01/08/2013
Não se pode pedir às ruas o que não cabe às ruas prover.
A resposta aos gargalos do desenvolvimento brasileiro não virá das escaramuças na avenida Paulista.
Nada que desabone o papel da avenida Paulista na história.
Ao contrário.
Os fatos, em geral, caminham à frente das ideias.
Mas as ideias são indispensáveis para ajudar os fatos com a força dos argumentos, adicionando-lhes um sentido e uma extensão muitas vezes ignorados pelos seus próprios protagonistas.
Os fatos de junho sacudiram um certo entorpecimento das ideias no país, acomodadas depois de 12 anos de governos progressistas.
E isso diz respeito não só aos partidos, mas também à universidade pública, de cuja arguição e descortino a democracia e o desenvolvimento não podem prescindir para ir além da lógica incremental gotejada pelo mercado.
Partidos e usinas intelectuais, de certa forma, terceirizaram ao governo a missão de compor a agenda e mover a alavanca da história nesse período.
A consciência das cepas distintas que separam governo e poder não impediu a confortável acomodação.
Deu-se o sabido.
O agendamento nacional foi sequestrado pelo dispositivo midiático conservador, que passou a pautar a sociedade e o debate do seu desenvolvimento.
Grandes meios de comunicação tornaram-se o epicentro de uma exacerbação conservadora.
Diuturnamente, ela avilta a inteligência, desidrata o senso crítico da sociedade e fragiliza a democracia.
O conjunto engessa os avanços reclamados pela economia e distorce as inquietações da cidadania, dando-lhes um escopo conservador indevido.
As ruas de junho deram o sinal de alarme.
O degelo social impulsionado pelas conquistas acumuladas desde 2003, criou um país maior que os piquetes de contenção erguidos secularmente por suas elites.
A energia da nação vaza por todos os lados.
A demanda vaza para parques industriais asiáticos; a mobilidade vaza para logísticas colapsadas; a cidadania vaza para periferias conflagradas...
Pouca dúvida pode haver, o aprofundamento do projeto progressista iniciado há 12 anos é incompatível com esse enjaulamento de potencialidades, ideias e ação.
É ingenuidade imaginar que um governo sozinho –qualquer governo – seja capaz de reverter o triplo torniquete que asfixia o curso da história brasileira.
A saber:
a) responder às urgências por infraestrutura e serviços públicos mais eficientes e dignos;
b) libertar a democracia do agendamento conservador;
c) reordenar as balizas do crescimento, em meio a uma transição de ciclo econômico mundial, que encarece o custo do investimento, ao mesmo tempo em que desvaloriza receitas ancoradas em bens primários.
Um quarto mandato progressista sem desatar os laços dessa trama, percorrerá uma rota de colisões esfarelantes.
Evitá-lo, para muitos, somente a bordo de uma Constituinte.
Na assembleia soberana, capaz de redefinir parâmetros fiscais e orçamentários , ademais de desenhar uma reforma política que amplie a escuta popular, estaria o ponto de mutação de um interregno já assombrado por manifestações mórbidas.
Seja qual for o escopo institucional da travessia, ela não poderá prescindir de uma ampla impulsão de fatos e ideias para ganhar o torque e a densidade requeridos.
Carta Maior, que nasceu como um espaço de reflexão da intelectualidade progressista brasileira, elegeu uma prioridade nesse mutirão.
Seu compromisso é mobilizar a inteligência democrática da universidade brasileira, na arregimentação de contribuições a essa travessia.
Não se busca um eldorado de ideias prontas.
Estufas de exatidão idealista não resistem ao sol da história.
O que se aspira, ao contrário, é restituir ao ambiente acadêmico o ruído de uma usina de reflexão e de propostas, atada às urgências do novo ciclo de desenvolvimento que a Nação reclama.
Intriga que a explosão dos protestos de junho, predominantemente protagonizada por jovens estudantes, não tenha registrado qualquer preâmbulo de efervescência acadêmica que a anunciasse.
A avaliação desse paradoxo impõe-se desde já como um ponto de partida oda série nacional de debates com a comunidade acadêmica, que Carta Maior iniciou em São Paulo, no dia 30 de julho último.
Em pauta, o papel da universidade e dos intelectuais na encruzilhada de uma Nação que ainda não dispõe de um arsenal de ferramentas democráticas à altura das reformas cobradas pelo seu desenvolvimento.
Mas que terá que realiza-las, de qualquer forma.
Supor o contrário seria ceder ao retrocesso.
Cerca de 40 intelectuais participaram desse primeiro, de uma série de encontros (leia nesta pág. o relato de Maria Inês Nassif),cuja aspiração é pactuar uma agenda da universidade para as reformas do desenvolvimento brasileiro.
Um consenso significativo do encontro de São Paulo: o monopólio da comunicação interdita o debate e veta as soluções requisitadas pelo passo seguinte da nossa história.
Superar essa camisa de força é um requisito necessário.
Mas não suficiente.
Faz parte da exigência por mais democracia exercê-la.
E isso diz respeito à universidade, que terá que assumir sua quota nesse desassombro.
E não só como usina de reflexão.
Mas reinventando-se como uma ferramenta das novas famílias de políticas públicas requeridas pela sociedade.
O fosso entre as urgências do país e a prontidão do mundo acadêmico foi escancarado pela resistência beligerante, na esfera corporativa e universitária, despertada pelo programa ‘Mais Médicos’.
O Ministério da Educação recuou na ampliação dos cursos de medicina, mas tornou obrigatória a residência de dois anos no SUS.
Por certo, o programa ainda pode ser aperfeiçoado.
Por certo, tocou em um ponto sensível dos impasses vividos pelo país.
A universidade pública deve se limitar a fornecer profissionais ao mercado?
Ou o precedente do ‘Mais Médicos’ enseja uma matriz inovadora, feita da interação de políticas públicas de desenvolvimento com instituições de ensino superior?
Cumpriria a universidade sua função bastante ao ofertar quadros adestrados às respectivas demandas mercantis?
Ou o momento brasileiro impõe avançar a contrapelo da lógica incremental, que atribuiu ao mercado a ordenação do desenvolvimento, cabendo aos demais o papel de prove-lo?
É possível alterar essa 'divisão de trabalho' sem uma reforma profunda da instituição universitária?
Qual universidade para a democracia social avançar?
A resistência beligerante ao programa ‘Mais Médicos’ desautoriza ilusões.
O país levita entre o legado de uma mutação inconclusa e um vale tudo à direita, que pode levar a qualquer desfecho.
Menos à convergência da riqueza e ao avanço da democracia
Uma correlação de forças instável, desprovida de projetos claros de futuro, estreita a linha do horizonte nacional.
O elogio à progressão incremental resulta nesse quadro como uma crosta adicional de ferrugem, depositada nos dentes de uma mecânica institucional emperrada.
A universidade é parte dela.
Os encontros iniciados por Carta Maior, a partir de São Paulo, pretendem que a comunidade acadêmica rompa o casulo.
Faça mais do que indignar-se com a servidão voluntária dos outros.
Cumpra seu dever diante da Nação.
Dilatando espaços do pensamento e rompendo interditos do dinheiro, para que se possa inaugurar um novo ciclo de avanços da democracia social no Brasil.
Associações universitárias, professores e intelectuais interessados em participar podem entrar em contato com a Carta Maior, através do e-mail J29@cartamaior.com.br
A resposta aos gargalos do desenvolvimento brasileiro não virá das escaramuças na avenida Paulista.
Nada que desabone o papel da avenida Paulista na história.
Ao contrário.
Os fatos, em geral, caminham à frente das ideias.
Mas as ideias são indispensáveis para ajudar os fatos com a força dos argumentos, adicionando-lhes um sentido e uma extensão muitas vezes ignorados pelos seus próprios protagonistas.
Os fatos de junho sacudiram um certo entorpecimento das ideias no país, acomodadas depois de 12 anos de governos progressistas.
E isso diz respeito não só aos partidos, mas também à universidade pública, de cuja arguição e descortino a democracia e o desenvolvimento não podem prescindir para ir além da lógica incremental gotejada pelo mercado.
Partidos e usinas intelectuais, de certa forma, terceirizaram ao governo a missão de compor a agenda e mover a alavanca da história nesse período.
A consciência das cepas distintas que separam governo e poder não impediu a confortável acomodação.
Deu-se o sabido.
O agendamento nacional foi sequestrado pelo dispositivo midiático conservador, que passou a pautar a sociedade e o debate do seu desenvolvimento.
Grandes meios de comunicação tornaram-se o epicentro de uma exacerbação conservadora.
Diuturnamente, ela avilta a inteligência, desidrata o senso crítico da sociedade e fragiliza a democracia.
O conjunto engessa os avanços reclamados pela economia e distorce as inquietações da cidadania, dando-lhes um escopo conservador indevido.
As ruas de junho deram o sinal de alarme.
O degelo social impulsionado pelas conquistas acumuladas desde 2003, criou um país maior que os piquetes de contenção erguidos secularmente por suas elites.
A energia da nação vaza por todos os lados.
A demanda vaza para parques industriais asiáticos; a mobilidade vaza para logísticas colapsadas; a cidadania vaza para periferias conflagradas...
Pouca dúvida pode haver, o aprofundamento do projeto progressista iniciado há 12 anos é incompatível com esse enjaulamento de potencialidades, ideias e ação.
É ingenuidade imaginar que um governo sozinho –qualquer governo – seja capaz de reverter o triplo torniquete que asfixia o curso da história brasileira.
A saber:
a) responder às urgências por infraestrutura e serviços públicos mais eficientes e dignos;
b) libertar a democracia do agendamento conservador;
c) reordenar as balizas do crescimento, em meio a uma transição de ciclo econômico mundial, que encarece o custo do investimento, ao mesmo tempo em que desvaloriza receitas ancoradas em bens primários.
Um quarto mandato progressista sem desatar os laços dessa trama, percorrerá uma rota de colisões esfarelantes.
Evitá-lo, para muitos, somente a bordo de uma Constituinte.
Na assembleia soberana, capaz de redefinir parâmetros fiscais e orçamentários , ademais de desenhar uma reforma política que amplie a escuta popular, estaria o ponto de mutação de um interregno já assombrado por manifestações mórbidas.
Seja qual for o escopo institucional da travessia, ela não poderá prescindir de uma ampla impulsão de fatos e ideias para ganhar o torque e a densidade requeridos.
Carta Maior, que nasceu como um espaço de reflexão da intelectualidade progressista brasileira, elegeu uma prioridade nesse mutirão.
Seu compromisso é mobilizar a inteligência democrática da universidade brasileira, na arregimentação de contribuições a essa travessia.
Não se busca um eldorado de ideias prontas.
Estufas de exatidão idealista não resistem ao sol da história.
O que se aspira, ao contrário, é restituir ao ambiente acadêmico o ruído de uma usina de reflexão e de propostas, atada às urgências do novo ciclo de desenvolvimento que a Nação reclama.
Intriga que a explosão dos protestos de junho, predominantemente protagonizada por jovens estudantes, não tenha registrado qualquer preâmbulo de efervescência acadêmica que a anunciasse.
A avaliação desse paradoxo impõe-se desde já como um ponto de partida oda série nacional de debates com a comunidade acadêmica, que Carta Maior iniciou em São Paulo, no dia 30 de julho último.
Em pauta, o papel da universidade e dos intelectuais na encruzilhada de uma Nação que ainda não dispõe de um arsenal de ferramentas democráticas à altura das reformas cobradas pelo seu desenvolvimento.
Mas que terá que realiza-las, de qualquer forma.
Supor o contrário seria ceder ao retrocesso.
Cerca de 40 intelectuais participaram desse primeiro, de uma série de encontros (leia nesta pág. o relato de Maria Inês Nassif),cuja aspiração é pactuar uma agenda da universidade para as reformas do desenvolvimento brasileiro.
Um consenso significativo do encontro de São Paulo: o monopólio da comunicação interdita o debate e veta as soluções requisitadas pelo passo seguinte da nossa história.
Superar essa camisa de força é um requisito necessário.
Mas não suficiente.
Faz parte da exigência por mais democracia exercê-la.
E isso diz respeito à universidade, que terá que assumir sua quota nesse desassombro.
E não só como usina de reflexão.
Mas reinventando-se como uma ferramenta das novas famílias de políticas públicas requeridas pela sociedade.
O fosso entre as urgências do país e a prontidão do mundo acadêmico foi escancarado pela resistência beligerante, na esfera corporativa e universitária, despertada pelo programa ‘Mais Médicos’.
O Ministério da Educação recuou na ampliação dos cursos de medicina, mas tornou obrigatória a residência de dois anos no SUS.
Por certo, o programa ainda pode ser aperfeiçoado.
Por certo, tocou em um ponto sensível dos impasses vividos pelo país.
A universidade pública deve se limitar a fornecer profissionais ao mercado?
Ou o precedente do ‘Mais Médicos’ enseja uma matriz inovadora, feita da interação de políticas públicas de desenvolvimento com instituições de ensino superior?
Cumpriria a universidade sua função bastante ao ofertar quadros adestrados às respectivas demandas mercantis?
Ou o momento brasileiro impõe avançar a contrapelo da lógica incremental, que atribuiu ao mercado a ordenação do desenvolvimento, cabendo aos demais o papel de prove-lo?
É possível alterar essa 'divisão de trabalho' sem uma reforma profunda da instituição universitária?
Qual universidade para a democracia social avançar?
A resistência beligerante ao programa ‘Mais Médicos’ desautoriza ilusões.
O país levita entre o legado de uma mutação inconclusa e um vale tudo à direita, que pode levar a qualquer desfecho.
Menos à convergência da riqueza e ao avanço da democracia
Uma correlação de forças instável, desprovida de projetos claros de futuro, estreita a linha do horizonte nacional.
O elogio à progressão incremental resulta nesse quadro como uma crosta adicional de ferrugem, depositada nos dentes de uma mecânica institucional emperrada.
A universidade é parte dela.
Os encontros iniciados por Carta Maior, a partir de São Paulo, pretendem que a comunidade acadêmica rompa o casulo.
Faça mais do que indignar-se com a servidão voluntária dos outros.
Cumpra seu dever diante da Nação.
Dilatando espaços do pensamento e rompendo interditos do dinheiro, para que se possa inaugurar um novo ciclo de avanços da democracia social no Brasil.
Associações universitárias, professores e intelectuais interessados em participar podem entrar em contato com a Carta Maior, através do e-mail J29@cartamaior.com.br
Postado por Saul Leblon às 09:26
A importante contribuição da formação acadêmica
para o mal estar na educação pública. AQUI
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