segunda-feira, 16 de novembro de 2020

NÃO PODEMOS FUGIR NESSA HORA. NEM DA LUTA E NEM DAS RESPONSABILIDADES. UMA NOTA MIÚDA

Romero Venâncio (*)


O "jornalismo da casa grande" brasileira já fez suas escolhas e suas análises e tá formando público, como sempre. Uma leitura superficial, grosseira e colada ao voto nas grandes cidades. Faz sentido por que é uma meia verdade sedutora e popularizável... Até nas redes sociais já se repete os bordões da globo news e cia... Parece que essa eleição não tem história e nasceu do nada. Não se avalia ou cita coisas como: 2013; 2016 ou 2018. Governo bolsonaro ou pandemia sumiu; o maior desemprego da história foi encoberto devidamente. O voto pragmático de uma pobreza desesperada sequer é mencionado...
A mídia da casa grande e seus representantes ricos já definiram nessa eleição de 2020 o discurso preparatório para 2022 e seus profissionais já cairam em campo, babando. A catilinária ecoa aos quatro ventos que PT morreu, que a esquerda é radical, elogiam o desempenho do PSOL agora para desancá-lo mais na frente.
Para os que dominam a séculos por herança esse país já definiram mais uma vez e de maneira direta: isolar e apagar a memória das lutas populares; massacrar o discurso que tenha sem terra; sem teto, sindicalismo, trabalho de base, educação popular, teologia da libertação, segurança alimentar, formação política. Torna-se imperativo desqualificar tudo isto e enterrar seus protagonistas. Para os donos do poder vale tudo para solapar o projeto histórico das esquerdas e que ainda não morreu (e eles sabem disto, mesmo que precisem omitir a todo custo).
Alguns exemplos desse vale tudo: de instrumentalizar pentecostais à autoajuda mais rasteira de classe média; recuperar o simbolismo da lava-jato e sua legislação ideológica; neutralizar e subestimar a votação de feministas, negras, trans de esquerda que tiveram expressiva aprovação eleitoral; banir & satanizar todo um conjunto simbólico e linguístico crítico como luta, classes, racismo estrutural, organização popular, universidade pública, saúde pública, o comunitário... No fundo é o que já faz o super herói e sua lata velha a anos...
O Brasil dessa gente é o "centrão" e com tudo o que isto significa no parlamento e para além dele. O mote deles nesse novembro pós-eleitoral: venceu o centro e já antecipam o imaginário e a publicidade de 2022... Entra em campo a "nova fase neoliberal" e sua escancarada ideologia...
Mas não é real criar a ilusão de que tudo de ruim que acontece com as esquerdas é fruto da ação das classes dominantes. As esquerdas têm sua responsabilidade nesse jogo e já tá visível demais mesmo para quem não milita internamente em PSOL ou PT (para ficar nos dois maiores partidos e mais representativos eleitoralmente).
Houve uma derrota eleitoral sim das esquerdas (mais para o PT do que para o PSOL). Isto é fato. Leiamos (como fiz a pouco) o mapa eleitoral do TSE (outra sigla que significa atrapalhação e confusão!!!). Mas isto não é, nunca foi ou será o pior nas esquerdas. Eleição se recupera. O problema tá sendo a anos ter como única régua avaliativa as eleições... O problema tem sido o grau de individualismo eleitoreiro que impede até a alianças e morremos todos no final... O problema é a ilusão com as estruturas do estado e suas seduções de cargos (transformar cargo de comissão em vinculo empregatício)... Fechar-se e acreditar nessa cultura eleitoral é fazer o jogo das classes dominantes que vivem disso... Quantos e quantos nomes gestados nas esquerdas não se perderam nesse caminho (carguinhos, eleições, os ambientes luxuosos das câmaras, etc...).
O problema é que tá se perdendo o valor estrutural da formação histórica e política de base e de quadros (coisa que uma extrema direita vem fazendo e avançando). Pensemos num simples exemplo: para não fazer alianças entre elas (as esquerdas) se faz um discurso de princípios, mas quando se faz a campanha eleitoral individual se recorre a práticas parecidas com o DEM ou MDB, porque o negócio é (foi) o voto.
Nesse momento, a minha análise a partir das esquerdas nas eleições deste 2020 é: nem a ilusão festiva dos vencedores das eleições na segunda feira e nem o discurso fúnebre da globo news e aliados sobre a morte da esquerda e o triunfo dos "centros/centrões". A grave crise econômica bate a porta e o neoliberalismo novo ou requentado é resposta alguma. A esquerda morreu. Viva a esquerda!

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