terça-feira, 27 de novembro de 2018

História de amor às pessoas e a medicina X desinformação e despreparo. Histórias de médicos cubanos no Brasil.



A bolsonarista Içara perdeu metade dos médicos   

Não deixem de assistir abaixo, a excelente entrevista do ex ministro da saúde Alexandre Padilha, responsável pela implantação do programa Mais Médicos.






Um obrigado dito a partir de um olhar!!

Médica Cubana, Tatiana Lago Columbie, desmente ‘escravidão’, ‘injustiças’ e reafirma: “Viemos promover e prevenir na Saúde da Família”
O programa Diário ao Vivo, do Diário de Olímpia.Com, entrevistou com exclusividade na edição desta sexta-feira (16), que foi ao ar nas redes sociais Facebook, YouTube, Periscope e Twitch, a médica cubana Tatiana Lago Columbie, que está há quatro anos no atendimento da Saúde da Família, em Olímpia.

Com a imposição do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro em mudar as regras do contrato do programa ‘Mais Médicos’, Cuba não concordou e, assim, 11 mil médicos em todo o País, 13 deles na região – sendo cinco em Olímpia, deverão deixar o País até o final deste ano.

Em quase 50 minutos de entrevista, a médica expôs como é a vida em Cuba, tão criticada por aqueles que, segundo ela, confundem Socialismo com Ditatura. “Lá não é ditadura, socialismo é querer igualdade em coisas básicas, como Saúde, Educação, Segurança, não há escolas e nem hospitais particulares, os 70% que consideram que é injustiça, não vejo assim, vai servir para que todos lá continuem tendo direitos iguais e também bancar o sustento de meu filho de oito anos, e da família que deixei lá”, explica.

Todo o ensino é gratuito, inclusive material escolar, uniformes, alimentação. “O meu filho, de uma médica, é tratado igual ao filho de um trabalhador agrícola, não tem diferença”, esclarece. No seu caso, os seis anos de Medicina são bancados integralmente pelo governo, os três primeiros ensino teórico, os três restantes dando aulas e residências. Depois de formada, trabalhou por dois anos em serviço social no interior do País. Para atender o que no Brasil se chama Saúde da Família, estudou mais três anos, nas áreas criança, adulto, gestantes, por exemplo.

Cuba é reconhecida como uma das Saúdes mais avançadas do mundo, a sua mortalidade é uma das mais baixas mesmo se comparando com países maiores e modernos. Assim ocorre na Educação, nos Esportes, por exemplo, contou a médica.

Em Olímpia, está atendendo na UBS do bairro São José. Trabalha das 8h às 17h, com uma hora de almoço – expediente que médicos brasileiros não aceitam, ainda mais ‘batendo ponto’. Das 40 horas semanais, 32 são para atendimentos generalistas e oito para consultas pré-agendadas em domicílio.

“Viemos promover e prevenir em termos de Saúde da Família. O contrato iria até 2020, parece que o presidente Temer estendeu até 2023, uma pena acabar assim”, assinala.

Durante os quatro anos, segundo o contrato, ela trabalhava 11 meses e tinha um mês de direito a férias, sem contar que, no seu caso, feriados prolongados também poderia ir para o seu País – neste caso, preferiu passar o período de carnaval também com a sua família em sua terra natal.

Ela se casou com um olimpiense, o que lhe daria o direito de ficar ou mesmo do marido entrar em Cuba. “Não é uma decisão que vou tomar sozinha, sei que fiz muitos amigos, seja particulares, seja pacientes, que querem que eu fique, mas tenho filho pequeno, mãe, irmão, sem o contrato vou ficar desempregada, de fome não morreria, mas me formei médica, estudei até agora para trabalhar, essa é a minha missão”, disse Tatiana


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Médicos Cubanos, já vão tarde !

Por estes dias tenho recebido uma avalanche de comentários a respeito da decisão de Cuba de retira seus médicos após as impróprias palavras de nosso boquirroto Presidente eleito. Como o teor dos comentários postados e a mim endereçados dão testemunho de uma quase total ignorância acerca da realidade do Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB) e por ser eu um médico supervisor do mesmo, vi-me na contingência de procurar contribuir com os pontos de vista, à partir de uma ótica de quem conhece de perto os médicos cubanos e o programa, desde que nele adentrei, em 2014. Esclareço antes de tudo que não sou do PT, não aprovo corrupção e, que, como médico, não gostei nem um pouco da forma como a nossa Presidente de então nos empurrou de goela abaixo o programa, como que para reparar o que os médicos brasileiros não faziam.
Ocorre que, ao longo destes 5 anos, supervisionei 7 médicos cubanos lotados em área indígena no extremo norte de Mato Grosso, a chamada amazônia matogrossense e sul do Pará. só esta localização já diz algo, pois nunca até então, houve médicos atendendo na maioria das aldeias localizadas nas áreas indígenas aí situadas,exceção feita ao trabalho do Dr. Noel Nutels e aos hercúleos esforços da equipe da UNIFESP.
Assim que conheci meus primeiros supervisionados, lancei-lhes a pergunta se estava bem para eles a forma de pagamento combinada com seu governo, ao que me responderam de pronto em seu português espanholado ; "sí, assinamos um contrato e além do mais, sabemos que este dinheiro será utilizado em educação, saúde e segurança para as nossas famílias". Fiz comigo um acordo de dar um crédito inicial a isto, e observar como seria. O que vi, a partir dali, porém, me fez acreditar que aqueles médicos falavam a verdade. O extremo profissionalismo, a atenção dada aos pacientes, o compromisso aliado a uma formação de longe melhor do que a minha em saúde de família e comunidade, davam prova de seu espírito missionário e que estavam aqui para trabalhar, dando o melhor de si em prol da melhoria das condições de saúde onde estavam lotados.
Em 2017 fui convidado a participar de uma missão diplomática para formação de médicos cubanos que viriam ao Brasil, uma espécie de "mês de adaptação" para se acostumarem a nuances da medicina brasileira. O que por lá vi, durante 30 dias de estada em Cuba, chancelaram o que já vinha percebendo : mortalidade infantil igual ao do Canadá, crianças aprendendo música clássica em escolas públicas, a sensação de segurança ao caminhar por Havana tarde da noite... parece que os médicos cubanos me disseram a verdade. Os 75% que enviavam ao governo (muito diferente do que vemos por aqui) realmente é revertido para o bem comum e, ainda assim, um médico cubano em missão no Brasil (sim, eles encaram como missão) recebe cerca de 10 a 12x mais que um médico em Cuba. Falando em missão, três de meus supervisionados já haviam participado de missões no Paquistão, na África e Venezuela. Pasme : me disseram que algumas dificuldades enfrentadas na atuação em saúde indígena nos longínquos rincões da amazônia matogrossense e do Pará meridional superaram em muito as vividas naquelas outras missões. Algumas vezes os visitei em área indígena, acampados ao lado ou mesmo dentro das ocas que lhes serviam de posto de saúde. Pela realidade que conheci, ainda não posso acreditar que os milhares de inscritos interessados se enquadrem neste espírito missionário e abnegado. Claro que haverá honrosas exceções, mas poucas andorinhas não fazem verão.
As indesejáveis palavras de nosso Pdte eleito perpretaram um incidente diplomático, cuja conta não será paga por mim ou por você, que com paciência chegou até aqui lendo este desabafo, mas sim pelos que estão lá na ponta da fila, como os indígenas que vi contando com sorriso largo ser a primeira vez que um médico pisava em sua aldeia. O posicionamento desprovido de cautela diplomática que deve nortear a conversação entre governos, aliás, faz coro ao desmonte "cirúrgico" que o governo atual do Dr Michel Temer vinha fazendo no programa, retirando pessoas chave, cada uma a sua vez, para emperrar o andamento, sem causar alarde ao grande público, temendo a reação popular.
Apesar de ainda algo estupefato com os desdobramentos deste triste capítulo, como brasileiro patriota e interessado na atenção à saúde de nosso povo, mantenho-me na torcida de que o futuro governo saiba mexer no que é preciso, não no que parece errado por ser ideologicamente adverso.


Duarte Antônio Guerra

Padre do Acre posta foto de aldeia que ficará sem médico: “Senhor, piedade.”

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Menos médicos
Não tive a oportunidade de ser atendido por um médico ou médica cubanos. Mas, vi várias notícias sobre brasileiros que só passaram a ter assistência médica após a implantação do programa Mais Médicos, criado em 2013 na gestão da presidenta Dilma Rousseff.
O governo que começará, formalmente, em 1º de janeiro de 2019 abomina tudo que suponha divergir do capitalismo. Não por acaso, a cor vermelha e qualquer reflexão teórica ou ação política que remeta ao socialismo têm sido alvo de ataques dos novos dirigentes.
No contexto previamente anunciado e já em vias de implantação, não era mesmo de se esperar que a medicina cubana permanecesse prestando serviços ao Brasil. O desmonte deverá ser rápido e os cubanos vão poder comemorar os 60 anos da revolução em casa.
O Ministério da Saúde anunciou que pretende lançar um edital, já nos próximos dias, para que a assistência prestada pelos cubanos continue sendo ofertada, agora por médicos brasileiros. Torço para que dê certo, porém, creio que haverá pedras nesse caminho.
A sociedade cubana é imensamente diferente da brasileira – digo isso pelo que pude observar quando lá estive, há um ano. Na ilha cultiva-se uma mentalidade na qual, nitidamente, as necessidades coletivas e sociais prevalecem sobre os interesses individuais.
Os profissionais formados em Cuba demonstram compartilhar o entendimento de que qualquer conquista, inclusive as educacionais, resultam de um esforço social. Assim, o emprego da força de trabalho tem sempre um sentido de retribuição, de gratidão social.
O país caribenho planeja e executa suas ações para o atendimento das demandas sociais. Se há carência de médicos, forma-se mais médicos. Se a necessidade maior é de engenheiros, o esforço é direcionado para a formação de engenheiros e assim por diante.
Uma vez formados, os profissionais assumem o compromisso de retribuição social do investimento que neles foi feito. Por isso, chegando ao Brasil, foram destinados para lugares os mais rejeitados, para onde ninguém queria ir e lá foram com disposição.
Já a nossa cultura, totalmente aberta aos valores consumistas, reforça a mentalidade de que o objetivo maior de qualquer formação profissional é a prosperidade do indivíduo formado. Dessa primeira ênfase, muitos descambam para a gana pelo enriquecimento.
Conexo ao descrito no parágrafo anterior, a cultura consumista também parece criar uma atração irresistível pela vida nas metrópoles. Com isso, de modo geral, busca-se formação para fazer sucesso, para brilhar, para desfrutar as "benesses" dos centros de poder.
Mergulhados nessa mentalidade, os profissionais das atividades mais prestigiadas, amiúde, não querem deslocar-se para trabalhar em regiões mais pobres, mais periféricas e mais carentes dos serviços públicos. Isso é o que temos visto na nossa realidade.
Essa é uma das pedras que eu vejo no caminho da substituição das médicas e médicos cubanos por colegas brasileiros, no contexto do programa Mais Médicos. Como disse acima, torço para que o governo supere as dificuldades, embora não acredite que será fácil.
Antônio Passos
Publicado no Jornal do Dia, em 21/11/2018.  


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