domingo, 27 de janeiro de 2013

O SERGIPANO NÃO PREVIA OS EFEITOS DA PRÉVIA

Cena do Pré-Caju 2012 (foto Maxwell Corrêa)
Em 21 anos o Pré-Caju deixa um saldo extremamente positivo para as bandas baianas e nada de representativo para o artista sergipano. O palco aberto nas avenidas de Aracaju foi espaço de lançamento para artistas baianos como: Netinho, Pimenta Nativa, Gil da Banda Beijo, Timbalada, Durval Lelis, Psirico e tantos outros que receberam muitos cachês e se profissionalizaram graças as verbas públicas do nosso estado.

Foram tantos artistas que fizeram e fazem carreira a partir do Pré-Caju, pois o evento é a principal porta de entrada para os baianos, que depois se apresentam em todas as festas de padroeiras e outras do calendário das cidades do interior sergipano. Todos esses shows são agendados e produzidos pela ASBT de Fabiano Oliveira e Lourival Oliveira. Os blocos que tinha um pouco de referência com nosso estado, pois eram produzidos por empresários sergipanos como o: Papagaio, Brilho, Fascinação, Dino, Tricolor da Vila e Canguru, desapareceram.

Na verdade tudo foi muito bem orquestrado, cada bloco por sua estrutura financeira e social e posição ocupada por seus dirigentes na sociedade Aracajuana buscava atrair o público de cada clube da cidade para a prévia, e isso se consolidava a cada ano que o Pré-Caju avançava. Contudo, os dirigentes de clubes e blocos não percebiam que a medida que o Pré-Caju crescia, os clubes e seus carnavais entravam em decadência na mesma proporção inversa.

Hoje só participam da prévia os blocos que pertencem a Fabiano Oliveira e os blocos ligados aos trios da Bahia, como o Chiclete, Eva, Cerveja & Cia etc. Mesmo sendo uma festa da Indústria Cultural e com fins lucrativos, o Pré-Caju recebe apoio e recursos da Prefeitura de Aracaju e do Governo do Estado, além de verbas de gabinetes de nossos Deputados Federais e Senadores.

A nossa prévia carnavalesca funciona também como principal vitrine e divulgação do que vai acontecer no carnaval de Salvador. Portanto, o evento além de não ter revelado nenhum artista sergipano nesses 21 anos, ainda contribuiu significativamente para o esvaziamento dos carnavais de Clubes e do carnaval de Rua de Aracaju.

Os governantes para estarem em evidência nos camarotes da prévia carnavalesca, passaram a investir somente nesse evento e foram abandonando aos poucos, o pouco que ainda restava do nosso carnaval, dos Blocos e Escolas de Samba que desfilavam no centro da cidade. O que tínhamos de tradição carnavalesca foi sendo apagada a medida que o Pré-Caju crescia.

Nosso carnaval foi sendo transferido para as ruas de Salvador, Recife e Olinda. Neópolis se tornou o único ponto de resistência e preservação do nosso carnaval, mesmo assim, porque quase não depende em nada dos gestores públicos, a cultura é mantida aos trancos e barrancos por pessoas que teimam em manter vivo o carnaval em Sergipe.

Não importa se temos ou não a dimensão dos carnavais das cidades acima citadas, o que importa é que precisamos preservar nossas tradições do tamanho que elas são e repassar para as novas gerações, senão corremos o risco de estar escrevendo a história da música baiana em nosso estado. Pior ainda, o que a ASBT traz para Sergipe nunca é o melhor da produção musical baiana, ao contrário, recebemos apenas o “bota a mão no joelho dá uma baixadinha”, a ridícula “dança da manivela”, a bafônica trupe de “chicleteiros”, o arrocha de Pablo e Silvano Sales e músicas de quebradeira que já estão invadindo nossas ruas e lares com canções que na Bahia foram proibidas por conter letras que desqualificam as mulheres.

Será que precisamos mesmo desse evento e da produção da segunda Secretaria de Cultura do Estado, a ASBT? Fica aqui nossa reflexão...


Ribeiro Filho

Bel em Comunicação Social

Mestre em Sociologia

Ontem (26/01/2013), após a reunião da Ação Cultural, fiquei conversando com um dos participantes da mesma sobre as polêmicas que envolve o Pré-Caju. O ponto de vista que expressei em concordância com o dele, é que não temos nada contra o gosto musical/estético daqueles que preferem o Pré-Caju, a questão são os investimentos públicos massivos, os altos indices de poluição sonora  e os transtornos no trânsito , decorrente do  local em que o evento acontece e etc. Nesta perspectiva, se insere outros formatos de estimulos a propagação da cultura de massa, não apenas a baiana, me refiro ao modelo politico  de concessões dos meios de comunicação e a quantidade de capital estatal investido em publicidade nas emissoras comerciais. Outra questão é o financiamento de campanhas politicas. Como é do conhecimento público, muitos prefeitos acabam ficando reféns de empresários ligados aos ritmos da cultura de massa, em razão das "contribuições" financeiras que estes empresários oferecem para a campanha eleitoral, as quais indiretamente saem de nossos bolsos, já que encontram-se embutidas nos preços dos cachês e de outros serviços ligados ao evento , pagos pelo poder público,  de forma direta ou indireta como no exemplo do Pré-Caju. E o pior, como é realizado um trabalho de formação do gosto massificado por parte destes empresários em conluio com as emissoras de rádio, ai do prefeito que não coloque os artistas e bandas famosas na programação, bem como seus covers, já que a juventude , em sua maioria, desconhece outros estilos musicais.



Em resumo, as questões relevantes na discussão, são mais de natureza econômica e politica e menos de natureza estética, sob o  nosso ponto de vista, multicutural , podemos assim dizer. O que que não desmerece  a contribuição de Ribeiro Filho, o qual de certa maneira apresenta alguns aspectos de natureza econômica e politicos interessantes, porém, sem poder  aprofundá-los. Em razão desta necessidade,  deixo a sugestão para que  estudantes e professores da graduação e da pós-graduação em Sergipe,  realizem e disponibilizem  estudos e pesquisas sobre o Pré-Caju e outros megaeventos patrocinados pelo poder público, tanto no âmbito municipal, como no estadual e federal, na linha de quem ganha e quem perde com a realização da prévia e de outros eventos, tanto em termos quantitativos, com base no viés  econômico,  como em termos qualitativos, com base no viés das politicas de democratização cultural, bem como a respeito de como estes investimento  influenciam ou interferem na qualidade das produções artísticas em nosso estado e na  identidade  e  diversidade cultural.



 
Zezito de Oliveira
Educador e Produtor Cultural 

 JOSÉ FIRMO - Direto do Facebook

O jornalista Ivan  Valença (dando uma de Mãe Diná) já havia escrito no Jornal da Cidade, edição 12.160, de domingo e segunda, 20 e 21/01/13, página A-5:


O PRÉ-CAJU FICA NO MESMO LOCAL: Impossível não falar do Pré-Caju. Foi o que movimentou esta semana a cidade. Uma pena que os quatro dias desta folia passem tão rápido. Daqui a pouco chega o Carnaval e são mais quatro ou cinco dias para fazer da vida uma fuzarca a céu aberto. Todo o ano, porém, a história se repete. Basta se aproximar o Pré-Caju para os que são do contra voltarem com essa história de mudar o local do percurso. Este ano teve até manifestação neste sentido ali no pontilhão que leva à Coroa do Meio. Tudo isso, porém, não incomoda o ex-deputado e hoje somente empresário de eventos, Fabiano Oliveira: As pesquisas demonstram que a festa tem a aprovação do povo e mais de 95% dos moradores da 13 de Julho. Todos aprovam a festa na Avenida Beira-Mar. Já mudamos a prévia para a área dos mercados e não deu certo. Na Orla da Atalaia é completamente inviável por causa da segurança. É só observar o carnaval do Rio de Janeiro, onde as orlas dos bairros Leblon, Ipanema e Copacabana são fechadas. Aqui mais perto, o Corredor da Vitória é o PIB de Salvador, local que concentra os mais importantes prédios da cidade. Durante o Carnaval fica interditado por conta dos desfiles dos trios.


Fabiano vai mais longe: “O Pré-Caju é a voz do povo, e a voz do povo é a voz de deus. A festa é de domínio público e atende o coletivo. Mais de um milhão de pessoas brincam gratuitamente”, garante ele.


Ex-secretário da Cultura e Turismo do Estado, Fabiano reconhece que é impossível realizar uma festa como o Pré-Caju sem contar com a ajuda do Poder Público, principalmente com relação à segurança, trânsito, etc. “Sem esse apoio logístico seria impossível realizar um evento como o Pré-Caju. Mas, vale ressaltar que tanto o Governo do Estado quanto a Prefeitura não são responsáveis pela contratação de nenhuma banda, atração ou trio elétrico da festa. Quem viabiliza essa grandiosidade são os patrocinadores. Essa é parceria pública privada onde o Estado e o Município arrecadam os impostos”


Revela Fabiano que Aracaju recebe cerca de 50 mil turistas de todo o País durante o Pré-Caju. O número maior vem de Alagoas, Pernambuco, São Pulo e, principalmente, da Bahia. Fabiano exibe outro orgulho: “O Pré-Caju gera mais de 20 mil empregos diretos e indiretos, em pelo menos 70 setores da economia. É uma festa que além de trazer diversão, gera empregos e renda para a cidade”.

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