Fonte: http://socialistamorena.cartacapital.com.br/comunistas-transam-melhor/
O documentário Liebte der Osten Anders? (“Comunistas transam melhor?”, na tradução do título em inglês), dirigido em 2006 por Andre Meier, parte da premissa, comprovada estatisticamente, de que no lado comunista do muro de Berlim as pessoas faziam mais e melhor sexo que do lado capitalista, e tenta explicar por quê. É surpreendente descobrir que, apesar da censura e da proibição da pornografia, os alemães orientais (e sobretudo as alemãs) tinham mais liberdade sexual do que os ocidentais. Mais orgasmos, inclusive.
A principal razão, defende Meier, é que, até a descoberta da pílula,
as comunistas eram mais independentes do que as comportadas alemãs do
lado capitalista. Durante a Segunda Guerra, com os homens no front, as
mulheres alemãs foram obrigadas a ir à luta para sustentar a família e
aprender tarefas consideradas “masculinas”, como construir casas. Depois
que eles voltaram, porém, enquanto na República Federal da Alemanha
(capitalista) as mulheres retornaram às prendas domésticas, na República
Democrática da Alemanha (comunista) elas continuaram trabalhando fora.
No final dos anos 1960, uma em cada três mulheres trabalhava fora na
Alemanha Ocidental; do lado Oriental eram 70%. Historiadores e sexólogos
defendem no documentário que este papel protagonista da mulher influía
positivamente em sua vida sexual.
“Em nenhuma área a emancipação feminina avançou tanto quanto na
sexualidade. As mulheres davam as regras na cama. Isso era muito típico
da Alemanha Oriental”, diz um especialista ouvido no filme. “Mais tarde
as alemãs orientais foram reduzidas a caricaturas, mas eram elas que
usavam as calças”, afirma outro. Ele fala isso e eu penso imediatamente
em Angela Merkel, a toda poderosa chanceler que cresceu do lado
comunista. Merkel foi beneficiada por uma emancipação que começara já no
pós-guerra. Ou seja, quando as ocidentais passaram a lutar para
conquistar espaço no mercado de trabalho, a maioria das orientais já
possuía uma carreira.
Outros fatores para a liberação, por incrível que pareça, partiram do
Estado comunista. Se do lado capitalista não houve educação sexual nas
escolas até meados dos anos 1960, em 1962 os alemães orientais já
assistiam programas sobre o assunto na televisão, voltados para
crianças. Na Alemanha Oriental o casamento perdeu muito cedo a função de
legitimar a sexualidade. Homens e mulheres também dividiam as tarefas
do lar, bem antes de que isto se tornasse uma questão no Ocidente. O
aborto foi legalizado na Alemanha comunista em 1972! Os alemães
orientais sofriam a repressão do Estado, mas não a da igreja como os
ocidentais, com efeito enorme sobre a sexualidade. Livres da religião,
os/as comunistas se dedicavam sem culpa aos prazeres da carne. A alcova
não era alvo da Stasi, a temida polícia secreta.
De acordo com o documentário, nos anos 1970 e 1980 os heterossexuais
gozavam de liberdade sexual quase plena na Alemanha Oriental. O mais
importante sexólogo do lado comunista, Siegfried Schnabl, deu a deixa em
uma entrevista: “Lenin disse que sob o comunismo não deveríamos aspirar
ao ascetismo e sim aos prazeres da vida. Isso inclui uma vida amorosa
satisfatória”.
Outro aspecto interessante é que, do lado comunista, a prática do
nudismo era amplamente aceita e começava no seio familiar (leia aqui
uma reportagem sobre o tema publicada pelo jornal britânico The
Telegraph). Isso explicaria a foto que circulou na rede da senhora
Merkel nua numa praia da Alemanha Oriental durante a juventude –há
dúvidas se é ou não a chanceler, mas que parece, parece.
Tudo muda com a queda do muro, em 1989, e a chegada da pornografia e
da prostituição. Mas será que, pelo menos sexualmente, os comunistas
eram mais felizes e não sabiam? Assista, é imperdível. Infelizmente não
está disponível na rede com legendas em português, só em inglês.
Entendo que o diretor quis focar no mundo hetero e no feminismo, mas
faço um reparo à ausência no filme do tema da homossexualidade, bastante
reprimida pelos regimes comunistas de maneira geral –que o digam os
cubanos. Outro documentário, Unter Männern — Schwul in der DDR (Entre
homens – gay na RDA), de Ringo Rösener e Markus Stein, aborda o tema e
conta que houve repressão à homossexualidade também na Alemanha
Oriental. Mas não foi, parece, tão grave como o que ocorreu na URSS ou
em Cuba. Pelo contrário, houve certa liberdade para os gays nos
primeiros anos da Alemanha comunista, que descriminalizou a
homossexualidade um ano antes que a Alemanha Ocidental. O próprio
sexólogo Schnabl publicou textos onde defendia a existência dos
homossexuais como “normal”.
Sem contar que aqueles beijaços na boca que o presidente alemão
oriental Erich Honecker gostava de sapecar nos colegas comunistas eram
meio homoafetivos, né não? Dizem que a comunistada saía correndo quando o
Honecker aparecia. Bem, nem todos.
Publicado em 4 de agosto de 2013
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