Daquilo que eu sei
sobre a arte, o principal foi/é saber que a arte é necessária sob o ponto de
vista mais amplo, integral e holístico.
Nesse sentido, aprendi, primeiramente com vivências e depois com leituras, que a arte pode ser um canal para a expressão de nossos sonhos, de nossos sentimentos e de nossas emoções, enfim da nossa subjetividade e independente de nossa intencionalidade, muita das vezes. Aprendi que arte pode provocar
um estado alterado e ampliado de nossa consciência,
bem como de nossos sentidos e de nossas linguagens.
Aprendi também que a arte pode nos afastar ou nos aproximar do
nosso cotidiano de uma forma diferente. Pode nos fazer enxergar com outros
olhos, àquilo que por estar tão perto, às vezes não conseguimos perceber sob outros ângulos ou dimensões. Aprendi que a
arte pode romper as barreiras do tempo e da nossa finitude, nos fazendo ir para
o passado, como para o futuro, sem precisarmos abandonar o presente.
No processo e nos resultados da
criação/produção artísticas descobri a potência da arte para aproximar pessoas,
às vezes a ponto de descobrirmos verdadeiras almas gêmeas que podem ser as pessoas que nos falta, para dar ainda mais calor, mais alegria, mais movimento, mais
sabor e mais luzes, em nosso percurso.
Aprendi que a arte pode ser uma forma de sublimação, segundo
o sitio de internet “Significados”, “na psicologia e psicanálise, sublimação foi um termo introduzido
por Sigmund Freud que designa um mecanismo de defesa do
"eu", em que determinados impulsos inconscientes são integrados na
personalidade e culminam em atitudes com valor social positivo. (...)Um pintor,
por exemplo, pode direcionar as suas frustrações para criar uma obra de arte,
uma atitude igualmente aceite pela sociedade.”
De forma semelhante,
a arte pode ser considerado um canal privilegiado para a a catarse. Também nos
valendo da ajuda do sitio “Significados” trazemos uma definição de catarse
baseada no sentido primeiro que lhe foi dado pelo filósofo Aristóteles.
“Para Aristóteles, o teatro tinha para o ser humano a capacidade de
libertação, pois quando via as paixões representadas, conseguia se libertar
delas. Essa purgação ou purificação tinha o nome de catarse, que era provocada
no público durante e após a representação de uma tragédia grega. A catarse era
o estado de purificação da alma experimentada pela plateia através das diversas
emoções transmitidas no drama.”
Também vivenciei o quanto a arte pode colaborar com a nossa saúde física
e mental. E antes, mas principalmente depois, fui descobrir como isso ocorre
sob o ponto de vista orgânico.
Descobri então que
fazer arte, contribui para o organismo liberar substâncias químicas como a
serotonina e a endorfina. A primeira regula o sono, humor,
apetite e ainda ajuda a combater a enxaqueca. Sobre a segunda o que se sabe, “é
que a endorfina tem uma potente ação analgésica e
ao ser liberada estimula a sensação de bem-estar, conforto, melhor estado de
humor e alegria.”
Nessa direção e a guisa de conclusão, trago parte de um
relato que produzi em 2008 sobre a experiência inicial que tive no ano de 1999,
com as rodas de danças circulares
O primeiro contato que tive com as danças circulares se deu em Recife,
no ano de 1999, quando participei de um primeiro encontro com William Vale, de Belo Horizonte. A partir de então, continuo tendo essa experiência até os dias de hoje.
(...)
As primeiras sensações foram as melhores possíveis; lembro de
forma especial do contentamento ao dançar em pares, em razão da semelhança com as
danças de roda que tinha visto em filmes com temáticas inspiradas no modo de
viver dos povos tradicionais da Europa, dos ciganos, dos israelenses, entre
outros, e que mostravam a leveza e a alegria estampada nos rostos das pessoas.
(...)
No meu caso, nos dias em que estive dançando com cerca de
vinte e cinco pessoas, me pude sentir mais integrado a elas. Pude ter a
sensação de calma através das danças meditativas, através das danças de pares
me alegrei. Por estar em contato com as danças de povos e culturas diferentes
me senti conectado/transportado e podendo assim entrar em comunhão com gente de
tantos lugares e épocas distintas, gente e lugares que eu não conheci.
Nas danças circulares sagradas fica claro que podemos e
devemos recuperar o direito de todos experimentarem o prazer de estar em
círculo de mãos dadas com os demais, compartilhando momentos de felicidade que
tanto bem fizeram aos nossos antepassados e, de maneira bem natural, utilizando
nossos corpos guiados por lindas melodias e pela criatividade humana, que nos
legaram uma série de instrumentos de onde tiramos sons {movimentos} e melodias deliciosas. {Dentre
esses instrumentos, inclusive os nossos corpos.} (*) (...)
É por aí que muitos estão descobrindo uma das principais fontes de vitalidade daqueles que nos
antecederam, e que foi se perdendo aos poucos retornando agora com toda a
força.
Agradeço a Bernhard Wosien por ter percebido o potencial de cura dessas danças,
antevendo que muitas delas iriam se perder na memória do tempo, em virtude das
mudanças do modo de vida urbano/industrial contemporâneo. Ele iniciou o
registro gráfico das coreografias e mobilizou um grupo de pessoas, em
particular os membros da comunidade de findhorn, localizada na Escócia, para
guardar e repassar o conhecimento ancestral e, desta maneira, tornar possível a
permanência de um repertório de danças populares que nos dias de hoje
possibilita fazer mais feliz a existência de milhões de “passageiros” que estão
viajando através da nave mãe terra.
E mais, corroboro e reverbero as palavras de Eliakan
Rufino e Aíla.
“ Todo mundo nasce artista / Todo mundo nasce artista Depois
vem a repressão "não faz arte", diz a tia "vê se deixa de
invenção!" Todo mundo nasce artista Depois vem a castração E o artista que
há em nós Vai do quarto pro porão Todo mundo nasce artista Depois vem a podação
E a vida fica triste Sem arte, sem emoção Todo mundo nasce artista Depois vem a
piração Alcoolismo, suicídio Doença mental, depressão E essa doença tem cura!
(?) Existe uma salvação! (?) Faça arte! faça arte! Mesmo que sua mãe diga que
não (composição: Eliakin Rufino).”
Por último, não menos importante, temos o lado B da arte,
ou o lado menos desejado por quem pensa semelhante a nós, pois há também arte e artistas alienados,
excessivamente egocentrados, mercenários, distantes da realidade, descomprometidos com as
grandes causas sociais e planetárias e etc.. e
etc..
Para superar ou diminuir possibilidades como essa, fica a
dica, sempre buscar ligar a criação/produção artística com a construção de
outras formas de saberes e conhecimentos. E aqui entra filosofia, ciências,
memórias/ saberes ancestrais, cotidiano e etc...
O que não querem também os ridículos tiranos que foram “escolhidos”
para nos governar. Que falam em priorizar um certo tipo de arte, não "ideologizada". Fazem-me rir e fortalecer o compromisso, com a arte, toda a arte, inclusive a arte militante e engajada. Sem precisar ficarmos limitados somente e a tanto, em especial quando tivermos "ares" melhores para respirar.
(*) texto completo: http://www.overmundo.com.br/overblog/a-danca-da-vida-2-movimento-1 O que está {entre} foi acrescentado para esse texto.
A produção do texto em tela foi provocado pelas duas crônicas abaixo e alimentado pelos filmes, textos e discussões realizadas na disciplina "Educação, cinema e direitos humanos.", do curso de graduação em cinema da UFS. Além das diversas vivências, não apenas com as rodas de danças, mas fundamental, assim como outras leituras, pesquisas e muitas conversas.
----------------------------------------------------------
Não adianta ouvir Mozart no carro.
Não adianta ler “O mal-estar na civilização” com a gata no colo.
Não adianta receber os amigos, tomar vinho e ficar feliz na companhia deles.
Não adianta conversar com os filhos, jantar com os filhos, beijar os filhos.
Não adianta dormir com a mulher que a gente ama, dizer que a ama, ouvir que ela também nos ama.
Nem o Corinthians escalando a tabela do Brasileiro adianta.
De manhã, ao ligar o celular, você ficará sabendo que a polícia de São Paulo compareceu a uma reunião de mulheres do PSOL, exigindo saber quem havia organizado aquele encontro partidário.
Depois, saberá que Bolsonaro demitiu um cientista, o respeitado presidente do Inpe, que teve coragem de denunciar suas mentiras sobre o desmatamento na Amazônia.
Lerá, mais tarde, que a tropa de elite da polícia militar do Pará canta, diante do governador do Estado, uma música que fala em “arrancar cabeças” e praticar “pena de morte à brasileira”.
Ficará sabendo, profundamente envergonhado, que o ministro das Relações Exteriores do Brasil garantiu que o aquecimento global não existe porque ele esteve em Roma e lá fazia frio.
Com a passagem do tempo, não mais que 24 horas, ficará claro que não é possível habitar uma bolha de normalidade no interior de um país que é governado por malucos, cínicos e sádicos.
Enquanto a gente se esforça para manter a sanidade, evitando a toxidade das redes sociais, eles se empenham diariamente em transformar o Brasil numa ditadura religiosa que não reconhece a verdade, a ciência ou os direitos humanos.
Num único dia, Bolsonaro mente sobre todos os assuntos possíveis, da maior gravidade – desmatamento na Amazônia, fome no Brasil, assassinatos no regime militar – e, 24 horas depois, tudo segue normalmente, inclusive a demissão das pessoas que, dentro do governo, rebatem suas mentiras.
No Brasil da família Bolsonaro, só existe uma medida de realidade, a dele. O presidente-ditador-rei diz o que quer e manda punir quem o desdiz.
Qual é o nome desse tipo de regime? Tirania.
Ah, Ivan, que exagero. As leis estão funcionando. O Supremo Tribunal Federal tomou nos últimos dias várias decisões que contrariaram o presidente e nada aconteceu.
Sério?
A gente vai medir a nossa segurança como cidadãos e a qualidade da nossa democracia pela maneira como o presidente trata a Suprema Corte, a instância mais poderosa do sistema judiciário brasileiro?
Vamos esperar o filho filé mignon encostar “um jipe e um cabo” na porta do Supremo para perceber que a família está tentando encerrar na marra o período de maior liberdade, prosperidade e inclusão social da história do Brasil?
O presidente da República, quando fala, aponta uma direção para o país, e Bolsonaro está apontando uma direção muito clara, que oscila entre o terrorismo de Estado e a ditadura cultural: ele sugere que decapitar presidiários sob a tutela do Estado, como aconteceu no Pará, é perfeitamente aceitável; ele diz que vai fechar a Agência Nacional de Cinema porque ela produz filmes dos quais ele e seus apoiadores evangélicos não gostam, ele incentiva garimpeiros a invadir reservas indígenas, ele apoia madeireiros clandestinos a seguir derrubando a floresta que fornece ar aos nossos pulmões.
Toda vez que abre a boca, Bolsonaro aponta para o rompimento da lei e o esmagamento das liberdades civis, e, de forma bem clara, apoia a violação dos direitos econômicos, sociais e humanos dos brasileiros mais vulneráveis. E isso tem efeitos práticos, instantâneos, que se manifestam todos os dias. Funciona como um “liberou geral”.
O que mais é preciso para colocar a sociedade em pé, aos berros, exigindo nas ruas o fim desses abusos?
Tenho dito, faz um tempo, que parte da população brasileira vive uma espécie de sequestro mental. Milhões se abastecem de fake news distribuídas pelas redes sociais. Estão trancafiados num cativeiro ideológico que impede perceber a realidade e agir de acordo com ela. Vai ser preciso que o mundo real destoe diametralmente da parábola bolsonarista para que eles percebam que estão sendo enganados.
Do lado de fora desse cercado ideológico as coisas tampouco são simples. A maior parte da imprensa profissional ainda insiste em tratar Bolsonaro com normalidade, como se ele fosse um presidente como outros, apenas com discurso e comportamento “polêmicos”. Uma atitude condescendente como essa sinaliza para a sociedade que está tudo bem, que a ordem está mantida, que vivemos numa democracia funcional.
Mas isso, factualmente, não é mais verdade.
Numa democracia a polícia não vai a reuniões políticas para intimidar e fichar participantes. Numa democracia o presidente não ameaça jornalistas com prisão. Numa democracia o filho sem qualidades do presidente não ganha de presente a embaixada dos Estados Unidos. Numa democracia o presidente não corta as verbas de Estados porque seus governadores repelem insultos racistas. Numa democracia o presidente não demite servidores porque se recusam a endossar suas mentiras. Numa democracia, pelo amor de Deus, o presidente não age como se fosse o dono do Estado, explicando suas arbitrariedades com uma única frase: “O país está sob nova direção“. A democracia tem regras.
Desde a posse de Bolsonaro – essa é a verdade – não vivemos mais em plena democracia ou mesmo num país normal. Vivemos, isto sim, um estado de exceção que vai ser normalizando, uma armadilha que se fecha sobre nós em câmera lenta, e cuja direção vai sendo dada pelos discursos cada vez mais agressivos do presidente. Quando ele fala, testa e ao mesmo tempo estabelece os novos limites do tolerável, o novo normal, e assim avança, um pouco mais a cada dia, em direção a uma ditadura familiar na qual teremos mais e mais Bolsonaros na folha de pagamento do Estado.
E nós, vamos esperar que o ar acabe ou vamos nos manifestar enquanto ainda existe oxigênio? Bolsonaro já mostrou quem é. Agora cabe a nós descobrir quem somos.
(Ivan Martins é jornalista, psicanalista e autor dos livros “Alguém especial” e “Um amor depois do outro”).
(*) texto completo: http://www.overmundo.com.br/overblog/a-danca-da-vida-2-movimento-1 O que está {entre} foi acrescentado para esse texto.
A produção do texto em tela foi provocado pelas duas crônicas abaixo e alimentado pelos filmes, textos e discussões realizadas na disciplina "Educação, cinema e direitos humanos.", do curso de graduação em cinema da UFS. Além das diversas vivências, não apenas com as rodas de danças, mas fundamental, assim como outras leituras, pesquisas e muitas conversas.
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Não adianta ouvir Mozart no carro.
Não adianta ler “O mal-estar na civilização” com a gata no colo.
Não adianta receber os amigos, tomar vinho e ficar feliz na companhia deles.
Não adianta conversar com os filhos, jantar com os filhos, beijar os filhos.
Não adianta dormir com a mulher que a gente ama, dizer que a ama, ouvir que ela também nos ama.
Nem o Corinthians escalando a tabela do Brasileiro adianta.
De manhã, ao ligar o celular, você ficará sabendo que a polícia de São Paulo compareceu a uma reunião de mulheres do PSOL, exigindo saber quem havia organizado aquele encontro partidário.
Depois, saberá que Bolsonaro demitiu um cientista, o respeitado presidente do Inpe, que teve coragem de denunciar suas mentiras sobre o desmatamento na Amazônia.
Lerá, mais tarde, que a tropa de elite da polícia militar do Pará canta, diante do governador do Estado, uma música que fala em “arrancar cabeças” e praticar “pena de morte à brasileira”.
Ficará sabendo, profundamente envergonhado, que o ministro das Relações Exteriores do Brasil garantiu que o aquecimento global não existe porque ele esteve em Roma e lá fazia frio.
Com a passagem do tempo, não mais que 24 horas, ficará claro que não é possível habitar uma bolha de normalidade no interior de um país que é governado por malucos, cínicos e sádicos.
Enquanto a gente se esforça para manter a sanidade, evitando a toxidade das redes sociais, eles se empenham diariamente em transformar o Brasil numa ditadura religiosa que não reconhece a verdade, a ciência ou os direitos humanos.
Num único dia, Bolsonaro mente sobre todos os assuntos possíveis, da maior gravidade – desmatamento na Amazônia, fome no Brasil, assassinatos no regime militar – e, 24 horas depois, tudo segue normalmente, inclusive a demissão das pessoas que, dentro do governo, rebatem suas mentiras.
No Brasil da família Bolsonaro, só existe uma medida de realidade, a dele. O presidente-ditador-rei diz o que quer e manda punir quem o desdiz.
Qual é o nome desse tipo de regime? Tirania.
Ah, Ivan, que exagero. As leis estão funcionando. O Supremo Tribunal Federal tomou nos últimos dias várias decisões que contrariaram o presidente e nada aconteceu.
Sério?
A gente vai medir a nossa segurança como cidadãos e a qualidade da nossa democracia pela maneira como o presidente trata a Suprema Corte, a instância mais poderosa do sistema judiciário brasileiro?
Vamos esperar o filho filé mignon encostar “um jipe e um cabo” na porta do Supremo para perceber que a família está tentando encerrar na marra o período de maior liberdade, prosperidade e inclusão social da história do Brasil?
O presidente da República, quando fala, aponta uma direção para o país, e Bolsonaro está apontando uma direção muito clara, que oscila entre o terrorismo de Estado e a ditadura cultural: ele sugere que decapitar presidiários sob a tutela do Estado, como aconteceu no Pará, é perfeitamente aceitável; ele diz que vai fechar a Agência Nacional de Cinema porque ela produz filmes dos quais ele e seus apoiadores evangélicos não gostam, ele incentiva garimpeiros a invadir reservas indígenas, ele apoia madeireiros clandestinos a seguir derrubando a floresta que fornece ar aos nossos pulmões.
Toda vez que abre a boca, Bolsonaro aponta para o rompimento da lei e o esmagamento das liberdades civis, e, de forma bem clara, apoia a violação dos direitos econômicos, sociais e humanos dos brasileiros mais vulneráveis. E isso tem efeitos práticos, instantâneos, que se manifestam todos os dias. Funciona como um “liberou geral”.
O que mais é preciso para colocar a sociedade em pé, aos berros, exigindo nas ruas o fim desses abusos?
Tenho dito, faz um tempo, que parte da população brasileira vive uma espécie de sequestro mental. Milhões se abastecem de fake news distribuídas pelas redes sociais. Estão trancafiados num cativeiro ideológico que impede perceber a realidade e agir de acordo com ela. Vai ser preciso que o mundo real destoe diametralmente da parábola bolsonarista para que eles percebam que estão sendo enganados.
Do lado de fora desse cercado ideológico as coisas tampouco são simples. A maior parte da imprensa profissional ainda insiste em tratar Bolsonaro com normalidade, como se ele fosse um presidente como outros, apenas com discurso e comportamento “polêmicos”. Uma atitude condescendente como essa sinaliza para a sociedade que está tudo bem, que a ordem está mantida, que vivemos numa democracia funcional.
Mas isso, factualmente, não é mais verdade.
Numa democracia a polícia não vai a reuniões políticas para intimidar e fichar participantes. Numa democracia o presidente não ameaça jornalistas com prisão. Numa democracia o filho sem qualidades do presidente não ganha de presente a embaixada dos Estados Unidos. Numa democracia o presidente não corta as verbas de Estados porque seus governadores repelem insultos racistas. Numa democracia o presidente não demite servidores porque se recusam a endossar suas mentiras. Numa democracia, pelo amor de Deus, o presidente não age como se fosse o dono do Estado, explicando suas arbitrariedades com uma única frase: “O país está sob nova direção“. A democracia tem regras.
Desde a posse de Bolsonaro – essa é a verdade – não vivemos mais em plena democracia ou mesmo num país normal. Vivemos, isto sim, um estado de exceção que vai ser normalizando, uma armadilha que se fecha sobre nós em câmera lenta, e cuja direção vai sendo dada pelos discursos cada vez mais agressivos do presidente. Quando ele fala, testa e ao mesmo tempo estabelece os novos limites do tolerável, o novo normal, e assim avança, um pouco mais a cada dia, em direção a uma ditadura familiar na qual teremos mais e mais Bolsonaros na folha de pagamento do Estado.
E nós, vamos esperar que o ar acabe ou vamos nos manifestar enquanto ainda existe oxigênio? Bolsonaro já mostrou quem é. Agora cabe a nós descobrir quem somos.
(Ivan Martins é jornalista, psicanalista e autor dos livros “Alguém especial” e “Um amor depois do outro”).
DIÁRIO DO BOLSO
Diário, sabe o que eu mais quero? A esquerda deprimida!
E está dando certo. Tem um monte de comunopetista doente, um monte de esquerdopata indo no psiquiatra, kkk! “O abatido já está batido”, dizia o Ustra, meu ídolo.
Leia também:
O ECLIPSE DA CULTURA NO BRASIL?
http://revistacontinente.com.br/edicoes/224/o-eclipse-da-cultura-no-brasilrMudanças na gestão cultural do governo federal alertam artistas, produtores e especialistas, que saem em defesa de conquistas das últimas décadas e problematizam o futuro frente a um clima hostil.
P.S.: (Pós escrito)
Por que tanta inércia? Porque foi/é muita verticalização, foi/é muita educação bancária e comunicação para o povo, para as massas e não com. Quando se promove atividades culturais, estas são pensadas mais como resultados, produtos ou espetáculos, do que processos criativos e sensível envolvendo grupos maiores e populações inteiras no papel de protagonistas.
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