocar, não ganham para divulgar música na internet, e o mercado de discos está em baixa, do que os artistas devem viver?
O FDE agencia shows? De que artistas? Como o FDE é remunerado por agenciar shows?
Os festivais independentes de rock brasileiros eram reunidos, desde 2005, numa entidade chamada Abrafin. Qual a relação atual entre a Abrafin e o Fora do Eixo?
Em 2011, treze festivais independentes, incluindo alguns dos mais importantes do Brasil, como o Goiânia Noise e o Abril Pro Rock (de Recife), abandonaram a Abrafin. Alegaram que o FDE tentava impor um paradigma único a todos os festivais. E que os festivais se viam obrigados a chamar sempre os mesmo artistas ligado ao FdE. O que aconteceu de fato na Abrafin?
Você tem a informação de que festivais que abandonaram a Abrafin passaram a receber menos patrocínios? A que atribui isso?
Vários artistas - o cantor China, o Daniel Peixoto (do Montage) e o Márvio dos Anjos (do Cabaret), entre muitos outros - relatam que os festivais do Fora do Eixo têm como características a infraestrutura muito simples e o não-pagamento de cachê, exceto em casos muito excepcionais. Se a infraestrutura é básica, não tem cachê, e os festivais são feitos com dinheiro de editais, para onde vai o dinheiro que sobra? Ou não sobra?
A cineasta Beatriz Seigner divulgou ontem um longo depoimento no Facebook. Cita um jantar na casa da diretora de marketing da Vale, onde ela e você estavam. Segundo o texto dela, você disse que "era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”. Esse diálogo aconteceu?
Beatriz também diz que seu filme Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano foi exibido em sessões que contavam com patrocinadores, mas que o dinheiro ficou sempre com o Fora do Eixo; ela não recebeu nada pela exibição durante os festivais Grito do Rock, e só conseguiu receber o dinheiro do SESC depois de muito insistir com o FDE. Isso é verdade?
Diz que lhe foi pedido que seu filme tivesse o crédito "Realização Fora do Eixo", embora o filme não tenha sido produzido pelo FDE. Isso é uma prática comum? Você considera isso um pedido normal?
Todo o depoimento de Beatriz é muito crítico ao FDE e a você pessoalmente. Como você responde a ele?
"Fora do Eixo" é marca registrada. O registro no INPI é da Globo Comunicação e Participações. Pode explicar? Aqui está o registro:
NCL(8) 3582861623009/08/2006FORA DO EIXORegistroGLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S.A.NCL(8) 41
O Fora do Eixo vem recebendo mais e mais críticas. Agora, também de ex-integrantes do FDE. Alguns preparam publicações de novos depoimentos contra o FDE. Certamente, a imprensa vai investigar ainda mais.
Com tanta publicidade negativa, dificilmente o FDE continuará recebendo apoios e patrocínios na mesma escala - afinal, empresas não querem risco na hora de escolher quem patrocinam. E necessariamente todas as contas do FDE serão examinadas com cada vez mais rigor. O Fora do Eixo - e portanto Mídia Ninja, Abrafin, Pós TV, Casas FDE, Universidade FDE etc. - está em risco de desmoronar de repente?
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Perguntas e respostas: FORA DO EIXO
Tire suas dúvidas segue o texto,
Somos Fora do Eixo: Rede de coletivos abertos a sempre refletir e aprofundar nossas práticas
Nos últimos dias, a partir da entrevista concedida por Pablo Capilé e Bruno Torturra ao Roda Viva, o Fora do Eixo e a Mídia NINJA passaram a ser o epicentro de um debate nacional. Nossa existência e nossas ações, que já somam quase uma década de atuação no Brasil e na América Latina, foram questionadas e defendidas, principalmente nas redes sociais.
A partir dos relatos da cineasta Beatriz Seigner e da jornalista Laís Bellini, que apresentaram suas experiências de trabalho com a Rede, a revista Veja iniciou uma série de matérias que visam a nos atingir: só na última sexta-feira, dia 9, foram publicadas oito matérias através de seu veículo online e no sábado mais uma matéria a partir de seu veículo impresso.
Entendemos que aquilo que Beatriz e Laís relatam precisa de resposta. Ainda mais considerando o grande número de pessoas que compartilharam essas análises parciais de nossa experiência. Há outros lados nesse processo. Para que isso fique claro, apostamos no diálogo franco e transparente de posições e idéias. Sempre foi essa a nossa atitude.
Os integrantes dos coletivos que compõem a nossa rede se entregaram a uma ampla reflexão e auto crítica sobre os acontecimentos. A partir disso, produzimos, a muitas mãos, a carta a seguir:
1 - Sobre autoritarismo e seita religiosa
As diversas acusações sobre a presença de uma liderança autoritária são uma tentativa de caricaturizar, desqualificar e neutralizar um processo político. A Rede Fora do Eixo, como outros coletivos e organizações, é baseada tanto em dinâmicas horizontais quanto na valorização de diversas lideranças. Pablo Capilé é um dos fundadores e conceituadores do Fora do Eixo, que por sua vez é uma rede que possui lideranças em todos os seus coletivos.
As acusações nesse campo desqualificam os demais integrantes dos coletivos da rede e sua autonomia e dinâmicas próprias.
Causa estranhamento o fato da revista Veja cobrar da rede Fora do Eixo uma horizontalidade maior de sua organização, sendo que nem ela, nem a mídia tradicional brasileira, possuem um histórico de apoio a este tipo de articulação coletiva, descentralizada e horizontal, tampouco se enquadram nessas características.
Repudiamos também a tentativa de classificar as experiências das Casas como seitas religiosas, numa busca explícita de difamar o projeto. A criminalização de experiências dos coletivos e redes com princípios comunitaristas, prejudicam não só o Fora do Eixo mas todos que buscam alternativas concretas de colaboração fora dos padrões convencionais do mercado.
2 - Trabalho Escravo
Nenhum morador, colaborador, parceiro ou qualquer pessoa relacionada aos coletivos da rede jamais foi submetido a trabalho escravo. A adesão a qualquer atividade e/ou projeto da rede se dá de forma livre, consciente e esclarecida.
A formação cultural e as expertises desenvolvidas durante os trabalhos constituem capital simbólico que inclui contatos, redes de relação, conhecimento de territórios e novas ferramentas no campo das tecnologias sociais.
Qualquer um desses artistas, produtores ou gestores, ao saírem da dinâmica do Fora do Eixo, estão aptos a exercerem suas habilidades e vocações em uma carreira individual ou em outros coletivos, se assim desejarem.
É notório que, mesmo após uma semana de denúncias públicas e grande repercussão nas redes sociais e na imprensa, nenhum membro ativo, colaborador ou vivente decidiu se retirar da rede sob nenhuma prerrogativa.
3 - Sobre o Fora do Eixo Card
O Fora do Eixo Card é uma moeda complementar e não uma forma exclusiva de pagamento de salário ou remuneração. O Card é uma possibilidade de viabilizar as necessidades dos coletivos e seus integrantes a partir de trocas de serviços que não aconteceriam se dependessem exclusivamente de recursos em moeda corrente.
A moeda social, como é conhecida essa tecnologia, se norteia pelos princípios da Economia Solidária. Os empreendimentos envolvidos nesse tipo de relação podem fazer o uso dessas moedas para garantir seu sustento e desenvolvimento. O Fora do Eixo é composto de empreendimentos solidários que criaram suas próprias moedas sociais e são hoje conectadas pelo Card. O sistema considera o próprio trabalho e os produtos resultantes da sistematização dele na rede como fonte de renda e não de lucro.
O pagamento de alguns cachês tidos como “simbólicos" em Reais, ganham corpo considerável quando somados aos pagamentos em Card, ou seja, em serviços prestados, como divulgação, hospedagens, alimentação, transporte, internet, bebidas, produtos, assessorias, ensaios, produção, aluguel de equipamentos e tudo que é de fruição e uso do artista, produtor e empreendores da cultura em geral. O Card é uma solução para compensar a lacuna da remuneração escassa em Reais vivida no cenário cultural independente brasileiro. Muitos shows foram e serão pagos em Reais, não só provenientes de recursos públicos como de recursos privados.
O Card é uma possibilidade oferecida, sem qualquer obrigação de ser aceito. Todas as negociações em Card são acompanhadas e reportadas através do e-mail card@foradoeixo.org.br
4 - Relação com partidos políticos e campanhas eleitorais
A rede Fora do Eixo não possui filiação nem alinhamento compulsório a qualquer partido político. Nossa posição se constitui na cultura de criação de espaços de diálogos abertos e transparentes, divulgados em redes sociais e transmitidos ao vivo sempre que possível.
Cada integrante de coletivo ou morador de Casa Fora do Eixo tem liberdade completa de fazer suas próprias escolhas partidárias, tanto em processos eleitorais, quanto no dia a dia. Neste sentido, as confluências com partidos e movimentos se dão a partir das pautas e lutas que a rede pode aderir.
Respeitamos o processo democrático e não apoiamos nenhuma tentativa de criminalizar o fazer político, assim como repudiamos a inibição de militantes partidários em sua livre manifestação pública.
5 - Sobre recursos públicos
O Fora do Eixo acessa recursos públicos disponíveis através de editais e concursos, nunca executamos nenhum convênio ou termo de parceria direto com o governo federal. Todo o recurso captado junto ao poder público é apresentado aos órgãos financiadores através de relatórios regulares e prestações de contas tal como demanda a Lei.
Desde os primórdios da Rede Fora do Eixo defendemos e acreditamos que Políticas Públicas para a Cultura, Comunicação, Juventude, Meio ambiente e Direitos Humanos são fundamentais para um processo mais justo de desenvolvimento do país. O atual debate, criminaliza o uso de recurso público, prejudicando o avanço do empoderamento da sociedade civil em sua atuação nesses campos.
Estamos lançando o portal de transparência da Rede Fora do Eixo, dando início às publicações de documentos comprobatórios referentes à utilização de recursos públicos, privados e solidários pela rede.
6 - O Caso Beatriz Seigner I
A Rede Fora do Eixo é um ambiente de produção colaborativa e compartilhada. Não é uma empresa e por isso não se baseia numa prestação de serviço comercial de distribuição. Construímos uma dinâmica de compartilhamento e troca e estimulamos a circulação de produtos culturais a partir das pessoas e espaços conectados à rede.
O diálogo com a cineasta Beatriz Seigner tinha como objetivo estabelecer uma relação em que a Rede Fora do Eixo ativaria suas conexões para divulgar e exibir seu filme em espaços alternativos.
Realizamos as tarefas e serviços necessários para a promoção e distribuição do filme nos pontos de exibição. Telefonemas, produção local para exibição, articulação com cineastas, assessoria de imprensa, produção de peças publicitárias, divulgação das exibições e traslados foram algumas das tarefas executadas para cumprir o compromisso com Beatriz Seigner.
Esses serviços, que seriam normalmente computados em Reais no mercado tradicional, são sistematizados no Fora do Eixo como cards, e fazem parte da troca negociada com a cineasta no primeiro momento. Nunca foi prometido a Beatriz que os cards seriam entregues como pagamento ou cachê. Como já foi dito os cards correspondem aos serviços que foram prestados e investidos pela rede para fazer o filme circular.
O investimento realizado pelo Fora do Eixo na difusão do filme “Bollywood Dreams” teria custo superior a R$100.000,00 se fosse calculado e cobrado por uma empresa comum. A proposta de aplicar a marca do Fora do Eixo em seu filme se deu a partir de nossa compreensão dessa troca. Beatriz não aceitou, cobrando da rede sua cota mínima de patrocínio de R$50.000,00 em moeda corrente. Mesmo com sua recusa, entendemos que era importante realizar o investimento para fortalecer nossa parceria e fomentar o audiovisual independente.
A Revista Veja fala em "estelionato" - obtenção de vantagem, causando prejuízo a outrem; utilizando um ardil, induzindo alguém a erro - quando o fato é que se tratou de um acordo baseado em trocas de serviço.
O filme de Beatriz circulou, através do Fora do Eixo, em 35 cidades, com 40 exibições computadas, alcançando o público de 1463 pessoas.
No link abaixo está disponível o balanço financeiro e outras informações sobre a circulação do longa-metragem Bolywood Dreams no projeto Compacto.Cine:
http://bit.ly/14Hl9Vp
7. Caso Beatriz II - SESC
As duas sessões realizadas em unidades do Sesc, que contavam com pagamento de cachê para o realizador, estavam inseridas dentro de um circuito de 11 exibições que aconteceram com a presença da diretora, que viajou em uma turnê, dentre todas as datas, essas eram as únicas com remuneração direta.
Todo o valor dos cachês foram gastos com os custos da própria circulação e alimentação da cineasta, garantindo que Beatriz Seigner exibiria presencialmente o filme em 11 cidades sem nenhum custo. Esse era o nosso único acordo inicial e foi devidamente cumprido.
8. Caso Beatriz III - "O Desrepeito à arte e aos artistas."
O Fora do Eixo valoriza os artistas e defende sua remuneração quando trabalham dentro da lógica de mercado. A rede, no entanto, se baseia por uma outra lógica: a construção de redes e circuitos alternativos com base na economia das trocas, moedas complementares e troca de serviços.
As críticas de Beatriz Seigner vão na direção oposta ao modo como as novas gerações e os grupos alternativos se colocam frente à ideia de cultura, valorizando seu aspecto informal e cotidiano, não como produto simplesmente, mas como modo de ver e estar no mundo. Assim como acontece em diversos grupos e redes como os Pontos de Cultura, Povos Indígenas, Povos de Terreiros, Griôs, etc.
As criticas de Beatriz Seigner podem dar a interpretar a existência de um mundo dividido entre alta e baixa cultura, que trata a arte como tema exclusivo para especialistas. Não são esses os princípios da cultura de rede e de nosso entendimento. Compreendemos que a formação cultural se dá também no cotidiano das casas, com exibição de filmes, debates, vivências, leitura individual e coletiva de textos e livros, filmes e músicas baixados e vistos diretamente pela internet.
Quando questiona o fato dos participantes do Fora do Eixo não assinarem suas produções e realizações artísticas reduz o entendimento de criação a uma ideia individualista de autoria. O Fora do Eixo não trabalha com esses parâmetros e toda sua produção é assinada coletivamente, como acontece com diversos outros coletivos de arte e cultura. Trata-se de uma compreensão comunitarista, que estimula a valoração do trabalho e esforço coletivos na produção de obras e produtos culturais.
Nunca negamos a condição de artista a nenhum participante do Fora do Eixo e nunca houve nenhuma espécie de política da rede no sentido de coibir práticas do campo artístico. Pelo contrário, nos últimos anos diversos talentos emergiram das estruturas da rede de forma espontânea e conectada com nossas ações e lutas. Fotógrafos, videomakers, designers, ilustradores, músicos, Djs, iluminadores, rappers e dançarinos moram em Casas Fora do Eixo e incidem diretamente em nossas atividades.
O Fora do Eixo atua como alternativa à deficiência estrutural nos sistemas de distribuição da cultura brasileira, que não permite a circulação e fruição dos processos e produtos de maneira igualitária.
Entendemos, como rede, que é preciso fortalecer os canais de distribuição dos bens culturais nas pontas e circular suas produções, ou seja, que se torne possível aos coletivos e organizações das pequenas cidades usufruir do que é produzido no país, assim como criar e produzir novas experiências que possam também circular nos diversos territórios. Valorizamos a experimentação nas artes e na cultura e estimulamos a ampliação de repertórios e formação artística e cultural.
9 - Sobre o caso Laís Belini
É importante esclarecer que a experiência da Laís Bellini como moradora da Casa Fora do Eixo São Paulo foi de cerca de 3 meses e não de 9 meses, conforme noticiado pela Revista Veja. O restante do tempo se passou no coletivo Enxame, de Bauru, ao qual ela não dirige nenhuma de suas acusações. É comum que alguns jovens - a partir de expectativas conceituais - tenham dificuldades de se adaptar ao ambiente coletivo e fiquem desiludidos com a convivência na prática.
A informalidade e as conversas francas podem ter contribuído para que eventuais situações e comportamentos individuais, num ambiente livre e aberto, sejam lidos de forma equivocada como regra ou comportamento do grupo.
Lamentamos a experiência de Laís e a de qualquer outra pessoa que tenha vivido algo semelhante em nossa rede. Ao refletirmos e exercitarmos a autocrítica, entendemos a importância de aperfeiçoar os mecanismos de vivência e de afastamento do Fora do Eixo.
Trabalhamos diáriamente para que situações como a dela não ocorram, o protagonismo de cada indivíduo sempre foi um farol a guiar nossas ações.
10 - Relações afetivas
Os integrantes dos coletivos da rede Fora do Eixo não fazem uso de nenhum tipo de manipulação sexual a qualquer pessoa. Não há qualquer tipo de restrição às diversas formas de relações, independente de gêneros, que as pessoas estabelecem dentro ou fora da rede. Existe amor livre, monogâmico, entre gays, héteros e bissexuais, ou seja, são múltiplas visões sobre o tema dentro dos coletivos. Não há posições institucionais sobre isso.
Lamentamos se no decorrer de nossa trajetória e construções possamos ter soado frios ou menos humanos de qualquer maneira. Nosso vigor e capacidade produtiva se baseiam em um profundo sentimento de amor e de transformação da realidade, transcendendo algumas vezes as relações pessoais em prol de uma visão mais ampla da sociedade. Não nos interessa aqui justificar qualquer ação relatada, mas nos expor enquanto indivíduos e coletivos abertos a sempre refletir e aprofundar nossas práticas através do debate e da absorção das críticas do maior número de pessoas possíveis.
11 - Considerações Finais
Essa carta foi escrita durante dias, a partir de uma ampla discussão e reflexão sobre os mais variados temas, com ampla participação de integrantes dos coletivos. Estamos abertos a quaisquer outras perguntas, dúvidas, críticas e sugestões.
Nesse tempo diversos depoimentos de participantes do Fora do Eixo foram lançados na rede, participamos de entrevistas e estamos lançando o portal de transparência da rede.
Temos consciência que o debate sempre marcou nossas relações na busca pela coerência entre o discurso e a prática. Buscamos encarar as críticas como combustível para nossas reflexões e incentivo à reinvenção diária à que nos dispomos. Estamos em processo e temos consciência das dores e das delícias à que estamos expostos.
Consensuamos também que se a engenharia de informações da rede estivesse melhor arquitetada, parte das dúvidas já estariam sanadas.
Esperamos que esses episódios possam contribuir para a inteligência coletiva social, tão cara num país ainda tão profundamente marcado por desigualdades, preconceitos e medo.
Estamos à disposição para dar continuidade aos debates e outros esclarecimentos necessários. As Casas Fora do Eixo e coletivos estão abertos para pesquisa, vivência, ouvidorias, ou o que mais for desejado.
Para outras informações: contato@foradoeixo.org.br
Assista à entrevista com Pablo Capilé do Fora do Eixo
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Existe consenso em SP? Reflexões sobre a questão da cultura (1ª parte). AQUI
São Paulo: Diferentemente da
antiga indústria cultural, ao vincular a sua imagem a elementos
simbólicos produzidos colaborativamente, o novo empresariado da cultura
aproveita-se dessa riqueza enquanto capital simbólico coletivo, que ao
final do processo haverá de ser revertido em dinheiro. Por Passa Palavra
----------------------------------------------------------------9 de agosto
Fonte: http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2013/08/09/algumas-perguntas-para-pablo-capile-o-fora-do-eixo-e-a-midia-ninja/
Algumas perguntas para Pablo Capilé, o Fora do Eixo e a Mídia Ninja - Andre Forastieri
Eu já tinha publicado uma entrevista com Bruno. Na terça (9), comentei o Roda Viva. Na quarta (10), convidei Pablo para uma entrevista aqui no blog, e ele aceitou. Na quinta, enviei as perguntas abaixo. No mesmo dia, Capilé as publicou em seu perfil no Facebook.
Eu não pretendia publicar as perguntas sem resposta. Mas já que ele tomou a iniciativa, e disse que vai respondê-las nos próximos dias, deixo aqui registradas também.
O "algumas" do título é brincadeira. São um monte. E muitas outras não incluí. O Fora do Eixo é complexo. Não foi nenhum grande esforço de reportagem. Minha pesquisa levou algumas horas, três telefonemas, e
tive a sorte de contar com algumas fontes muito bem informadas.
O mais estranho não é que eu tenha elaborado tantas perguntas. O mais estranho é que eu, que tenho um simples blog, e outro emprego, tenha feito isso tão fácil e tão rápido. E a imprensa - tradicional ou independente - jamais tenha se dado ao trabalho.
Abaixo, a íntegra do email que mandei para Pablo Capilé e Bruno Torturra.
Oi Pablo,
aí está. Um questionário e tanto!
E olha que ainda cortei muitas perguntas.
Como você sabe, o Fora do Eixo tem muitos críticos.
E todo mundo resolveu me procurar, quando anunciei que preparava uma entrevista contigo...
Dei uma boa peneirada. Mesmo assim sobrou um tanto de perguntas provocativas.
E outras que são bem pragmáticas mesmo.
As regras são as mesmas da entrevista que fiz com o Bruno Torturra: as suas respostas serão publicadas na íntegra e nesta mesma ordem. Só editarei se for realmente necessário, e somente por questões de espaço e de padronização de texto do R7.
Confirma se recebeu, OK?
Obrigado, abraço
André
título: Uma entrevista com Pablo Capilé, gestor do Fora do Eixo
Quantas organizações compõem a rede Fora do Eixo?
O que elas são - empresas, ONGs Oscips?
Quantos CNPJs?
Cada uma tem autonomia para captar recursos e participar de editais independentemente, ou há uma coordenação nacional?
Existe um caixa único?
O que é o Banco Fora do Eixo?
Existe uma prestação de contas unificada, ou cada organização presta contas separadamente?
Qual é o total de recursos que a rede Fora do Eixo recebeu em 2012?
Quanto destes recursos veio de editais, quando de patrocínios e apoios, quanto de festivais, e quanto de outras fontes?
Quanto veio de recursos públicos, seja via editais, patrocínios, publicidade ou qualquer outra modalidade de apoio?
O Fora do Eixo defende a transparência e afirma que suas contas e planilhas estão à disposição de quem quiser. Onde estão disponíveis planilhas que dêem conta de todas as movimentações do FDE?
A área de "empreendimentos" do site do FDE está em manutenção pelo menos desde fevereiro passado. Por quê?
Esta planilha de prestação de contas é difícil de analisar. Às vezes os valores aparecem em número, às vezes por extenso, o que dificulta a soma direta. Por quê?
A cada ano, nesta planilha, há projetos que não incluem resultados. A gente sabe que às vezes fica para outro ano. De todos os projetos apresentados pelo FdE, qual a proporção que é aprovada e qual a proporção rejeitada?
O FDE já afirmou que 7% do total de seu orçamento vem de dinheiro público. No Roda Viva, você falou em 5%. Isso indica que o FDE tem um orçamento consolidado. Tem ou não tem? Se tem, você pode divulgar?
E onde estão as informações sobre os investimentos de empresas privadas e receitas de outras atividades, que somam esses 95%? Esta planilha divulgada pelo FDE não contém valores nesse montante.
O que é a Universidade Fora do Eixo?
Quantos estudantes e quantos professores estão na Universidade Fora do Eixo?
Os estudantes pagam? Quanto?
O site da Universidade Fora do Eixo lista dezenas de docentes. Eles recebem? Quanto?
Alguém já se formou nessa Universidade?
Qual é o orçamento da Universidade FDE, e quem gere este orçamento?
No site da Universidade Fora do Eixo, há um crédito: "Realização: Ministério da Cultura, Petrobras, Fora do Eixo", com os logotipos. Qual a participação, e o investimento financeiro, do Ministerio da Cultura e da Petrobras na Universidade Fora do Eixo?
A Petrobras vem sendo um grande apoiador das iniciativas do Fora do Eixo. O FDE já indicou alguém para participar das instâncias que decidem os patrocínios da Petrobras?
O Fora do Eixo já apoiou candidatos a cargos públicos? Quem?
O Fora do Eixo já indicou alguém para participar de governos? Quem?
Embora o FDE tenha entrado de cabeça no movimento Existe Amor em SP, contra Russomano e pró-Haddad, a secretaria de cultura de São Paulo está com Juca Ferreira, e com o chefe de gabinete Rodrigo Savazoni. Savazoni é da Casa de Cultura Digital e independente do Fora do Eixo. Você acha que o FDE mereceria mais espaço na gestão Haddad?
Quantas pessoas trabalham em período integral na rede Fora do Eixo?
É obrigatório para quem trabalha em período integral no FDE morar nas Casas Fora do Eixo?
Qual é a faixa etária dessas pessoas?
Três pessoas diferentes me disseram que os integrantes do Fora do Eixo são pressionados a se relacionar amorosamente somente com outros integrantes do FDE. Quem quiser namorar com alguém de fora é convidado a sair do FDE. É verdade ou mentira?
Há relatos de que uma criança mora em uma Casa Fora do Eixo, apelidada "Bebê 2.0". Seria filho de dois militantes do FDE, mas seria criada coletivamente, por vários "pais" e "mães". O pai e mãe biológicos não teriam poder paterno sobre a criança. É verdade?
O Fora do Eixo criou diversas moedas virtuais: Cubo Card, Goma Card, Marcianos, Lumoeda, Palafita Card e Patativa. Como elas são utilizadas?
Por quê criar diversas moedas, e não uma só?
Essas moedas virtuais podem ser trocadas por reais? Se sim, qual o câmbio? Se não, por quê não?
Quem trabalha para o Fora do Eixo recebe em moedas virtuais. Se sair do FDE, o que vai fazer com suas moedas virtuais?
No site da Casa Fora do Eixo, há, em destaque, um logotipo da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Qual o valor do apoio da Secretaria à Casa Fora do Eixo?
O Estado de São Paulo é governado pelo PSDB. O Fora do Eixo aceita apoio de governos de qualquer partido?
O governador Geraldo Alckmin foi o principal alvo das manifestações em São Paulo. Você vê alguma contradição em receber apoio de um governo e militar contra ele?
A homepage do Portal Fora do Eixo traz três patrocínios federais: Ministério da Cultura, programa Cultura Viva e Programa Mais Cultura. Isso não provoca no leitor uma ideia imediata de vinculação entre o FDE e o governo federal?
O que é o Partido da Cultura? É ligado ao Fora do Eixo?
No site do Partido da Cultura, o último post é de janeiro de 2012. No twitter, de março de 2012. Ele está ativo? Pretende se constituir como partido regular e disputar eleições?
O FDE vem se aproximando de Marina Silva e seu projeto de partido, a Rede, inclusive colaborando na campanha de assinaturas. Há alguém indicado pelo FDE na executiva da Rede?
Se Marina Silva vencer a eleição para presidente, o FDE pretende indicar o ministro da cultura?
O Fora do Eixo costumava proclamar a política do "pós-rancor". O termo "pós-rancor" é criação de Claudio Prado, chefe do programas de cultura digital do Ministério da Cultura na época de Gilberto Gil e Juca Ferreira. Segundo a teoria do pós-rancor, as tensões entre capital e trabalho estão superadas, o conflito agora é entre quem tem informações e quem não tem. Cláudio Prazo é muito próximo do FDE, tem até programa na Pós TV. Mas nas manifestações de rua, o que não falta é rancor e polarização, ainda mais nos últimos protestos. O "pós-rancor" morreu?
Uma fonte me disse que o Fora do Eixo costuma apoiar determinados candidatos em eleições municipais e estaduais, com os militantes trabalhando diretamente nas campanhas. Se o candidato vence, o Fora do Eixo indica gente para a secretaria de cultura, geralmente pessoas que não são do FDE, mas próximas. Seriam mais de dez secretários da cultura no Brasil. É verdade?
A Mídia Ninja, como a Pós-TV, é do Fora do Eixo. O FDE recebe verbas de grandes corporações, como Vale e Petrobras. O Fora do Eixo financia a Mídia Ninja, que critica o grande capital, e principalmente a grande mídia. Afinal, FDE e a Mídia Ninja são contra o grande capital ou a favor?
Diversos apoiadores do FDE trabalham ou trabalharam na grande imprensa. A principal figura da Mídia Ninja, Bruno Torturra, trabalhou anos na Editora Trip, chegando a diretor de Redação. Contratou, demitiu, controlou orçamentos. Além da Trip, a editora faz revistas pra grandes corporações, como Gol, Pão de Açúcar e Audi. Seu emprego mais recente foi na TV Globo, como redator do programa Esquenta, com Hermano Vianna e Regina Casé. Você vê alguma contradição nisso?
Você acha que quem participa dos protestos tem consciência de que a Mídia Ninja e o FDE recebem apoio financeiro de grandes empresas, e governos de diversos partidos?
O Fora do Eixo costumava ser muito ativo nas redes sociais. Mas no auge das manifestações em S. Paulo, você abandonou o Twitter. Entre 11 e 18 de junho, não publicou nada, sendo que a manifestação em que a repórter da Folha foi ferida no olho aconteceu no dia 13. Coincidentemente, o twitter do Fora do Eixo tb não publicou nada entre 13 e 22 de junho. Vc só voltou ao twitter pra divulgar as transmissões da Mídia Ninja e pra anunciar que o prefeito Haddad ia baixar as tarifas. Por quê?
No começo deste ano, o Fora do Eixo publicou na internet o glossário do FDE: termos que devem ser conhecidos e usados por todos os militantes. Outros coletivos fizeram críticas, o FdE tirou o texto do ar, depois republicou, mas com alterações. A principal: eliminou o verbete "choque pesadelo". O verbete era assim: "Choque pesadelo: Embate conveniente direcionado a alguém que vem conflitando ideias através de críticas não propositivas que desestimulem uma pessoa, ou grupo. O choque pesadelo serve como uma fala direcionada que busca esclarecer situações através do "papo reto". Ex. Tivemos uma conversa franca que serviu como choque pesadelo para ele. Ler também "papo reto". Pode explicar?
Muitos críticos do FDE dizem que o Fora do Eixo é uma seita, com regras rígidas para todas as ocasiões. O fato de existir um glossário tão detalhado não dá razão aos que criticam o FDE por ser uma espécie de seita?
O que é "catar e cooptar?"
Embora o FDE se apresente como uma rede, ex-integrantes do FDE dizem que a estrutura é totalmente verticalizada, e que você é como um guru na organização - jamais é questionado por ninguém. Quais outros integrantes do FDE têm influência próxima à sua?
Muitos coletivos de esquerda e movimentos populares não se dão com o Fora do Eixo. É o caso do Movimento Passe Livre, do MST, Movimento Hip Hop, Ocupa São Paulo e vários outros. A que você atribui essa rejeição?
Um conhecido jornalista de esquerda, José Arbex, escreveu um texto com críticas pesadas ao Fora do Eixo, em 2011, na revista Caros Amigos: "Lulismo Fora do Eixo". Ele conta que durante a preparação da Marcha pela Liberdade, em maio de 2011, você mencionou a possibilidade de a Coca-Cola patrocinar a marcha, e que a Coca nem fazia questão de sua marca aparecer --era só pra ficar bem com os movimetos progressistas. Outros coletivos rejeitaram o patrocínio. Várias pessoas contaram a mesma versão dessa história. Isso é verdade? Se não é, exatamente o que você disse nessa reunião? Se isso não é verdade, o que foi que você disse nessa reunião?
O coletivo de esquerda chamado Passa Palavra se destaca nas críticas ao Fora do Eixo. Em um texto muito alentado, de 2011, eles afirmam que: a) o Fora do Eixo tem 57 CNPJs diferentes; b) o FDE é uma máquina de ganhar editais, que floresceu nas gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira no MinC, por meio do programa Cultura Viva, dirigido pro Claudio Prado. Segundo o Passa Palavra, o FDE participava da elaboração de editais da área digital do Minc, editais esses que eram vencidos pelo próprio FDE. Como você responde a essas acusações?
O Fora do Eixo começou em Cuiabá, com o Festival Calango. Esse festival não existe mais, apesar do crescimento do FDE. Por quê?
Você já disse defendeu várias vezes de que os artistas que tocam em festivais não deveriam receber cachês. Por quê?
Se os artistas não ganham para tocar, não ganham para divulgar música na internet, e o mercado de discos está em baixa, do que os artistas devem viver?
O FDE agencia shows? De que artistas? Como o FDE é remunerado por agenciar shows?
Os festivais independentes de rock brasileiros eram reunidos, desde 2005, numa entidade chamada Abrafin. Qual a relação atual entre a Abrafin e o Fora do Eixo?
Em 2011, treze festivais independentes, incluindo alguns dos mais importantes do Brasil, como o Goiânia Noise e o Abril Pro Rock (de Recife), abandonaram a Abrafin. Alegaram que o FDE tentava impor um paradigma único a todos os festivais. E que os festivais se viam obrigados a chamar sempre os mesmo artistas ligado ao FdE. O que aconteceu de fato na Abrafin?
Você tem a informação de que festivais que abandonaram a Abrafin passaram a receber menos patrocínios? A que atribui isso?
Vários artistas - o cantor China, o Daniel Peixoto (do Montage) e o Márvio dos Anjos (do Cabaret), entre muitos outros - relatam que os festivais do Fora do Eixo têm como características a infraestrutura muito simples e o não-pagamento de cachê, exceto em casos muito excepcionais. Se a infraestrutura é básica, não tem cachê, e os festivais são feitos com dinheiro de editais, para onde vai o dinheiro que sobra? Ou não sobra?
A cineasta Beatriz Seigner divulgou ontem um longo depoimento no Facebook. Cita um jantar na casa da diretora de marketing da Vale, onde ela e você estavam. Segundo o texto dela, você disse que "era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”. Esse diálogo aconteceu?
Beatriz também diz que seu filme Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano foi exibido em sessões que contavam com patrocinadores, mas que o dinheiro ficou sempre com o Fora do Eixo; ela não recebeu nada pela exibição durante os festivais Grito do Rock, e só conseguiu receber o dinheiro do SESC depois de muito insistir com o FDE. Isso é verdade?
Diz que lhe foi pedido que seu filme tivesse o crédito "Realização Fora do Eixo", embora o filme não tenha sido produzido pelo FDE. Isso é uma prática comum? Você considera isso um pedido normal?
Todo o depoimento de Beatriz é muito crítico ao FDE e a você pessoalmente. Como você responde a ele?
"Fora do Eixo" é marca registrada. O registro no INPI é da Globo Comunicação e Participações. Pode explicar? Aqui está o registro:
NCL(8) 3582861623009/08/2006FORA DO EIXORegistroGLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S.A.NCL(8) 41
O Fora do Eixo vem recebendo mais e mais críticas. Agora, também de ex-integrantes do FDE. Alguns preparam publicações de novos depoimentos contra o FDE. Certamente, a imprensa vai investigar ainda mais.
Com tanta publicidade negativa, dificilmente o FDE continuará recebendo apoios e patrocínios na mesma escala - afinal, empresas não querem risco na hora de escolher quem patrocinam. E necessariamente todas as contas do FDE serão examinadas com cada vez mais rigor. O Fora do Eixo - e portanto Mídia Ninja, Abrafin, Pós TV, Casas FDE, Universidade FDE etc. - está em risco de desmoronar de repente?
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Perguntas e respostas: FORA DO EIXO
Tire suas dúvidas segue o texto,
Somos Fora do Eixo: Rede de coletivos abertos a sempre refletir e aprofundar nossas práticas
https://www.facebook.com/ foradoeixo/posts/ 566547870070279
Somos Fora do Eixo: Rede de coletivos abertos a sempre refletir e aprofundar nossas práticas
Nos últimos dias, a partir da entrevista concedida por Pablo Capilé e Bruno Torturra ao Roda Viva, o Fora do Eixo e a Mídia NINJA passaram a ser o epicentro de um debate nacional. Nossa existência e nossas ações, que já somam quase uma década de atuação no Brasil e na América Latina, foram questionadas e defendidas, principalmente nas redes sociais.
A partir dos relatos da cineasta Beatriz Seigner e da jornalista Laís Bellini, que apresentaram suas experiências de trabalho com a Rede, a revista Veja iniciou uma série de matérias que visam a nos atingir: só na última sexta-feira, dia 9, foram publicadas oito matérias através de seu veículo online e no sábado mais uma matéria a partir de seu veículo impresso.
Entendemos que aquilo que Beatriz e Laís relatam precisa de resposta. Ainda mais considerando o grande número de pessoas que compartilharam essas análises parciais de nossa experiência. Há outros lados nesse processo. Para que isso fique claro, apostamos no diálogo franco e transparente de posições e idéias. Sempre foi essa a nossa atitude.
Os integrantes dos coletivos que compõem a nossa rede se entregaram a uma ampla reflexão e auto crítica sobre os acontecimentos. A partir disso, produzimos, a muitas mãos, a carta a seguir:
1 - Sobre autoritarismo e seita religiosa
As diversas acusações sobre a presença de uma liderança autoritária são uma tentativa de caricaturizar, desqualificar e neutralizar um processo político. A Rede Fora do Eixo, como outros coletivos e organizações, é baseada tanto em dinâmicas horizontais quanto na valorização de diversas lideranças. Pablo Capilé é um dos fundadores e conceituadores do Fora do Eixo, que por sua vez é uma rede que possui lideranças em todos os seus coletivos.
As acusações nesse campo desqualificam os demais integrantes dos coletivos da rede e sua autonomia e dinâmicas próprias.
Causa estranhamento o fato da revista Veja cobrar da rede Fora do Eixo uma horizontalidade maior de sua organização, sendo que nem ela, nem a mídia tradicional brasileira, possuem um histórico de apoio a este tipo de articulação coletiva, descentralizada e horizontal, tampouco se enquadram nessas características.
Repudiamos também a tentativa de classificar as experiências das Casas como seitas religiosas, numa busca explícita de difamar o projeto. A criminalização de experiências dos coletivos e redes com princípios comunitaristas, prejudicam não só o Fora do Eixo mas todos que buscam alternativas concretas de colaboração fora dos padrões convencionais do mercado.
2 - Trabalho Escravo
Nenhum morador, colaborador, parceiro ou qualquer pessoa relacionada aos coletivos da rede jamais foi submetido a trabalho escravo. A adesão a qualquer atividade e/ou projeto da rede se dá de forma livre, consciente e esclarecida.
A formação cultural e as expertises desenvolvidas durante os trabalhos constituem capital simbólico que inclui contatos, redes de relação, conhecimento de territórios e novas ferramentas no campo das tecnologias sociais.
Qualquer um desses artistas, produtores ou gestores, ao saírem da dinâmica do Fora do Eixo, estão aptos a exercerem suas habilidades e vocações em uma carreira individual ou em outros coletivos, se assim desejarem.
É notório que, mesmo após uma semana de denúncias públicas e grande repercussão nas redes sociais e na imprensa, nenhum membro ativo, colaborador ou vivente decidiu se retirar da rede sob nenhuma prerrogativa.
3 - Sobre o Fora do Eixo Card
O Fora do Eixo Card é uma moeda complementar e não uma forma exclusiva de pagamento de salário ou remuneração. O Card é uma possibilidade de viabilizar as necessidades dos coletivos e seus integrantes a partir de trocas de serviços que não aconteceriam se dependessem exclusivamente de recursos em moeda corrente.
A moeda social, como é conhecida essa tecnologia, se norteia pelos princípios da Economia Solidária. Os empreendimentos envolvidos nesse tipo de relação podem fazer o uso dessas moedas para garantir seu sustento e desenvolvimento. O Fora do Eixo é composto de empreendimentos solidários que criaram suas próprias moedas sociais e são hoje conectadas pelo Card. O sistema considera o próprio trabalho e os produtos resultantes da sistematização dele na rede como fonte de renda e não de lucro.
O pagamento de alguns cachês tidos como “simbólicos" em Reais, ganham corpo considerável quando somados aos pagamentos em Card, ou seja, em serviços prestados, como divulgação, hospedagens, alimentação, transporte, internet, bebidas, produtos, assessorias, ensaios, produção, aluguel de equipamentos e tudo que é de fruição e uso do artista, produtor e empreendores da cultura em geral. O Card é uma solução para compensar a lacuna da remuneração escassa em Reais vivida no cenário cultural independente brasileiro. Muitos shows foram e serão pagos em Reais, não só provenientes de recursos públicos como de recursos privados.
O Card é uma possibilidade oferecida, sem qualquer obrigação de ser aceito. Todas as negociações em Card são acompanhadas e reportadas através do e-mail card@foradoeixo.org.br
4 - Relação com partidos políticos e campanhas eleitorais
A rede Fora do Eixo não possui filiação nem alinhamento compulsório a qualquer partido político. Nossa posição se constitui na cultura de criação de espaços de diálogos abertos e transparentes, divulgados em redes sociais e transmitidos ao vivo sempre que possível.
Cada integrante de coletivo ou morador de Casa Fora do Eixo tem liberdade completa de fazer suas próprias escolhas partidárias, tanto em processos eleitorais, quanto no dia a dia. Neste sentido, as confluências com partidos e movimentos se dão a partir das pautas e lutas que a rede pode aderir.
Respeitamos o processo democrático e não apoiamos nenhuma tentativa de criminalizar o fazer político, assim como repudiamos a inibição de militantes partidários em sua livre manifestação pública.
5 - Sobre recursos públicos
O Fora do Eixo acessa recursos públicos disponíveis através de editais e concursos, nunca executamos nenhum convênio ou termo de parceria direto com o governo federal. Todo o recurso captado junto ao poder público é apresentado aos órgãos financiadores através de relatórios regulares e prestações de contas tal como demanda a Lei.
Desde os primórdios da Rede Fora do Eixo defendemos e acreditamos que Políticas Públicas para a Cultura, Comunicação, Juventude, Meio ambiente e Direitos Humanos são fundamentais para um processo mais justo de desenvolvimento do país. O atual debate, criminaliza o uso de recurso público, prejudicando o avanço do empoderamento da sociedade civil em sua atuação nesses campos.
Estamos lançando o portal de transparência da Rede Fora do Eixo, dando início às publicações de documentos comprobatórios referentes à utilização de recursos públicos, privados e solidários pela rede.
6 - O Caso Beatriz Seigner I
A Rede Fora do Eixo é um ambiente de produção colaborativa e compartilhada. Não é uma empresa e por isso não se baseia numa prestação de serviço comercial de distribuição. Construímos uma dinâmica de compartilhamento e troca e estimulamos a circulação de produtos culturais a partir das pessoas e espaços conectados à rede.
O diálogo com a cineasta Beatriz Seigner tinha como objetivo estabelecer uma relação em que a Rede Fora do Eixo ativaria suas conexões para divulgar e exibir seu filme em espaços alternativos.
Realizamos as tarefas e serviços necessários para a promoção e distribuição do filme nos pontos de exibição. Telefonemas, produção local para exibição, articulação com cineastas, assessoria de imprensa, produção de peças publicitárias, divulgação das exibições e traslados foram algumas das tarefas executadas para cumprir o compromisso com Beatriz Seigner.
Esses serviços, que seriam normalmente computados em Reais no mercado tradicional, são sistematizados no Fora do Eixo como cards, e fazem parte da troca negociada com a cineasta no primeiro momento. Nunca foi prometido a Beatriz que os cards seriam entregues como pagamento ou cachê. Como já foi dito os cards correspondem aos serviços que foram prestados e investidos pela rede para fazer o filme circular.
O investimento realizado pelo Fora do Eixo na difusão do filme “Bollywood Dreams” teria custo superior a R$100.000,00 se fosse calculado e cobrado por uma empresa comum. A proposta de aplicar a marca do Fora do Eixo em seu filme se deu a partir de nossa compreensão dessa troca. Beatriz não aceitou, cobrando da rede sua cota mínima de patrocínio de R$50.000,00 em moeda corrente. Mesmo com sua recusa, entendemos que era importante realizar o investimento para fortalecer nossa parceria e fomentar o audiovisual independente.
A Revista Veja fala em "estelionato" - obtenção de vantagem, causando prejuízo a outrem; utilizando um ardil, induzindo alguém a erro - quando o fato é que se tratou de um acordo baseado em trocas de serviço.
O filme de Beatriz circulou, através do Fora do Eixo, em 35 cidades, com 40 exibições computadas, alcançando o público de 1463 pessoas.
No link abaixo está disponível o balanço financeiro e outras informações sobre a circulação do longa-metragem Bolywood Dreams no projeto Compacto.Cine:
http://bit.ly/14Hl9Vp
7. Caso Beatriz II - SESC
As duas sessões realizadas em unidades do Sesc, que contavam com pagamento de cachê para o realizador, estavam inseridas dentro de um circuito de 11 exibições que aconteceram com a presença da diretora, que viajou em uma turnê, dentre todas as datas, essas eram as únicas com remuneração direta.
Todo o valor dos cachês foram gastos com os custos da própria circulação e alimentação da cineasta, garantindo que Beatriz Seigner exibiria presencialmente o filme em 11 cidades sem nenhum custo. Esse era o nosso único acordo inicial e foi devidamente cumprido.
8. Caso Beatriz III - "O Desrepeito à arte e aos artistas."
O Fora do Eixo valoriza os artistas e defende sua remuneração quando trabalham dentro da lógica de mercado. A rede, no entanto, se baseia por uma outra lógica: a construção de redes e circuitos alternativos com base na economia das trocas, moedas complementares e troca de serviços.
As críticas de Beatriz Seigner vão na direção oposta ao modo como as novas gerações e os grupos alternativos se colocam frente à ideia de cultura, valorizando seu aspecto informal e cotidiano, não como produto simplesmente, mas como modo de ver e estar no mundo. Assim como acontece em diversos grupos e redes como os Pontos de Cultura, Povos Indígenas, Povos de Terreiros, Griôs, etc.
As criticas de Beatriz Seigner podem dar a interpretar a existência de um mundo dividido entre alta e baixa cultura, que trata a arte como tema exclusivo para especialistas. Não são esses os princípios da cultura de rede e de nosso entendimento. Compreendemos que a formação cultural se dá também no cotidiano das casas, com exibição de filmes, debates, vivências, leitura individual e coletiva de textos e livros, filmes e músicas baixados e vistos diretamente pela internet.
Quando questiona o fato dos participantes do Fora do Eixo não assinarem suas produções e realizações artísticas reduz o entendimento de criação a uma ideia individualista de autoria. O Fora do Eixo não trabalha com esses parâmetros e toda sua produção é assinada coletivamente, como acontece com diversos outros coletivos de arte e cultura. Trata-se de uma compreensão comunitarista, que estimula a valoração do trabalho e esforço coletivos na produção de obras e produtos culturais.
Nunca negamos a condição de artista a nenhum participante do Fora do Eixo e nunca houve nenhuma espécie de política da rede no sentido de coibir práticas do campo artístico. Pelo contrário, nos últimos anos diversos talentos emergiram das estruturas da rede de forma espontânea e conectada com nossas ações e lutas. Fotógrafos, videomakers, designers, ilustradores, músicos, Djs, iluminadores, rappers e dançarinos moram em Casas Fora do Eixo e incidem diretamente em nossas atividades.
O Fora do Eixo atua como alternativa à deficiência estrutural nos sistemas de distribuição da cultura brasileira, que não permite a circulação e fruição dos processos e produtos de maneira igualitária.
Entendemos, como rede, que é preciso fortalecer os canais de distribuição dos bens culturais nas pontas e circular suas produções, ou seja, que se torne possível aos coletivos e organizações das pequenas cidades usufruir do que é produzido no país, assim como criar e produzir novas experiências que possam também circular nos diversos territórios. Valorizamos a experimentação nas artes e na cultura e estimulamos a ampliação de repertórios e formação artística e cultural.
9 - Sobre o caso Laís Belini
É importante esclarecer que a experiência da Laís Bellini como moradora da Casa Fora do Eixo São Paulo foi de cerca de 3 meses e não de 9 meses, conforme noticiado pela Revista Veja. O restante do tempo se passou no coletivo Enxame, de Bauru, ao qual ela não dirige nenhuma de suas acusações. É comum que alguns jovens - a partir de expectativas conceituais - tenham dificuldades de se adaptar ao ambiente coletivo e fiquem desiludidos com a convivência na prática.
A informalidade e as conversas francas podem ter contribuído para que eventuais situações e comportamentos individuais, num ambiente livre e aberto, sejam lidos de forma equivocada como regra ou comportamento do grupo.
Lamentamos a experiência de Laís e a de qualquer outra pessoa que tenha vivido algo semelhante em nossa rede. Ao refletirmos e exercitarmos a autocrítica, entendemos a importância de aperfeiçoar os mecanismos de vivência e de afastamento do Fora do Eixo.
Trabalhamos diáriamente para que situações como a dela não ocorram, o protagonismo de cada indivíduo sempre foi um farol a guiar nossas ações.
10 - Relações afetivas
Os integrantes dos coletivos da rede Fora do Eixo não fazem uso de nenhum tipo de manipulação sexual a qualquer pessoa. Não há qualquer tipo de restrição às diversas formas de relações, independente de gêneros, que as pessoas estabelecem dentro ou fora da rede. Existe amor livre, monogâmico, entre gays, héteros e bissexuais, ou seja, são múltiplas visões sobre o tema dentro dos coletivos. Não há posições institucionais sobre isso.
Lamentamos se no decorrer de nossa trajetória e construções possamos ter soado frios ou menos humanos de qualquer maneira. Nosso vigor e capacidade produtiva se baseiam em um profundo sentimento de amor e de transformação da realidade, transcendendo algumas vezes as relações pessoais em prol de uma visão mais ampla da sociedade. Não nos interessa aqui justificar qualquer ação relatada, mas nos expor enquanto indivíduos e coletivos abertos a sempre refletir e aprofundar nossas práticas através do debate e da absorção das críticas do maior número de pessoas possíveis.
11 - Considerações Finais
Essa carta foi escrita durante dias, a partir de uma ampla discussão e reflexão sobre os mais variados temas, com ampla participação de integrantes dos coletivos. Estamos abertos a quaisquer outras perguntas, dúvidas, críticas e sugestões.
Nesse tempo diversos depoimentos de participantes do Fora do Eixo foram lançados na rede, participamos de entrevistas e estamos lançando o portal de transparência da rede.
Temos consciência que o debate sempre marcou nossas relações na busca pela coerência entre o discurso e a prática. Buscamos encarar as críticas como combustível para nossas reflexões e incentivo à reinvenção diária à que nos dispomos. Estamos em processo e temos consciência das dores e das delícias à que estamos expostos.
Consensuamos também que se a engenharia de informações da rede estivesse melhor arquitetada, parte das dúvidas já estariam sanadas.
Esperamos que esses episódios possam contribuir para a inteligência coletiva social, tão cara num país ainda tão profundamente marcado por desigualdades, preconceitos e medo.
Estamos à disposição para dar continuidade aos debates e outros esclarecimentos necessários. As Casas Fora do Eixo e coletivos estão abertos para pesquisa, vivência, ouvidorias, ou o que mais for desejado.
Para outras informações: contato@foradoeixo.org.br
Assista à entrevista com Pablo Capilé do Fora do Eixo
Diversos textos com críticas à rede de
coletivos Fora do Eixo começaram a circular nas redes sociais na última
semana. O primeiro deles foi da cineasta Beatriz Seigner, que divulgou
em sua página no Facebook, um artigo onde questiona as práticas do grupo. O texto foi até republicado pela revista Veja.
Pablo Capilé é do Fora do Eixo e esteve
no programa Roda Viva na segunda-feira (5/8), junto com Bruno Torturra,
onde foram entrevistados sobre o projeto Mídia Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. O Ninja ganhou notoriedade com suas transmissões em tempo real dos protestos que se espalharam pelo País.
Tags: Fora do Eixo, Outras Palavras, Pablo Capilé, revista Fórum
http://revistaforum.com.br/blog/2013/08/revista-forum-e-outras-palavras-entrevistam-pablo-capile-do-fora-do-eixo/
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Pablo Capilé: “Estamos fazendo uma autocrítica”
Em entrevista à revista Fórum e ao Outras Palavras, o fundador do FdE se defende de críticas e acusações recebidas na semana passada
Por Redação
A revista Fórum e o Outras Palavras receberam Pablo Capilé, fundador do Fora do Eixo (FdE), para uma entrevista que durou duas horas e meia, no último domingo (11). O produtor cultural foi entrevistado por Renato Rovai e Antônio Martins e falou a respeito das críticas que o coletivo têm recebido na última semana.
Desde a participação de Bruno Torturra e Capilé no programa Roda Viva, da TV Cultura, no último dia 5 de agosto, para falar da experiência com o Mídia Ninja, o FdE passou a ser alvo de ataques de alguns ex-integrantes e de artistas ligados aos eventos do grupo. Capilé explicou que, apesar de ter dez anos de existência, o Fora do Eixo segue em processo de conhecimento e evolução e lembrou que o coletivo “é um dos projetos mais debatidos nos últimos quatro anos [no Brasil]”.
O fundador da rede afirmou que apontamentos feitos sobre as relações sociais e de trabalho dentro das casas que servem como sedes do FdE já são debatidos internamente. “Algumas delas nós já fazemos há algum tempo, nós vamos sacando, por exemplo, esse viver coletivamente, que vai se aperfeiçoando.”
O fundador do coletivo justificou que a alta demanda de trabalho, reclamada por ex-integrantes e críticos do grupo, ocorre porque o FdE atua em diversos projetos e que isso já está sendo repensado. “A gente abre um monte de portas e precisa trabalhar para dar conta dessas portas. É uma avaliação crítica pensar com quantos parceiros nós vamos trabalhar, com a distribuição dos trabalhos, estamos fazendo essa avaliação.”
A cineasta Beatriz Seigner reclamou publicamente de uma dívida de R$ 900 que a FdE teria com ela. Capilé confirmou o débito e disse que o passivo com os artistas que prestam serviços ao coletivo “não passa de R$ 10 mil, R$ 15 mil.” Ainda sobre cachês artísticos, afirmou que o suposto não pagamento por parte do FdE seria um “meme”, embora reconheça que existem dificuldades comuns para boa parte dos organizadores de festivais de música.“Não dá para pagar o que a rede Sesc paga para um artista.”
O fundador do Fora do Eixo também afirmou que muitas das críticas feitas ao grupo foram “capturadas por uma direita raivosa” que “tenta desqualificar o sistema de proteção que nós criamos”, fazendo referência a textos publicados na internet e na edição impressa da revista Veja.
Veja entrevista completa:
AQUI
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Pablo Capilé: “Estamos fazendo uma autocrítica”
Em entrevista à revista Fórum e ao Outras Palavras, o fundador do FdE se defende de críticas e acusações recebidas na semana passada
Por Redação
A revista Fórum e o Outras Palavras receberam Pablo Capilé, fundador do Fora do Eixo (FdE), para uma entrevista que durou duas horas e meia, no último domingo (11). O produtor cultural foi entrevistado por Renato Rovai e Antônio Martins e falou a respeito das críticas que o coletivo têm recebido na última semana.
Desde a participação de Bruno Torturra e Capilé no programa Roda Viva, da TV Cultura, no último dia 5 de agosto, para falar da experiência com o Mídia Ninja, o FdE passou a ser alvo de ataques de alguns ex-integrantes e de artistas ligados aos eventos do grupo. Capilé explicou que, apesar de ter dez anos de existência, o Fora do Eixo segue em processo de conhecimento e evolução e lembrou que o coletivo “é um dos projetos mais debatidos nos últimos quatro anos [no Brasil]”.
O fundador da rede afirmou que apontamentos feitos sobre as relações sociais e de trabalho dentro das casas que servem como sedes do FdE já são debatidos internamente. “Algumas delas nós já fazemos há algum tempo, nós vamos sacando, por exemplo, esse viver coletivamente, que vai se aperfeiçoando.”
O fundador do coletivo justificou que a alta demanda de trabalho, reclamada por ex-integrantes e críticos do grupo, ocorre porque o FdE atua em diversos projetos e que isso já está sendo repensado. “A gente abre um monte de portas e precisa trabalhar para dar conta dessas portas. É uma avaliação crítica pensar com quantos parceiros nós vamos trabalhar, com a distribuição dos trabalhos, estamos fazendo essa avaliação.”
A cineasta Beatriz Seigner reclamou publicamente de uma dívida de R$ 900 que a FdE teria com ela. Capilé confirmou o débito e disse que o passivo com os artistas que prestam serviços ao coletivo “não passa de R$ 10 mil, R$ 15 mil.” Ainda sobre cachês artísticos, afirmou que o suposto não pagamento por parte do FdE seria um “meme”, embora reconheça que existem dificuldades comuns para boa parte dos organizadores de festivais de música.“Não dá para pagar o que a rede Sesc paga para um artista.”
O fundador do Fora do Eixo também afirmou que muitas das críticas feitas ao grupo foram “capturadas por uma direita raivosa” que “tenta desqualificar o sistema de proteção que nós criamos”, fazendo referência a textos publicados na internet e na edição impressa da revista Veja.
Veja entrevista completa:
AQUI
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